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domingo, 31 de julho de 2016

"Precisamos de encanadores"... / Fernando Gabeira

domingo, julho 31, 2016

Sobre humor e cangurus -

 FERNANDO GABEIRA

O Globo - 31/07

A frase infeliz de Paes faz pensar: existe um humor tipicamente carioca?


Não precisamos de cangurus, mas sim de encanadores. A frase da chefe da delegação australiana na Olimpíada do 
Rio é mais do que uma tirada pragmática. Ela nos leva a pensar no humor. Quando prometeu os cangurus, diante das reclamações sobre problemas hidráulicos, Eduardo Paes estava fazendo humor. E, ao contrário do que ele costuma dizer, não é um humor carioca, apenas humor. Na verdade, não sei se existe um humor tipicamente carioca. Um dos maiores humoristas de todos os tempos, o carioca Millôr Fernandes era universal na maioria dos seus textos e pode ser incluído em qualquer boa seleção planetária.

Talvez exista um humor judeu, classificado, organizado em antologias, com traços marcantes, como a autoironia de Woody Allen. Mas ainda assim é um esforço classificatório. No livro “O ato da criação”, Arthur Koestler descreve a dinâmica do humor e, de um modo geral, o atribui a um tipo de associação que expressa o encontro súbito de dois quadros do pensamento, uma centelha criativa que faz rir. Paes associou rapidamente um fato do mundo material, o entupimento das pias, para outro do mundo afetivo, os cangurus tão presentes no cenário australiano. A resposta australiana recolocou o quadro real da demanda.

Se examinarmos o quadro clássico da dinâmica do humor, ele apenas introduziu uma centelha criativa, com o propósito de fazer rir. No entanto, carioca ou judeu, o humor está sujeito a uma condição universal: tem ou não tem graça? É difícil aceitar a tese de um humor carioca, sempre que o prefeito do Rio diz uma frase infeliz. Existe um estado de espírito mais descontraído talvez. Mas ele também está sujeito ao julgamento do outro.

Se as frases de Paes expressam um típico humor carioca, era de se esperar que os cariocas fossem discretamente evitados por outros povos: lá vêm aqueles caras, com aquelas piadas sem graça. E não é isso o que acontece nas relações entre eles e o mundo. É compreensível que pessoas modestas atribuam seus talentos à sociedade em que trabalham, que socializem a celebração de suas conquistas. Mas torna-se um pouco difícil atribuir frases das quais ele próprio se arrepende a um traço da sua própria cultura. Como os cariocas, por serem cariocas, estivessem condenados culturalmente a dizer coisas sem graça, nas circunstâncias mais sérias. A resposta da australiana, Kitty Chiller — “precisamos de encanadores” — jogou Paes na realidade e foram feitos avanços nas reparações. Ministros de Brasília andaram dizendo que isso acontece mesmo com prédios novos. É a inversão do senso comum. Seria como dizer: meu carro é novo, por isso não sai da oficina.
O diálogo Paes-Chiller me jogou também numa outra dimensão da realidade. Se uma obra que custou R$ 2,9 bilhões, inaugurada com exposição internacional, foi entregue assim, o que acontece com as outras ao longo do Brasil, escondidas das câmeras, anônimas? Cobrindo uma enchente num bairro popular de São Gonçalo, a moradora me convidou para entrar em sua casa e ver o resultado de uma recente obra de saneamento. Simplesmente os canos devolviam esgoto para dentro de casa. Naquele momento, senti muito que ela fosse obrigada a viver naquelas circunstâncias desagradáveis. Era apenas uma velha senhora de São Gonçalo. O que vemos hoje atrela aquele destino individual à própria imagem do Brasil.

As reportagens mais críticas e dolorosas referem-se sempre aos graves problemas de saneamento. Uma atleta americana postou para seus seguidores: vou remar na merda por vocês. Num sentido mais amplo, a chefe da delegação australiana falou por todo o Brasil: precisamos de encanadores. Impossível esconder de uma superexposição internacional o fato de que ainda não resolvemos no XXI o problema que alguns países resolveram no século XIX, como o saneamento básico. Não é preciso ir aos bairros mais pobres para constatar essa realidade. As lagoas são um termômetro. Todas, e especialmente a Baía de Guanabara, são poluídas e decadentes. A opção de realizar a Vila Olímpica na Barra consagra um tipo de crescimento que segue o ritmo do próprio comércio imobiliário. Ao fugir das grandes concentrações, a expansão impõe ao governo custos muito altos para instalar a infraestrutura. A frase da australiana Kitty Chiller não é todo estranha à Barra de Tijuca de hoje.

Mas, certamente, ao apontar o crescimento para a região, ela pode se tornar profética: precisamos de encanadores. De uma certa forma, a Lava-Jato nos ajudou nisso. Grandes empreiteiras como a Odebrecht não terão condições de repetir seus métodos. E não poderão substituir o planejamento pela lista das obras que querem construir. O colapso dessas grandes empresas talvez abra caminho para se enfrentar com mais eficácia a tarefa do saneamento.

Se isso acontecer será também um legado da Olimpíada, teremos encanadores e os canos que ainda nos faltam.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Segurança é uma das preocupações de Roma com a Jornada Mundial da Juventude no Rio - Brasil - Notícia - VEJA.com

Cristo Redentor pintado com as luzes da Jornada Mundial da Juventude
Cristo Redentor pintado com as luzes da Jornada Mundial da Juventude...

Presidente do Pontifício Conselho, Stanislaw Rylko, passa semana na cidade para analisar os  preparativos para o evento, em 2013

Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
Na primeira de uma série de vistas técnicas que fará ao Rio de Janeiro, o cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude no Vaticano, considerou positiva a preparação da Igreja católica fluminense para o evento, em 2013. O olhar vigilante de Roma sobre a cidade-sede se assemelha ao procedimento do Comitê Olímpico Internacional (COI), que acompanha os avanços do Rio para receber os Jogos Olímpicos de 2016. O roteiro, claro, é um pouco diferente. Estão incluídas igrejas, missas e encontro com a juventude de uma paróquia do centro.
Rylko chegou ao Rio na segunda-feira, quando participou de uma reunião com o Comitê Organizador Local (COL/Rio), cuja função é parecida com a do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Nesta terça, ele participou de um café da manhã com o governador Sérgio Cabral e com o prefeito Eduardo Paes. E uma das preocupações ressaltadas pelos representantes da Igreja foi a segurança. Apesar de a cidade não apresentar risco de terrorismo, a ocupação de múltiplos espaços, ao mesmo tempo, é um desafio...
'Vender' o Rio como um local seguro faz parte da estratégia do governo e da prefeitura para a cidade, que receberá, em breve, a Rio +20, Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas, além da JMJ. O arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, participou do café da manhã e afirmou a aliança com o governo municipal e estadual, comprometidos em ofertar infraestrutura e segurança para a jornada. “Eles estão dando a estrutura necessária que compete ao governo estadual, federal e municipal em relação a local, deslocamento, via pública. O aspecto da seguranaça foi muito salientado pelo cardeal. Há um empenho (do poder público) em traduzir o Rio como um lugar seguro”, afirmou Tempesta.