Erros em série
Depois de seu governo colecionar mais trapalhadas, desta vez nas idas e vindas sobre a necessária reforma no ensino médio, o presidente Michel Temer terminou a semana amargando o indigesto sabor da suspeição. E como na política o aliado de ontem esconde o algoz de amanhã, ele pode ter de responder por suposto pedido de propina para Gabriel Chalita, candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo em 2012, hoje vice na chapa do petista Fernando Haddad, um dos animadores do “Fora Temer”.
Mesmo que não dê em nada, o ministro Teori Zavascki empanou a comemoração dos 76 anos do presidente e encheu de delícias o prato dos opositores a uma semana das eleições municipais.
Na sexta-feira, pouco depois da notícia na internet, redes sociais destacavam a “abertura de processo” contra Temer, com uma saraivada de xingamentos e mentiras, bem ao estilo da turma alimentada pelo PT.
Zavascki determinou a abertura de petição no âmbito do Supremo, uma espécie de investigação preliminar, sobre os trechos do depoimento em que o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, cita Temer. E encaminhou o caso para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deverá decidir se abre ou não inquérito.
Machado diz que Temer pediu e conseguiu obter R$ 1,5 milhão para financiar a campanha de Chalita. E que a propina teria vindo da Queiroz Galvão, uma das empreiteiras investigadas pela Lava-Jato.
A delação também envolve o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), os ex-presidentes José Sarney (PMDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), os senadores Romero Jucá (PMDB) e Aécio Neves (PSDB), a ex-ministra Ideli Salvatti (PT) e outros tantos. Diante de lista tão extensa, Zavascki decidiu fatiá-la em petições distintas.
Ainda que tudo esteja na fase inicial, o sinal verde para investigar Temer é mais um revés para um governo que necessita de vitórias e não tem conseguido produzi-las. Ao contrário. Executa o malabarismo de transformar até o que poderia ser uma boa nova em má notícia.
Ministros que falam demais, que têm encantamento absoluto com o próprio umbigo, que preferem uma manchete de jornal à solução dos problemas para os quais o país os remuneram. Projetos lançados sem negociação prévia, algo que trai a experiência congressual de Temer. Um conjunto de equívocos perdoáveis na interinidade, seriíssimos na condição de titular.
Como de praxe, debitam-se os erros à comunicação. Um diagnóstico apressado, fácil, com o qual os governos tentam esconder suas fragilidades. É sempre assim: se o governante acerta e sua popularidade cresce, o mérito é exclusivamente dele; se tropeça, a culpa é da comunicação ineficiente.
No caso de Temer, que assumiu o país em frangalhos, os problemas econômicos e sociais, políticos e morais foram herdados. Portanto, criar novos é absolutamente dispensável.
Isso vale para o vai-não-vai sobre as reformas da Previdência e trabalhista. E também para a Medida Provisória que muda o ensino médio, que, em vez de ser objeto de indecisão e recuo, poderia ser lançada como uma provocação ao debate. E alterada no Congresso até mesmo por sugestão da base governista.
Governo algum se faz em semanas ou poucos meses. Mas, ao contrário daqueles recém-eleitos que têm pelo menos cem dias de trégua, Temer carrega o passivo incômodo de ser taxado de “golpista”, de não ser popular.
Para sobreviver, terá frear os erros. E acertar em dobro.
Foto: Arquivo Google