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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Heurística recebe 'cartão amarelo' do Bom Senso... // Hélio Schwartsman


Escolhas necessárias



SÃO PAULO -
 Pensar dá trabalho e, por isso, preferimos nos apoiar na heurística, isto é, naquele conjunto de regras, que podem ser culturalmente transmitidas ou basear-se em impulsos biológicos, que nos faz tomar decisões rapidamente.
O problema com essas regras é que elas não precisam estar sempre corretas. Basta que funcionem mais do que não funcionem para que sejam preservadas pela cultura e pela evolução. Nas situações em que não dão tão certo, as chamamos de vieses.
Um bom caso é o do exame do Cremesp, que reprovou quase 60% dos 2.843 recém-formados no Estado. Por razões legais, o teste não é eliminatório. O futuro médico tem de fazê-lo, mas não precisa ser aprovado.
A maioria das pessoas, apoiada em vieses, se revolta com essa situação. A ideia de credenciar médicos que se mostraram despreparados para a função faz nossos alarmes internos dispararem. Esse, porém, não é o único viés em jogo aqui. Também ficamos indignados com hospitais públicos sem médicos e pacientes sofrendo na fila. Essas imagens têm forte apelo para nosso senso de justiça.
A dificuldade é que ambas as intuições, embora justificáveis, são difíceis de conciliar. Se queremos mais médicos, a ponto de importá-los de Cuba e dispensá-los de provas técnicas, não faz muito sentido dificultar o processo de licenciamento dos profissionais aqui formados.
Em situações complexas, não dá para nos fiarmos na heurística. É preciso definir racionalmente se a prioridade será completar as escalas dos hospitais ou selecionar com rigor quem poderá exercer a medicina.
O governo e a população, a julgar pelas pesquisas de aprovação ao Mais Médicos, já tomaram sua decisão. Diante do fato consumado, para que a prova do Cremesp não seja uma completa inutilidade, o conselho deveria ao menos abrir os resultados por escola, a fim de que o teste ajude os futuros alunos de medicina a fazer melhores escolhas. 


hélio schwartsman
Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou 'Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão' em 2001. Escreve de terça a domingo.