Postagem em destaque

NOTÍCIAS DE BRASÍLIA

Mostrando postagens com marcador JR Guzzo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador JR Guzzo. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 5 de março de 2018

O Plano B do PT para as eleições foi a pique ... / JR Guzzo


sexta-feira, março 02, 2018

Plano Z - O “Plano B” do PT para as eleições foi a pique 

 J.R. GUZZO

REVISTA VEJA

O “Plano B” do PT para as eleições foi a pique. Espera-se pelo próximo

O PT está com o mesmo problema de Diógenes na Grécia antiga. O filósofo, como se conta na história, andava pelas ruas de Atenas, em plena luz do dia, carregando na mão uma lanterna acesa. “Para que essa lanterna, Diógenes?”, perguntavam os atenienses que cruzavam com ele. “Para ver se eu acho um homem honesto nesta cidade”, respondia. É o que o PT está procurando hoje entre os seus grão-senhores ─ um sujeito honesto, ou, pelo menos, que tenha uma ficha suficientemente limpa para sair candidato à Presidência da República. Está difícil achar essa figura. O “Plano A” do partido para as eleições sempre previu a candidatura do ex-presidente Lula. Quem mais poderia ser? Nunca houve, desde a fundação do PT, outro candidato que não fosse ele ─ e quem achou um dia que poderia se apresentar como “opção” jaz há muito tempo no cemitério dos petistas mortos e excomungados.

Como no momento Lula está condenado a doze anos e tanto de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro, sem contar outras sentenças que pode acumular nos próximos meses, sua candidatura ficou difícil. O “Plano B” previa que em seu lugar entrasse o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner ─ mas o homem acaba de ser indiciado por roubalheira grossa num inquérito da Polícia Federal, acusado de levar mais de 80 milhões de reais em propina em seu governo. O “Plano C” poderia incluir a atual presidente do partido. Mas ela também é acusada de ladroagem pesada, e só está circulando por aí porque tem “foro privilegiado” como senadora; aguarda, hoje, que o Supremo Tribunal Federal crie coragem para resolver o seu caso um dia desses. (De qualquer forma, seria um plano tão ruim que ninguém, nem entre a “militância” mais alucinada, chegou a pensar a sério no seu nome.) O “Plano D”, ao que parece, é o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Ele é uma raridade no PT de hoje ─ não está correndo da polícia, nem cercado por uma manada de advogados penalistas. Em compensação, tem de lidar com a vida real. O problema de Haddad não é folha corrida ─ é falta de voto. Na última eleição que disputou perdeu já no primeiro turno para um estreante, o atual prefeito João Doria, e de lá para cá não aconteceu nada que o tivesse transformado num colosso eleitoral.

Um “Plano E” poderia ser o ex-ministro Ciro Gomes. Mas Ciro não é do PT, os petistas não gostam dele e o seu grau de confiança nos possíveis aliados é mínimo. “É mais fácil um boi voar do que o PT apoiar um candidato de outro partido”, disse há pouco. Daí para um “Plano F”, “G” ou “H” é um pulo. Sempre haverá algum nome para colocar na roda. Resolve? Não resolve. O problema real é que o PT se transformou há muito tempo num partido totalmente franqueado ao mesmo tipo de gente, exatamente o mesmo, que sempre viveu de roubar o Erário em tempo integral. O partido, hoje, é apenas mais uma entre todas essas gangues que infestam a política brasileira. A dificuldade eleitoral que o PT encontra no momento não é o fato de que Lula foi condenado como ladrão duas vezes, na primeira e na segunda instâncias. É que, tirando o ex-presidente da campanha, nada muda ─ o sub-mundo ao seu redor continua igual. Ou seja: o partido não vai se livrar da tradicional maçã estragada e tornar-se sadio outra vez. A esta altura, o barril todo já foi para o espaço. De plano em plano, podem ir até a letra “Z” sem encontrar o justo procurado por Diógenes.

sábado, 3 de março de 2018

A bala perdida precisa ser entrevistada...

"Bala perdida"

Resultado de imagem para foto de bala perdida

J.R. GUZZO

REVISTA VEJA

Uma dessas coisas que só existem no Brasil, como a mula sem cabeça e o adicional de moradia que os juízes recebem para viver na própria casa, é a “bala perdida”. No resto do mundo as armas de fogo nunca disparam sozinhas; se uma bala acerta alguém, é porque um ser humano deu um tiro, de propósito ou por acidente. Aqui não. Toda hora uma pistola ou fuzil abrem fogo, mas ninguém atira. O fato é que nas favelas do Rio de Janeiro e suas vizinhanças a bala perdida se tornou hoje a principal culpada por homicídios de autoria desconhecida. Mas não seriam os criminosos locais que estariam dando esses tiros que matam cada vez mais gente, sobretudo crianças? É uma hipótese que parece não ocorrer nunca no noticiário, e muito menos em qualquer avaliação da Ordem dos Advogados do Brasil, da Anistia Internacional, dos partidos de “esquerda” e outras entidades que se empenham em defender os direitos da população pobre dos morros — no momento ameaçada, segundo elas, pela presença de tropas do Exército nas ruas da cidade. Pelo que dá para entender daquilo que dizem, não há realmente bandidos matando gente nas favelas. Quem mata é “a polícia” ou, então, a bala perdida.

Eis aí uma maneira muito eficaz de esconder quem são os verdadeiros responsáveis pelo massacre em câmera lenta que os moradores mais pobres do Rio de Janeiro estão sofrendo há anos. Se eles são assassinados pela bala perdida, então ninguém é culpado, certo? Afinal de contas, não dá para dizer que a PM mata todo mundo; também ficaria chato dizer que há quadrilhas em guerra, pois isso poderia “criminalizar a pobreza” e reforçar “preconceitos” contra as “comunidades” que cobrem os morros cariocas. Assim, quando os bandidos trocam tiros de AK-47, que podem acertar uma pessoa a 1,5 quilômetro de distância, e acabam matando alguém que não conseguiu se esconder, como é comum acontecer com bebês e crianças pequenas, o assassino é a bala perdida. Pronto — problema resolvido. Todo mundo já pode voltar ao palanque para continuar pregando que o inimigo do pobre é a polícia, agora também o Exército e, se bobear, o juiz Sergio Moro e os desembargadores do TRF4, de Porto Alegre. Pensar desse jeito parece loucura — e é mesmo loucura. Mas, quando se veem as coisas com um pouco mais de atenção, dá para perceber muito bem que existe um método nessa loucura.

A “bala perdida” vem da mesma matriz onde se fabrica a linguagem politicamente correta, no Brasil de hoje, para tratar da questão do crime. Tome cuidado: utilizar um vocabulário diferente pode fazer de você um “fascista”, “direitista”, “golpista”, a favor da “ditadura militar” e sabe-se lá quantos pecados mais. Nessa linguagem o criminoso é sempre descrito como “suspeito”, mesmo que seja pego em flagrante assaltando alguém no meio da rua. Quando a polícia atira contra aqueles que estão de arma na mão em público, ou atirando contra ela, os delinquentes nunca são chamados de bandidos — são “rapazes”, “moradores” ou “pessoas”. Por exemplo: “A PM atirou ontem contra um grupo de rapazes no Complexo da Maré”. Nunca acontecem tiroteios entre quadrilhas de marginais; são “disputas entre facções”. Estão em vigor, também, regras bem claras para estabelecer diferenças morais entre militares e criminosos quando ambos praticam um mesmo ato; basicamente, para quem não quer correr o risco de parecer um extremista de direita, o mais seguro é dizer que a conduta dos militares é do mal e a dos bandidos é do bem, ou neutra.
Quando delinquentes armados invadem uma casa da favela, obrigando seus moradores a escondê-los da polícia durante tanto tempo quanto quiserem, os defensores dos direitos da “comunidade” não abrem a boca. Também não dizem nada quando cidadãos inocentes são forçados a ocultar armas ou drogas em sua residência. Quando o Exército faz uma revista domiciliar, a coisa muda: aí é uma violência contra a privacidade da população. Há grande preocupação da Ordem dos Advogados etc. com o fato de que os militares pedem e fotografam documentos de identidade, na tentativa de localizar foragidos da Justiça. Os bandidos sabem mais sobre os moradores dos morros do que o Exército, a polícia e a Justiça jamais saberão; sabem seus nomes e sobrenomes, endereço, ocupação, família, quanto dinheiro têm, quando devem pagar pela eletricidade, gás ou televisão a cabo, e mais tudo o que queiram saber. Não há lembrança de que isso tenha causado algum dia qualquer protesto por parte dos seus protetores nas classes intelectuais.

É “assim mesmo”, dizem eles — como a bala perdida.

domingo, 10 de dezembro de 2017

A popularidade zero de Temer e a Economia... / J R Guzzo


J.R. Guzzo

 Caiu Temer

Temer, segundo nos dizem, está cada vez mais morto. Só que está cada vez mais vivo

Publicado no blog Fatos
É o tipo da coisa desagradável escrever num artigo aberto ao público que os fatos estão ao lado do presidente Michel Temer neste mês de dezembro de 2017. Mas o que se vai fazer? São os fatos — essa praga de fatos, que tantas vezes têm a mania de mostrar justo o contrário daquilo que as pessoas acham tão mais cômodo pensar. Não poderia ser assim, por tudo o que este país vem ouvindo, sem parar, há mais de um ano. Afinal das contas, Temer é Temer. Seu nome só pode ser citado se vier imediatamente depois da palavra “Fora”. Ele é “golpista”. Ele trocou segredos numa catacumba do seu palácio presidencial, e ainda por cima na escuridão da noite, com um gangster bilionário, autor confesso de mais de 200 crimes e preso desde setembro na carceragem da Polícia Federal. Ele vem tendo a sua cassação anunciada, de tanto em tanto tempo, praticamente desde que assumiu a presidência da República. A Rede Globo achou que iria derrubar o homem com telejornais e com jornalistas de cara indignada – parece não ter entendido, até agora, porque ele continua lá. Temer compra deputados, vende ministérios, aluga partidos políticos. Os institutos de pesquisa, enfim, garantem que ele tem popularidade zero, com viés de baixa — sim, popularidade zero, pecado que deixa os comunicadores, formadores de opinião e influencers digitais 100% convencidos, acima de qualquer outra razão, que o presidente da República vale exatamente três vezes zero.
Entram, então, os fatos – e aí é uma tristeza. Se Temer é tão ruim assim, como se diz desde que ele tomou posse, por que o seu governo está sendo tão bom? Sim, é muito chato dizer isso, como foi observado já na primeira linha. Mas como fazer de conta que a realidade, com seus números, pesos e medidas, não existe? Apenas ao longo dessas últimas horas, o público foi informado que a taxa de juros do Banco Central baixou para 7% ao ano – a décima queda em seguida e o menor índice na história do comitê que faz esses registros. Pois é: desde que Temer assumiu, os juros caíram praticamente todos os meses. É ruim isso? Acaba de se anunciar, ao mesmo tempo, que a inflação de novembro ficou abaixo de 0,3% — nos últimos doze meses o total é de 2,5%, a menor dos últimos 19 anos. O ano de 2017, assim, pode fechar com uma inflação inferior a 3%, coisa que não se vê também há duas décadas. É ruim isso? Há aumento na produção, recorde de exportações e diminuição do desemprego. É ruim isso? Das grandes reformas, a trabalhista já passou. A da Previdência pode passar. Ambas foram apresentadas ao público nestes últimos meses como cientificamente impossíveis. De novo: é ruim?
O governo está sendo bem sucedido porque interrompeu, desde o primeiro dia, o mais agressivo surto de estupidez econômica jamais praticado por uma administração pública neste país – esse que foi imposto ao Brasil pela demência suicida da gestão de Dilma Rousseff. Interrompeu, só isso – e depois não mexeu mais em nada. A equipe econômica continua lá, intacta e protegida por um cordão sanitário contra a roubalheira. Um Geddel Vieira, por exemplo, podia traficar no Ministério da Cultura, ou coisa parecida. Mas não se permitia a sua entrada no Tesouro Nacional, nem no Banco Central, nem em lugar algum onde pudesse causar as calamidades de uma Dilma. Nem ele nem qualquer outra estrela do ex-governo Lula, de onde veio, por sinal, quase toda a turma da pesada que hoje roda por aí nos carros chapa branca do governo federal.
Os institutos de pesquisa provavelmente vão continuar mostrando que a aprovação de Temer permanece em queda. Quando algum dos projetos do governo passar no Congresso, será dito que a vitória, na verdade, foi uma derrota, por isto ou por aquilo. Quando vierem os próximos números positivos da economia, vão dizer que as melhoras provocam pioras – no caso da queda dos juros, por exemplo, foi lamentada a redução que isso trará para o rendimento da caderneta de poupança. Quando o ano virar daqui a alguns dias, com Temer sentado na mesma cadeira de onde já deveria ter caído sete vezes, será anunciado que agora sim, em 2018, começarão os verdadeiros problemas do presidente. Quando passar a faixa presidencial para o seu sucessor, em 1º de janeiro de 2019, as manchetes serão: “Caiu Temer”. Deus que tenha piedade de sua alma.
Enquanto isso, na vida real, cada vez mais gente busca o apoio do homem que tem popularidade zero.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

"Tudo resolvido" / J R Guzzo



J.R. Guzzo: 

Tudo resolvido

Pelos próprios números dessas pesquisas eleitorais, mais de 70% dos eleitores não querem votar nem em Lula nem em Bolsonaro




Eis aí uma modalidade educada de “fake news” — essa maré sempre montante de notícias falsas que tanto prospera nas “redes sociais” hoje em dia. As “pesquisas de intenção de voto”, como consta em seu nome e sobrenome, não são inventadas em cima de uma mesa, sem que se pergunte nada a ninguém – tanto quanto nos informam, há realmente entrevistadores e entrevistados, um número “X” de entrevistas, que são feitas em “X” lugares do Brasil e incluem “X” tipos diferentes de eleitores. Tudo bem – só que as pesquisas estão pesquisando o nada. Elas são “fake” porque revelam para o público uma realidade que não existe. E não existe porque não se sabe ainda quem serão os candidatos verdadeiros à presidência – aqueles nos quais o eleitor concretamente poderá votar no dia da eleição. Para que serve uma notícia sobre algo que pode, ou não, acontecer no futuro? É curioso: as duas figuras que segundo a imprensa aparecem “consolidadas” nas duas primeiras posições podem nem ser candidatos de verdade na eleição de verdade. Mais curioso ainda: pelos próprios números dessas pesquisas que “consolidam” Lula e Bolsonaro como os dois nomes que vão disputar o segundo turno em outubro de 2018, mais de 70% dos eleitores não querem votar nem em um e nem no outro. Quando as entrevistas são feitas de forma espontânea, ou não estimulada pelos questionários, os dois somam 28%.
Na verdade, as pesquisas colocam como líderes da corrida eleitoral justamente os dois candidatos mais detestados pelos eleitores – são os que têm os “índices de rejeição” mais altos, ou seja, aqueles em quem o cidadão diz que não vai votar “de jeito nenhum”. Há também as “margens de erro”, essa santa padroeira dos pesquisadores de votos, que pode ser de três pontos “para cima” ou “para baixo”. Ou seja, a pesquisa pode errar por seis pontos ao todo, o que frequentemente muda tudo para um candidato — e estar certíssima do ponto de vista técnico. Quem diz seis pode dizer oito, e de oito a dez é um pulo. Em resumo: se a pesquisa diz que fulano vai ter 30% dos votos e ele acaba com 40% na vida real, nenhum instituto acha que errou. De mais a mais, em 48 horas ninguém se lembra de mais nada do que foi previsto, e acaba ficando tudo por isso mesmo.
Qual o sentido de divulgar e fazer tanto barulho com algo tão parecido com fumaça? Nenhum – mas também não é intenção de ninguém fazer sentido nesse negócio. Ou, ao contrário, é justamente a intenção de muita gente criar uma situação artificial que atenda aos seus interesses políticos. Do jeito que ficou nas pesquisas, a eleição presidencial do Brasil em 2018, que ainda tem quase um ano para acontecer, já está praticamente resolvida: ou é Lula ou é Bolsonaro. Acredite, pois é “o que dizem as pesquisas” — ou então não atrapalhe a conversa.

domingo, 3 de dezembro de 2017

"J. R. Guzzo: Quem é quem " / coluna de Augusto Nunes


J. R. Guzzo: Quem é quem 

Seria uma beleza se os políticos fossem julgados por aquilo que fazem



Publicado no Blog Fatos
O Brasil está precisando, cada vez mais, de um “Quem é Quem” permanente em sua vida pública, a ser publicado de preferência todos os dias, como o Diário Oficial, para que as pessoas possam ter um mínimo de noção sobre a verdadeira natureza dos políticos que andam por aí – todos eles. Em geral, no momento, esse povo é apresentado pela mídia e por suas biografias oficiais (pagas por você), como sendo deste ou daquele partido, desta ou daquela corrente, e em seus currículos aparece em destaque todo o bem que fizeram até hoje para os brasileiros e para a humanidade em geral. Esse amontoado de informações não serve para nada. Praticamente tudo que está ali, na verdade, serve justamente para ocultar quem o sujeito realmente é. O “Quem é Quem” que seria de fato útil para o Brasil é um outro. Ele mostraria quem são os nossos homens públicos não por suas palavras, mas por seus atos.
Um episódio ocorrido dias atrás demonstra com muita clareza os benefícios que a população teria com um sistema permanente de informações sobre os políticos que vivem à suas custas. Ao mostrar o que fazem, em vez de repetir o que dizem, deixaria óbvio para todos os contribuintes quem é essa gente, de fato, na vida real. Um deputado do PT de quem pouco se sabia até agora, um Paulo Pimenta, conseguiu de repente os seus cinco minutos de fama – deu “voz de prisão” num corredor do Senado a uma mulher do movimento político “Nas Ruas”, que se opõe com agressividade à esquerda e, quanto tem oportunidade, atormenta os políticos do PT e suas sesmarias. “Voz de prisão”? Isso é coisa de polícia, e não de um deputado de “esquerda”, do “campo progressista” e defensor das “causas populares”, como esse Pimenta diz que é. Mais: é hoje uma piada francamente extraordinária, neste país de roubalheira desesperada, que um deputado brasileiro, e ainda mais do PT, tenha a pretensão de dar “voz de prisão” a alguém. Deputado, hoje em dia, tem mais é de fazer o contrário: dar duro todos os dias para ver se consegue, ele próprio, ficar do lado de fora do xadrez.
O surto de “autoridade” do deputado – do tipo “eu mando prender”, etc. – foi particularmente mesquinho, como em geral acontece nesses casos. Após uma altercação com a manifestante, ele perdeu o prumo e disse para ela uma das coisas provavelmente mais infelizes que poderia ter dito: “Vai trabalhar”. Um deputado mandando alguém “trabalhar”? Com uma deixa dessas só poderia mesmo ter ouvido o que ouviu: “Eu trabalho, sim, não fico roubando como vocês”. Ficou bravo, foi tirar satisfação e levou mais uma: “Ué, o PT não rouba?” Era um caso perdido, mas o deputado, cercado pela segurança do Congresso, resolveu crescer para cima de uma mulher com metade do seu tamanho, desarmada e no exercício dos seus direitos. Aí, utilizando uma coragem que mostra bem que tipo de homem ele é, mandou a polícia legislativa prender a oponente. Não deu em nada, obviamente, porque a “ordem” do deputado era um disparate, fruto apenas de um acesso de neurastenia. Ela foi afastada dali, ouvida na delegacia local e de lá voltou para casa.
O deputado Jair Bolsonaro, que causa tantos pesadelos ao Brasil civilizado por suas convicções “totalitárias”, nunca mandou prender ninguém em sete mandatos consecutivos como parlamentar. O deputado Paulo Pimenta, que passa por um formoso democrata dedicado à proteção dos pobres e desvalidos, pensa automaticamente em “cadeia” logo na primeira fez que toma uma pancada. É assim que as coisas deveriam aparecer no “Quem é Quem”. Jair Bolsonaro é Jair Bolsonaro. Paulo Pimenta é o PT em estado puro, exatamente como ele e o seu partido são.

domingo, 3 de julho de 2016

"Opção pelo incerto" / J R Guzzo



J. R. Guzzo: Opção pelo incerto

O referendo respondido pelos britânicos levanta uma questão: é melhor ficar com os males de hoje que sabemos quais são ou aventurar-se ao convívio com dificuldades que só conheceremos lá adiante?

Por: Augusto Nunes  

Publicado na versão impressa de VEJA
Coube justamente aos eleitores britânicos, na semana passada, ser chamados a responder mais uma vez à pergunta feita 400 anos atrás pelo príncipe Hamlet e até hoje não respondida: vale a pena livrar-se dos problemas do presente, que envenenam a vida mas são conhecidos, em troca dos problemas do futuro, que nos salvam das misérias de hoje mas ninguém sabe quais são? O monólogo do “Ser ou não ser” talvez tenha solenidade demais para ser comparado com a dúvida de hoje ─ trata da questão da vida e da morte, nada menos, enquanto a votação mencionada aqui apenas perguntou se os cidadãos do Reino Unido queriam continuar fazendo parte da União Europeia, na qual estão desde 1973, ou preferiam sair dela. De qualquer maneira, essa era a essência da questão a responder ─ é melhor (ou pior) ficar com os males de hoje que sabemos muito bem quais são ou seria melhor (ou pior) aventurar-se ao convívio com dificuldades que só conheceremos lá adiante, quando já estiverem acontecendo? É melhor conformar-se ou é melhor arriscar? Qual tentativa vale mais: a de consertar o presente ou a de construir um futuro? Essas foram as dúvidas colocadas no referendo inglês. Mas valem para muita gente ─ valem, em todo caso, para todo lugar onde houver algum problema sério, e isso quer dizer praticamente o mundo inteiro.
No caso dos britânicos, a maioria decidiu ficar com os males do futuro. Eles votaram contra o que conhecem ─ tudo aquilo que é percebido como uma camisa de força para as decisões do governo do seu país. Não podemos fazer isso porque a União Europeia não deixa; temos de fazer aquilo porque países estrangeiros nos obrigam. Muito do que vai mal hoje no Reino Unido (certas dessas aflições, por aqui, nem seriam vistas como problemas) é ligado à Europa. Excesso de imigrantes, baixo desempenho dos sistemas de medicina e de educação públicos, por falta de verbas que vão para os países europeus mais pobres, fraqueza diante do crime, por perda de autonomia na polícia, e por aí em diante. Argumenta-se que bons negócios de exportação com os Estados Unidos, a Índia e a China, por exemplo, são perdidos ou dificultados porque o Reino Unido, subordinado às regras comerciais comuns da UE, não tem liberdade de negociar diretamente com essas nações. Há uma sensação geral de que o país está dando mais do que recebe dos seus parceiros europeus. Por cima de tudo, para uma nação que há 1000 anos vem defendendo com paixão a sua independência, flutua um sentimento mal digerido de intromissão de estrangeiros na vida britânica. Por que burocratas holandeses ou gregos, por exemplo, teriam o direito de dar palpite sobre o dia a dia da Inglaterra ou da Escócia? Por que há uma espécie de segunda capital em Bruxelas, com dezenas de milhares de funcionários escrevendo regras a respeito de como os ingleses devem pescar ou construir suas caixas-d’água?
Tudo isso faz parte do preço a pagar quando um país deixa de viver de forma isolada e passa a desfrutar das vantagens de pertencer a um conjunto de nações; mas os britânicos, embora por estreita margem, acharam que esse preço ficou alto demais. A redução dos níveis de “identidade nacional”, em sua opinião, tornou-se excessiva. Decidiram que o Reino Unido tem de ser de novo o Reino Unido ─ e já não era sem tempo, quando se considera que hoje em dia o prefeito de Londres é muçulmano, o maior empregador da indústria automobilística inglesa é o empresário indiano Ratan Tata e não se consegue montar um time de futebol de terceira divisão sem chamar filhos e netos de imigrantes para completar os onze. Mas a questão parece ir muito além dos constrangimentos trazidos pelo convívio com estranhos. O que o referendo mostrou é o impulso da separação; milhões de britânicos não querem mais os benefícios de ser cidadãos de um poderoso país chamado “Europa”, dono do maior PIB do mundo, segundo o Banco Mundial, e de outras maravilhas estatísticas. Como acontece na Espanha, no caso da Catalunha, e dentro do próprio Reino Unido, com a Escócia, optaram eles por ser menores. Preferem os problemas desconhecidos e o território não mapeado de um Reino Unido que agora existirá unicamente por sua própria conta. (A maioria da população, aliás, nem sabe o que é isso; só quem tem mais de 61 anos era maior de idade antes da entrada do país na Comunidade Europeia.) Acham melhor a incerteza econômica trazida por sua decisão, e os erros a ser cometidos por seus próprios governantes, do que as dificuldades de um presente no qual perderam as esperanças.

sábado, 12 de março de 2016

" A vida é mesmo dura neste Brasil para Todos" ...ou nem todos / Veja


12/03/2016
 às 7:42 \ Opinião

J. R. Guzzo: A porta estreita

Publicado na versão impressa de VEJA
O leitor provavelmente já ouviu falar em seu círculo de amigos, ou no ambiente de trabalho, ou na esfera familiar, de gente interessada em ir embora do Brasil; se ainda não teve contato com nenhuma história dessas até agora, há grande chance de que venha a ter uma hora qualquer, e logo. Para muita gente boa, está na moda, ao que parece, pensar em refazer a vida em países como Canadá, Austrália ou Estados Unidos, entre outros que se propõem a receber de braços abertos imigrantes com dinheiro. São países que não têm vergonha nenhuma de atrair gente financeiramente bem de vida, dentro da ideia geral de que problema de imigração, mesmo, só existe com pobre. Nem é preciso, no caso, ter grande fortuna ─ nada parecido com o disponível de um milionário brasileiro de carteirinha, desses que prestam serviços ao governo, digamos, ou produzem propaganda eleitoral. Basta o equivalente a 500 000 dólares, ou algo assim, sendo até possível acertar a papelada por menos. Vale a pena, para o país que dá o visto aos estrangeiros com capital. Esse povo vai gastar seu dinheiro lá; é lá que vai pagar impostos sobre o que consome, gerar empregos, fazer rodar a economia. Em vez de gastar na economia do seu país, vai gastar na economia dos outros. Melhor para eles, pior para o Brasil. Seus governos não estão lá para resolver os problemas da presidente Dilma Rous­seff nem do ex-presidente Lula. O que querem é ajudar a si próprios.
Sobra, é claro, o problema de arrumar aqueles 500 000 dólares. Quem tem esse dinheiro? Não é qualquer um que pode, por exemplo, ganhar 27 milhões de reais em quatro anos fazendo palestras para empreiteiras de obras públicas e outros colossos da nossa elite empresarial. Para pelo menos 95% dos brasileiros, e põe otimismo nessa conta, a possibilidade real de ter 500 000 dólares durante o curso de sua vida é mais ou menos a mesma de fazer uma viagem à Lua; para o Brasil de carne e osso, dinheiro desse tamanho só existe ao acertar os seis números da Mega-Sena. Também não é fácil adotar a saída do ex-ministro da Fazenda ─ que, depois de gerir a ruína econômica do Brasil durante um ano, e ser posto no olho da rua em reconhecimento aos seus esforços, refugiou-se rapidamente em Washington, onde hoje pode ganhar a vida sossegado e sem ter reuniões com Dilma, o PT, a base aliada e por aí afora. É certo que há outros caminhos para obter um visto de residência no exterior, além de dinheiro e prestígio, mas a porta de entrada é estreita. O cidadão pode tentar pelas vias oficiais ─ e arriscar-se a ficar anos na fila, à espera de um chamado que provavelmente não virá nunca. Pode meter-se em aventuras de imigração ilegal. Pode jogar a sorte num cruzeiro pelo Mediterrâneo, a bordo de um cargueiro sírio. Como se vê, nada de muito atraente. Fazer o quê? A vida é mesmo dura neste Brasil para Todos. Aqui, no mundo das coisas práticas, há um Brasil para os que Têm Menos e um Brasil para os que Têm Mais ─ têm mais, inclusive, para ir embora do próprio Brasil.
Para o brasileiro que quer cair fora daqui mas não pode, a opção acessível no momento é emigrar para o Brasil mesmo. O grande problema é que essa solução se aplica exclusivamente ao Brasil de Dilma, de Lula e do PT, esse país imaginário onde os cidadãos têm a ventura de ser governados por um dos melhores governos do mundo, se não o melhor. Infelizmente, como é do conhecimento geral, o Brasil de Dilma etc. não existe. Só existe nas fantasias de propaganda criadas para engambelar o eleitorado; e, para complicar o teorema, o propagandista-chefe não está disponível para ajudar em nada, já que atualmente faz parte da população carcerária de Curitiba. É uma pena, pois nessa Terra do Nunca a vida é praticamente perfeita. Nosso sistema de saúde é “motivo de inveja para o mundo”. O Pré-Sal, como Dilma prometeu na campanha por sua reeleição, garantiu “recursos jamais imaginados” para a educação. A população pobre viaja dia e noite de avião, como o ex-presidente continua dizendo todo santo dia. Ele salvou sabe lá Deus quantos brasileiros da pobreza ─ e, se 12 milhões de desempregados estão hoje de volta ao fundo do poço, a culpa é da elite, claro, e provavelmente do ex-presidente Fernando Henrique. Mas nem tudo está perdido para o brasileiro que só pode emigrar para o Brasil. Olhem o último IDH mundial, divulgado faz pouco; ficamos no lugar 75 da fila que mede o bem-estar das nações. É ruim, mas seria pior se o número fosse 150. É a Tabela Periódica da Equivalência das Desgraças, e nela já não vamos tão mal.

sábado, 14 de março de 2015

"Deu a lógica", ou "VDM" / Texto de J R Guzzo



14/03/2015
 às 11:28 \ Opinião
Resultado de imagem para foto de vinagre

J.R. Guzzo: ‘Vinagre com espinho’

Publicado na edição impressa de VEJA
J.R. GUZZO
Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo
Desta praga de urubu
(Noel Rosa)
Eis aí onde veio parar, em apenas dois meses de segundo mandato e exatamente como tinha de acontecer, o governo da presidente Dilma Rousseff – ficou sem roupa, como no samba de Noel, e agora está aí, todo santo dia, pulando dos desastres de ontem para os desastres de hoje, e já apavorado com os que virão amanhã. O último infortúnio a entrar em cena é essa lista do procurador-geral Rodrigo Janot, pedindo que o Supremo Tribunal Federal autorize a abertura de inquérito contra 54 políticos e agregados suspeitos de envolvimento na corrupção histórica da Petrobras – calamidade destinada a tornar-se, por sinal, o centro da biografia de Dilma e de sua passagem pela Presidência da República.
A coisa toda, agora, entra na geringonça que é o aparelho judicial brasileiro – e ali ficará sendo mastigada sabe-se lá até quando, com a produção permanente de material tóxico. Já começou: bem na hora em que a lista era entregue, o presidente do Senado, Renan Calheiros, até há pouco o amigo-parceiro-irmão-camarada do Planalto, recusou-se a colocar em votação uma “medida provisória” do governo para aumentar impostos, e aproveitou a oportunidade para dizer que Dilma desrespeita o Congresso e o estado de direito.
Saco de pancadas durante anos a fio, o senador virou automaticamente um herói do Parlamento; hoje em dia, pelo visto, basta bater na presidente para construir uma reputação instantânea. Pouco antes disso, ela já fora infernizada por seu próprio ministro da Fazenda – que considerou “brincadeira de mau gosto” decisões econômicas tomadas no primeiro mandato. É preciso ficar pulando o tempo inteiro, realmente, para esconder-se de uma fuzilaria dessas. O governo se pergunta: “Onde está o chão?”. Ninguém sabe.
“Deu a lógica”, como se dizia antigamente no turfe: no fim das contas, sempre acaba perdendo quem não poderia mesmo ganhar. Ao longo dos últimos anos, e principalmente dos últimos meses, a presidente foi montando, com tenacidade de monge beneditino, uma pane geral no sistema de funcionamento do seu governo. Não perdeu praticamente nenhuma oportunidade de errar.
Passou a dizer coisas cada vez mais incompreensíveis – em seu último surto, dias atrás, veio com uma alarmante história de galáxias no Rio de Janeiro, ou algo assim. Levou as contas do país para o bico do corvo. Transformou em déficit tudo o que era superávit, e desenvolveu uma técnica invencível para trocar abundância por escassez. Consegue, ao mesmo tempo, aumentar os impostos e diminuir a arrecadação.
Socou um aumento de até 45% nas contas de luz, e outro nas bombas de combustível. Pode ter pela frente uma crise no abastecimento de energia, e mais um monte de outras, e não tem a menor noção do que fazer em relação a nenhuma delas. Conseguiu brigar com a Indonésia. Pode dar certo um negócio desses? Não pode. Deu a lógica.
A praga de urubu que atormenta Dilma nestes dias de vinagre e de espinhos, e que veio como consequência inevitável dos atos que ela mesma praticou, já seria ruim o bastante se ficasse limitada à sua falta de aptidão, de conhecimentos e de equilíbrio para governar. Mas o pior, provavelmente, é a escolha fatal que fez – amarrada ao ex-presidente Lula e ao PT, jogou-se na maior campanha pró-corrupção já vista na história do Brasil.
Seja lá qual for o destino dos políticos da “Lista de Janot”, ora entregues aos vagares do STF, é esse o fato número 1 da vida pública brasileira de hoje. A defesa da corrupção está nos fatos. Dilma é a favor de um tenebroso “acordo de leniência” com as empreiteiras metidas no assalto aos cofres da Petrobras – trata-se, muito simplesmente, de livrar as empresas de punição nos processos em andamento na Justiça. Quem protege o mal é cúmplice do mal – o que seria, então, se não fosse isso?
A presidente nos pede que acreditemos que advoga em favor das empreiteiras para garantir “empregos” e continuar “obras”. Ficamos assim, nesse caso: ela está dizendo que o Brasil precisa de corrupção para gerar empregos e obras públicas. Não é só isso. O ministro da Justiça passou a fazer parte da equipe de defesa das empresas. O advogado-geral da União dá consultoria para deputados do PT enrolados no petrolão. Seu relator na CPI recém-aberta para investigar o escândalo, um despachante do Palácio do Planalto, já começou tentando melar os trabalhos – sua primeira ação foi pedir investigações sobre o “governo anterior”.
É mais um acesso na paixão oficial por chamar a população de idiota: a CPI foi instalada para apurar o roubo deste governo, e não do de Fernando Henrique, ou do regente Feijó. Dilma chefia a campanha ao lado de Lula; tristemente, a caminho dos 70 anos e com mais de quarenta de carreira política, ele está acabando assim, como um advogado de milionários e burocratas corruptos. Nada de bom pode sair disso tudo.
Quanto à praga de urubu, o jeito é torcer para que ela passe. O sapo somos nós.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A Verdade informa : São Tomé pode perder a santidade no processo do "Petrolão"...da Petrobras


26/10/2014
 às 23:35 \ Opinião

‘Beto & Paulinho’, de J.R. Guzzo

PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA DE VEJA
J.R. GUZZO
Diante das versões francamente incompreensíveis que o governo vem apresentando a respeito dos atos de corrupção praticados na Petrobras ao longo dos últimos anos, talvez seja útil para o leitor ter na ponta da língua os fatos registrados a seguir. Versões são mercadoria barata. Fatos, porém, são o corpo e a alma da realidade. Podem ser ignorados por quem não gosta deles, mas não mudam, e não vão embora. No caso da Petrobras, aqui estão:
Paulo Roberto Costa, chamado de “Paulinho” pelo ex-presidente Lula e um dos convidados ao casamento da filha da presidente Dilma Rousseff, Paula, em abril de 2008, foi um dos mais altos diretores da Petrobras entre 2004 e 2012. Em março deste ano “Paulinho” foi preso pela Polícia Federal, acusado de praticar atos de corrupção nas operações da estatal, e algum tempo atrás resolveu confessar seus crimes, por livre e espontânea vontade, dentro das condições legais que permitem redução de pena para réus que colaboram com a Justiça. Seu companheiro de delitos, o doleiro Alberto Youssef, ou “Beto”, fez o mesmo. A partir daí ficou provado, acima de qualquer dúvida, que houve corrupção na maior empresa estatal do Brasil; é um fato que não pode mais ser apagado. Feita dentro das exigências da lei, a confissão é a “rainha das provas” – não pode ser suplantada por nenhuma outra, e é a única que garante consciência tranquila ao juiz que assina uma sentença de condenação.
O principal problema trazido pelas confissões de “Beto” e “Paulinho” não está nos atos de corrupção que eles cometeram individualmente nem nos benefícios pessoais que obtiveram. Está na sua associação direta com as empreiteiras de obras públicas, que, historicamente, figuram entre as empresas privadas mais influentes do Brasil. Até agora não se falou muito disso, mas é certo que se vai falar – e aí os empreiteiros podem ficar na situação rara, provavelmente inédita, de ser acusados criminalmente com base em provas materiais inegáveis. As construtoras contratadas para realizar obras na Petrobras fizeram pagamentos que chegaram indiscutivelmente a “Beto” e a “Paulinho”; ambos confessaram que esse dinheiro, após o desconto de suas comissões, era distribuído a diretores da estatal e a agentes do PT, do PMDB e do PP, partidos que controlam cargos-chave na diretoria, em pagamento pelos contratos que a empresa concedeu a diversas das maiores empreiteiras do país. Apenas em uma operação, já comprovada, cerca de 35 milhões de reais foram pagos a empresas-fantasma de “Beto”, e “Paulinho”, por sua vez, provou ter recebido um mínimo de 70 milhões, que aceitou devolver ao poder público.
O PT, segundo afirmam os dois, é quem recebia mais dinheiro do esquema – 3% sobre o valor de cada contrato que ajudava a fechar, entregues ao seu tesoureiro nacional, João Vaccari Neto, através das empresas-laranja de “Beto”. O PMDB e o PP ficavam com 2% e 1%. Não vieram a público provas materiais dessas acusações. “Beto” e “Paulinho” falaram a verdade sobre si próprios; agora, para receberem sua recompensa, terão de provar que também estão falando a verdade sobre os demais acusados.
É fato público que as empreiteiras mantiveram relações íntimas com o ex-presidente Lula, um de seus filhos, diversos políticos e autoridades de primeiro nível nos governos dos últimos doze anos. O filho, “Lulinha”, vendeu à construtora Andrade Gutierrez – uma das maiores do ramo, e importante fornecedora de obras para a Petrobras e o governo em geral – parte de uma empresa de videogames que foi à falência; recebeu pela venda a soma final de 10 milhões de reais. Lula participou com a Odebrecht, outro gigante da área, das negociações para a construção do novo estádio do Corinthians, em São Paulo. O ex-presidente viaja com frequência em jatinhos de empreiteiros e esteve no exterior tentando promover seus negócios internacionais.
É o que existe de real até agora. O governo, a esta altura, já deveria ter apresentado em sua defesa um mínimo de fatos que possam ser levados a sério – mas só fala que “está em curso” um “golpe de Estado”, organizado pela “grande mídia”, para derrotar Dilma na eleição. Não foi a imprensa nem a oposição que fizeram as denúncias – foram os amigos “Beto” e “Paulinho”, e é a eles que o PT tem de se queixar se está infeliz. Golpe? O governo deveria ter mais cuidado com essa palavra. As urnas, só elas, vão decidir no dia 26 quem ganhará as eleições. Golpe é sustentar na véspera, como estão fazendo Dilma, Lula e o PT, que se o adversário ganhar a eleição não vale.