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sábado, 29 de novembro de 2014

A gestação da Operação Lava-Jato contada por Lucas Mendes... / BBC

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/11/141128_lucas_francis_petrobras

Francis e o Petrolinho

  • Há 3 horas
Foto Divulgação
Caio Blinder, Paulo Francis, Lucas Mendes e Nelson Motta: a equipe do Manhattan Connection nos anos 90
Naquele outubro de 1996, no café da manhã antes da gravação, Francis estava de mau humor. Era normal. Acabava de sair da cama.
Meia hora depois ele estava de bom humor. Era normal. Nossa conversa na copa antes de gravar era fiada. Francis não falou em Petrobras. No meio do programa, ele jorrou denúncia e transcrevo a gravação:
Francis: "Os diretores da Petrobras todos põe o dinheiro lá...(Suíça) tem conta de 60 milhões de dólares..."
Lucas: "Olha que isso vai dar processo..."
Francis: "É...um amigo meu advogado almoçou com um banqueiro suíço e eles falaram que bom mesmo é brasileiro (…) que coloca 50 milhões de dólares e deixa lá".
Lucas: "Os diretores da Petrobras tem 50 milhões de dólares?"
Francis: "Ahh é claro... imaginem... roubam... superfaturamento...é a maior quadrilha que já existiu no Brasil".
Foi além, mas não deu nomes dos diretores. Nem citou fontes. No próprio programa, o número variou de US$ 50 milhões para 60 milhões. Preocupado, perguntei se queria que cortasse a denúncia, embora o programa, depois de gravado, só sofra cortes por tempo. Francis disse que não.
Na imprensa, numa escala de 1 a 10 em repercussão, a denúncia do Francis mal registrou uns 2 pontinhos. Saíram notas em colunas. Ninguém cobrou da Petrobras. Não sei por que o Francis nunca levou a denúncia para os poderosos Globo, Estadão e Jornal da Globo, onde trabalhava, além do Manhattan Connection, e tinham calibre muito mais grosso do que o GNT.
Seria o poder da Petrobras de silenciar a mídia com sua publicidade? Ou sua reputação na época estava acima de qualquer suspeita? A limitada audiência do canal?
Em novembro, Francis anunciou no programa, também sem aviso prévio, que estava sendo processado pelos diretores da Petrobras, que "queriam US$ 100 milhões de indenização". Na primeira página da carta de intimação dos advogados dos diretores aparecem sete nomes, mas não há este número.
Ainda não descobri de onde saiu. Estes valores quase nunca constam da primeira comunicação entre o processador e o processado.

E pagou sete mil...

Francis entrou num inferno legal. Por sugestão do amigo Ronald Levinsohn, contratou uma advogada e pagou US$ 7 mil. Quando comentei que não era muito, o Francis ficou furioso. Disse que eu não sabia das finanças dele. Até que sabia, porque ele me contava, mas uma só defesa num processo grande poderia destruir a poupança dele. Se perdesse, ficaria arruinado por muito menos do que US$ 100 milhões.
Repercussão na imprensa sobre o processo? Mínima. Saíram notas sobre os assombrosos US$ 100 milhões.

'Arrasado'

Em dezembro, Francis foi passar o Ano Novo em Paris com Sonia Nolasco, Diogo e Anna Mainardi. Diogo disse que ele parecia arrasado. Poucas semanas depois, em janeiro, ligou para o Diogo animadíssimo. Tudo estava sob controle. Diogo comentou com a mulher que o Francis devia ter tomado a bolinha certa naquele dia.
É possível que Paulo Mercadante, seu advogado no Brasil e amigo desde os tempos de Pasquim, tenha informado a ele que o processo não poderia correr na Justiça americana, porque o programa não ia ao ar nos Estados Unidos. Este tipo de processo no Brasil está mais para um punhado de reais do que para os absurdos US$ 100 milhões que assombravam o Francis.
Dia 28 de fevereiro, sexta feira, Francis apareceu na gravação passando a mão no ombro esquerdo e se queixando de dor. Saiu direto para o médico, Jesus Cheda, tomar uma injeção de cortisona, como sempre fazia quando estas dores apareciam. Bursite, dizia.
Quatro dias depois, terça-feira, por volta de 5 da manhã, Francis sofreu um fulminante ataque cardíaco e caiu morto no meio da sala, onde ainda estava quando cheguei. O telefone não parava, Sonia nao atendia. Atendeu um deles, do presidente Fernando Henrique Cardoso, que deu uma bronca póstuma no Francis pela irresponsabilidade com a própria saúde.
Francis, havia muitos anos, tinha parado de tomar porres, de fumar e de comer bifões crus. O controle da Sonia deu resultado, mas o controle não resolveu o problema da saúde preventiva nem o sedentarismo. Ela não conseguia levá-lo a médicos sérios para fazer check-ups regulares.

Cheesebúrgueres

Melhorou a dieta, mas continuou chegado nos cheesebúrgeres do PJ Clarke's na frente da Globo na hora do almoço e comida chinesa perto da casa dele, onde fez sua última ceia, no Chien. Parecia um touro de forte. Teve tumores benignos no pescoço, mas não adoecia e nunca deixava de trabalhar. Nem fazia exercício, Nunca. O máximo era uma caminhada semanal com Elio Gaspari do museu Metropolitan ao restaurante Bravo Gianni, onde repunha as calorias perdidas na caminhada cultural.
Era o dia favorito dele. As noites favoritas eram no balé, com Sonia, ou assistindo óperas e filmes antigos em casa. O último na noite da morte, foi Notorious(Interlúdio no Brasil), de Hitchcock, com Cary Grant e Ingrid Bergman. Da denúncia à morte de Francis foram quatro meses.
Os diretores da Petrobras foram atrás do espólio e da viúva Sonia Nolasco, mas, em parte, por intervenção do presidente Fernando Henrique Cardoso e do próprio advogado, Paulo Mercadante, desistiram do processo. Felizmente o Brasil não desistiu. O petrolinho do profético Francis gerou o Petrolão. A operação Lava Jato deveria ser rebatizada Operação Paulo Francis.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

EUA e Paquistão são casados, se detestam, mas não podem se divorciar.../ Relações Internacionnais


Lucas Mendes: Ilusões magníficas

Atualizado em  5 de dezembro, 2013 - 06:55 (Brasília) 08:55 GMT
Uma delusion, mais do que uma ilusão, é 

uma doença neurológica.
Magnificent Delusion é o título do livro recém-lançado pelo ex-embaixador Husain Haqqani sobre as indestrincháveis relações entre Estados Unidos e o país mais perigoso do mundo, o dele, Paquistão. Nuclear, cercado pela China, Afeganistão, Índia e Irã, minado por dentro por um incontável formigueiro de terroristas, dominado por militares golpistas e pelo mais suspeito dos serviços secretos.
Nenhum outro país detesta tanto os Estados Unidos e o sentimento é recíproco. Para os americanos, o Paquistão está no mesma categoria de Irã e Coreia do Norte. 84% querem que o Paquistão se dane, mas desde 2001 os Estados Unidos já deram US$ 17 bilhões aos paquistaneses. Não compraram o amor deles e, pior, parte do dinheiro foi para sustentar operações terroristas e até para proteger Osama Bin Laden.
Na falta de uma palavra melhor, vamos acreditar nos dicionários e usar "ilusão", uma forma branda de delusion.
Os paquistaneses se iludem que o dinheiro americano vai continuar jorrando porque (os Estados Unidos) precisam do apoio do Paquistão para destruir o Talebã e seus próprios terroristas. Além disso, os americanos tem de pagar pedágio quando atravessam a fronteira paquistanesa para abastecer suas tropas no Afeganistão, um país sem mar.
Os americanos alimentam a ilusão de que o Paquistão, um dia, vai usar os dólares para eliminar o Talebã, seus próprios terroristas e criar uma democracia nos padrões ocidentais.
Hillary Clinton, quando era Secretária de Estado, disse que os Estados Unidos e o Paquistão são como um casal que se detesta, mas não pode se divorciar. Husain acha que é preciso haver, no mínimo, uma separação.
O problema está na grande ilusão da "aliança", uma noção surgida para combater a ameaça comunista na década de 50. Na época, o governo paquistanês, iludido pela própria importância, pediu um ajuda militar de US$ 2 bilhões. Os americanos mandaram US$ 2 milhões. Este número deveria ter sido suficiente para quebrar a ilusão paquistanesa, mas os americanos compensavam com armas, aviões, navios velhos e alimentavam a ilusão.
O ex-embaixador Husain Haqqani perdeu o emprego e quase perdeu a vida porque não fala diplomaticamente. Foi nomeado em 2008 e demitido em 2011, acusado de traidor com base numa carta anônima na qual teria conspirado contra o próprio governo.
As investigações não o condenaram e ele caiu fora do Paquistão. Para liberais e conservadores, Husain era um dos mais brilhantes diplomatas em Washington. Hoje é professor na universidade de Boston, pensador do Hudson Institute, em Washington, conferencista e publica seus ensaios nos maiores jornais do mundo.
Em conferências e entrevistas, ele diz o que dizia quando representava o Paquistão na capital americana, mas não recomenda sua fórmula para diplomatas que querem ter uma carreira longa. Para estes, sugere o comportamento do diplomata mensageiro. Ele foi o que chama de diplomata "ponte". Queria aproximar os dois países.
"Estados Unidos e Paquistão não são e nunca foram aliados", me disse Husain Haqqani na quarta-feira.
"O Paquistão vive obcecado com a Índia, a eterna inimiga que jamais conseguirá destruir ou vencer numa guerra. São 190 milhões contra mais de um bilhão de indianos, também nucleares. Os interesses nacionais dos Estados Unidos e do Paquistão não coincidem, mas não precisam ser inimigos. Há outros interesses comerciais, culturais e até políticos que podem sustentar uma amizade forte, mas não uma aliança militar."
A pergunta que ele mais responde nas conferências e entrevistas é sobre Osama Bin Laden. Quem protegia o terrorista mais procurado do mundo encontrado a poucos quarteirões de uma escola militar no Paquistão?
"Não sei, mas o que incomoda mais é por que o governo paquistanês não quer saber. Não há nenhuma investigação e o médico que se dispôs a ajudar os americanos está na prisão. Foi usado pela CIA para bater na porta da casa de Bin Laden com a desculpa de vacinar as pessoas e conseguir o DNA que identificaria o terrorista. O plano não deu certo. Ele saiu sem o sangue, foi condenado por violar a soberania paquistanesa. Ele espera que um dia sua liberdade seja negociada pelos americanos que deveriam te-lo tirado de lá no mesmo dia da operação que matou Bin Laden."
Os drones, aviões não tripulados, são espinhos nas relações entre os dois países. Há queimas de bandeiras americanas quando morrem inocentes nos ataques, mas, num ano, morreram menos de 200 civis enquanto atentados terroristas mataram mais de 4 mil militares e civis paquistaneses. E ninguém protesta.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Lincoln, um homem de mil faces // Lincoln, a fornalha


Lucas Mendes: Lincoln, a fornalha

Atualizado em  10 de janeiro, 2013 - 07:12 (Brasília) 09:12 GMT
Passei uma tarde com um homem que passou a vida com Abraham Lincoln. Harold Holzer tinha 11 anos quando o professor escreveu e colocou vários nomes de líderes históricos num chapéu. Cada aluno tirava um papel. Hozel tirou Lincoln. Tema de redação.
Cinquenta anos depois, está no 44º livro, como autor ou editor. Mais de 500 ensaios e milhares de consultorias. Desde 2009, no bicentenário de Lincoln, ele vive num interminável circuito "lincolniano" de palestras e entrevistas.
Hozel foi consultor do filme Lincoln, de Steven Spielberg, sério candidato a Oscar, que estreará no Brasil nos próximos dias. Mais uma baforada na fogueira cultural do presidente assassinado em 1865, numa sexta-feira santa, pouco depois de ser reeleito para o segundo mandato e cinco dias depois do fim da Guerra Civil americana.
Lincoln, o presidente dos presidentes, é uma fornalha no mundo editorial. O nome dele no título vende mais do que o de John Kennedy, o segundo presidente campeão de vendas desde a década de 60. Há 16 mil livros sobre Lincoln, 6 mil biografias. George Washington, pai da pátria, mereceu 3 mil biografias. Segundão.
Só no ano do bicentenário foram publicadas 249 biografias de Lincoln e Harold Holzer, que era o coordenador de eventos literários, achou que a fogueira dele viraria um braseirinho.
O trabalho mais monumental, publicado em 2009, foi a antologia de mil páginas editada por Holzer com 110 textos de 95 autores. Até Karl Marx tinha opinião sobre Lincoln. Falou bem do capitalista republicano e democrata.
Mas o fogo Lincoln não diminuiu, contou Holzer. Uma das biografias,Killing Lincoln, de Bill O’Reilly, apresentador da rede Fox, no ano passado vendeu 2 milhões de exemplares. O livro de Doris Kerns Goodwill, Team Of Rivals, que serviu de base para o roteiro (do filmeLincoln) de Tony Kushner, foi lançado em 2005, vendeu 1,5 milhão de exemplares. Quando o filme foi lançado, o livro voltou ao 5º lugar na lista dos best-sellers.
Holzer acha que o fenômeno Lincoln está, em parte, "ligado à Guerra Civil e estamos em pleno aniversário de 150 anos". "Durou de 1861 a 1865. Há milhares de americanos fanáticos sobre o assunto. O tema vende e com o nome de Lincoln no título as vendas multiplicam."
Há uma foto impressionante dos livros sobre Lincoln feita no The Ford’s Theater For Education and Leadership, em Washington. Criaram uma coluna com de mais de um metro quadrado que sobe três andares com os livros sobre o presidente.
E quantos falam mal de Lincoln? "A minoria, mas algumas críticas são fortes e têm credibilidade. Lincoln suspendeu 'habeas corpus' e deu ordens que, num país obcecado com a Constituição, pareciam ditatoriais. Uma outra crítica relevante é referente à falta de planejamento sobre o que fazer com os escravos depois da libertação. A solução de Lincoln era recrutar todos os homens para o Exército, mas eram milhares, um número impossível de ser treinado, vestido e alimentado. Muitos lutaram e, contrariando as críticas de militares brancos, de que os negros tinham medo da guerra, lutaram com garra e morreram em percentagens mais altas que os brancos. Um número muito maior, inclusive mulheres e crianças, morreu de doenças e fome".
Há Lincolns fortes e fracos, há o Lincoln gay do livro The Intimate World of Abraham Lincoln, de C. A. Tripp. Na época, condenado por muitos como um insulto, mas Holzer acha que é "uma declaração de amor, uma tese interessante, mas sem fundamentos sólidos".
Há o Lincoln preguiçoso, desorganizado e incompetente de William Herndon, sócio do presidente durante 17 anos no escritório de advocacia. "Foi baseado em depoimentos que Herndon colheu de centenas de pessoas que conheceram Lincoln e é levado a sério por alguns dos maiores especialistas no 16º presidente, entre eles Douglas Wilson e Rodney Davis".
Há o Lincoln do romance de Gore Vidal, "errático, com permanente prisão de ventre, egomaníaco, que gerou uma minissérie na televisão com enorme audiência". "Eu discordo de quase tudo e tivemos brigas via imprensa e palestras, mas tudo isto só reforça o interesse por Lincoln". Para Holzer, ótimo.
Há o Lincoln Obama. As semelhanças e conexões são fortes. Dois políticos de Illinois, não nascidos no Estado, com origens humildes e que chegaram a Presidência. Lincoln nasceu num mato, mudou para outro mato, perdeu a mãe cedo, tinha um pai que não acreditava em educação e, se não fosse pela madrasta, talvez nem aprendesse a ler. A educação formal dele foi quase nula, mas se educou à noite, à luz de vela.
De dia, trabalhava com o pai no campo. Detestava. A única experiência como politico, antes de chegar à Presidência, foi como deputado estadual. Qual era a força dentro dele que despertou e impulsionou esta determinação que o levou à Presidência? Vários presidentes saíram do nada, como ele, mas quantos transformaram o país?
Lincoln e Obama assumiram o poder com um país profundamente dividido. No país de Obama, não há possibilidade de guerra civil, diz Holzer, mas "a imobilidade política é pior do que no Congresso de Lincoln, onde houve brigas físicas, com sangue e ossos quebrados entre deputados no plenário, mas conseguiam legislar. Hoje não".
Há também grandes diferenças. A excelente educação universitária de Obama é uma delas. A outra é óbvia. A cor. Holzer acha que Obama marca a complementação do "trabalho não terminado" da democracia americana, à qual Lincoln se referiu no discurso de Gettysburg, cemitério e cenário de uma das batalhas mais brutais e decisivas da Guerra Civil.
O filme de Spielberg joga luz num período essencial na vida de Lincoln, os cinco meses que marcam a luta pela passagem, na Câmara, da emenda que libertou os escravos e o fim da Guerra Civil. Holzer: "O filme ilumina, mas não revela quem foi o verdadeiro Lincoln. Os 16 mil livros, inclusive os meus 44, as 6 mil biografias e os filmes vão gerar outros livros e outros filmes, vão aumentar ou diminuir o presidente, mas não vão desvendar o homem".

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ivan Lessa por Lucas Mendes... BBC


Lucas Mendes: Ivan Lessa, tão perto, tão distante

Atualizado em  14 de junho, 2012 - 08:11 (Brasília) 11:11 GMT
Uma vez por semana eu ficava a menos de um centímetro do Ivan Lessa, na primeira página da BBC Brasil, mas só tivemos um tête-à-tête na vida, num inesquecível fim de tarde em Nova York.
A primeira vez que ouvi o nome Ivan Lessa foi em fim de 67 ou começo de 68, pré-Pasquim. Eu tinha vinte e poucos anos e conheci uma mulher linda numa festa no Rio. Era namorada do Ivan Lessa, mas naquele momento andavam brigados: "O Ivan é um cara complicado", disse ela.
A conversa foi boa e achei que fosse terminar melhor ainda quando saímos numa baratinha bacana para ver o dia nascer na praia. Ela não parou de falar no Ivan, Ivan isso , Ivan aquilo. O terrível e apaixonante Ivan. Fui dormir sozinho, nunca mais nos vimos.
Vi o Ivan, mas não falei com ele, na agência de publicidade Lins, meu primeiro emprego de carteira assinada. Acho que o Ivan fazia freelance para agência, em que o pai, o escritor Orígenes Lessa, cuidava da parte de criação de textos. Se não me engano.
Só falei com o escritor uma vez quando testemunhou minha demissão sumária. Eu era o revisor da agência e também redigia as cartas. Uma delas, dirigida ao poeta Manuel Bandeira, era sobre um pagamento qualquer da agência. Coisa rotineira.
Recebi a carta de volta com um bilhete do diretor-geral apontando um erro meu. Devolvi a carta com outro bilhete em que informava a ele que meu texto estava certo e que no bilhete dele, de três linhas, havia quatro ou mais erros de português.
Fui convocado à sala que ele dividia com o Orígenes Lessa e onde fui demitido na frente do escritor, que depois me chamou num canto para uma conversa.
"A secretária me disse que teve um caso com você e além disto você comprou dela um toca-discos."
"Verdade, é verdade, sim senhor."
"O toca-discos não era dela."
"Isto eu não sei. Eu já paguei. Se me devolver o dinheiro, devolvo o toca-discos."
"Vou falar com ela."
Não me lembro mais como ele fez a pergunta, mas ele queria mesmo era saber como tinha sido minha experiência com a secretária. Eu simpatizava com o jeitão dele, gostava dos livros dele, da história pessoal.
Abri o jogo. Disse que não tinha sido um bom namoro. Ela tinha um metro e oitenta, ou mais. Deslumbrando diante de tanto corpo e tantos encantos fui com muita sede ao pote. Levei uma bronca do escritor, que conhecia todos os talentos da moça.
Pouco depois, vim para os Estados Unidos e nunca mais nos vimos, mas passei a ter notícias do filho, Ivan, pelo Paulo Francis.
Eram íntimos, porres e drogas, histórias absurdas e hilárias, mas o Francis tinha ciúmes dos amigos e que não davam a ele dedicação integral. Um dia o Ivan era o maior sujeito do mundo, noutro só entendia de música, literatura, cinema americano até a década de 60. Tinha parado no tempo.
O Ivan Lessa passou por Nova York no fim dos 70 ou começo dos 80, desancou a cidade e o país numa de suas colunas. O Francis ficou furioso: "O Ivan não entende nada de Nova York nem de política".
Com frequência, o Francis ia a Londres visitar o amigo e se queixava que o Ivan não retribuía as visitas: "Tem mania de Cascais, em Portugal. Uma bobagem. O mundo do Ivan é o trabalho na BBC, a mulher, a filha, os livros, e as férias nos tais Cascais".
Isto o Ivan confirma pelas suas colunas, mais de trinta anos e, apesar da mesmice, escrevia colunas saborosas sobre suas férias.
Eu estava em Cascais no dia em que soube da morte dele, num condomínio vizinho. São todos parecidos com grandes jardins e "pixinas", como dizem os portugueses e como o Ivan escrevia nas colunas.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Visite NOVA YORK sem sair de casa....

Entre no site abaixo e faça uma visita virtual à cidade, com seus prédios tradicionais, estátuas , praças, documentos históricos, bustos de pessoas que têm relação com a cidade, etc 
(retirado de uma crônica de Lucas Mendes no blog de Ricardo Noblat)


segunda-feira, 14 de maio de 2012

New York e seu carisma! / Lucas Mendes


Enviado por Ricardo Noblat - 
14.5.2012
 | 15h03m
GERAL

New York City, a vaidosa, por Lucas Mendes

Lucas Mendes, BBC Brasil
A paisagem do Rio é imbatível. Paris é a mais linda. Roma assombra. Londres é história com charme, inteligência e bom gosto. Mas Nova York é monumental. E campeã de vaidade. Nenhuma outra cidade posou tanto para os fotógrafos. Nem Tóquio.
Podem dizer que minha pesquisa é superficial. Provavelmente. Aprecio correções e críticas.

A vaidosa em 1932

Não fui tão a fundo em dois dias de pesquisas, mas pelo que apurei na internet, nenhuma cidade tem um arquivo com mais de 2 milhões de fotos com todos os prédios, casas, garagens, enfim, qualquer construção que entrasse na frente da câmera levava um clique.
A coleção começou em 1830 e, em duas décadas, as de 40 e 80, os prefeitos pagaram para fotografar a cidade inteira.
A vaidade novaiorquina tinha e ainda tem razões práticas: impostos, seguros e históricas. Pelo endereço do bloco e tamanho da casa, era possível calcular os impostos.

Ainda, e com toda a razão vaidosa, em 2011 (e sem photoshop...)

As seguradoras usavam e usam para compensar perdas de segurados e a cidade tem um arquivo de todas as fachadas históricas que não podem ser alteradas.
Deste vasto arquivo, 870 mil foram digitalizadas e estão disponíveis na internet (nyc.gov/records). Além das fotos publicadas na semana passada, ainda há preciosas coleções de desenhos e a mais completa coleção de fotos relacionadas à justiça criminal no mundo.
Leia a íntegra em Vaidade monumental