atualizado 12/10 19:50
Inspirada em Nobel da Paz, jovem de SP cria ONG de microcrédito
- DivulgaçãoAlessandra França, fundadora do Banco Pérola, ONG de microcrédito que atua em Sorocaba (SP) e região
A admiração pelo economista bengalês Muhammad Yunus –ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006– inspirou a jovem Alessandra França, 27, a criar o Banco Pérola, ONG (organização não governamental) de microcrédito para empreendedores de baixa renda.
Desde o início das atividades, em 2010, a instituição já auxiliou 350 micro e pequenos negócios, com um total de R$ 1,3 milhão em empréstimos. A ONG tem atuação em Sorocaba (99 km a oeste de São Paulo) e cidades vizinhas.
França teve o primeiro contato com o trabalho de Yunus em 2002, quando tinha 16 anos, por meio do livro "Banqueiro dos Pobres", escrito pelo economista.
"O que mais me inspirou nele foi o fato de fazer muito com pouco recurso, e ajudar as pessoas a melhorarem de vida", diz.
Público-alvo são empreendedores de baixa renda
De acordo com França, o público-alvo do Banco Pérola são empreendedores das classes C, D e E que queiram abrir ou ampliar o próprio negócio. Segundo ela, os clientes mais comuns são lojas de roupas e salões de beleza.
É o caso da empresária Eveline Garcia, 27, de Salto do Pirapora (124 km a oeste de São Paulo), que utilizou o microcrédito para ampliar sua loja e conseguiu aumentar as vendas em 50%.
"São pessoas que têm boas ideias, mas, muitas vezes, não conseguem subsídio nos bancos privados porque não podem comprovar renda ou têm dívidas em seus nomes", afirma França.
'Nome sujo' não significa crédito recusado
Antes de conceder um empréstimo, a instituição analisa o perfil do solicitante e a sua capacidade de pagamento. Também é feita uma consulta ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) para verificar o histórico de dívidas do beneficiado.
No entanto, ter o nome inscrito no SPC não significa que o crédito será recusado, diz França. "Se a dívida foi decorrente da perda do emprego, por exemplo, assumimos o risco de fazer o empréstimo para este cliente, mesmo que ele esteja com o nome sujo."
O valor do empréstimo na instituição é de até R$ 5.000 por pessoa, ou de até R$ 15 mil para grupos de três pessoas. O pagamento pode ser parcelado em até 12 vezes. A taxa de juros cobrada varia de 2,8% a 3,9% ao mês, dependendo do valor concedido.
Essa taxa, no entanto, não é a menor do mercado. Na Caixa e no Banco do Brasil, a taxa de juros é de 0,4% ao mês. No Bradesco e no Santander, a taxa varia de 2% a 3,9% ao mês. No Itaú Unibanco, a taxa varia de 3,3% a 4% ao mês.
Apesar do limite de R$ 15 mil, a média dos empréstimos realizados é de R$ 3.000 para a compra de estoque e equipamentos, segundo França. A taxa de inadimplência é de 2,8% do total de clientes atendidos.
A instituição trabalha com o microcrédito orientado, ou seja, agentes da ONG visitam periodicamente a empresa beneficiada para avaliar o desempenho do negócio, e auxiliar o empreendedor com eventuais dificuldades.
"Fucnionamos como uma operadora de crédito sem fins lucrativos com título de Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), concedido pelo Ministério da Justiça, e com autorização do Ministério do Trabalho e Emprego para operar o microcrédito orientado", declara a empreendedora.
Banco começou com dinheiro de prêmio
Para abrir a ONG, França inscreveu o projeto em um programa da Artemísia, aceleradora de negócios sociais. A empresária concorreu com 200 projetos e ficou entre os cinco finalistas, que receberam um prêmio de R$ 40 mil, além de uma consultoria de dois anos para desenvolver o negócio. O valor do prêmio foi todo aplicado na ONG.
"Nesse período, aprendemos a gerir pessoas e a criar estratégias de marketing. A partir daí, começamos a correr atrás de parceiros para contribuir com a ideia", diz.
França também ampliou o capital para oferecer aos microempresários com doações e investimento de grandes empresas, como Camargo Corrêa e Votorantim.
"Elas recuperam o investimento em, no máximo, dois anos, e têm a vantagem de estarem associadas a um projeto social", declara.
França diz que todo o dinheiro que retorna para o banco é emprestado novamente para outros empreendedores. Em 2012, a ONG, que não tem fins lucrativos, registrou um saldo positivo de R$ 100 mil.
França afirma que pretende ampliar a atuação de sua ONG, mas ainda com foco nas cidades do interior. "A maioria das capitais já é atendida por algum programa de microcrédito. A ideia é continuar no interior, onde a dificuldade de crédito é maior."
Bengalês é considerado "pai" do microcrédito
Muhammad Yunus é o criador do conceito de microcrédito no mundo. Em 1976, começou a emprestar pequenas quantias de dinheiro do próprio bolso para mulheres de aldeias pobres de Bangladesh, país do sul da Ásia, trabalharem por conta própria.
Superando as expectativas, recebeu de volta todo o dinheiro emprestado. Foi quando viu que poderia expandir a ideia e criar uma instituição financeira que concedesse empréstimos aos pobres rejeitados pelos bancos tradicionais. Nascia assim o Grameen Bank, principal banco credor de microcréditos para pessoas de baixa renda.
Hoje, segundo Yunus, o Grameen Bank atende cerca de 40 milhões de pessoas só em Bangladesh; 97% dos clientes são mulheres e o índice de inadimplência é inferior a 1%.
Apesar de ser considerado o "pai" do microcrédito, Yunus foi demitido do seu próprio banco em 2011, cinco anos após receber o Prêmio Nobel da Paz, por ter violado uma cláusula do regulamento fundador do Grameen Bank sobre as condições da nomeação do diretor-geral.
Segundo Muzamel Huq, presidente da instituição, Yunus foi nomeado diretor-geral do Grameen Bank em 2000 sem a aprovação do Banco Central de Bangladesh. "O artigo 14.1 prevê claramente que um diretor geral deve ser nomeado pelo conselho de administração com o acordo prévio do Banco de Bangladesh", afirmou Hug na época.
Serviço:
Banco Pérola: Rua Visconde de Rio Branco, 89, Vila Jardini, Sorocaba (SP). Fone: (15) 3033-2388. Site: www.bancoperola.org.br