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sábado, 14 de fevereiro de 2015

PT procura zona de conforto para atenuar críticas, envolvimento de militantes do partido em atos ilícitos e escapar da realidade que ameaça seu prestígio político




14/02/2015
 às 11:43 \ Direto ao Ponto

Dilma, Lula e Santana se encontram para a troca de ideias que não têm. Deveriam estar à procura dos álibis que não há

A trinca dos pecadores: o populista que se acha um messias, a sucessora que pensa ser filha do mestre e o marqueteiro que tem certeza de que é um espírito santo
Trinca de pecadores: a sucessora que se imagina Filha do Mestre, o marqueteiro que se considera porta-voz do Espírito Santo e o farsante que se promoveu a messias
ATUALIZADO ÀS 11H43
A economia está fazendo água — e, desde o tempo das cavernas, é quando ela bate na linha da cintura que o homem começa a nadar. O pibinho vai descendo a níveis siberianos, a inflação mesmo maquiada rompe a fronteira dos 7%, o dragão domestico pelo Plano Real soluça nas cercanias dos dois dígitos. O rombo nas contas públicas é de assustar esquerdista grego, os juros sobrevoam a estratosfera, o desemprego cresce, a alta do dólar escancara a desconfiança mundial no Brasil.
O que Dilma faz para escapar do afogamento nessas cataratas de más notícias? Conversa mais com Joaquim Levy, para afinar-se com o ministro da Fazenda emparedado pela idiotia do PT, pela gula da base alugada, por “movimentos sociais” estacionados no século 19, pela  sede dos ministros que bebem verbas? Nada disso. Em vez de socorrer-se do economista criticado não pelos defeitos, mas pelas virtudes que tem, a doutora em nada pede conselhos a Lula e encomenda ideias a João Santana.
O edifício lulopetista  está sitiado por rachaduras internas e fraturas expostas nos alicerces. A bancada fiel a Dilma na Câmara é insuficiente para eleger um vereador de grotão. No Senado, os contratos com o grupo de Renan Calheiros são tão confiáveis quanto os prazos do PAC. O “núcleo íntimo do Planalto” é mais uma reedição piorada dos Três Patetas.
Sem porta-vozes capazes de andar e mascar chicletes ao mesmo tempo nem interlocutores, sem interlocutores com paciência para decifrar a mulher que fala dimês, que faz o neurônio solitário? Livra-se do cerco dos áulicos que a bajulam desde que virou a favorita do chefe? Tenta aprender com quem sabe? Nada disso. Encomenda ideias ao padrinho e pede conselhos ao marqueteiro do reino.
A pesquisa divulgada neste fevereiro pelo Datafolha reafirmou a trágica contemporaneidade da lição ministrada por Mário de Andrade, há quase 90 anos, pela boca do personagem Macunaíma: “Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são”. Para os entrevistados, o segundo maior problema do país é a corrupção amamentada pelo Planalto. Na liderança do ranking continua o sistema de atendimento à saúde que Lula, cliente VIP do Sírio Libanês, qualificou de “perto da perfeição”.
Perto da perfeição chegaram, isto sim, os bandidos de estimação cevados desde o dia da posse pelo chefe-supremo de todas as bandalheiras. As saúvas perderam a compostura em Santo André, perderam o juízo no Mensalão, perderam a vergonha no Petrolão. Em parceria com Dilma, Lula transformou o Brasil Maravilha num viveiro de quadrilhas impunes. Todas roubaram muito. Nenhuma roubou tanto quanto a desbaratada pela Operação Lava Jato, devassada por procuradores federais e exemplarmente enquadrada pelo juíz Sérgio Moro.
As investigações estão chegando aos peixes graúdos. José Dirceu (codinome Bob) e Antônio Palocci, por exemplo, acabam de entrar em cena. É iminente a subida ao palco do astro principal. Se não fosse tão indigente o material aproveitável na cabeça baldia de Lula, se Dilma ao menos suspeitasse da própria mediocridade, se Santana conhecesse o limite da bandalheira, os três estariam imersos numa demorada releitura da pesquisa. O Datafolha traduziu em algarismos e índices o retrato dramaticamente revelador esboçado pelas urnas de outubro.
A presidente se reelegeu a bordo das tapeações de mágicos de picadeiro, nas falácias dos coronéis com topete implantado, nas vigarices e violências colecionadas pelas diversas ramificações que compõem o Grande Clube dos Cafajestes no Poder. Em pouco mais de um mês, o coro dos contentes ficou afônico, os truques deixaram de funcionar, a taxa de popularidade de Dilma foi devastada pelo raquitismo irreversível.
A rainha de João Santana está nua. Dilma é considerada falsa por 47% dos brasileiros, desonesta por 54% e indecisa por 50%. Para 52%, a presidente sabia da corrupção na Petrobras e deixou que ela ocorresse. Confrontada com tantas estatísticas pressagas, o que faz a chefe de governo? Tenta tomar distância dos delinquentes irrecuperáveis? Esquece no guarda-roupa as fantasias esfarrapadas?
Nada disso. Chama para encontros a sós os comparsas de sempre e gasta horas em sussurros com equilibristas manuetas, contadores de lorotas sem vagas sequer em mesa de botequim, vigaristas incapazes de renovar o estoque de embustes. O Brasil está mudando. Os velhacos só ficam mais velhos. Lula declara guerra à misteriosa entidade que batizou de “eles”, Dilma diz que a ladroagem na Petrobras é coisa de imperialistas americanos, João Santana delira com pátrias educadoras.
Nenhuma farsa dura para sempre. Em parceria, Lula e Dilma enganaram milhões de paspalhos com o país autossuficiente em petróleo que importa um oceano de barris por ano, com as colossais jazidas do pré-sal que continuam nos abismos do Atlântico, com a nação que apesar da erradicação dos miseráveis tem andrajos hasteados em todas as esquinas, fora o resto. A terra dos abúlicos está farta de tanto cinismo.
O palanque ambulante está desgovernado. Dilma é só um poste instalado no Planalto para fazer o que o mestre mandar. Os mais de 51 milhões de brasileiros que votaram contra o PT riscaram um ponto de não-retorno. Dilma já completou mais de um mês sem abrir a boca e alguns anos sem dizer coisa com coisa. Lula é o único campeão das urnas que jamais venceu uma eleição majoritária no primeiro turno.
É também o único líder de massas que desde a vaia no Maranacanã no Pan-2007 só se apresenta para plateias amestradas.Se for candidato em 2018, vai descobrir que os entrevistadores já não poupam espertalhões. Terá de explicar-se sobre o Caso Rose. Terá de escapar da montanha de provas que o vinculam às safadezas na Petrobras. Se disser que nada viu e nada sabe, será desmoralizado pela gargalhada nacional.
Dilma, Lula e Santana não deveriam perder tempo trocando ideias que não têm. A trindade nada santa faria um favor a si própria se saísse à caça de álibis que até agora não há.