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domingo, 21 de outubro de 2012

Indigência funcional // Páginas Amareladas

                                    INDIGÊNCIA FUNCIONAL
  
Dois veículos de comunicação cariocas, O GLOBO e o Jornal do Brasil,  trataram, no mesmo dia, 10/10/2003, de duas agressões ao patrimônio público ocorridos em dois locais diferentes e nobres da cidade do Rio de Janeiro por autoridades que deveriam zelar pelos espaços agredidos.
O GLOBO mostrou em sua reportagem o autoritarismo de um guarda municipal que estacionava de maneira irregular seu carro dentro da Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema.
O Jornal do Brasil dirigiu sua atenção para um crime de natureza ambiental perpetrado pela Prefeitura do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no Horto, um terreno contíguo ao Jardim Botânico.
As duas matérias jornalísticas demonstravam  a incapacidade de dois encarregados de gerir e manter o bem público em condições de utilização pelos moradores  da cidade carioca.
A arbitrariedade do guarda municipal foi sanada pela retirada do veículo e o seu afastamento do exercício de zelador do próprio público que ele deveria cuidar. Um ofício administrativo debelou o ato falho de um funcionário.
No caso do prefeito do Jardim Botânico o prejuízo é muito maior do que todas as medidas possíveis de se minimizar as avarias ao patrimônio público. O impacto da derrubada de angicos e palmeiras para gerar um terreno para a construção de uma garagem não será recompensado por  uma ação ou punição de ordem administrativa.
Esses dois acontecimentos narrados pelos dois jornais cariocas pertencem ao universo da violência urbana da cidade do Rio de Janeiro. A diferença de tratamento jornalístico é de natureza sociopolítica , pois, não aparecem nas páginas policiais e sim nos cadernos ‘Rio’ e ‘Cidade’.Os dois veículos usaram a mesma “centimetragem” para contar as duas histórias. 
As reportagens  registram dois modos de punição. No primeiro, do guarda municipal, já providenciada, a pena é o afastamento do cidadão de nível de conhecimento de 2º grau para uma área de menor responsabilidade funcional. No caso do Jardim Botânico, o responsável pelo agravo   ao patrimônio público tem  nível de graduação de 3º grau e pode se defender de um processo que, por costume, pode durar anos para um julgamento.
Os  dois casos são emblemáticos e documentam o nível de indigência funcional dos  encarregados de proteger o bem público.
Ao mesmo tempo, pode ser percebido que existe outro modo de analisar os dois incidentes. Trata-se da demonstração do grau de espírito crítico  que o jornalismo alcançou e que pode ser medido pelo  interesse com que os veículos de informação abordam acontecimentos que interagem com as demandas dos diversos níveis de interesse da sociedade.