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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Bactéria do bem ajuda a combater o vírus da Aids / blog do Ricardo Noblat



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Bactéria presente na vagina impede infecção pelo HIV

Descoberta pode levar a ‘camisinha biológica’ capaz de bloquear vírus da Aids

por 

Muco cervico-vaginal serve de barreira contra o vírus HIV - Michael Freeman / Agência O Globo
RIO — Um micróbio encontrado naturalmente na vagina pode se tornar uma nova arma no combate à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis. Estudo publicado ontem na revista científica “mBio”, editada pela Sociedade Americana para a Microbiologia, mostra que o muco cervico-vaginal de mulheres que possuem uma espécie particular de bactéria é capaz de efetivamente capturar partículas do vírus HIV, servindo como um bloqueio natural contra infecções. Entretanto, alertam os pesquisadores, o bioma vaginal varia entre as mulheres e até entre as diferentes etapas na vida de uma mesma pessoa.
— As superfícies mucosas, como pulmões, trato intestinal e o sistema reprodutivo feminino, são onde a maioria das infecções ocorrem — diz Sam Lai, professor de Farmácia na Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, e autor do estudo. — Nossos corpos secretam mais de seis litros de muco todos os dias como uma primeira linha de defesa.
Os pesquisadores coletaram amostras de muco cervico-vaginal de 31 mulheres em idade reprodutiva e mediram diversas propriedades do material. Entre os exames, foram introduzidas partículas do HIV, e foi possível separar as amostras em dois grupos distintos: os que capturavam as partículas e os que deixavam o patógeno circular livremente.
Uma das diferenças entre os dois grupos foi o maior nível de ácido lático D nas amostras que capturaram o HIV. Como os humanos não produzem essa substância, os cientistas suspeitaram que micróbios que vivem na camada de muco eram os responsáveis pela diferença na quantidade de ácido lático D.
Com o sequenciamento genético das bactérias, os pesquisadores concluíram que o muco capaz de bloquear o vírus possuía grandes concentrações da bactéria Lactobacillus crispatus. Em contraste, o muco que falhou em capturar o HIV possuía uma outra espécie de Lactobacillus, a L. iners, ou possuía múltiplas espécies de bactéria, incluindo a Gardnerella vaginalis. Essas duas condições são associadas frequentemente com vaginoses bacterianas.
— Eu fiquei realmente surpreso em como pequenas diferenças entre espécies de Lactobacillus proporcionam diferença substâncial nas propriedades da barreira do muco — destaca Lai, lembrando que, historicamente, os ginecologistas consideravam a microflora vaginal como saudável se fosse dominada por qualquer espécie de Lactobacillus. — Mas nosso trabalho mostra que da perspectiva da barreira do muco, essa não é uma boa distinção.
Com os resultados desta pesquisa, agentes de saúde devem se preocupar mais com mulheres que possuírem populações de Lactobacillus iners. E, por outro lado, microfloras dominadas pelo Lactobacillus crispatus se mostraram mais protetivas contra o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis do que se imaginava.
As análises demonstraram que a barreira do muco funcionam com partículas do HIV, mas também com outros vírus. Sedungo Lai, o muco cervico-vaginal pode ser pensado como uma “camisinha biológica”, que pode ser reforçada pela alteração do bioma vaginal das mulheres.
— Se nós encontrarmos uma forma de inclinar a batalha em favor do L. crispatus nas mulheres, nós poderemos aumentar as propriedades da barreira natural do muco e melhorar a proteção contra doenças sexualmente transmissíveis — conclui Lai.

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sábado, 22 de dezembro de 2012

Aids pode ser vencida pelo Brasil


22/12/2012 - 05h01

'Brasil pode ser 1º país a derrotar a Aids'

JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA

Luiz Loures, médico brasileiro que foi nomeado vice-diretor executivo da Unaids, agência das Nações Unidas para a doençaUm brasileiro acaba de ser escolhido pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, para coordenar as políticas públicas da Unaids (braço da organização contra a Aids).
Luiz Loures vai assumir em janeiro a vice-diretoria executiva dos programas da entidade e também um cargo mais político, o de secretário-geral assistente da ONU.
O médico foi um dos pioneiros no cuidado a pacientes com Aids no Brasil. Loures está há 16 anos na Unaids, hoje em Genebra.
Ele diz que espera ver o fim da epidemia da Aids em 15 anos.
Mas, para isso, é preciso quase dobrar o número de pessoas em tratamento, investir em diagnóstico precoce e no fim do preconceito.
O Brasil, opina, tem condições de ser o primeiro país a declarar o fim da Aids.
*
Folha - Que desafios estão postos nesse novo cargo?
Luiz Loures - A gente está mudando de fase na resposta à Aids. Começamos a falar do fim da epidemia.
O progresso científico permite isso. E estou sendo colocado neste posto para mudar e intensificar os programas e levar o maior número de países a essa meta que, agora, a gente pode começar a estimar.
Eu penso em 15 anos. A Aids vai continuar existindo provavelmente, a não ser que se consiga erradicar o vírus -o que é uma questão para o futuro muito mais distante.
Mas vamos poder dizer que não há mais epidemia. Talvez não em todos os países ao mesmo tempo.
Nicolas Lieber/Divulgação
Luiz Loures, médico brasileiro que foi nomeado vice-diretor executivo da Unaids, agência das Nações Unidas para a doença
Como o sr. vê o Brasil nesse cenário? Têm surgido críticas sobre a atual política...
Pelo panorama mundial, não tenho dúvidas de dizer que o Brasil é o país com as políticas de Aids mais avançadas e mais inclusivas. Isso do ponto de vista global, eu não estou dentro do Brasil.
Se eu tomo, por exemplo, as estatísticas de acesso ao tratamento no Brasil, as coberturas são as mais altas entre as mais altas do mundo, exatamente porque o Brasil foi o primeiro país a tratar.
Seguindo esse parâmetro, não tenho dúvida de dizer que o Brasil tem condições de ser o primeiro país a declarar o fim da Aids.
O primeiro?
Se o Brasil continuar suas políticas, intensificar onde é necessário. Claro que é um país continental, complexo.
E não que seja uma tarefa fácil, mas não foi fácil em nenhum momento. A trajetória do Brasil nessa área foi marcada pela coragem.
Agora, eu sei que existe um debate. É exatamente aí que está a fortaleza do programa brasileiro, no debate.
Que mudança de postura os países devem ter nessa fase?
É exatamente não mudar muito. O risco hoje, pela complacência, pela existência de outras prioridades, é colocar a Aids em plano secundário.
A humanidade conseguiu avançar tanto em relação à Aids que seria um erro histórico deixar as coisas irem para trás agora, quando a gente tem condição de ir avante.
E até chegar lá?
Há 8 milhões de pessoas em tratamento. Temos de tratar ao menos mais 7 milhões até 2015 para podermos falar que estamos no ritmo.
O teste de Aids tem de virar rotina. Não é bicho de sete cabeças, tem de haver mudança nesse sentido.
Qualquer pessoa no mundo tem o direito e tem de saber se está ou não infectada. É aí que começa o fim da Aids, começa com cada indivíduo.
Quem se trata não só cuida da sua saúde como corta a transmissão.
Além disso, a prevenção tem que ser intensificada. Há dois desafios fundamentais.
Um é nos grupos mais vulneráveis, como o homossexual masculino.
A discriminação ainda é o fator mais importante em muitos países, 78 países criminalizam a relação com o mesmo sexo.
Não tem como pensar que o homossexual vai procurar o serviço de saúde se tem o risco de ser pego.
A mesma coisa em relação ao usuário de droga.
A epidemia na Europa Oriental é a que me preocupa mais no panorama mundial.
A questão fundamental é o seguinte: o usuário de droga é um problema de saúde, não é um problema de polícia.
RAIO-X