O cineasta Cláudio Galvão, conhecido como Dado, adia pela segunda vez o lançamento do documentário 'Conexão Cuba-Honduras', que iria ocorrer na sexta-feira (10), no Centro Cultural de Jequié, na Bahia.
O motivo é o mesmo: o embargo do visto da blogueira e jornalista cubana Yoani Sanchéz, que mantém discurso de oposição ao governo do país.
Ela é a principal voz da produção, que retrata as restrições políticas impostas por Cuba e Hondura sobre a liberdade de expressão no século 21. "Não foi uma decisão minha, foi do coletivo, inclusive de Yoani. Nós iremos fazer um novo convite. A previsão é para o fim de abril. A gente não jogou a toalha ainda", afirma.
Dado lembra que é a terceira vez que Yoani tentou embarcar para estada no Brasil para participar do lançamento do filme; duas delas ocorreram em 2010 e esta última em 2012. "O tempo é para obdecermos às exigências da burocracia cubana. O bispo daqui [de Jequié, onde mora] irá escrever uma carta ao Papa, que estará em Cuba no dia 26 de março", afirma.
Documentário
Outro personagem é Esdras López, jornalista do Canal 36, portal noticioso de Honduras que teve o trabalho cerceado durante o golpe militar, ocorrido em setembro de 2009. O episódio é um dos retratados nos 45 minutos dedicados à história do país em torno da liberdade de expressão.
Outro personagem é Esdras López, jornalista do Canal 36, portal noticioso de Honduras que teve o trabalho cerceado durante o golpe militar, ocorrido em setembro de 2009. O episódio é um dos retratados nos 45 minutos dedicados à história do país em torno da liberdade de expressão.
"Abordamos a partir do momento em que o presidente Zelaya [Manuel] foi deposto e retornou ao país [Honduras] escondido pela Embaixada do Brasil. Teve uma guerra midiática. O Canal 36 anuncia que Zelaya está em território hondurenho, mas o presidente de fato, Roberto Michelet, dizia que não. Contamos sobre essa história e a do principal jornalista do Canal, Esdras", afirma. As 1h05 que completam a duração se concentram em casos cubanos, dentre eles Yoani e seu marido, Reinaldo Escobar, as Damas de Branco e o Conselho dos Ativistas dos Direitos Humanos.
Dado conta que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) é um dos personagens brasileiros do documentário, pelo apoio dado ao diálogo tentado entre Yoani Sánchez e o ex-presidente Lula."Ele, junto ao deputado Euclides Fernandes, tentaram ações com o Ministério das Relações Exteriores e Lula, mas houve silêncio na época [2010]. O curioso é que recentemente Lula pediu ao senador para avisar a Yoani que escrevesse uma carta a Dilma", comenta.
Dado cancelou o lançamento do documentário naquele ano por conta do insucesso na tentativa da viagem de Yoani. Nesse intervalo de quase um ano até o atual lançamento, ele conta que incorporou atualizações políticas e econômicas ocorridas nos países, dentre as quais a autorização dada para compra de automóveis aos cidadãos cubanos.
"A ideia é usar esse documentário para que ela tenha esse direito [Yoani], que é violado. A Declaração dos Direitos Humanos, que é de 1948, diz que todo mundo tem o direito de ir, vir e regressar ao seu país. Ela não responde a processo na Justiça cubana, o que a impede é o fato de ter pensamento diferente do regime atual", comenta. O cineasta pretende inscrever a produção em festivais.
Encantado com uma entrevista que leu sobre a cubana em uma revista brasileira, Dado, que já tinha estado no país em 2008, resolveu tentar contato por e-mail, mas confessa que demorou para obter resposta. Foi quando resolveu deixar um comentário na primeira postagem do blog 'Generación Y'. "Eu disse que estava indo para o Festival de Cinema de Havana e queria encontrá-la. Consegui resposta dias depois. O marido dela me enviou um e-mail com o número de um telefone", diz.
O tempo longo de resposta é causado muitas vezes pela dificuldade de conexão da internet. "Me comunico com ela via SMS e por telefone, quando consigo, já que está sempre bloqueado ou grampeado. Quando tem casos que repercutem fora de Cuba, o telefone fica fora do ar. Internet acontece, mas é muito lenta e cara. Ela precisa de recursos para acessar, para twittar... As pessoas são solidárias e colocam créditos fora de Cuba", conta.