10.000 OBJETOS EM 50 ANOS
Muitos artistas contemporâneos utilizam objetos do dia a dia para criar obras de arte ou questionar valores da sociedade moderna. Mas poucos trabalhos são tão impactantes quanto a instalação do chinês Song Dong que chega a Londres no próximo mês. Intitulada Waste Not(tradução de wu jin qu yong, ou “não desperdice” em português), a obra é uma imersão na vida da mãe do artista, e nos dá uma ideia de como era a vida na China comunista durante o período pós-guerra.
Waste Not é formada por cerca de dez mil itens – de tubos de pasta de dente vazios, brinquedos e cobertores, até recipientes plásticos e potes de metal – juntados (ou melhor, não desperdiçados) pela mãe de Song Dong durante 50 anos.
A coleção segue ao pé da letra o lema de não desperdiçar e viver apenas com o necessário que permeou a vida no país durante muitos anos. Todo e qualquer objeto possuía uma longa sobrevida, e, mesmo quando a situação social, política e econômica chinesa começou a mudar, o medo de um possível racionamento aliado ao costume de não jogar nada fora impediu que esse monumental conjunto fosse para o lixo.
Como se não bastasse, após a morte do seu pai, Song Dong viu a mãe agarrar-se aos preciosos objetos e afundar numa grave depressão – o que acabou servindo como inspiração para o artista. Para ajudá-la, ele propôs que trabalhassem juntos, transformando as peças em uma obra de arte. O surpreendente resultado, que agora chega à capital britânica, já passou também pelo MoMA em Nova York.
Apesar da inesperada morte da mãe em 2009, ela chegou a participar da primeira montagem, feita em Pequim, em 2005. Para homenagear seus pais, Song Dong criou um luminoso, que fará parte da mostra em Londres, com os seguintes dizeres: “Dad and Mom, Don’t Worry About Us, We Are All Well” (Pai e mãe, não se preocupem conosco, estamos todos bem).
Waste Not vai ocupar a galeria The Curve, dentro do centro cultural Barbican, a partir do dia 15 de fevereiro, e lá fica até 12 de junho. A entrada é gratuita. (HELOÍSA RIGHETTO)