Criminalidade
Alckmin e Cardozo anunciam agência para combater crime organizado em SP
Outra ação conjunta do estado com a União é a transferência de presos envolvidos na morte de agentes públicos para presídios federais
Carolina Freitas
Polícia ocupa favela de Paraisópolis, na zona sul de SP - Yasuyoshi Chiba/AFP
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciaram nesta terça-feira um conjunto de ações para frear a onda de criminalidade no estado. Bandidos presos por matarem policiais e agentes penitenciários serão transferidos para prisões federais fora de São Paulo e será criada uma agência para integrar o trabalho dos órgãos de inteligência das duas esferas de governo. Na próxima segunda-feira, os chefes da segurança paulista e federal farão uma nova reunião para assinar o acordo para criação da agência, acertar os detalhes de um plano integrado para combate ao crack e bater o martelo sobre a estratégia de policiamento em pontos críticos do estado. O envio da Força Nacional ao estado foi descartada.
A Agência de Atuação Integrada terá o comando compartilhado entre o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Roberto Troncon Filho, e o secretário-adjunto da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), Jair Manzano. O órgão unirá representantes da PF, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria Nacional de Segurança Pública, Departamento Penitenciário Nacional, Receita Federal, SSP, Secretaria de Administração Penitenciária, polícias militar, civil e científica do estado, Secretaria da Fazenda, Ministério Público e Tribunal de Justiça.
“Não se combate o crime organizado sem serviço de inteligência eficiente. Somando esforços da inteligência estadual e federal teremos relatórios precisos que orientarão as nossas políticas”, disse Cardozo, depois de uma reunião de uma hora que uniu 29 integrantes da cúpula da segurança do estado e do governo federal, no Palácio dos Bandeirantes, na capital paulista. “Governo estadual e federal são muito mais fortes do que o crime organizado. Seguramente, somando esforços, nós vamos derrotá-los.”
Só neste ano já foram executados 90 policiais. O governo reconheceu que traficantes da favela de Paraisópolis ordenaram os ataques aos PMs. A favela está ocupada pela polícia desde o dia 29 e a operação deve durar um mês. Paraisópolis é importante do ponto de vista criminal por ter virado uma espécie de esconderijo de traficantes do PCC e ladrões que agem no Morumbi.
Alckmin afirmou que os ataques dos criminosos são uma reação ao trabalho das autoridades no combate ao crime. “As organizações criminosas não têm fronteiras, por isso é fundamental trabalharmos unidos”, disse o governador. “Quanto mais se age, mais reação tem, mas não é possível retroceder um milímetro. É evidente que há reação. Nós não devemos temer as reações. Devemos perseverar nesse trabalho.”
Depois de um desentendimento nos bastidores entre o secretário de Segurança Pública paulista, Antonio Ferreira Pinto, e o ministro da Justiça, os dois participaram da entrevista coletiva na tarde desta terça-feira lado a lado e sopraram, um para o outro, complementos de respostas a questionamentos dos jornalistas. “Política de segurança pública de enfrentamento ao crime organizado tem de ser tratada em conjunto. Não são políticas de governo, são políticas de estado”, afirmou Cardozo.
O ministro disse que os custos da ação serão compartilhados, mas não precisou valores. Cardozo moderou o discurso, até então crítico em relação ao governo de São Paulo, e disse que a reunião de hoje não se devia à gravidade da situação no estado, mas a uma “ação nacional” para firmar parcerias com vários estados.
Asfixia - O governador e o ministro usaram o termo “asfixia” para se referir ao método de combate ao crime. A preocupação deles é secar as fontes de financiamento das organizações, por isso haverá participação da Secretaria Estadual da Fazenda e da Receita Federal nos trabalhos. “É uma ação conjunta para asfixiar o crime organizado”, dizia uma anotação feita a lápis em uma folha que servia de apoio à fala de Alckmin durante o pronunciamento. A frase, no entanto, não foi proferida pela governador, que falou apenas em “asfixia financeira” dos grupos.
O envio da Força Nacional de Segurança para São Paulo foi descartada. “São Paulo tem 130.000 homens na polícia militar e 30.000 homens na polícia civil. Não há a necessidade de, nesse momento, utilizar as Forças Armadas”, disse Cardozo. Ainda assim, haverá um plano de reforço no policiamento para controlar os acessos ao estado, chamado de “contenção”.
Os detalhes dessa ação serão definidos na reunião da próxima segunda-feira. Participarão da operação homens das polícias rodoviárias federal e estadual, da PF, da Segurança Pública, da Secretaria da Fazenda paulista e da Receita Federal. Será dada uma atenção especial ao Porto de Santos.
O ministro da Justiça afirmou que não serão informados detalhes, como nomes e datas, da transferência de presos, por razões de segurança. A prioridade será levar para fora do estado presos que tenham participado do assassinato de agentes de segurança nos últimos meses.
Combate ao tráfico de drogas - Alckmin assinou um acordo com o ministério da Justiça para implantar no estado o programa federal de combate ao crack. Entre as ações previstas está a compra de trailers para servir de unidades móveis, com equipamentos de vídeo-monitoramento, para investigar e controlar as ações de tráfico. O ministro informou que será usada uma estrutura semelhantes a das bases comunitárias móveis da PM paulista.
Foi assinado ainda um protocolo de cooperação do governo federal com a Polícia Científica paulista para identificar a origem da droga apreendida nas operações federais. Existe a possibilidade de criar um centro integrado de perícias, para que os especialistas de São Paulo colaborem com outros estados.
Reunião - O encontro foi adiado em uma hora e começou às 14h, com a presença de 29 autoridades. Alckmin, que inicialmente informou que não participaria da reunião, resolveu se juntar aos convidados. Antes de seguir para o encontro, Alckmin recebeu Cardozo para um café em seu gabinete.
Quem comandou a mesa foi o secretário-chefe da Casa Civil, Sidney Beraldo. Participam, pelo governo de São Paulo, os secretários da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, o delegado-geral do estado, Marcos Carneiro, e o comandante da Polícia Militar, Roberval França.
Pelo governo federal, compareceram a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, e o diretor do Departamento Penitenciário Nacional, Augusto Rossini. Está na sala ainda o procurador-geral de Justiça do estado, Márcio Elias Rosa, e Fábio Bechara, coordenador do Gaeco, do Ministério Público estadual.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a capital paulista registrou aumento de 27% nos homicídios dolosos em setembro, na comparação com agosto. Em setembro, 135 pessoas foram assassinadas.