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Uma crônica que tem perdão, indulto, desafio, crítica, poder...

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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

"Elas (as notícias) fazem parte do cotidiano, mas não contam a história toda. Por isso, para rebater o desânimo e contrabalançar, não custa dar uma espiada em alguns sites com conteúdo integralmente positivo que andam pipocando por aí. E nunca deixar de assistir a documentários, ler livros, ver filmes, aprofundar-se. Quanto mais abrangente nossa visão das coisas, menos desumano nos parecerá este mundo..." / Martha Medeiros

quarta-feira, outubro 21, 2015


Comum e incomum -


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ZERO HORA - 21/10

Alain de Botton aterrissa nas livrarias com mais uma obra dedicada à filosofia do cotidiano, desta vez abordando um tema que interessa aos jornalistas em particular e a todos em geral. Notícias – Manual do Usuário nos estimula a pensar mais profundamente sobre nossa relação com a imprensa.

Precisamos saber de tudo o que está sendo noticiado? Esse “tudo” é suficiente ou é excessivo? Qual o critério para decidir que um fato merece ser noticiado e outro não?

Há um jargão clássico do jornalismo que diz que notícia não é quando um cachorro morde um homem, e sim quando um homem morde um cachorro. O incomum pauta os veículos de comunicação. Porém, comum e incomum têm se confundido. Assassinatos, estupros, desastres: não estaria na hora de essas desgraças recorrentes dividirem a atenção com as banalidades que ficam de fora das manchetes?

Por vezes, Alain de Botton soa idealista e até um pouco ingênuo, mas é um homem que traz questionamentos relevantes. Diz ele que o noticiário não transcreve a realidade, ele molda a realidade conforme as histórias que publica. Para cada pedófilo, há milhares de pessoas que respeitam as crianças. Para cada agressor de mulheres, há milhares de homens que não reagem com violência. Sem dúvida que é importante revelar os podres da sociedade, mas não se deve esquecer que as notícias que chegam sobre a nação não são a nação, e sim uma parte dela. Imprensa responsável é aquela que também abre espaço para notícias que possibilitem a criação de uma imagem de comunidade que nos pareça boa e sadia, a fim de fazer com que tenhamos vontade de contribuir para que ela se desenvolva.

A questão dos refugiados é um bom exemplo: todos se sensibilizam com sua situação, mas por quantos minutos? Três, quatro? Enquanto durar a matéria na tevê?

Não sabemos como é a vida corriqueira de quem vive em países com uma cultura tão diversa. O que comem no café da manhã, como namoram, o que fazem no fim de semana, como criam os filhos, que músicas escutam. Não há o olhar microscópico sobre seu universo, são apenas estranhos com o qual não nos identificamos, e essa falta de empatia mantém seu drama longe das nossas preocupações imediatas.

Amanhã, haverá novas más notícias nos jornais.

Elas fazem parte do cotidiano, mas não contam a história toda. Por isso, para rebater o desânimo e contrabalançar, não custa dar uma espiada em alguns sites com conteúdo integralmente positivo que andam pipocando por aí. E nunca deixar de assistir a documentários, ler livros, ver filmes, aprofundar-se. Quanto mais abrangente nossa visão das coisas, menos desumano nos parecerá este mundo.



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

..."o Brasil só tem uma saída: reunir todo o dinheiro que sobrou das maracutaias e investir tudo em educação. Tudo. Fazer uma revolução radical no país através da educação. Se o governo fizesse isso, não precisaria fazer mais nada, do resto cuidaríamos nós." ... Martha Medeiros


Pro Dia Nascer Feliz -

 MENOS GOVERNO  

MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 14/10
Só agora assisti ao documentário Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, que foi premiado anos atrás em vários festivais de cinema. A câmera se infiltra em salas de aula da periferia e em escolas de elite também, enquanto o diretor extrai depoimentos de professores e, principalmente, de estudantes que têm entre 12 e 16 anos. Como é a relação deles com a escola? O que aprendem, o que pensam, o que sentem,
o que sonham, como lidam com a autoridade e com os colegas, que futuro aguarda por eles?
Quando o filme acabou, juntei meus restos e saí da sala arrastando os pés. A esperança havia espocado em uma cena ou outra, mas, de modo geral, a sensação com que fiquei é de que o Brasil só tem uma saída: reunir todo o dinheiro que sobrou das maracutaias e investir tudo em educação. Tudo. Fazer uma revolução radical no país através da educação. Se o governo fizesse isso, não precisaria fazer mais nada,
do resto cuidaríamos nós.

Sei que é uma utopia, mas qual a alternativa? Não existe futuro enquanto a garotada continuar desassistida, carente, cumprindo mecanicamente um currículo que não tem aplicação prática em seu desenvolvimento e se tornando vítima fácil da depressão. Se o governo não dá conta, então o que precisamos é de menos governo. Tchau, governo.
Para que precisamos dele? O alto escalão se ocupa apenas em negociar cargos entre si, em fazer conchavos, em acumular milhões em contas na Suíça. Esqueceram por completo que existe um país implorando por ajuda. O povo brasileiro deixou de existir para quem, a priori, deveria zelar por ele. Poderiam ser indiciados por mais esse crime: abandono de lar.
Bem feito pra nós, que nos acostumamos com a ideia paternalista de que o governo (qualquer governo) existe para solucionar nossos problemas, que é só dele a responsabilidade pelo nosso bem-estar. Deu nisso: um povo mimado. Impossível não perceber a infantilização que há na troca de farpas entre simpatizantes de partidos oponentes, agindo feito crianças: “Foi ele que começou!”.
O que importa isso agora? Estamos todos de castigo.
O jeito é tentar se emancipar. Tomar conta da nossa rua, do nosso bairro, da nossa vida. Ser solidário com os outros, fazer mais voluntariado. Formar grupos de interesse comum, se unir com quem possui os mesmos propósitos, inventar novas maneiras de prosperar. Ser mais independente. Trocar o ressentimento pela proatividade. Usar a internet não para brigar, mas para compartilhar palestras, vídeos criativos, discussões bem embasadas, lançar novos serviços. Aproximar-se da literatura, da música, da filosofia, do esporte, da natureza, da psicologia, da arte, a fim de pensar no país de forma mais positiva e educar-se a si mesmo.
Utopia, de novo? Desculpe, é que ser realista não está funcionando.
Postado por MURILO às 10:12

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Texto da Martha Medeiros... / Zero Hora / blog do Murilo


Relações verticalizadas - MARTHA MEDEIROS

Resultado de imagem para foto de carros pretos em fileiraZERO HORA - 30/09

PODER E STATUS
Três anos atrás, fui a Brasília receber a Ordem do Mérito Cultural. Eram entre 30 e 40 agraciados de diversas regiões do país. Chegando ao hotel, soube da programação: a entrega da comenda seria na manhã seguinte, no Palácio do Planalto, e à tardinha haveria um coquetel no Palácio da Alvorada. Fomos avisados de que cada um de nós teria um carro com motorista à disposição enquanto estivéssemos na cidade.

O dia amanheceu. Enquanto me arrumava para a cerimônia, fui até a sacada do quarto e vi uma fila de sedans pretos enfileirados na porta do hotel. Desci até o lobby para juntar-me ao grupo. Então, em fila, fomos conduzidos cada um para um carro, e saímos em comitiva, todos ao mesmo tempo, para o mesmo local. Patético, pra dizer o mínimo.

Não estou depreciando a honraria concedida, da qual me orgulho muito, mas óbvio que tinha algo errado ali, como sempre teve.

Na Suécia, deputados moram de segunda a sexta em apartamentos funcionais de 40m2 com lavanderia comunitária. Não têm empregados. Seus gabinetes de trabalho possuem 18m2, sem secretária, assessor ou carro com motorista. O dinheiro do contribuinte não é usado para privilégios de qualquer espécie. Além do bom uso do dinheiro público, essa postura é um seletor natural: quem quer mordomia, que bata em outra vizinhança. Entra para a política apenas aquele que deseja servir ao país, e não ser servido por ele.

O papa Francisco, dias atrás, circulou por Washington a bordo de um automóvel compacto e popular, um gesto simples que ajudou a redefinir o que é poder. Todos nós merecemos eficiência e conforto. Buscar mais que isso não é crime, mas é uma necessidade supérflua. Moramos em apartamentos mais espaçosos do que de fato precisamos, contratamos funcionários para fazer o que poderíamos fazer nós mesmos e dirigimos veículos cuja potência a lei nem permite testar (qual a vantagem de um carro ir de 0 a 100 km/h em cinco segundos, a não ser que estejamos fugindo da polícia?).

Em nossa sociedade, a aparência reina. O bairro em que você mora, a marca do seu jeans, o hotel em que você se hospeda: além do benefício real (a qualidade) há o benefício agregado – o status. Tudo bem. Só que status e poder não são a mesma coisa.

Status é ranking. Costuma ser valorizado por quem verticaliza as relações. Não vejo problema em se proporcionar coisas belas, saborosas, requintadas. Se são pagas com o próprio suor, é um direito adquirido, mas não confere poder algum, apenas bem-estar privado.

O poder é horizontal. Poderoso é aquele que distribui, compartilha, multiplica. Que produz ideias, arte, soluções, e as torna úteis e benéficas para os outros. Que não passa a vida tentando preencher o próprio vazio.

Não precisamos que nossas coisas falem por nós, a não ser que nossos atos já não digam nada.





Postado por MURILO às 09:25

terça-feira, 24 de março de 2015

Ensinamentos de Martha Medeiros

Texto de Martha Medeiros


Para meus amigos que estão...SOLTEIROS
O amor é como uma borboleta. Por mais que tente pegá-la, ela fugirá.
Mas quando menos esperar, ela está ali do seu lado.
O amor pode te fazer feliz, mas às vezes também pode te ferir.
Mas o amor será especial apenas quando você tiver o objetivo de se dar somente a um alguém que seja realmente valioso. Por isso, aproveite o tempo livre para escolher .


Para meus amigos...NÃO SOLTEIROS
Amor não é se envolver com a "pessoa perfeita", aquela dos nossos sonhos.
Não existem príncipes nem princesas.
Encare a outra pessoa de forma sincera e real, exaltando suas qualidades, mas sabendo também de seus defeitos.
O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.

Para meus amigos que gostam de...PAQUERAR
Nunca diga "te amo" se não te interessa.
Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.
Nunca toque numa vida, se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém, se não quiser vê-lo derramar em lágrimas por causa de ti. 
A COISA MAIS CRUEL QUE ALGUÉM PODE FAZER É PERMITIR QUE ALGUÉM SE APAIXONE POR VOCÊ, QUANDO VOCÊ NÃO PRETENDE FAZER O MESMO. 

Para meus amigos...CASADOS.
O amor não te faz dizer "a culpa é", mas te faz dizer "me perdoe".
Compreender o outro, tentar sentir a diferença, se colocar no seu lugar.
Diz o ditado que um casal feliz é aquele feito de dois bons perdoadores.
A verdadeira medida de compatibilidade não são os anos que passaram juntos;
mas sim o quanto nesses anos vocês foram bons um para o outro.


Para meus amigos que têm um CORAÇÃO PARTIDO
Um coração assim dura o tempo que você deseje que ele dure, e ele lastimará o tempo que você permitir.
Um coração partido sente saudades, imagina como seria bom, mas não permita que ele chore para sempre.
Permita-se rir e conhecer outros corações. 
Aprenda a viver, aprenda a amar as pessoas com solidariedade, aprenda a fazer coisas boas, aprenda a ajudar os outros, aprenda a viver sua própria vida


A DOR DE UM CORAÇÃO PARTIDO É INEVITÁVEL, MAS O SOFRIMENTO É OPCIONAL!
E LEMBRE-SE: É MELHOR VER ALGUÉM QUE VOCÊ AMA FELIZ COM OUTRA PESSOA, DO QUE VÊ-LA INFELIZ AO SEU LADO.

Para meus amigos que são...INOCENTES.
Ela(e) se apaixonou por ti, e você não teve culpa, é verdade.
Mas pense que poderia ter acontecido com você. Seja sincero, mas não seja duro; não alimente esperanças, mas não seja crítico; você não precisa ser namorado(a), mas pode descobrir que ela(e) é uma ótima pessoa e pode vir a se tornar uma(um) grande amiga(o).

Para meus amigos que tem MEDO DE TERMINAR.
As vezes é duro terminar com alguém, e isso dói em você.
Mas dói muito mais quando alguém rompe contigo, não é verdade?
Mas o amor também dói muito quando ele não sabe o que você sente.
Não engane tal pessoa, não seja grosso(a) e rude esperando que ela(e) adivinhe o que você quer.
Não a (o) force terminar contigo, pois a melhor forma de ser respeitado é respeitando.

Pra terminar ...

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata....
Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificado como o "bonzinho" não é bom . .
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
Um dia percebemos que somos muito importante para alguém, mas não damos valor a isso...
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais...
Enfim...
Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo o que tem que ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.

Martha Medeiros

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Crônica do Amor / Martha Medeiros




Cerca de 592 textos de Martha Medeiros
Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim. 

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.
Martha Medeiros

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

domingo, 12 de maio de 2013

Martha Medeiros // Frase


Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Martha Medeiros

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Harém ////// Martha Medeiros / Revista O Globo, julho de 2005


Jul 31, '05 1:44 PM
para todos
Início:     Jul 31, '05
Localização:     


TODO HOMEM MERECE UM HARÉM/ toda mulher também”. Letra da música “Poligamia”, do novo disco do Kid Abelha. Ouvi dizer que já pipocaram reações e que até andaram pedindo para o CD não ser vendido para menores de idade. O que me conforta é que, sempre que escrevemos “ouvi dizer”, há uma grande chance de termos ouvido invenções e exageros.

Porque, se for verdade, eis mais uma razão para desacreditar no bom humor, na leveza, na tolerância, em tudo o que torna a sociedade menos engessada. Ora, analisemos a situação com um mínimo de boa vontade. Não são as letras de músicas que ditam as regras de comportamento. Elas apenas refletem o que já existe, o que se consagrou nas ruas. “Não sou de ninguém/eu sou de todo mundo/e todo mundo é meu também”, lembra? Cantamos, dançamos, nos fartamos desta canção e o Brasil não virou mais Sodoma e Gomorra do que já é. A ficação vem rolando solta nas festas e bares desde muito antes de ter inspirado este libelo tribalista ao amor livre. Se é uma conduta saudável ou deprimente, vai depender da expectativa de cada praticante. Não é quem está de fora que vai decretar o que é certo e errado nas relações dos outros.

O casamento tradicional, monogâmico e indossolúvel é um ideal romântico e tem adeptos no planeta inteiro, mas não é a única forma de relacionamento que existe e, diante de tantas transformações da sociedade, já não se pode garantir que seja a melhor. Cada um sabe o que lhe convém. Por que a liberdade de escolha ainda é considerada tão transgressora?

Casamentos abertos, troca de casais, amizades coloridas, relações entre pessoas do mesmo sexo, triângulos amorosos, adultérios, há de tudo nesta vida, sempre houve, inclusive na minha e na sua árvore genealógica, não espalhe. O cardápio é variado. Quem saboreava um bom casamento monogâmico pode, anos depois, considerar outro tipo de arranjo. Maturidade não significa enrijecimento, significa abertura e compreensão dos desejos humanos. Sem precisar aderir. Paula Toller não está convocando a platéia para um liberou geral, não há razão para choque. É apenas uma música, um ponto de vista, uma provocação, um verso. Relax.

Por incrível que pareça, ainda há dificuldade de se respeitar o estilo de vida do sujeito que mora ao lado. Quem pretende amar uma única pessoa a vida inteira, que desfrute deste imenso prazer e que não aceite ser chamado de careta, porque o que nos faz feliz nunca será uma caretice. Mas se há quem se empolgue com a idéia de um harém, que desfrute. Não patrulhemos aqueles que realizam nossas fantasias mais secretas.

Os “crimes” cometidos em nome do desejo não são coisa de agora, existem desde que Adão foi apresentado a Eva. Se houve uma mudança é que passamos do regime fechado para o regime semi-aberto. Ganhamos um alvará de soltura. Podemos trabalhar, amar e cantar quem somos e o que desejamos em plena luz do dia. Mas sem plano de fuga: à noite, ainda voltamos para dormir em casa.

Fonte: O Globo 31.07.2005
Pintura: Adão e Eva - Tamara de Lempicka