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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Revista Galileu - Conheça o dono do clube dos gênios

Revista Galileu - NOTÍCIAS - Conheça o dono do clube dos gênios

Conheça o dono do clube dos gênios



Ele reúne mentes brilhantes em um fórum que rende papos e livros. Craig Venter, Richard Dawkins e Marcelo Gleiser estão lá

por Rafael Tonon
Editora Globo
John Brockman // Créditos: Eamonn McCabe

John Brockman
 é daquele tipo capaz de reunir em torno de si as pessoas mais criativas e inteligentes que estiverem em um lugar. Apesar da expressão sisuda, seus amigos e conhecidos dizem que ele é dono de uma retórica invejável, capaz de prender a atenção de qualquer um. Brockman é o nome por trás do Edge (edge.org), fórum virtual que reúne grandes nomes da ciência mundial — como Craig Venter, um dos maiores responsáveis pelo sequenciamento do genoma humano, Steven Pinker, psicólogo canadense nomeado pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, e Richard Dawkins, biólogo evolucionista famoso por sua defesa do ateísmo.

No site, considerado por veículos de imprensa como o jornal britânico The Observer e a revista americana Wired o mais representativo da área científica, esses pensadores debatem sobre o que estão estudando. Ou, como diz Brockman, fazem uns aos outros a pergunta que estão fazendo a si mesmos. A cada ano, lança-se uma questão filosófica a ser discutida pelo membros. E desde 2005, as respostas são editadas em um livro. No início de 2013, será lançado lá fora o This Explains Everything (Isso explica tudo), com textos escritos a partir da indagação: “qual a sua profunda, elegante ou bela explicação favorita?”, proposta para este ano.

Autor e agente literário, Brockman começou essa espécie de clube de gênios (por onde já passaram 600 nomes notórios e só entra quem é convidado por um deles) nos anos 80. Na época, sob o nome de Reality Club, o grupo se encontrava quase semanalmente em restaurantes chineses e bibocas de Manhattan. O intuito, segundo o bordão, era reunir em mesmo lugar as mentes mais brilhantes do mundo. “Com a chegada da internet, o grupo se tornou online e as discussões ganharam mais representatividade, já que pessoas comuns podem ter acesso a essas ideias transformadoras”, disse Brockman à GALILEU.

O intelectual nascido em Boston e radicado em Nova York tornou-se um divulgador das principais ideias da ciência contemporânea. “John é um agente superstar, com uma lista enorme de pesquisadores famosos representados por ele”, diz o físico brasileiro Marcelo Gleiser, um dos integrantes do Edge. “Isso lhe dá a oportunidade de promover temas importantes sobre ciência e seu impacto social.”

Brockman acredita que vivemos em tempos em que os pesquisadores de matemática, física ou biologia — e não os filósofos, literatos e outros estudiosos das ciências humanas — é que vão ditar as revoluções em nossa sociedade. Com descobertas sobre temas como biologia molecular, inteligência artificial, redes de neurônios, nanotecnologia, genoma humano, células-tronco e realidade virtual, a ciência é que estaria nos ajudando a definir quem somos e para onde vamos. Essa ideia de cientistas fazendo as vezes dos revolucionários sociais é chamada de “terceira cultura”.

O termo foi cunhado em 1959 pelo químico inglês Charles Percy Snow, que escreveu pela primeira vez sobre um conflito entre as áreas de conhecimento humano e as exatas. A primeira cultura seria a dos intelectuais, e a segunda, dos cientistas. Enquanto isso, a terceira englobaria as duas. Ou seja, trataria de cientistas que escrevem, discutem sobre a sociedade e não ficam restritos aos redutos acadêmicos, atingindo mais gente. “Ao longo da história, a vida intelectual foi marcada pelo fato de que poucas pessoas faziam uma reflexão séria para todos os outros”, diz Brockman. Para ele, a ciência quebrou esse paradigma. “As conquistas da terceira cultura não são as disputas marginais de uma classe: elas irão afetar a vida de todos no planeta.”

Esse pensamento encontra alguma resistência entre os próprios membros do Edge. “Existem questões que estão fora do alcance da ciência, e que são muito mais adequadas a um estilo de pensar filosófico”, afirma Gleiser. Para Nicholas Carr, professor do MIT e estudioso de como a internet interfere em nossas vidas, não seria sensato deixar que a elite da ciência excluísse outros intelectuais. “Eu não estou totalmente confortável com a ideia de terceira cultura porque ela pode acabar diminuindo em vez de ampliar nossa perspectiva de mundo.”

As discordâncias estão longe de incomodar Brockman — aliás, o objetivo dele é justamente promover o debate, e claro, os livros que organiza. Ele quer catalisar ideias que estão ainda germinando ao reunir gente que tem muito a dizer e pensar. Não dá pra negar que Brockman tem em mãos um conteúdo poderoso a ponto de mudar os rumos do conhecimento. Afinal, ele vive rodeado pelas mentes mais brilhantes do mundo.

Perguntas que não querem calar 
Todo ano, desde 1998, Brockman lança questões para algumas das mentes mais brilhantes do mundo — a partir de 2005, as respostas passaram a virar livros. Conheça alguns deles:

2012: Isso vai te deixar mais esperto (sem edição no Brasil). A pergunta foi: Que conceito científico deveria fazer parte do kit cognitivo de qualquer pessoa? Alguns autores: Craig Venter, Aubrey De Grey e James Flynn (que disse que escrever bem melhorou nossa linguagem e fez as pessoas mais inteligentes). 
2011: A internet está mudando o jeito como você pensa? (sem edição no Brasil). A pergunta foi: Como a internet está mudando a forma como você pensa?
Alguns autores: Chris Anderson, David Clay Shirky e Nicholas Carr (que disse que a internet fez nosso cérebro ter preguiça de ler textos longos).

2010: Isso vai mudar tudo (sem edição no Brasil). A pergunta foi: O que vai mudar tudo?
Alguns autores: Richard Dawkins, Steven Pinker, Marcelo Gleiser, Kevin Kelly e James Craig Venter (que falou sobre como a venda de mapeamento genético por US$ 100 mudaria nossa relação com o corpo).

domingo, 19 de agosto de 2012

Ciência, Fé e extrapolação /// Marcelo Gleiser


marcelo gleiser

 

19/08/2012 - 05h29

Ciência, fé e extrapolação


Será que podemos compreender o mundo sem ter alguma espécie de crença? Essa não só é uma das questões centrais da dicotomia entre a ciência e a fé como também informa de que modo um indivíduo se relaciona com o mundo.
Se contrastarmos explicações míticas e científicas da realidade, podemos dizer que mitos religiosos procuram explicar o desconhecido com o "desconhecível", enquanto que a ciência procura explicar o desconhecido com o "conhecível".
A tensão vem da crença de que duas realidades independentes existem em pé de igualdade; uma que pertence a este mundo (e que é, portanto, conhecível), e outra fora dele (e que é, portanto, desconhecível ou inescrutável).
Tanto o cientista quanto o crente acreditam, se bem que a crença de cada um é bem diferente. A do cientista se manifesta de forma clara quando faz uma extrapolação de uma teoria ou modelo além de seus limites testados.
Por exemplo, ao afirmar que "a gravidade atua da mesma forma em todo o Universo", ou "a teoria da evolução por seleção natural se aplica a todas as formas de vida, inclusive as extraterrestres", não sabemos se essas extrapolações são verdadeiras. Mas, dado o sucesso das teorias em que se baseiam, vale a pena apostar nelas. Testes futuros confirmarão (ou não) a veracidade da extrapolação.
Sem esse tipo de fé no poder da extrapolação, a ciência não avançaria. Eis um exemplo. A teoria da gravitação universal de Newton, explicada no Livro 3 do seu monumental tratado "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural", deveria ter sido chamada de "teoria da gravitação do Sistema Solar", já que, no final do século 17, não existia como testá-la.
Porém, Newton foi em frente e supôs que a força da gravidade --proporcional à massa dos corpos e inversamente proporcional ao quadrado de sua distância-- funcionaria em todo o Cosmo: "Se foi estabelecido que todo corpo na vizinhança da Terra gravita em direção à ela em proporção à sua matéria, teremos de concluir que todos os corpos exercem gravitação mútua".
Mais tarde, em carta datada de 10 de dezembro de 1692 e endereçada a Richard Bentley, teólogo de Cambridge, Newton usa a mesma extrapolação para argumentar que o Universo deve ser infinito.
Se a gravidade atuasse sobre um Universo finito, pensou Bentley, não causaria o colapso de toda a matéria no seu centro? Newton concordou que esse seria o destino da matéria num universo finito.
Porém, sugeriu, "se a matéria estiver distribuída de forma homogênea em um Universo infinito, não colapsaria em uma única massa; um pouco de matéria se aglomeraria em um lugar, um pouco mais em outro, constituindo um número infinito de grandes massas, espalhadas pelas distâncias do espaço".
A crença de Newton na natureza universal da gravidade era tão forte que o levou a especular com confiança sobre a extensão espacial do Cosmo. Einstein fez algo semelhante, mas temos de deixar essa história para outra semana.
Para avançar em suas teorias, o cientista precisa ter a coragem de arriscar e de estar errada. Só quando nos atrevemos a arriscar e errar é que podemos, talvez, enxergar um pouco mais longe do que os outros.
Marcelo Gleiser
Marcelo Gleiser é professor de física e astronomia do Dartmouth College, em Hanover (EUA). É vencedor de dois prêmios Jabuti e autor, mais recentemente, de "Criação Imperfeita". Escreve aos domingos na versão impressa de "Ciência".