Fora de Campo: ameaçado de perder seus bens, Teixeira vendeu tudo e refugiou-se na Flórida; depois de 23 anos de poder, saída pela porta dos fundos (Foto: Sebastião Moreira / EFE)
Como um afogado que se agarra no que puder e dá suas últimas braçadas, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, ainda resiste. Diante do coro de dirigentes (e, por baixo do pano, autoridades do governo) que querem ver seu fim depois de 23 anos de poder absoluto e cinzento sobre o futebol brasileiro, ainda se erguem vozes como a do presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Francisco Novelletto, para quem, se quiser, o cartola “fica mais trinta anos” no cargo.
Mas leia a reportagem de Otávio Cabral, publicada na edição de VEJA que está nas bancas, para ver se Teixeira conseguirá se segurar.
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Jogo encerrado?
Envolvido em escândalo de corrupção e chantageado por antigos aliados, Ricardo Teixeira deve deixar a presidência da CBF dois anos antes da Copa do Mundo no Brasil
Estava tudo programado para que ele tivesse uma despedida de gala e saísse de cena da forma como passou as últimas duas décadas: poderoso, rico, temido e cercado de acólitos.
Mas deu tudo errado para Ricardo Teixeira, o capo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Envolvido em um escândalo internacional de corrupção, encurralado pela FIFA, pressionado pelo governo brasileiro e abandonado pelos antigos aliados, o cartola desistiu de esperar pela Copa do Mundo de 2014, quando pretendia anunciar sua aposentadoria em grande estilo.
Em vez disso, ameaça sair de campo sorrateiro, praticamente expulso. Depois de 23 anos no poder, a situação de Teixeira na CBF parece insustentável.
Roteiro de filme de mafiosos
A história da sua derrocada parece um roteiro de filme de mafiosos.
Aquele que terminou por ser seu principal algoz foi um parceiro de negócios por mais de vinte anos: o suíço Joseph Blatter, presidente da FIFA. A cumplicidade da dupla, além de lhe render incontáveis frutos, foi fundamental para que Teixeira conseguisse trazer a Copa ao Brasil.
A partir daí, porém, o cartola passou a achar que teria força suficiente para tomar o lugar de Blatter. No ano passado, apoiou um candidato que se opunha a ele, contrariou a vontade do suíço ao trabalhar para levar as Copas de 2018 e 2022 à Rússia e ao Catar e excluiu a FIFA da organização da competição no Brasil.
Sentindo-se traído, Blatter, no meio do ano passado, vazou para a imprensa inglesa o relatório de uma investigação sobre corrupção no futebol feita na Suíça. De acordo com o inquérito, que corre em sigilo, Teixeira recebeu até 1999 o equivalente a 15 milhões de reais da empresa de marketing ISL a título de propina para facilitar a compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo.
Ele entrou com uma ação na Justiça suíça para impedir a divulgação oficial dos resultados da investigação. A informação de que a perderá foi fundamental para antecipar sua saída de cena.
Até a “bancada da bola” o abandonou
Ao longo dos últimos anos, preocupado em dominar o mundo, o cartola descuidou do time da casa, o que muito contribuiu para o seu enfraquecimento.
Ao perceberem que a CBF deixava de ser uma fonte generosa e inesgotável de financiamentos e subsídios, dirigentes de federações e clubes começaram a tramar sua queda.
O mesmo ocorreu com a “bancada da bola” — grupo de políticos financiados pelo cartola e que defendia a CBF em brasília. Sentindo-se deixada à míngua, ela abandonou Teixeira. Na semana passada, o cartola não conseguiu nem mesmo organizar um jantar de despedida com parlamentares. Weber Magalhães, um dos vices da CBF, telefonou para diversos deputados e senadores fazendo o convite — e de todos recebeu uma porta na cara.
Dilma quer vê-lo longe da administração da Copa
Com a troca de Lula por Dilma Rousseff na Presidência, o chefe da CBF perdeu um aliado e ganhou uma adversária — Dilma nunca fez segredo de que queria vê-lo longe da administração da Copa.
Sem apoio, ele não teve como evitar, por exemplo, que o governo brasileiro pedisse à Suíça o envio dos detalhes do inquérito que o compromete. O governo suíço já aceitou o pedido, o que deve provocar a abertura de um processo no Brasil e, muito provavelmente, um pedido de bloqueio dos seus bens.
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PASSADO...: Teixeira pôs à venda sua fazenda em Piraí, no Estado do Rio, fechou um laticínio, um restaurante e uma boate, e vendeu um apartamento no Leblon (Foto: Cecília Acioli / Folhapress)