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quarta-feira, 10 de julho de 2013

OCDE faz críticas ao desenvolvimento econômico do Brasil.. // ANSA


Para economista da OCDE, Brasil não é imune a crises

À ANSA, um economista citou os principais problemas do país

Ministro da Fazenda, Guido Mantega (foto: Ansa)
Ministro da Fazenda, Guido Mantega (foto: Ansa)
10 JULHO, 13:56SÃO PAULOCARLO CAUTI
(ANSA) - Um dia após o Fundo Monetário Internacional (FMI) rever as perspectivas de crescimento do PIB do Brasil, o economista sênior da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o italiano Andrea Goldstein, declarou em entrevista à ANSA que a economia brasileira está apresentando sinais negativos e que, se o mundo entrasse em uma nova crise, o país não seria imune às consequências, como aconteceu em 2008.
    "O baixo crescimento do Brasil se deve a um problema de condução macroeconômica. De um lado, temos a falta de investimentos, do outro, a inflação, que está ressurgindo. Também existe o problema da pressão tributária e dos gastos públicos, que estão pesando sobre as decisões de investimento e de consumo das empresas e das famílias", declarou Goldstein.
    Segundo o economista, autor de vários livros, entre os quais "BRIC: Brasil, Rússia Índia e China no comando da economia global" e "A Economia do Brasil", o país sofre por falta de estratégia. "Os investimentos têm um retorno em 20-30 anos, e não podem ser realizados imediatamente. O que falta é um planejamento de longo prazo, além da qualidade do dinheiro público gasto", afirmou.
    Goldstein lembrou como o Brasil foi capaz de fazer grandes investimentos em infraestrutura, como a central hidrelétrica de Itaipu, mas ao mesmo tempo não conseguiu planejar obras que atendessem às necessidades da população. Ele também disse que os investimentos para a Copa do Mundo "tiveram somente um aspecto simbólico e de imagem", mas não resolveram problemas reais, como a deficiência de transportes entre os aeroportos e as grandes cidades brasileiras.
    "O problema do Brasil é político. No exterior, todo mundo acha que o país é governado há 10 anos por um partido de esquerda, mas ninguém entende que a maioria que o apóia é a mais heterogênea possível. O sistema político brasileiro permite esse tipo de situação de paralisia, com os 'dinossauros da política', os caciques das áreas periféricas que continuam mantendo o controle. Isso eu acho que é um dos problemas culturais que impedem investir onde é realmente necessário", defendeu Goldstein.
    Segundo o economista, a atual situação de crise das empresas de Eike Batista também é um "sinal negativo para o Brasil". "Em primeiro lugar, porque a mineração e a extração petrolífera estão entre os principais setores da economia brasileira. Mesmo com todos os problemas que poderia criar a 'doença holandesa', permanecia a esperança do aumento de pontos no PIB graças a esses setores. Mas agora está claro que é muito mais difícil explorar o pré-sal do que tinha sido previsto", analisou.    "Um segundo aspecto negativo é que estamos falando de uma pessoa que era considerada membro de uma classe de novos capitalistas brasileiros que aparentemente iriam mudar a cara do país e que, ao contrário, hoje aparecem com fortes dificuldades. O terceiro ponto negativo é a grande exposição do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com as empresas de Eike. Isso demonstra que as críticas às políticas econômicas do banco realizadas nos últimos anos estavam corretas", salientou Goldstein.
    O economista explicou que, por todas essas razões, o Brasil não consegue crescer a ritmos acelerados, e "mesmo quando cresce por um ano com um PIB como a China, nos anos seguintes deve reduzir o crescimento por causa dos desequilíbrios provocados pelo próprio crescimento. Isso demonstra que o Brasil não tem a capacidade de crescer a um ritmo muito elevado".
    "Se o contexto externo se mantiver positivo ou neutro, o Brasil poderá crescer a taxas baixas. Entretanto, se a economia internacional entrasse em crise, a situação ficaria realmente difícil para o Brasil. Essa seria uma 'tempestade perfeita' para os investimentos brasileiros", disse Goldstein. (ANSA)