Adriana Esteves, Débora Falabella e Murilo Benício: novela é sucesso de faturamento
A Globo pretende faturar o quanto pode com o sucesso de “Avenida Brasil”. Para se ter uma ideia, o último capítulo da novela terá 70 minutos de arte, o que significa que, no todo, os espectadores terão praticamente duas horas de novela no ar se somados os intervalos. Além disso, o preço do anúncio inflacionou. Se um break de 30 segundos custava cerca de R$ 450 mil, agora o valor inflacionou para R$ 700 mil. E ainda assim a procura foi grande.
Há dois meses todos os espaços comerciais da novela foram vendidos. E, em todo o país, somando também transmissões de propaganda regional, serão quase 500 anunciantes. Na reprise, no sábado, o número cai para cerca de 350, já que o capítulo vai ao ar com duração menor.
Tinha de ser em Tupã o cartório que lavrou a primeira escritura brasileira de um “casal de três”: um homem e duas mulheres. Tupã, bem antes de ser uma cidade do interior de São Paulo, era o deus do trovão dos guaranis. E nós, caras-pálidas, sabemos que os índios nunca se interessaram pela monogamia. Por que a maioria de nós sente uma necessidade visceral de regular o amor e de se apropriar do outro a qualquer custo?
O trio familiar – “triângulo” virou coisa antiga por sugerir traição – é do Rio de Janeiro e só foi para Tupã oficializar a união estável porque está ali uma tabeliã de cabeça aberta: a paulistana Cláudia do Nascimento Domingues. Ela faz doutorado na USP sobre “famílias poliafetivas”. Um nome pomposo que evita a armadilha da “poligamia” e confirma uma tendência: adaptar o Direito a uma realidade bem mais plural que o casamento tradicional.
A tabeliã Cláudia – que vive com um homem uma união estável e sem filhos – tem sido procurada nos últimos meses por vários tipos de famílias, ansiosas para registrar o “poliamor” em cartório, assegurar direitos e comemorar visibilidade social. Família de três mulheres. Família de dois homens e uma mulher. Família de quatro pessoas: dois homens que moram no Brasil e suas duas parceiras que viajam muito. “Esta última é uma relação estável de cinco anos, e todos os amigos sabem que se relacionam entre si. É uma união ampla, conjunta, múltipla”, diz Cláudia.
A série de adjetivos revela uma dificuldade natural: como classificar o mundo novo do amor sem amarras. Como revestir de respeito e legitimidade o que muitos chamariam pejorativamente de “suruba”. Numa sociedade estruturada na monogamia, onde casais prometem, no altar, no cartório ou na cama, fidelidade até que a morte os separe, como aceitar formatos de família tão, digamos, criativos?
Os casais de três ou quatro pessoas que têm buscado o cartório de Tupã fazem parecer careta a “relação aberta” da geração hippie. Até os casais gays, chamados de homoafetivos, começam a ter um ar conservador... caso exijam exclusividade no afeto. No próximo século, segundo Cláudia, cuja orientadora na USP é uma desembargadora do Rio Grande do Sul, Maria Berenice Dias, não olharemos o homo ou o heterossexual pela distinção de gêneros: “Será uma preferência, como quem gosta de vinho ou de cerveja”.
“Onde está escrito que família precisa ser de um tipo só?”, pergunta Cláudia. “Não estamos inventando nada, não é? Na verdade, estamos voltando ao passado, aos gregos, ou então imitando os índios.”
Numa sociedade monogâmica, como aceitar formatos de família tão, digamos, criativos?
A televisão já ilustra de forma folclórica os “poliafetivos compulsivos”, aqueles homens que elas costumavam chamar de “galinhas”. É o caso de Cadinho, personagem de Alexandre Borges na novela Avenida Brasil, com suas três mulheres. Foram elas, cansadas de ser enganadas, que decidiram compartilhar Cadinho num contrato com regras, horários, direitos e deveres. Em sua tese de doutorado, Cláudia pretende incluir papos com o autor da novela, João Emanuel Carneiro, e também com Pedro Bial, por seu programa das quintas-feiras, Na moral.
Para oficializar a união estável do trio do Rio, as primeiras preocupações de Cláudia foram: algum deles é casado? Não. Algum tem impedimento legal para viver em conjunto? Não. “Marquei com o homem e as duas mulheres para entender seus motivos. Não queriam casar. Só queriam definir regras em contas conjuntas, compra de imóvel, herança. Parentes e amigos já os tratavam como família havia alguns anos. Lavramos a escritura no fim de março. Até onde sabemos, é a primeira do tipo no Brasil.”
Apesar de pioneira, essa escritura é mais aceitável porque todos estão de acordo. E quando uma pessoa casada tenta registrar no cartório uma família paralela, sem conhecimento do cônjuge, para garantir os direitos do(a) amante? “É uma questão para a Justiça decidir”, diz Cláudia. Se a pessoa não se divorciou, pode até estar separada, mas, por ter uma união civil reconhecida, não pode legalmente registrar em contrato público uma família paralela. Mesmo que a relação, correta ou não, seja de amor. “Quando o Direito não oferece alternativa, as pessoas sempre dão um jeito. Fazem um contrato privado.”
Um dos casais que procuraram a tabeliã planeja driblar a lei. Eles são casados oficialmente, mas há uma terceira pessoa aceita pelos dois. Pretendem então se divorciar para, depois, constituir uma “família poliafetiva”. Tortuoso, não? Pois isso se chama realidade.
São exceções, mas, quem sabe, moram no apartamento ao lado do seu. E, caso encarem com honestidade o “poliamor”, quem somos nós – alguns nos engalfinhando por casos extraconjugais passageiros ou longos – para julgar o que é certo e errado na expressão do afeto e do desejo?
Advogados usam tom emocional e citam Carminha e Chico Buarque em julgamento
No quarto dia do julgamento do mensalão no STF, segundo destinado às defesas dos réus, houve citações à novela 'Avenida Brasil', a música do cantor e a dramas pessoas dos réus
O quarto dia de julgamento do mensalão no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) foi marcado pelo tom muitas vezes emocional das defesas dos réus, além de curiosas citações a personagens de novela e a uma música do cantor e compositor Chico Buarque. Nesta terça-feira (7), falaram os defensores de mais cinco réus do processo: Cristiano paz, ex-sócio de Marcos Valério, foi representado por Castellar Modesto Guimarães Filho; Rogério Tolentino, outro ex-sócio do publicitário, foi defendido por Paulo Sérgio Abreu e Silva; Simone Vasconcelos, ex-diretora administrativa da SMP&B, foi defendida por Leonardo Yarochewsky; Geiza Dias, também ex-funcionária da SMP&B, também foi representada por Abreu e Silva; e, por fim, Kátia Rabello, ex-presidenta do Banco Rural, contou com a defesa do advogado José Carlos Dias.
Durante a sessão do STF, chamaram a atenção algumas citações curiosas do advogado de Simone Vasconcelos. Yarochewsky arrancou risos das pessoas presentes ao plenário quando citou as duas protagonistas da novela “Avenida Brasil”, sucesso da TV Globo no horário nobre, para desqualificar a acusação da Procuradoria Geral da República de que sua cliente era integrante de uma “quadrilha”. “Virou moda, é bonito falar de bando ou quadrilha. Até na novela das oito, a Carminha falou que ia processar a Nina por formação de quadrilha”, afirmou o advogado.
Para ilustrar suas críticas à denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o advogado de Simone Vasconcelos citou uma música de Chico Buarque para defender sua cliente, “Apesar de Você”. Alfinetando Gurgel, que ao final da leitura da síntese das acusações aos réus, na última sexta-feira, citou trecho de outra canção de Chico, “Vai Passar”. ““Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, provocou Yarochewsky em alusão ao procurador-geral.
Procurado pela reportagem do iG , Chico Buarque, por meio de sua assessoria, disse que "não está disponível para entrevistas e declarações no momento".
Injustiças e abandono familiar
Ainda na sustentação oral da defesa de Simone Vasconcelos, Leonardo Yarochewsky apelou ao tom emocional para tentar convencer os ministros da inocência de sua cliente. "Este advogado não sabe o que se passa entre o cérebro e o coração de Vossas Excelências, que vão decidir sobre o futuro de uma mulher que teve sua vida devassada", disse.
O apelo de caráter emocional também esteve presente no pronunciamento de outros advogados na sessão desta terça-feira. Ao defender Geiza Dias, ex-gerente interna da SMP&B, Paulo Sérgio Abreu e Silva chegou a dizer que sua cliente era uma “funcionária mequetrefe, de terceiro ou quarto escalão” na empresa. Trabalhava no setor financeiro e era uma batedeira de cheque”, afirmou. Ele fez dobradinha com Yarochewsky, que já havia usado o mesmo discurso para defender Simone Vasconcelos, e disse que Geiza trabalhava em um “porão” da empresa, bem distante de onde ficavam os responsáveis pelas decisões.
O defensor afirmou ainda que Geiza é uma "moça pobre, honesta, trabalhadora, que estudou com dificuldade". "Aí eu fico pensando, Excelência. À época da denúncia, a Procuradoria não teve sensibilidade para oferecer essa denúncia. Geiza era uma batedeira de cheque, não lucrou nada, nada teve, não teve apoio de PT. Nada, não tinha nada. Por que ela ia se meter nessa aventura? A falta de sensibilidade de quem fez a denúncia é muito grande", criticou.
Abreu e Silva lembrou que a acusada foi abandonada pela família. “Eu lamento fazer essas críticas, falar coisas de ex-colegas... Mas não tem jeito: são vidas que estão em jogo! Essa moça foi escorraçada pela família por ter se envolvido com o tal de mensalão. Ela teve que mudar de Belo Horizonte porque os familiares dela não admitiam a presença dela. A mancha é muito grande”, disse. O advogado da ex-funcionária da SMP&B ainda qualificou o relatório da Procuradoria Geral da República de “monstrengo jurídico”.
José Carlos Dias, advogado de Kátia Rabello, ex-presidenta do Banco Rural, também fez questão de mostrar aos ministros do STF o quanto sua cliente vem sofrendo com as acusações da Procuradoria Geral da República. “Vou fazer a defesa de uma mulher injustiçada”, afirmou no início de sua explanação.
Currículo
A sessão de julgamento do mensalão começou com a defesa de Cristiano de Mello Paz, ex-sócio de Marcos Valério na agência SMP&B, empresa apontada como central no repasse de dinheiro do esquema. O advogado Castellar Modesto Guimarães Filho afirmou que seu cliente cuidava exclusivamente da parte de criação na agência de publicidade SMP&B, empresa de Marcos Valério da qual foi sócio - estratégia semelhante à utilizada pelo advogado de Ramon Hollerbach na segunda-feira.
O curioso é que, para ilustrar o volume de tarefas de Cristiano que supostamente o impossibilitaria ter tempo para exercer outras funções, o advogado destacou a trajetória profissional do publicitário e depoimentos que exaltavam sua excelência na atividade. De acordo com o advogado, Cristiano Paz era “um homem voltado à criação por natureza, razão de sua paixão pelo trabalho que desenvolve desde os seus 17 anos". Além disso, Guimarães Filho citou depoimentos do marqueteiro Duda Mendonça e do jornalista Alvaro Teixeira da Costa elogiando a qualidade profissional do acusado.
Em seguida, foi a vez do defensor de Rogério Tolentino - considerado pela acusação o integrante do "núcleo publicitário" mais próximo do Banco Rural. Paulo Sérgio Abreu e Silva também tentou descolar a imagem de seu cliente do publicitário Marcos Valério. Ele disse que Tolentino "nunca foi sócio, dirigente ou gestor das empresas de Marcos Valério" e que, portanto, a acusação de corrupção ativa que pesa contra ele não encontra substância. Ele também criticou a denúncia da Procuradoria Geral da República, que, segundo ele, é um "roteiro digno de novela das oito".
Abreu e Silva chegou a afirmar que o procurador Roberto Gurgel teve "preguiça mental" de ler os laudos periciais da defesa. "Não é possível. O relator determinou, ele mesmo, laudos em cima dos pedidos da defesa, com o maior cuidado e a maior lisura. O Ministério Público, não."