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terça-feira, 27 de agosto de 2013

A volubilidade da confiança na política // José Fucs

O Frankenstein de Dilma e a volta da confiança perdida

Depois de tantas intervenções na produção e no consumo, é difícil imaginar que tudo mudou e que agora o governo é a favor do mercado

JOSÉ FUCS
26/08/2013 19h58 - Atualizado em 27/08/2013 08h23

Frankenstein (Foto: Universal Studios)

O dramaturgo irlandês Bernard Shaw (1856-1950), um dos fundadores da London School of Economics, uma das mais respeitadas faculdades de economia do mundo, era cético em relação à capacidade de os economistas construírem um consenso em torno de qualquer questão. “Se todos os economistas fossem colocados lado a lado, nunca chegariam a uma conclusão”, afirmava Shaw.
Se vivesse no Brasil de hoje, Shaw provavelmente ficaria surpreso com o grau de concordância existente entre os economistas ao explicarem o desempenho pífio da economia nacional nos últimos tempos. Dez entre dez economistas, do chapa branca Delfim Netto, guru da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao financista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central na gestão de FHC, praticamente todos concordam que o grande problema do governo é a falta de credibilidade e de confiança dos empresários e dos consumidores nos rumos da economia e na gestão das políticas econômica e monetária.
A percepção dos economistas tem fundamento na frieza dos números. A pesquisa mais recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgada na segunda-feira, 26, mostra uma queda do Índice de Confiança da Indústria (ICI) para o menor nível desde julho de 2009, no auge da crise financeira global, no segundo mandato de Lula. No caso dos consumidores, a situação não é diferente, segundo o índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). 
Em Brasília, Dilma e os ministros da área econômica podem ter dificuldade para entender as estatísticas. Afinal, na visão deles, o governo fez tudo o que estava ao seu alcance para estimular o investimento e o consumo no país. Do lado do investimento, sobretaxou os importados, ampliou o protecionismo, promoveu desonerações tributárias seletivas, reduziu as taxas de juro, cortou as tarifas de energia elétrica e estimulou a desvalorização do real. Do lado do consumo, além da redução dos juros, manteve as medidas de estímulo à compra de veículos, produtos da linha branca, como fogões e geladeiras, e material de construção. Ao mesmo tempo, represou preços públicos, como os combustíveis, para tentar conter a inflação e evitar artificialmente a alta dos juros, às custas da Petrobras, que tem ações cotadas na Bolsa de Valores e milhões de pequenos investidores do país e do exterior. 
O que acabou acontecendo, porém, foi exatamente o contrário do que o governo esperava. Ao intervir tanto na economia, imaginando poder controlá-la como um boneco de marionete, o governo acabou criando uma espécie de Frankenstein econômico, que gerou insegurança entre os empresários sobre quais são efetivamente as regras do jogo. O governo quebrou contratos, como no caso do setor de energia, e passou a mensagem de que, para obter vantagens, era preciso retomar a velha peregrinação a Brasília que predominava nos tempos em que Delfim Netto era chamado de “o czar” da economia e tudo se decidia em seu gabinete, no Ministério da Fazenda. Finalmente, o governo acabou reforçando a percepção de que o combate à inflação era algo secundário em relação ao crescimento da economia. Com isso, contribuiu para deteriorar ainda mais as expectativas dos agentes econômicos. 
Agora, depois de tantas trapalhadas, o governo e o PT, capitaneados por Lula, parecem envolvidos numa cruzada para tentar recuperar a credibilidade e a confiança de empresários e consumidores. Mas, ao contrário do que eles imaginam, credibilidade não se compra, mas se conquista, lenta e gradualmente, com pequenas iniciativas e ações tomadas ao longo do tempo. O estrago está feito. Ninguém (re)conquista a confiança de quem quer que seja da noite para o dia. É como um marido traído pela mulher que, por uma razão qualquer, resolve manter a relação, mesmo depois de tomar conhecimento da traição. Ainda que a mulher faça de tudo para recuperar a confiança do marido e para demonstrar que jamais o trairá novamente, é possível – e até provável – que a relação entre os dois nunca mais volte a ser a mesma. É como um cristal que se quebrou. Ninguém – absolutamente ninguém – muda de uma hora para outra. Depois de agir como um pitbull nos 30 primeiros meses de seu governo, é difícil acreditar que Dilma agora se transformou ou irá se transformar num labradorzinho, do qual todos gostam e no qual todos confiam.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Argentinos usam panelaço contra 'La Pinguina'


Frigideira-power: Chilenos criaram o panelaço e os argentinos o tornaram mundialmente famoso



A frigideira-power foi usada contra Allende, contra Pinochet, contra Menem, contra De la Rúa, contra Cristina Kirchner…Nesta noite de quinta-feira os panelaços direcionam-se novamente contra ”La Pinguina”.
“El Cacerolazo” (O Panelaço): Denominação da barulhenta modalidade de protesto que consiste em bater de forma rítmica utensílios metálicos de cozinha, principalmente as “cacerolas”(panelas).
A História dos panelaços mostra que os utensílios de cozinha não possuem ideologia política, já que os primeiros panelaços surgiram no Chile para protestar contra o presidente socialista Salvador Allende em 1973. No entanto, em 1986 e 1989 os panelaços chilenos foram direcionados contra o ditador de extrema direita, o general Augusto Pinochet.
Em 1996 foi a vez da Argentina tornar-se o cenário de panelaços acompanhados por apagões para protestar contra a política do presidente Carlos Menem. Em 2001 e 2002 essa modalidade de protesto teve seu apogeu de forma quase diária contra os presidentes Fernando De La Rua, Adolfo Rodríguez Sáa e Eduardo Duhalde. Na época os panelaços argentinos obtiveram fama mundial.
A retomada do crescimento econômico, em 2003, com o presidente Nestor Kirchner fez os panelaços desaparecerem. Mas este modus operandi de protestar contra o governo de plantão voltou quando a presidente Cristina Kirchner teve o conflito com o setor ruralista em 2008.
Os panelaços retornaram mais uma vez neste com o crescimento dos problemas econômicos, especialmente a disparada da inflação, além dos escândalos de corrupção. De quebra, segundo afirmou ao Estado a analista de opinião pública Mariel Fornoni, o tom agressivo dos últimos discursos da presidente Cristina irritou diversos setores da população, servindo de combustível para os panelaços, especialmente o último, no dia 13 de setembro.