Postagem em destaque

NOTÍCIAS DE BRASÍLIA

Mostrando postagens com marcador multa por ofensa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador multa por ofensa. Mostrar todas as postagens

domingo, 20 de maio de 2012

Julgamento devagar.... Mais de um ano para julgar uma frase preconceituosa?


Ofenda um nordestino e pague R$ 500

0,,43959976,00.jpg (200×250)
Em oututro de 2010, inconformada com a vitória de Dilma Rousseff na eleição presidencial, a estudante paulista Mayara Petruso escreveu no twitter: “Faça um favor a SP: afogue um nordestino!”
Julgada na semana passada, ela não foi enquadrada por crime de racismo, que a levaria a passar um mínimo de dois anos e cinco de prisão. Ficou com uma pena mais leve, de um ano e meio.Isso lhe permitiu trocar a prisão por R$ 500 mais serviços comunitários. É o racismo por menos que um salário mínimo. 


Não sou daquelas pessoas que acham que penas mais duras são um santo remédio para a discriminação, a violência, os desvios de comportamento e outros males da  vida contemporânea.
Muitas vezes, isso é apenas demagogia para impressionar o eleitor desavisado.
Mas essa sentença tem um problema conceitual. Admite trocar uma ofensa à dignidade de milhões de brasileiros por um punhado de reais.
É uma estranha mensagem, vamos combinar.
Punir pessoas por crimes racistas é um ato tão difícil que o craque Grafite, do São Paulo, que foi chamado de “macaco” e “negro de merda” num jogo de futebol desistiu de levar o caso adiante, disse ele à repórter Solange Azevedo. Seu agressor, um jogador argentino, chegou a ser detido depois do jogo mas nada mais lhe aconteceu.
Muitas condenações até chegam até a Justiça, passam na primeira instância mas um número acima de qualquer padrão acaba caindo na segunda, informa uma reportagem da mesma Solange Azevedo.
Encarregado de apurar o caso de um garoto de seis anos expulso de uma pizzaria do Paraíso, em São Paulo, o delegado do bairro admitiu, em entrevista, que a lei oferece muitas portas e janelas para um agressor escapar impunemente. A simples tipificação de racismo exige que se faça uma ofensa de caráter coletivo.
É mais difícil demonstrar que isso aconteceu com o garoto da pizzaria.
Mas foi exatamente isso que fez a estudante que queria afogar nordestinos. Mesmo assim, livrou-se de uma punição maior por R$ 500. Menos que um fim de semana de férias em Porto Galinhas.
Ficou uma mensagem de tolerância com este crime, sutil mais real. Ao noticiar a punição da estudante, os jornais omitiram um dado essencial neste episódio. Um deles fez questão de lembrar que “os maiores índices de votação de Dilma foram registrados no nordeste.”
É claro que ninguém diz que a arrependida estudante tinha razão em sua reação destemperada mas o tratamento recebido abre caminho para outras reflexões.
Quem vai negar que o desenvolvimento econômico dos últimos anos privilegiou o nordeste? E quem vai negar que o governo Lula sempre foi mais popular no Nordeste do que no Sul e Sudeste? Aliás: onde foi mesmo que Lula nasceu? Quem vai negar que a eleição teve mesmo um caráter de disputa regional?
Quem sabe, segue o raciocínio ilustrado, a nossa estudante tenha até exagerado um pouco na linguagem mas será que não tocou num problema real?
E aí se vê o absurdo do absurdo, o preconceito do preconceito.
Ao contrário do que sugere o twitter naufragado, a vitória de Dilma em 2010 bastante ampla. Ela ganhou com folga no Nordeste e no Norte mas teria sido eleita mesmo sem os votos dessa região.
O país mudou e muita gente não percebeu.
Mayara não é a única que não entendeu nada. Muita gente não enxerga as mudanças e acha que é possível tratar brasileiros como cidadãos de segunda classe. Essa é a lição política do episódio.