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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O Brasil é o adolescente que quer voltar para a casa dos pais...

A regra de ouro e a trindade impossível  

AFFONSO CELSO PASTORE

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ESTADÃO - 09/01

Em vez de acentuar o ajuste fiscal, o governo o afrouxa e libera mais gastos para tentar aprovar a reforma da Previdência


Quando o Plano Real optou pela âncora cambial, mas queria também o peso de uma âncora monetária, foi obrigado a elevar os controles aos ingressos de capitais e o recolhimento compulsório sobre os depósitos bancários, evitando o que Mundell chamou de “trindade impossível” – a impossibilidade de ter simultaneamente câmbio fixo; liberdade de fluxos de capitais; e controle monetário. Questionado sobre qual âncora lançaria para sustentar a estabilidade de preços, Gustavo Franco deu a resposta de Vasco Moscoso de Aragão ao marinheiro que se preocupava com a aproximação da tempestade: lance todas as âncoras.

Para truncar o crescimento explosivo da dívida pública o governo tinha de controlar o crescimento dos gastos, e deu um sinal forte com a aprovação do congelamento dos gastos primários em termos reais. Mas pontas ficaram soltas, a mais importante das quais é que mais de 40% dos gastos primários vêm do déficit da Previdência. Como os gastos com a Previdência estão fora do congelamento, e a dinâmica demográfica vem reduzindo a proporção de jovens, que contribuem, e aumentando a de idosos, que recebem os benefícios, a menos que se aprove uma reforma da Previdência, o teto de gastos não se sustenta.

Para reforçar o compromisso com o ajuste o governo criou a regra do teto dos déficits primários, que com o congelamento dos gastos em termos reais e a queda da taxa real de juros determinaria a trajetória da relação dívida/PIB. Avaliado pela cotação do CDS brasileiro, a reação dos mercados foi favorável, mas apesar dessas duas medidas o governo ainda continuará gerando déficits primários nos próximos anos, e mesmo diante da forte queda da taxa real de juros a dívida pública continuará crescendo.
É nesse ponto que surge uma nova forma da trindade impossível. No Artigo 167 da Constituição – a regra de ouro – é vedado que o governo se endivide para pagar despesas correntes. Ocorre que para cumprir o teto de gastos e atingir a meta do déficit primário o governo já cortou “até o talo” os investimentos, o que diante dos inexoráveis déficits primários nos próximos anos o obriga a elevar a dívida pública para pagar os gastos de custeio, descumprindo a regra de ouro.

A origem do problema remonta à combinação de um déficit primário enorme no início do ajuste combinado com um gradualismo excessivo. Naquele momento, tanto quanto agora, não havia nenhuma esperança de crescimento acelerado das receitas, o que significa que por vários anos à frente está contratada uma elevação da dívida pública. Em 2017 fomos salvo pela devolução de R$ 50 bilhões do BNDES, e em 2018 uma nova devolução dos recursos do BNDES pode permitir o cumprimento da regra de ouro. Mas estes são apenas paliativos.

Não é preciso nenhuma teoria econômica, mas apenas uma aritmética elementar, para concluir que mesmo cumprindo o congelamento dos gastos e a meta dos déficits primários será impossível cumprir a regra de ouro se for mantido o excessivo gradualismo do ajuste do resultado primário. Em vez de pensar em mudar a regra impressa na Constituição, gerando mais desconfiança, é preciso aumentar a intensidade do ajuste fiscal, que tem seus efeitos sobre a atividade econômica atenuados pela boa execução da política monetária, e que com maior austeridade fiscal garantirá taxas reais de juros baixas por mais tempo. É preciso aprofundar – em vez de aliviar – a reforma da Previdência; é preciso conter outros gastos correntes; é preciso elevar a eficácia da arrecadação, eliminando as vantagens do Simples e as várias desonerações em vez de premiar com uma sucessão de Refis os empresários inadimplentes. Em vez de acentuar o ajuste, contudo, o governo o afrouxa, liberando mais gastos e acentuando a perda de receitas para tentar aprovar a reforma da Previdência. Esta e outras incoerências agravam a situação no lugar de resolvê-la.
* EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E SÓCIO DA A.C. PASTORE & ASSOCIADOS

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Diagnóstico socioeconômico do Brasil > O Brasil é polipolar !


terça-feira, outubro 17, 2017


Populismo econômico e colapso do crescimento -

 AFFONSO CELSO PASTORE Resultado de imagem para imagens de dinheiro na mão   

O Estado de S.Paulo - 17/10


O World Economic Outlook (WEO-IMF) publica as séries anuais da renda per capita dos países medida em paridade de poder de compra. Tomando como base a renda per capita dos EUA, em 1980 a do Brasil era equivalente a 38% da norte-americana, apenas um pouco abaixo dos 45% do México e muito acima da chinesa, que atingia apenas 4%. Em 2005, a renda per capita do Brasil havia declinado para 25% e a do México para 33%, com a da China chegando a 11%, e em 2016, a renda per capita do México mantinha-se em 33%, com a do Brasil indo para 27%, quando foi alcançada pela da China. Para 2022, o WEO projeta que a renda per capita do Brasil deverá manter-se em 26%, com a da China igualando-se à do México em 33%. China, Índia e Turquia têm crescimentos superiores à União Europeia e ao Reino Unido, com a Ásia se constituindo no motor do crescimento mundial, enquanto a América Latina e o Brasil estão ficando muito para trás.

A causa desse desempenho medíocre está no que Rudiger Dornbusch e Sebastian Edwards definiram por “populismo econômico” – o crescimento dos gastos públicos distribuindo benesses sem o correspondente aumento das receitas, ao lado do intervencionismo excessivo na economia. As reformas do Plano Real nos afastaram desse paradigma estabelecendo uma nova conduta que ainda se manteve no primeiro mandato de Lula. Nesse período, a austeridade fiscal foi preservada ao lado da redução de distorções na economia e de melhora da distribuição de rendas. Mas no segundo mandato de Lula e nos de Dilma Rousseff tudo isso se perdeu. Embora o Brasil não tenha desembocado no financiamento inflacionário dos déficits públicos, como ocorre atualmente na Argentina, criou um desequilíbrio fiscal que leva ao crescimento insustentável da dívida pública, além de acentuar uma infinidade de distorções.

Por cerca de 20 anos, desde a constituição de 1988 – e mesmo dentro do governo FHC –, o crescimento acelerado dos gastos foi financiado com a criação de novos impostos e o aumento das alíquotas em impostos já existentes, ao lado da venda de ativos – as privatizações. Mas esse processo se esgotou, não restando alternativa a não ser a aprovação de reformas estruturais para conter os gastos, como a da Previdência, sem a qual o congelamento dos gastos primários em termos reais não se sustenta, mantendo a dívida pública em uma trajetória explosiva. Sem um corajoso ciclo de reformas retornaremos ao passado.

Os males do populismo não se restringem ao desequilíbrio fiscal. Um trabalho recente do Cindes e do CDPP revela o grau excessivo do protecionismo, com tarifas efetivas absurdamente elevadas em vários setores da indústria A ilusão de favorecer a indústria levou ao aumento do índice de conteúdo nacional na produção de bens de capital, ignorando que o aumento nos preços dos bens de capital reduz as margens de lucro nos setores que os utilizam. Buscando fortalecer o capitalismo nacional hipertrofiou-se a ação do BNDES, que se dedicou à criação de “campeões nacionais”, cujo único benefício foi a criação de uma sofisticada relação promíscua entre empresários e políticos com o objetivo de maximizar ganhos privados e a perpetuação no poder. Em nome do estímulo à indústria generalizaram-se as isenções tributárias taylor-made, sem nenhum objetivo de elevar a eficiência na economia, mas somente a de favorecer interesses específicos. O governo acreditou que atendendo aos reclamos dos empresários reduzindo tarifas de energia elevaria os retornos nos setores beneficiados, esquecendo-se que estaria quebrando contratos nas concessões e baixando o estímulo aos investimentos em energia.

O mau desempenho brasileiro relatado pelas séries do WEO não é obra do acaso. A profundidade da recessão, o reconhecimento das distorções vindas do populismo econômico e o agravamento do quadro fiscal começaram a mover o governo na direção correta sem, contudo, contar com o apoio político e a legitimidade dos votos. Em breve, estaremos elegendo um novo governo, e é importante que nos protejamos contra as promessas fáceis do populismo, que encontram um solo fértil na falta de perspectivas e na desesperança.