Jogos do Rio podem custar 4 vezes mais,
diz autora de estudo
Jefferson Puff
Da BBC Brasil, Rio de Janeiro
Atualizado em 30 de janeiro, 2014 - 09:31 (Brasília) 11:31 GMT
A realização de Jogos Olímpicos oferece grande risco financeiro e a Olimpíada do Rio pode chegar a ficar três vezes mais caro do que o orçamento inicial, na opinião de uma pesquisadora da Universidade de Oxford.
Allison Stewart, coautora de um estudo que concluiu que as Olimpíadas desde 1960 têm estourado orçamentos em 252%, diz ver o risco de que os Jogos do Rio tenham um aumento na mesma magnitude do verificado nos Jogos de Londres em 2012, orçados inicialmente em US$ 3,95 bilhões e com custo final de US$ 15 bilhões - um aumento de mais de quatro vezes o valor inicial.
"Com base nos nossos estudos e no que temos visto do Rio eu diria que não é impossível que o orçamento dos Jogos de 2016 também tenha um aumento nesta magnitude", disse ela em entrevista à BBC Brasil.
Para a doutora pela Universidade de Oxford, sediar uma Olimpíada é um dos megaprojetos com maior risco financeiro que existe. Em 2012, ela copublicou o estudo que analisou todos os orçamentos dos Jogos realizados entre 1960 e 2012.
Ao fazer comparações entre os orçamentos apresentados pelas cidades-sede ao Comitê Olímpico Internacional (COI) no momento da candidatura e as contas finais ao término dos Jogos, chegou-se à média de gastos além do previsto de 252%.
Nenhuma Olimpíada fechou a contabilidade dentro das previsões iniciais.
"Nenhum outro tipo de megaprojeto (ferrovias, grandes hidrelétricas, megaeventos) tem 100% de consistência de exceder o orçamento como as Olimpíadas", dizem os pesquisadores.
Stewart alertou para a necessidade de monitoramento dos gastos dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio-2016, cujos gastos totais foram estimados em R$ 22 bilhões no dossiê de candidatura.
Nesta semana, o Comitê Rio-2016 divulgou pela primeira vez um orçamento operacional de R$ 7 bilhões. Também foi divulgada uma versão incompleta da Matriz de Responsabilidades dos Jogos – o documento que detalha os projetos a serem concretizados para a Olimpíada. De 52 projetos citados na Matriz, apenas 24 foram orçados, num total de R$ 5,6 bilhões.
Os organizadores vêm sendo criticados pelo atraso em divulgar os dados e a falta de definição, mas argumentam que estão trabalhando dentro dos prazos.
Veja os principais trechos da entrevista
BBC Brasil - Seu estudo foca na diferença entre os valores dos orçamentos iniciais, incluídos nos dossiês de candidatura ao COI, e os custos finais de sediar uma Olimpíada. É possível afirmar que as cidades-sede tendem a apresentar orçamentos mais baixos do que a realidade, numa tentativa de legitimar o projeto?
Allison Stewart - É curioso, porque de fato a intenção de se pedir um orçamento para alguma coisa é prever custos, informando o máximo que pode-se gastar para um determinado projeto ou atividade. No caso das Olimpíadas, no entanto, vemos que o orçamento inicial é sempre o mais baixo possível, e que na verdade os orçamentos apresentados nesta etapa dificilmente poderão ser colocados em prática.
Outra coisa é que as cidades-sede, ao assinarem o contrato com o COI, assinam também um cheque em branco, para cobrir todos os custos que ultrapassem a previsão inicial.
"Com base nos nossos estudos e no que temos visto do Rio eu diria que não é impossível que o orçamento dos Jogos de 2016 também tenha um aumento nesta magnitude"
Allison Stewart, doutora pela Universidade de Oxford e autora de estudo sobre orçamentos olímpicos
Imagine que você chama um pedreiro para reformar sua casa. Você diz a ele que há um orçamento, mas que todos os custos excedentes serão cobertos. Obviamente não é o melhor estímulo para que ele mantenha as contas da reforma em dia. Nas Olimpíadas, estes recursos de cobertura estão saindo do bolso do contribuinte, então poder monitorar o orçamento é crucial.
BBC Brasil - Você diria que nas últimas décadas os países que sediaram Olimpíadas falharam em criar mecanismos para aprimorar os mecanismos de monitoramento do uso de recursos públicos?