'Não vale a pena viver', diz palestino morador da Faixa de Gaza
Por Brasil |
Conflito iniciado no dia 8 afeta totalmente dia a dia dos civis dos dois lados: 'Palestinos são reféns do Hamas', diz israelense
À medida que o conflito entre Israel e palestinos se intensifica na Faixa de Gaza, vão surgindo relatos de como o dia a dia de civis dos dois lados vem sendo profundamente afetado. De acordo com autoridades palestinas, a operação iniciada na terça-feira passada por Israel deixou mais 170 mortos.
Segundo Israel, cerca de 1 mil foguetes foram lançados da Faixa de Gaza desde então e umdrone palestino teria sido abatido perto de Ashdod na manhã desta segunda-feira. Abaixo, israelenses e palestinos de Gaza relataram à BBC como suas vidas mudaram desde o início do conflito.
Haytham Besaiso, 26 anos, engenheiro civil morador da Cidade de Gaza
Essa é a terceira guerra em cinco anos. A diferença agora é que Israel não tem um propósito ou objetivo claro. Tudo que estão fazendo é matar civis e alvejar casas. Na primeira guerra, eles atacaram militantes. Na segunda, eles miraram o arsenal de armas.
A mídia ocidental atribui o confronto à morte de três jovens israelenses, mas nenhum grupo palestino assumiu a autoria do crime. Geralmente, alguém admite a responsabilidade. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu e o que sentimos é que estamos sendo punidos coletivamente.
Viver aqui é horrível. Estamos sob cerco. Não podemos importar nada. Temos eletricidade por apenas oito horas, o que significa que não podemos construir nada.
Eu sou engenheiro civil, e não há materiais de construção no mercado. A indústria foi destruída. A agricultura fortemente abalada. Não podemos sobreviver desse jeito. Estamos deprimidos. Essa é a primeira vez que sinto que não vale a pena viver.
O mundo precisa fazer algo por nós. O processo de paz é difícil de ser alcançado e tem se arrastado pelos últimos 20 anos sem resolução. Deve haver alguma coisa que possa ser feita.
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Eu sou contra o governo de Israel, não contra o povo de Israel. Mas infelizmente as pessoas têm adotado visões um pouco extremas. Acho que os israelenses estão cansados dessa situação também e querem uma vida normal. Mas, se realmente quisessem, poderiam colocar mais pressão sobre o governo para que a paz seja alcançada, mas isso não está acontecendo.
Shimon Ben Shelaimi Zalman, clérigo de Beit Shemesh, a 30 km de Jerusalém
Eu vivenciei a Guerra do Golfo, mas meus filhos, de 13 e 11 anos, estão sofrendo com esse confronto.
Eles se recusam a dormir em casa porque não temos um abrigo antiaéreo por perto ou um cômodo protegido em casa. Eles estão dormindo com amigos em um bairro vizinho, em uma casa com quarto protegido.
Eu e minha mulher vamos dormir sem saber se tiramos os sapatos e roupas porque tememos ser acordados no meio da noite e ter de sair correndo. É muito difícil cair no sono com esses pensamentos na cabeça.
Sei que temos um Exército profissional e agradeço por nos protegerem, mas não podemos achar que eles terão todas as respostas.
Não fico feliz em ver civis feridos, sejam eles cristãos, judeus ou muçulmanos. Eu simpatizo com palestinos cujos filhos também estão sofrendo. Acho que os palestinos são reféns do Hamas, a gangue terrorista que eles colocaram no poder. Infelizmente não consigo ver uma solução para isso.
Gostaria de acreditar em um cessar-fogo, mas não se resultar apenas em uma interrupção temporária do combate para que eles se rearmem e comecem a atacar novamente.
Dania, 23 anos, professora palestina de literatura inglesa
A maioria dos prédios em Gaza é habitada por civis. Nós realmente queremos um cessar-fogo que seja cumprido pelos dois lados.
A mídia dá a impressão de que há uma troca de fogo equilibrada entre os dois lados, mas não menciona como o Exército israelense é mais forte. Quando eles nos atingem, os estragos são muito maiores.
O conflito em 2009 foi pior, mas os últimos dias foram a primeira vez em muitos anos que nos lembramos de como pode ser difícil viver aqui. Aqui em Gaza não temos o direito de defender nossas casas. Enquanto isso, Israel parece usar todas as formas de defesa.
Stephen Chelms, cidadão israelense e britânico de Netanya, norte de Israel
Eu lamento pelas perdas sofridas pelos palestinos, mas é culpa deles que estamos vendo crianças mortas, porque eles não as retiram (dos locais de confronto).
Se houvesse um ataque, os israelenses retirariam suas crianças e fariam tudo para que estivessem em segurança. Mas a mentalidade árabe sobre guerra e destruição não os estimula a fazê-lo.
Em vez disso, seu sistema de educação os ensina que eles têm de liberar a Palestina e que sunitas têm de lutar com xiitas e israelenses contra palestinos. Eles estão educando futuras gerações de combatentes para prolongar o conflito.
Gaza poderia ser próspera. Tem hotéis cinco estrelas, e as melhores praias também. Há muita riqueza e eles poderiam ultrapassar o Líbano como destino turístico, mas o Hamas não está interessado nisso.
Eu não acredito que Israel fará uma invasão terrestre por enquanto porque nos causaria muitos problemas e os ataques aéreos são mais eficientes.
Em longo prazo, não acho que foguetes vão resolver alguma coisa. Precisamos de uma solução que tenha a participação de um terceiro ator e, por falta de alternativas de credibilidade, os EUA ainda são a melhor opção porque podem ao menos dialogar com o governo israelense. O Egito também pode participar, mas eles têm seus próprios problemas para resolver.