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quarta-feira, 29 de junho de 2016

" Olimpíada do Rio foi anunciada e programada como uma espécie de quarup para cultuar a personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva"

Trecho de crônica de José Nêumanne no Estadão
"Assim como a Copa da Fifa em 2014, a Olimpíada do Rio foi anunciada e programada como uma espécie de quarup para cultuar a personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disposto a mostrar ao mundo que o Brasil elegeu um operário braçal presidente e que ele próprio estava à altura de repetir Hitler, Mussolini, Stálin, Mao e Pol Pot. Deu no que deu. Respondendo a inquéritos policiais por haver assistido inerme o assalto também programado da organização criminosa à qual entregou chaves e segredos dos cofres públicos, o ex-dirigente sindical não sobreviveu sequer à condição de símbolo da riqueza ostensiva da nova classe dirigente brasileira, que saiu da periferia pobre, frequentou palácios e morre de medo de terminar na prisão. Enquanto aguarda a polícia bater à  sua porta, Lula vê evaporar até o status de símbolo dos Jogos que consagram atletas pelo suor e governantes pelo oportunismo. O lugar foi tomado por uma mártir de verdade: depois de acorrentada para ser fotografada cercada de soldados do Exército fardados e com metralhadoras em riste, a onça-pintada Juma, mascote do Centro de Instrução de Guerra na Selva, Centro Coronel Jorge Teixeira, foi abatida por um tiro de pistola para não ferir, machucar e talvez até matar um garboso soldado.
A fotografia, publicada na página 16 do Estadão de hoje, é, ao mesmo tempo, pungente e lastimável: dois sujeitos fantasiados de guerreiros da paz erguem uma tocha olímpica, objeto cênico usado para fingir uma harmonia que o país deixou de viver há muito tempo. O animal à frente, evidentemente irritado, serve de símbolo de uma nação espoliada por um bando de canalhas que, além de roubá-la, ainda sai pelo mundo afora a ostentar o produto de sua rapina. Com a cumplicidade tácita de um bando de exibicionistas que põem a própria vaidade acima de tudo na vida, inclusive a vergonha alheia..."

" Olimpíada do Rio foi anunciada e programada como uma espécie de quarup para cultuar a personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva"

Trecho de crônica de José Nêumanne no Estadão
"Assim como a Copa da Fifa em 2014, a Olimpíada do Rio foi anunciada e programada como uma espécie de quarup para cultuar a personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disposto a mostrar ao mundo que o Brasil elegeu um operário braçal presidente e que ele próprio estava à altura de repetir Hitler, Mussolini, Stálin, Mao e Pol Pot. Deu no que deu. Respondendo a inquéritos policiais por haver assistido inerme o assalto também programado da organização criminosa à qual entregou chaves e segredos dos cofres públicos, o ex-dirigente sindical não sobreviveu sequer à condição de símbolo da riqueza ostensiva da nova classe dirigente brasileira, que saiu da periferia pobre, frequentou palácios e morre de medo de terminar na prisão. Enquanto aguarda a polícia bater à  sua porta, Lula vê evaporar até o status de símbolo dos Jogos que consagram atletas pelo suor e governantes pelo oportunismo. O lugar foi tomado por uma mártir de verdade: depois de acorrentada para ser fotografada cercada de soldados do Exército fardados e com metralhadoras em riste, a onça-pintada Juma, mascote do Centro de Instrução de Guerra na Selva, Centro Coronel Jorge Teixeira, foi abatida por um tiro de pistola para não ferir, machucar e talvez até matar um garboso soldado.
A fotografia, publicada na página 16 do Estadão de hoje, é, ao mesmo tempo, pungente e lastimável: dois sujeitos fantasiados de guerreiros da paz erguem uma tocha olímpica, objeto cênico usado para fingir uma harmonia que o país deixou de viver há muito tempo. O animal à frente, evidentemente irritado, serve de símbolo de uma nação espoliada por um bando de canalhas que, além de roubá-la, ainda sai pelo mundo afora a ostentar o produto de sua rapina. Com a cumplicidade tácita de um bando de exibicionistas que põem a própria vaidade acima de tudo na vida, inclusive a vergonha alheia..."

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Carta Aberta de mais de 100 cientistas de Harvard e Oxford ao COI sobre a Olimpíada do Rio e vírus Zika...

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/05/virus-zika-cientistas-de-harvard-e-oxford-dizem-que-olimpiada-do-rio-deveria-ser-transferida-ou-adiada.html?utm_source=whatsapp&utm_medium=share-bar-desktop&utm_campaign=share-bar

27/05/2016 16h11 - Atualizado em 27/05/2016 16h12

Vírus Zika: Cientistas de Harvard e Oxford dizem que Olimpíada do Rio 'deveria ser transferida ou adiada'

Especialistas dizem que descobertas recentes sobre o zika tornam 'antiética' a manutenção dos jogos no Rio.

Da BBC
Em carta aberta enviada à OMS (Organização Mundial da Saúde), um grupo formado por mais de 100 cientistas internacionais afirma que os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro deveriam ser transferidos ou adiados em decorrência do surto de vírus Zika.
Os especialistas dizem que descobertas recentes sobre o zika tornam "antiética" a manutenção dos Jogos no Rio. Na carta, os cientistas também pedem que a OMS reveja com urgência suas recomendações sobre o Zika, um vírus relacionado a uma série de problemas no nascimento, incluindo microcefalia.
A carta ainda diz que o adiamento ou a transferência dos Jogos também "diminui outros riscos trazidos por uma turbulência história na economia, governança e na sociedade do Brasil - que não são problemas isolados, mas que fazem parte de um contexto que tornam o problema do Zika impossível de resolver com a aproximação dos Jogos".
Em maio, o Comitê Olímpico Internacional disse que não vê razões para atrasar ou transferir os Jogos por causa da doença. No Brasil, a explosão da enfermidade transmitida pelo mosquito Aedes aegypti aconteceu há um ano - hoje mais de 60 países e territórios são afetados pela doença.
A carta afirma que o Zika está relacionado à microcefalia (crescimento do crânio abaixo da média) em recém-nascidos e que pode trazer síndromes neurológicas raras e às vezes fatais a adultos.
O documento é assinado por 125 cientistas, médicos e especialistas em ética médica de instituições como as universidades de Oxford, no Reino Unido, Harvard e Yale, ambas nos Estados Unidos.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Esperando pelos Jogos Olímpicos do Rio... A política pode atrapalhar a Olimpíada do Rio ?



Por que a Olimpíada não desperta tanta rejeição popular quanto a Copa?

O melhor prêmio que a Olimpíada no Rio poderá proporcionar aos atletas brasileiros será o milagre de que nesse momento o Brasil volte a estar unido em um mesmo projeto

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Inauguração dos aros olímpicos no Parque Madureira, em 20 de maio. / RAPHAEL LIMA (PMERJ/FOTOS PÚBLICAS)
O Brasil perdeu a Copa em 2014. E perdeu-a mal. Aquela derrota deixou feridas, e desde então uma sombra se abateu sobre a magia do futebol brasileiro, que deixou de emocionar o mundo.
Será a Olimpíada do Rio, a ser aberta daqui a 12 meses, a revanche daquela derrota?
A Copa foi um fracasso futebolístico e político porque o torneio organizado no país pentacampeão acabou sendo envolvido em suspeitas de corrupção, e sua abertura foi maculada pelas vaias à presidenta Dilma Rousseff e pelas manifestações populares de protesto. E por aquele fatídico 7 x 1, que entrou para a história como se Deus tivesse deixado de ser brasileiro.
Desde então, o clima político se agravou. A crise se agigantou, e o consenso em torno da presidenta Dilma encolheu. Entretanto, desta vez não se nota um movimento popular contra a Olimpíada, um acontecimento de igual ou maior envergadura esportiva que a Copa do Mundo de futebol.
É como se os brasileiros quisessem fazer do sucesso dos Jogos Olímpicos um contraponto à derrota da Copa, de modo a lhes devolver o orgulho esportivo perdido. Mas será que os preparativos para a Olimpíada estão à altura da sua importância, ou já revelam lacunas graves, como as da poluição das águas onde as regatas serão disputadas, que já foi alvo de denúncias internacionais?
Será que o Brasil e o Rio têm atualmente um clima político e social que permita fazer dos Jogos um fato histórico, que deixe sua marca?
Será possível realizar a Olimpíada em meio a esse desassossego nacional que a classe política vive, e às vésperas de o país poder perder a confiança de bom pagador, conquistada com tanto sacrifício em 2008?
Os Jogos Olímpicos serão no Rio, mas, rivalidades regionais à parte, o Brasil é impensável sem a Cidade Maravilhosa, sem contar que a capital fluminense, meca do turismo internacional, é hoje um mosaico de pessoas de todo o país, um microcosmo brasileiro. É todo o país, portanto, que sedia a Olimpíada. Participarão cerca de 10.000 aletas de aproximadamente 200 países, em mais de 300 eventos.
Os Jogos Olímpicos nasceram na Grécia, há nada menos que 2.791 anos, ou seja, em 776 a.C.. Era na época um acontecimento não só esportivo como também religioso, político e social. Era o maior evento do país, e era dedicado aos deuses.
Nas Olimpíadas modernas, que começaram há 120 anos e foram se tornando cada vez mais cosmopolitas, as cidades que as receberam passaram por uma intensa transformação e modernização. Nenhuma das metrópoles que promoveram Jogos Olímpicos permaneceu igual ao que era antes. Tornaram-se melhores, mais habitáveis e mais belas. Barcelona é um exemplo na Espanha. Será também o Rio?

Para o sucesso da Olimpíada será necessário que, até lá, a crise política tenha sido pelo menos encaminhada
Não sou daqueles que acham que as Olimpíadas estão perdendo seu antigo brilho e que as cidades já não desejam sediá-las. Organizar os Jogos Olímpicos continua sendo o sonho e a inveja das grandes metrópoles. Quando o Rio ganhou, Madri chorou por ter perdido.
O Rio e o Brasil têm a esperança de que seus atletas possam ficar entre os 10 melhores do mundo, dobrando o número de medalhas obtido na última Olimpíada, em Londres. É um desejo legítimo. Entretanto, essas medalhas não são a única coisa importante.
O que contará, no final, será a imagem de país que for transmitida ao mundo. Será preciso demonstrar, além do bom desempenho dos nossos atletas, que Rio depois dos Jogos será uma cidade não só mais bela, mas também mais funcional, mais humana e menos violenta.
Uma cidade menos dividida entre o asfalto e o morro, entre a opulência e a pobreza. Menos rasgada entre aqueles que têm de sobra para viver e os que sofrem porque sua renda continua a mantê-los na escassez material e cultural.
Para o sucesso da Olimpíada será necessário que, até lá, a crise política tenha sido pelo menos encaminhada. É de se desejar que esses Jogos sejam abertos por um Presidente da República que no dia da abertura, que será vista por bilhões de pessoas no mundo todo, possa ser aplaudido ao invés de vaiado, como ocorreu na Copa.
Será necessário que a essa altura já se comece a vislumbrar uma luz no fim do túnel da maltratada economia brasileira, e que os índices negativos de desconfiança dos brasileiros quanto ao seu futuro já tenham baixado.
Os amantes do esporte e os cariocas, cuja hospitalidade e internacionalismo são proverbiais, merecem isso. Assim como esse outro Brasil, o que não sai nos jornais e na televisão, o que trabalha em silêncio, sem fazer barulho, cujas lágrimas são invisíveis para nós. Esse Brasil que sofre em solidão e anonimato e que se sente importante com as vitórias esportivas nacionais.
Merecem isso os habitantes sacrificados e sofridos das comunidades carentes que cercam a Cidade Maravilhosa qual uma dolorosa coroa de espinhos, vítimas quase diárias da violência policial e institucional.
Se, ao contrário, a Olimpíada servisse somente para melhorar a vida dos que desfrutam do asfalto, esquecendo-se, no apagar suas luzes, do outro Rio, isso significaria uma derrota mesmo que se ganhasse mais medalhas do que nunca, e mesmo que o centro da cidade ficasse mais bonito.
A população do Rio certamente terá durante a Olimpíada uma segurança com a qual os cariocas nunca sonharam. Isso ficará a cargo dos milhares de policiais e soldados do Exército. E depois?
Esse será o teste definitivo. O Rio será, a partir da Olimpíada, uma cidade mais segura e integrada? A única medalha que o Rio não deverá ganhar é “a do ranking da violência”, como escreve Joaquim Ferreira dos Santos com amarga ironia em sua coluna do O Globo.
Na antiga Grécia, o atleta vitorioso não ganhava medalhas, a vitória era dedicada ao deus Zeus. O melhor prêmio que a Olimpíada poderá proporcionar aos atletas brasileiros no Rio será o milagre de que nesse momento o Brasil volte a estar unido em um mesmo projeto de esperança e prosperidade.
Será a melhor revanche à derrota esportiva, política e moral da Copa.
Quem sabe a Olimpíada não realiza também o milagre, se é que Deus continua sendo brasileiro, de ressuscitar o futebol, cujo eclipse empobrece e dói em todos nós?

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Desafios sobre segurança do Rio preocupam autoridades responsáveis pelo Jogos Olímpicos de 2016

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150804_rio_olimpiada_seguranca_pai_jp

Cinco questões de segurança que o Rio precisa resolver antes da Olimpíada


Policiais no Complexo da Maré, em foto de 30 de junho (AFP)
Policiais no Complexo da Maré, um dos pontos do Rio onde a situação é volátil
A um ano do início dos Jogos Olímpicos de 2016, a atenção internacional está voltada para o Rio de Janeiro, e sobre como a cidade se prepara para enfrentar importantes desafios.
Entre estes testes, talvez um dos mais importantes seja o de garantir a segurança de atletas e turistas de todo o mundo, incluindo mais de 200 delegações olímpicas, 80 chefes de Estado e um público estimado em mais de meio milhão de pessoas durante os 17 dias do evento.
Segundo os organizadores, trata-se do "maior esquema de segurança da história do Brasil", com um total de 85 mil homens (mais do que o dobro do efetivo utilizado nos Jogos de Londres, em 2012), e orçamento estimado em mais de R$ 1 bilhão, incluindo treinamentos e a compra de equipamentos como blindados e helicópteros, além da cooperação com forças policiais de outros países.
Mas embora autoridades e o Comitê Rio 2016 garantam que os preparativos estejam correndo dentro do cronograma, com transparência orçamentária e a contento do Comitê Olímpico Internacional (COI), analistas questionam pontos como a coordenação entre diferentes órgãos, os esforços antiterrorismo, potenciais manifestações e a situação volátil no Complexo da Maré, conjunto de 16 favelas localizado entre o Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) e o centro da cidade.
As recentes atualizações do Plano Estratégico do governo, com definições de responsabilidades e detalhes de medidas, chegam em meio a uma sequência de más notícias para a segurança pública do Rio, apesar de estatísticas oficiais apontarem uma queda no índice de homicídios e mortes violentas.
Nos últimos meses, a cidade olímpica registrou um aumento do clima de insegurança, com assaltos e esfaqueamentos com mortes em diversos pontos - incluindo a Lagoa Rodrigo de Freitas, que sediará provas - além de tiroteios com feridos num dos corredores de ônibus BRT, uma morte dentro de uma estação de metrô, assaltos em trens e mortos por balas perdidas, além de diversos incidentes em favelas com UPPs.
Diante deste cenário, a BBC Brasil ouviu membros da cúpula que organiza o esquema e especialistas que acompanham o setor para identificar os cinco pontos mais cruciais que o Rio precisa enfrentar para garantir a segurança dos Jogos.

1. Locais de competições

A segurança das 33 instalações olímpicas distribuídas em quatro grandes regiões (Barra, Deodoro, Copacabana e Maracanã) ficará a cargo do governo federal, com o envio de mais de 9 mil homens da Força Nacional. Inicialmente a cargo do Comitê Rio 2016, que utilizaria agentes privados, todos os locais de competição, Vila Olímpica e Vila dos Árbitros passaram a ser responsabilidade do governo federal.
Um dos objetivos é evitar problemas como os ocorridos na Olimpíada de 2012, em Londres: a uma semana dos Jogos, mais de 4 mil homens das Forças Armadas tiveram que ser acionados diante de falhas no treinamento dos agentes contratados por uma empresa privada.
O diretor da Força Nacional, coronel Nazareno Marcineiro, destaca o diferencial do grupo. "Trata-se de uma tropa altamente qualificada, com integrantes de todas as polícias estaduais, treinados para cumprir missões de preservação da ordem pública com alto grau de profissionalismo", diz.
O contingente deve ter apoio de cerca de 38 mil militares e 18,5 mil homens da PM no entorno dos locais.
Invasão de chilenos no Maracanã, durante a Copa de 2014: 'Alguns estádios operararam sem todas as condições de segurança', diz especialista
"Prezamos pela discrição e baixa ostensividade na segurança das instalações olímpicas, mas isso varia com a radiografia de cada local", indica Andrei Rodrigues, chefe da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça (Sesge).
Paulo Storani, ex-capitão do Bope entre 1994 e 1999 e professor da Universidade Cândido Mendes, relembra o incidente ocorrido na Copa do Mundo, quando torcedores chilenos invadiram o Maracanã, e aponta a necessidade de cumprir o planejamento dentro dos prazos. "É imprescindível que este trabalho ocorra de forma muito bem planejada e coordenada, e que as estruturas sejam finalizadas a tempo. Na Copa alguns estádios operaram sem todas as condições de segurança totalmente prontas", diz.

2. Assaltos, turistas e protestos

Na visão de especialistas, o esquema de forte policiamento em grandes eventos sediados pelo Rio de Janeiro, como a Rio+20 e a Jornada Mundial da Juventude, tende a coibir o número de assaltos e furtos, mas bastaria um caso de vulto para chocar a opinião pública e a comunidade internacional.
"É muito improvável que haja alto índice de assaltos nos locais de competição e de grande circulação de turistas, dado o forte contingente policial empregado", diz Ignacio Cano, sociólogo e professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
Mas casos como o do turista alemão Fred Niefind, de 51 anos, que morreu após ser esfaqueado durante um assalto no Carnaval deste ano, no centro do Rio, poderiam ofuscar a grande operação de segurança.
Material informativo vai orientar turistas sobre o que levar ou não à praia para evitar assaltos
Deodoro, na Zona Norte, apresenta desafios ainda maiores do que as regiões mais turísticas. Na visão de Roberto Alzir, subsecretário de Grandes Eventos da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, será crucial orientar os turistas com cartilhas.
"Nossa atenção estará voltada para os centros de competições e o entorno, aeroportos, hotéis, locais de circulação, e terminais de transporte, além de ônibus, trens e metrô. O que a gente não recomenda é que o turista saia do circuito oficial, porque aí ele vai experimentar locais da cidade que contam apenas com o recurso cotidiano de polícia", diz.
Um material informativo deverá ser distribuído contendo dicas como não ostentar objetos de valor e câmeras fotográficas, o que não levar para as praias, e a preferência por andar em grupos.
Quanto ao potencial de manifestações durante o período dos Jogos, Andrei Rodrigues, da Sesge, diz que há uma preparação. "A segurança tem o papel de prover a garantia de que um protesto possa ocorrer de forma tranquila. Nossa preocupação é com um eventual abuso que possa ocorrer dentro de uma manifestação, e para isso temos uma preparação, incluindo operações de inteligência para evitar ação de vândalos".

3. Complexo da Maré

Uma das maiores - senão a maior - pedras no sapato das autoridades de segurança do Rio é a situação volátil no Complexo da Maré, conjunto de 16 favelas estrategicamente localizado entre o aeroporto internacional e o centro da cidade, e entre a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, dois corredores por onde passarão milhares de turistas e potencialmente delegações olímpicas e comitivas de chefes de Estado.
Seguidamente adiada pelo governo estadual, a pacificação da Maré chegou a ser prevista para 2013, mas dois meses antes da Copa do Mundo o Rio solicitou à presidente Dilma Rousseff o envio das Forças Armadas para ocupar a área. As tropas saíram após um ano e dois meses, mas até o momento nenhuma das quatro bases de UPPs previstas foi inaugurada - o que, segundo o secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, ocorrerá antes dos Jogos.
Pacificação do Complexo da Maré é tradicionalmente um dos grandes desafios do Rio
Para o general Luiz Felipe Linhares, assessor especial do Ministério da Defesa para Grandes Eventos, uma nova ocupação das Forças Armadas não está prevista. "Um novo mandato na Maré só poderia se dar caso o governador assim solicitar à presidente, ou se a própria presidente, com base em relatórios de inteligência e avaliação de risco, assim julgar necessário, determinando tal ordem às Forças Armadas. A avaliação será feita e obviamente teremos que estar preparados com planos A, B, C e D", diz.
A pacificação da Maré é tradicionalmente vista como um dos grandes desafios do Rio, e encarada como um potencial legado. Para Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC), seria um grande fracasso se o Exército voltasse ao local.
"Seria algo semelhante à limpeza da Baía de Guanabara. Tivemos sete anos para limpar e não conseguimos. Da mesma forma, tivemos sete anos para pacificar a Maré, e se não conseguirmos, seria extremamente frustrante, um fracasso total em termos de legado de segurança pública para a cidade", avalia.

4. Terrorismo

Embora o Brasil não seja alvo tradicional de grupos extremistas internacionais, esta é uma das áreas de preocupação. Especialistas relembram que, em 1972, a Alemanha também não era alvo, mas durante os Jogos de Munique membros da delegação de Israel foram sequestrados por um grupo palestino, e a ação acabou resultando na morte de 11 atletas e técnicos.
"A questão do terrorismo é preocupante por não termos na nossa cultura ferramentas para lidar com isso. Nossa inteligência, forças policiais e autoridades de segurança pública não estão habituadas a esse problema e organizações extremistas poderiam tentar promover ações, ainda mais num país vulnerável como o nosso", diz Paulo Storani, ex-capitão do Bope.
Policiais em foto de 2014 no Rio
Forças de segurança também deverão estar preparadas para eventuais ações extremistas
Para ele, "os centros específicos antiterror já deveriam estar montados e sendo testados. O tempo em relação a isso é alarmante".
Diretor do Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência (Disbin), Saulo Moura da Cunha, indica que o país se prepara para ameaças e que haverá um Centro de Inteligência Nacional em Brasília, Centros de Inteligência Regionais em cada cidade que sediará jogos de futebol, além do Centro de Inteligência dos Jogos, baseado no Rio de Janeiro. Destes, no entanto, apenas o Centro Nacional, usado na Copa, já está em funcionamento.
Andrei Rodrigues, da Sesge, diz que ainda não há "data fixa" para a montagem dos outros locais. "Estes centros contarão com a cooperação de agências de inteligência e da Polícia Federal, e deverão estar prontos mais próximo ao evento. Teremos ainda um Centro de Inteligência de Serviços Estrangeiros, no Rio, que articulará informações com mais de cem países", avalia.

5. Integração e orçamento

Essencial a qualquer esquema de segurança deste porte, a integração das diferentes frentes e forças policiais deve ser crucial. Segundo os organizadores, as estruturas montadas para a Copa do Mundo - os Centros Integrados de Comando e Controle - serão herdados pela Olimpíada.
Já há um centro do tipo em Brasília, coordenando as operações em nível nacional, e outro no Rio de Janeiro. São estes locais que processam os dados de imagem e monitoramento e de onde partem comandos de resposta ao cenário das ruas e locais de competição.
Estruturas de controle da Copa (acima) serão herdados pela Olimpíada, dizem organizadores
Outros fatores importantes são os custos e o legado. Segundo os organizadores, até o momento as estimativas incluem gastos de R$ 350 milhões do Ministério da Justiça e R$ 750 milhões do governo estadual do Rio (já investidos), aos quais devem se somar R$ 300 milhões até 2016. Além disso, o Ministério da Defesa destinou orçamento de R$ 580 milhões para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Ainda não há definição total, no entanto, sobre a segurança das cinco cidades que sediarão jogos de futebol e sobre quem deve arcar com as despesas nestes locais. Além disso, a segurança de todos os locais de competição estava inicialmente a cargo do Comitê Rio 2016, mas o governo federal assumiu a conta, argumentando um legado em equipamentos e treinamento.
Ao Comitê, com orçamento de R$ 252 milhões, caberá agora a segurança de 87 locais administrativos, como depósitos logísticos e escritórios, além das instalações olímpicas antes de 5 de julho e depois de 26 de setembro de 2016.