Diplomacia
Brasil merece assento no Conselho, mas não o terá agora
Em coletiva de imprensa, após um encontro bilateral com o chanceler brasileiro, Hilllary Clinton diz que é ‘difícil imaginar’ o órgão da ONU sem o Brasil no futuro
Cecília Araújo, de Brasília
Hillary Clinton, secretária de Estado americana, se encontrou com Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores(Folhapress)
Os Estados Unidos admiram o crescimento do Brasil e sua vontade de se tornar um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, mas esse é um projeto para o longo prazo, afirmou a chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, em visita a Brasília. Antes disso, seria preciso refletir sobre mundo de hoje e reformar a ONU como um todo, não apenas Conselho. “É difícil de imaginar no futuro o Conselho de Segurança da ONU sem incluir um país como o Brasil, com todo seu progresso e modelo de democracia”, ponderou. A secretária de estado chegou na manhã desta segunda-feira ao Brasil e participou nesta tarde da 3ª Reunião do Diálogo de Parceria Global Brasil-Estados Unidos. Criado em 2010, o encontro anual de alto nível reúne a chefe da diplomacia americana e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, a fim de conferir direcionamento político à coordenação bilateral em diversas áreas, como educação, ciência e tecnologia, inclusão social e direitos humanos. Nesta última reunião, também foram examinados temas de interesse global, como questões de paz e segurança internacionais – entre os países citados estão Guiné Bissau, Síria, Irã, Paquistão, Afeganistão, Coreia do Norte e Haiti – e a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).
Em coletiva de imprensa, Hillary condenou os recentes ataques no Afeganistão e garantiu que continua a trabalhar ao lado dos governos do país e do Afeganistão a fim de desmantelar redes terroristas como a Haqqani. “Os terroristas vão continuar a atacar, assassinar e provocar. Mas temos evidências de que a insurgência está fracassando”, acrescentou, otimista. Sobre a Coreia do Norte, Hillary insistiu que provocações não serão aceitas. “Haverá consequências para esse comportamento. E o próprio povo deve condená-lo - não apenas EUA, Coreia do Sul, Japão”, disse. Ao falar sobre o Irã, a secretária garantiu que os Estados Unidos vão manter as sanções e a pressão até que o governo do país considere rever seu programa nuclear e voltar à mesa de negociações. “Ele precisa se mostrar aberto e transparente para responder às preocupações da comunidade internacional.” Sobre a situação que se agrava na Síria, Hillary ainda espera que o governo aceite as condições impostas pela comunidade internacional e silencie as armas, implementando o plano apresentado por Kofi Annan. “Se violência continuar, teremos que voltar a planejar os próximos passos”, disse. Sobre o tema, Patriota destacou o apoio do país aos esforços diplomáticos. “Preocupam-nos as hipóteses e especulações sobre a consideração de uma ação militar. Achamos que tal medida disseminaria a instabilidade em uma escala que traria repercussões imprevisíveis e de grande gravidade”, afirmou.
Setor privado - Mais cedo, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Hillary falou a um grupo de empresários e representantes dos governos americano e brasileiro. Ela enfatizou o incentivo dos EUA ao investimento de empresas americanas no petróleo brasileiro. A secretária de Estado lembrou que se encontrou com a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e se disse “impressionada” com o compromisso da Petrobras em maximizar o potencial do pré-sal. “Discutimos longamente sobre o que Brasil está fazendo. É um projeto caro, pois demanda um investimento de alto nível em especialistas e tecnologias necessários. Sabemos que o quão difícil é trabalhar em águas profundas. Mas queremos ser parceiros e nos colocamos à disposição para ajudar”, pontuou, lamentando o vazamento da Chevron. Sobre a decisão da Argentina de renacionalizar sua maior petroleira, Hillary diz que o assunto ainda deve ser detalhado. "De toda forma, acho que competitividade e abertura são essenciais para um modelo de sucesso."Hillary ressaltou o potencial da parceria entre Brasil em não apenas estreitar os negócios entre empresas de ambos os países, mas também para melhorar a vida de seus cidadãos. “Em um momento de instabilidade econômica, como manter crescimento e prosperidade econômica? Uma resposta possível é a inovação”, afirmou, destacando a importância das empresas privadas nesses investimentos. “Se nossa economia é dinâmica, baseada na lei e na transparência, é possível investir mais no nosso povo”, disse. Para isso, ela acrescenta ser preciso um governo inclusivo, um setor privado sólido e uma sociedade civil forte e com voz para se expressar. “E o Brasil está perto dessa prosperidade.” Ela lembra que os investimentos do Brasil nos Estados Unidos já chegam a 15,5 bilhões de dólares, o maior da América Latina. Por sua parte, o governo americano investiu 75 bilhões de dólares no Brasil. “Com inovação não criamos apenas empregos, mas colaboramos para um futuro mais próspero. Isso é bom para os EUA, o Brasil, a America Latina e para o mundo inteiro.”