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terça-feira, 27 de dezembro de 2016
Dois desumanos matam um senhor de 54 anos por defender duas travestís na presença de dezenas pessoas em pleno Natal
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2016/12/27/o-assassinato-do-ambulante-luiz-no-metro-um-conto-de-natal-brasileiro/
O assassinato do ambulante Luiz no metrô: Um conto de Natal brasileiro
Leonardo Sakamoto
27/12/2016
09:33
O vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas foi espancado até a morte por dois homens após, segundo a polícia, tentar defender duas travestis em situação de rua que estavam apanhando deles no centro de São Paulo. Chegou a correr para a dentro da estação de metrô Pedro II, mas foi perseguido, derrubado e levou socos e pontapés por um minuto e meio.
Tudo nessa história converge para chocar: o espancamento de um homem de 54 anos por dois jovens de 26 e 21; a morte ter ocorrido dentro de uma estação de metrô; a falta de preocupação dos rapazes de fazerem isso em um local em que certamente seriam identificados; não ter aparecido nenhum segurança para impedir; câmeras terem gravado as imagens que, mostradas pela imprensa, viralizaram pela rede; uma pessoa já discriminada socialmente (um vendedor ambulante) ter morrido porque tentou defender outras pessoas que também são (travestis); ser noite de 25 de dezembro, Natal.
É a mistura da banalização da violência, da sensação de onipotência e de invencibilidade, do ódio profundo a algo.
A banalização da violência causada por uma sociedade que transforma a violência em produto e a vende diariamente, na forma de programas sensacionalistas na TV, de jogos para computador ou videogame. Uma sociedade incapaz de refletir sobre a importância do diálogo e não da força na resolução de conflitos.
Há quem se sinta onipotente por fazer parte de um grupo tido como hegemônico (homens, héteros…) Pensa que, com isso, os outros lhes devem algum tributo. O sentimento sempre esteve presente em nossa história e a violência e as mortes impunes decorrentes dele também. Mas acredito que essa sensação foi potencializada após certas visões ultraconservadoras terem saído do armário diante do contexto favorável nos últimos anos. Perdeu-se o pudor de não ter pudor.
Isso sem contar o ódio profundo. Prega-se em púlpitos, em plenários, na TV, em reuniões com amigos, que o mal precisa ser extirpado. Que há pessoas ou grupos que representam o mal e precisam ser eliminados. Quantas vezes não lemos nas redes sociais comentários como ''ele é um câncer que precisa ser extirpado'' ou ''tal pessoa merece a morte''? Na superfície dessa afirmação, há ódio. Mas se escavarmos um pouco, chegaremos ao medo do desconhecido e do diferente e, portanto, à ignorância sobre o outro.
Nesse ponto, vale ir mais a fundo.
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