Postagem em destaque

Uma crônica que tem perdão, indulto, desafio, crítica, poder...

Mostrando postagens com marcador Mimosa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mimosa. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dia dos animais /// Dia de São Francisco // Adoecer de saudade


Poesia de Magdalena Léa em homenagem aos animais.
"MIMOSA"
Um jornal noticiou:

"Perdeu-se uma cadelinha.
É branca, toda branquinha,
Com uma fita cor-de-rosa.
mimosa.jpg (561×625)É bem mansinha e atende
Pelo nome de "Mimosa".
"Gratifica-se" - dizia -
"Com generosa quantia
A quem entregar"... e dava
O endereço afinal.

O homem larga o jornal

E se põe a comentar:
- "Não há dúvida, é você,
Pois isso logo se vê:
Branquinha, de fita rosa ...
Então, seu nome é Mimosa?
Assenta bem pra você!"
E afagando a cachorrinha,
que no seu colo se aninha:

- "Ora essa, é muito boa!

Deixaram você à toa
E depois vêm com a cantiga?
Mas isso não, minha amiga,
Não vou entregar é nada,
O castigo é merecido.
Se fosse bem vigiada,
Você não tinha fugido.

E quem foi que a socorreu

Quando andava aí perdida?
Portanto você nasceu
Foi nesse dia, querida!
Triste, suja, enlameada,
Faminta, correndo à toa,
Podendo ser esmagada
Aos pés de qualquer pessoa...
E eu salvei-a do perigo!
Não lhe dei comida, abrigo
E tudo, de coração?

Pois dizem que é generosa

A tal gratificação!
Mas isso a mim não me tenta,
Jogo o dinheiro na venta
De quem me tirar você,
Pois o seu dono sou eu.
O antigo dono seu...
Bem, há de se consolar!
Pegue a gratificação
E corra, e compre outro cão,
Que cães não hão de faltar,
Com você eu é que fico!
Capaz de ele ser bem rico,
E ter de tudo na vida,
Uma família querida.
Mas eu sozinho, solteiro...
E do "metal" nem o cheiro!
Escuta aqui, ó tetéia,
Posso ser um vagabundo,
Mas não há ouro no mundo
Que mude aqui minha idéia.

Mas toda vez lá saía

A notícia no jornal:
O outro não desistia
De encontrar o animal.
E cada dia aumentava
O prêmio pela Mimosa.
Cem mil reais andava,
Oferta bem generosa!

O homenzinho então lia,

A cachorrinha afagando
E bem alto, comentando:
- "És uma jóia!" - E ria.
"Que prêmio por seu sumiço!
Deixe porém que eu lhe diga:
Você, você, minha amiga,
Vale bem mais que isso!"
Como entendesse, Mimosa
Abana a cauda vaidosa.

Os dias se sucediam,

E sempre o preço subiam
Pela cachorra perdida.
E o homem punha-se a rir:
- "A coisa está divertida!"

Fazia já quinze dias

Que a cadelinha fugida
Vivia uma outra vida.
Não faltando à condição
De seu sexo volúvel,
Espera ali, no portão,
Novo dono e pressurosa
Salta lambendo-lhe a mão.
E ele ri satisfeito
Aconchegando-a ao peito
Com carinho e com ternura,
Começa então a leitura.

Mas súbito empalidece

Hoje ele não escarnece
Treme na mão o jornal...
Dessa vez o homem não riu
Pegou Mimosa e saiu
Foi entregá-la afinal.

É que não fala em dinheiro

A notícia nesse dia,
Apenas isto dizia:

"Pede-se à alma bondosa,

Que encontrou a Mimosa,
Que a entregue por piedade.
Sua dona é pequenina,
Tem seis anos a menina,
E adoeceu de saudade."

Autora: Magdalena Léa

Livro: "A Criança Recita"