Durante 17 dias, de 27 de julho a 12 de agosto, vão estar no centro das atenções, a representar Portugal entre competidores de 204 nações. Mas para conquistarem um lugar entre os melhores do mundo, passaram os últimos quatro anos a treinar intensamente, desafiando os limites dos seus corpos e, tantas vezes, arriscando a saúde. Que lições nos podem dar os atletas olímpicos em matéria de persistência, coragem, sacrifício, alegria, esperança e sentido coletivo? O exemplo de um grupo de portugueses que se recusou a desistir. Em nome de objetivos que podem ser de todos. Hoje damos a conhecer Dulce Félix: Nos próximos dias, apresentamos outros atletas
Dulce Félix: "Sei o que custa a vida e isso fez-me mais forte"
Dulce Félix vive dias felizes. Medalha de ouro nos 10 mil metros dos Europeus de Helsínquia, a vimaranense de Azurém, de 27 anos, não concebe correr e trabalhar para patamares apenas razoáveis, nas competições em que participa. Mesmo enfrentando os primeiros Jogos, quer "ficar entre as dez primeiras" na maratona e dar um passo de gigante para o sonho de uma existência: "Ser campeã olímpica".
Mínimos já ela teve que chegue na vida: o salário mínimo, na fábrica têxtil de Vizela onde trabalhava, os turnos feitos sempre de pé, sem descanso, e as poucas horas de sono entre a máquina de costura automática e os treinos. "Sei o que custa a vida e isso fez-me mais forte."
Nos momentos baixos do atletismo, Sameiro Araújo, a treinadora, é psicóloga, amiga, alento. Depois, é com a atleta. Mesmo quando não lhe apetece treinar. "Supero isso. Quem quer estar entre as melhores só pode pensar assim."
Soube o que queria experimentar em Londres quando terminou a Maratona de Nova Iorque em quarto lugar. "Tento sempre ter companhia durante a prova para depois chegar à frente, mas nos EUA fiquei sozinha e consegui uma grande marca." Em Londres, no domingo, 5 de agosto, admite que a receita se repita, nem que tenha de ir buscar forças à teimosia. Quem a conhece, sabe que o feitio lhe puxa para a obstinação. É o seu nome do meio.
A atleta está, de resto, no ponto de rebuçado da carreira. Ela que, "em cachopa, até nem ligava muito ao atletismo", vê-se agora guindada a comparações com Manuela Machado, a atleta que foi campeã europeia e mundial da maratona. "A minha treinadora diz isso", reconhece, assumindo a responsabilidade, mas sem ilusões. "Estamos a passar por um momento difícil no atletismo. Há menos provas, menos apoios. E ainda por cima, mesmo que ganhemos medalhas, a primeira página é sempre para o futebol", lamenta.
Em Londres, não terá o almoço da mamã à espera, como todos os dias. Sentirá falta, talvez, de "um bom filme de terror", que ajuda "a manter a pica e a adrenalina". Seja. Para quem acreditou tarde que a vida podia ser a correr, isto ainda é só o começo. "O desporto mudou-me a vida. E ensinou-me a dar valor às minhas conquistas. Para mim, pensar em desistir é o verdadeiro terror.
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