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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Leia... fique triste e desconfie como que o Brasil consegue ser conhecido como a "casa de mãe Joana !

Caminho da bala: como munição desviada da PM de SP foi usada em crime no Rio e contra a própria polícia em tiroteio

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Image copyrightKAKO ABRAHAM/BBCIlustração sobre roubo de munição e uso dela para crimes

O pedreiro Antonio de Oliveira, de 45 anos, chegou às 6h45 no trabalho naquela segunda-feira, 18 de agosto de 2014. Desceu de sua moto, uma XRE-300 vermelha, na altura do número 100 da avenida Sapopemba, uma das mais importantes vias da periferia de São Paulo, na zona leste. Então sentiu algo encostar em seu ombro: uma arma. "É um assalto", disse uma voz.
Os desdobramentos desse roubo, que terminou na morte do assaltante, apontam para um problema que voltou à tona com oassassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) , ocorrido em março deste ano: as falhas no controle e o desconhecimento das autoridades sobre o que acontece com parte da munição comprada pelas forças de segurança do país. A parlamentar foi morta com projéteis desviados da Polícia Federal, e o crime continua sem solução.
No caso do roubo narrado acima, as balas que estavam na arma do assaltante vinham de um lote de munição da Polícia Militar de São Paulo, o BQZ-91. Depois do roubo, o ladrão usou os projéteis para atirar em agentes da própria corporação.
Nos últimos dois meses, a BBC News Brasil investigou a história desse lote. Ele foi comprado pelo governo estadual junto à Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) em 2008 - custou R$ 6,8 milhões aos cofres públicos. Além do roubo na zona leste paulista, a trajetória do BQZ-91 é marcada por furtos dentro da própria polícia, desvios para facções criminosas e assassinatos no Rio de Janeiro.

O assalto da moto em Guaianases

O entregador de pizzas Geovane dos Santos, de 18 anos, foi apontado pela polícia como o ladrão que roubou a moto do pedreiro Antonio de Oliveira. Uma hora depois do crime, o motoboy foi morto por dois militares com quatro tiros - três deles na barriga. Ele estava com a moto roubada em uma rua de terra de uma favela em Guaianases, bairro periférico da zona leste paulistana.

Image copyrightCECILIA TOMBESI/BBCLinha do tempo citando o roubo da munição e crimes usando balas do lote

O inquérito criminal diz que ele levou a moto do pedreiro, encontrou dois PMs pelo caminho, tentou fugir e atirou duas vezes nos agentes, mas não conseguiu feri-los. Os policiais reagiram e o mataram. O pedreiro reconheceu o jovem momentos depois, por meio de fotos, na delegacia. "Era ele mesmo. Lembro da roupa que ele usava quando me assaltou", diz Oliveira à BBC News Brasil, quatro anos depois.
O grande mistério dessa história é como o motoboy de 18 anos teria conseguido os projéteis que pertencem à Polícia Militar de São Paulo. Laudos apontaram que as duas cápsulas usadas por ele para atirar nos policiais eram dos lotes AFZ-44 e BQZ-91, ambos comprados pela corporação paulista.
O mistério intrigou o delegado Maurício José Mendes Resende, responsável pelo caso. Em 27 de janeiro de 2016, ele questionou a Corregedoria da PM, em ofício: "Solicito, com a brevidade possível, se consta eventual registro de desvio, furto ou roubo de munição calibre 38 pertencente ao lote BQZ-91".
A instituição demorou quase nove meses para responder que não tinha informações sobre desvios. "Consoante ao que nos foi informado, o controle de distribuição de munições por lote só foi iniciado a partir do ano de 2010", escreveu.
O lote BQZ-91 tinha 3,9 milhões de unidades.

Controle de munição é falho?


Image copyrightREPRODUÇÃORevólver e munição
Image captionAs cápsulas das balas supostamente usadas por Geovane. Ambas pertenciam aos lotes AFZ-44 e BQZ-91, ambos comprados pela Polícia Militar de São Paulo.

Para Bruno Langeani, gerente e pesquisador em segurança pública do Instituto Sou da Paz, a falta de controle e até de conhecimento das forças de segurança sobre sua própria munição são fatos "muito graves". "As polícias precisam saber para onde foi cada lote de munição, porque assim as investigações ficam muito mais afuniladas. Você consegue saber que a munição 'x' foi para batalhão 'y'. Se ela for desviada, será mais fácil descobrir onde ocorreu o desvio", diz.
Quando o lote é maior, com milhões de balas, a tendência é que ele seja distribuído para inúmeras unidades da polícia. Assim, é improvável descobrir onde eventualmente ocorreu um desvio.
Saber o endereço final de uma munição comprada pelo Estado, por exemplo, ajudou a esclarecer o assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta por policiais militares em 2011, no Rio de Janeiro. Os projéteis usados no crime haviam sido enviados para um batalhão de policiais que estavam sendo julgados por ela. Apenas munição comprada pelo Estado é marcada em lotes.
Segundo o promotor Marcelo Oliveira, que por anos atuou na Justiça Militar de São Paulo, o controle da munição só começou a ser feito pouco tempo atrás, ainda que de maneira lenta. "Digamos que um policial saísse para a rua com 32 projéteis. Se ele participasse de uma ocorrência e voltasse com 20, dificilmente a polícia saberia o que aconteceu com o restante", explica.
A reportagem encontrou um caso semelhante a esse envolvendo o lote BQZ-91.
Em março de 2015, um policial militar foi preso depois de vender acesso ao rádio da PM a bandidos. Quando foi detido em seu carro, o agente portava uma arma pessoal com numeração raspada - ela estava carregada com dez projéteis do lote BQZ-91. Ele foi acusado e depois condenado por peculato, pois não poderia utilizar um recurso público em um bem particular. Seus advogados recorreram.
Segundo o promotor Oliveira, grande parte dos casos em que policiais são processados pelo Ministério Público envolvem desvios como esse ou a perda de armas e munição. "Cada PM tem uma arma (de calibre) .40, com dois cartuchos de 16 balas cada um. Há casos em que o policial alega que perdeu tudo. Ele responde por peculato. Se tiver desviado para bandidos, dificilmente alguém consegue provar o crime. A PM desconta R$ 1.200 do salário pela perda. No mercado negro, uma arma .40 com munição custa R$ 5.000", diz.

Rua onde o entregador de pizzas Geovane dos Santos foi morto pela PM, em Guaianases, zona leste
Image captionO entregador de pizzas Geovane dos Santos, de 18 anos, foi morto pela PM em uma rua da favela Etelvina, na zona leste de SP

Oliveira atuou na acusação da chacina de Osasco, quando 17 pessoas foram mortas. Três policiais militares e um guarda-civil foram condenados. As munições usadas nos crimes foram compradas pela PM, Exército e Polícia Federal - um dos lotes, da PF, também foi utilizado no assassinato da vereadora Marielle.

Quem era o jovem que atirou na PM com balas da própria polícia?

Em uma manhã de julho, a BBC News Brasil visitou a casa onde morava o motoboy Geovane dos Santos, o jovem que teria atirado em agentes em policiais usando balas da própria polícia. A família vive em uma ocupação irregular que existe há décadas em Guaianases, a 4 quilômetros da favela onde ele morreu.
Santos parou de estudar na oitava série do ensino fundamental e fazia bicos em pizzarias do bairro. Um dos seus irmãos, um garoto de 15 anos, conta que o sonho do jovem era ter uma moto XRE-300, veículo que ele teria roubado antes de morrer. "Era o que o Geovane mais queria na vida. Conseguiu. Andou um pouquinho e morreu", diz.
A matriarca da família, Elizete dos Santos, de 53 anos, conta que, no dia em que foi morto, o filho saiu de casa com quatro amigos que ela não conhecia. "Eles vieram buscá-lo aqui, durante a madrugada. Não posso dizer que ele não fez coisas erradas", diz, segurando uma caixa com os documentos do filho, entre eles, um currículo que o garoto entregava em empresas da região. "Se ele roubou alguém, prende o menino, deixa 10 anos na cadeia, dá um cacete nele. Mas não precisa matar. O que eles (PMs) fizeram foi covardia", afirma.
Um laudo pericial relatou que havia indícios de que a arma atribuída a ele (calibre 38, numeração raspada) realizou dois disparos. O caso foi arquivado depois de a Justiça Militar concluir que os policiais agiram em legítima defesa.
A Secretaria de Segurança Pública afirma que o episódio foi investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e enviado à Justiça.
Quando morreu, Geovane dos Santos deixou um filho de sete meses, hoje com pouco mais de quatro anos.

Forças de segurança ignoram orientação do Exército

A história do lote BQZ-91 começa em 2008, seis anos antes do episódio que vitimou Geovane. Vendido pela CBC à Polícia Militar de São Paulo, o BQZ-91 ocupa a décima posição no ranking de maiores lotes de munição comprados pelas forças de segurança do Brasil desde 2005. Tinha 3,9 milhões de projéteis.
O maior volume da lista tinha 19 milhões de unidades e foi vendido à Marinha.
Em 2004, o Exército, que regula o setor, lançou uma portaria que pede às forças de segurança que comprem munições com apenas 10 mil unidades por lote, no máximo. A regra, que ajudaria a esclarecer crimes pois ficaria mais fácil rastrear possíveis desvios, tem sido ignorada pelas polícias: o Estado continua a comprar um grande volume de balas de um mesmo lote.
Segundo Antônio Edílio Magalhães Teixeira, procurador do Ministério Público Federal na Paraíba, o resultado da falha na distribuição é que munições das polícias são desviadas e se espalham pelo país sem que ninguém saiba de onde elas partiram. "Como o Exército não fiscaliza e não cobra lotes menores da CBC, o que a gente tem visto é que a maior parte dos crimes segue sem solução, porque não se consegue rastrear de onde as balas saíram", diz.

Image copyrightGETTY IMAGESTipos de munição
Image captionPortaria do Exército diz que lote devem ter no máximo 10 mil unidades, mas ela nem sempre é seguida

Há alguns meses, Teixeira percebeu que balas usadas em um assalto a uma agência dos Correios na cidade Serra Branca (PB) tinham o mesmo número de lote que as do assassinato de Marielle Franco, no Rio, e da chacina de Osasco, em São Paulo. Como os projéteis saíram das mãos da PF e chegaram a criminosos diferentes em três Estados é um mistério.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que atualmente compra lotes de 10 mil unidades e que hoje é possível rastrear os projéteis até o "nível dos batalhões", em um "controle rigoroso no armazenamento e distribuição das munições."
Já o Exército disse que está averiguando por que a CBC não vem seguindo a determinação de vender lotes menores. Também cita a criação de sistemas para aperfeiçoar a fiscalização e rastreamento de munições. Por sua vez, a CBC afirmou que a portaria do Exército é apenas uma referência e que não há lei que estabeleça a quantidade máxima de um lote. Diz que segue a legislação e que trabalha junto ao Exército para aperfeiçoar a regulamentação sobre o assunto.

Sargento desviou munição da PM

Depois de sair da fábrica da CBC, o lote investigado pela BBC News Brasil, o BQZ-91, foi enviado a um centro de distribuição da PM de São Paulo. Esse órgão é encarregado de repassar os suprimentos para batalhões e centros de treinamento.
Foi em um desses locais, a Escola de Educação Física da Polícia Militar, onde ocorreu um dos maiores desvios de munição conhecidos até hoje. O acusado (e condenado) pelo crime é o ex-sargento Ricardo Tadeu de Souza Ferraz, que entre 2005 e 2009 foi o responsável por fazer o controle de armamento e munição em treinamentos de tiro na escola.
Entre os projéteis furtados por ele estavam 2 mil unidades do lote BQZ-91, calibre 7.62 (usadas em fuzil).
O desvio só foi descoberto por acaso. No dia 29 de julho de 2009, policiais federais pararam um ônibus na cidade de Arujá, na Grande São Paulo, em uma operação de rotina. O veículo tinha o Rio de Janeiro como destino. Em malas de dois casais de passageiros foram encontrados milhares de projéteis da PM paulista.

Image copyrightGETTY IMAGESMunição
Image captionSargento furtou munição de centro de treinamento

Segundo o processo judicial, um dos membros da quadrilha afirmou conhecer um sargento da PM chamado Ricardo, ex-integrante da Rota (batalhão de elite da polícia), cuja esposa se chamava Patrícia. Disse que era esse agente que furtava e repassava as munições para serem vendidas a uma facção criminosa da favela da Rocinha, no Rio. Na agenda telefônica de uma das mulheres do bando havia o número da esposa do PM.
Dias depois, a Polícia Civil foi até a casa do sargento Ricardo Tadeu de Souza Ferraz, pois suas informações pessoais batiam com a denúncia. No local, foram encontrados outros carregamentos de munição - exatamente dos mesmos lotes que estavam no ônibus parado pela PF.
O oficial foi preso em flagrante. Depois, acabou expulso da PM e condenado a oito anos de prisão. No julgamento, sua defesa alegou que a munição encontrada em sua casa era um presente de um militar amigo. Também pediu a suspensão do processo porque um laudo do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc) apontava que Tadeu é esquizofrênico. Para seu advogado, Luiz de Vitto, ele deveria ser inimputável.
Por outro lado, a Justiça realizou outro laudo médico que afirmou o contrário: Ricardo fingia ser esquizofrênico, diz o documento.
O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, mas o ministro Marco Aurélio Mello rejeitou os pedidos da defesa. Em julho do ano passado, a Justiça pediu a sua prisão preventiva - o agente está foragido desde então.
A BBC News Brasil procurou a família do ex-policial, mas os parentes não quiseram comentar.

Briga entre facções com munição da PM de SP

Não é possível saber se a quadrilha desviou mais projéteis da PM paulista para facções criminosas do Rio. O processo se refere apenas aos carregamentos encontrados pela PF em 2009.
No entanto, coincidência ou não, dois assassinatos na cidade de São Gonçalo, no Rio, foram cometidos com balas do lote investigado pela BBC News Brasil e desviado pelo ex-sargento Ricardo Tadeu de Souza Ferraz, o BQZ-91.
Por volta das 13h30 do dia 26 de julho de 2015, os jovens Wallace Mendes e Matheus da Silva Carvalho foram mortos na rua Expedicionário Joaquim Onilo Borges, bairro Pacheco, em São Gonçalo. Um dos rapazes levou 21 tiros e o outro, 26. Além do BQZ-91, outra boa parte das balas também foi comprada pela PM de São Paulo - há outra parcela da PF.

Image copyrightREPRODUÇÃOMunição usada em assassinatos em São Gonçalo, no Rio de Janeiro
Image captionMunição coletada na cena do crime em São Gonçalo. As balas vinham do mesmo lote que havia sido desviado da PM

A Promotoria apontou como motivo dos homicídios uma briga entre as facções Comando Vermelho e Amigos dos Amigos, que dominam o tráfico de drogas em favelas do Rio. Dois homens - um deles, menor de idade - foram presos sob a acusação de serem os assassinos, mas outras pessoas teriam participado do crime.
Segundo a denúncia da Promotoria, Cleyton Passos Gomes, o Cleytinho, decidiu assaltar uma mercearia junto a comparsas da Amigos dos Amigos. Durante o roubo, o grupo reconheceu Mendes e Carvalho dentro do estabelecimento. As vítimas seriam membros do Comando Vermelho, facção rival que comandava o morro vizinho, da Chatuba. Foram fuzilados.
As investigações apontam ainda para o motivo do crime: Mendes teria composto um funk que desagradou aos traficantes do bairro vizinho.
Cleyton foi condenado pelos assassinatos. A reportagem procurou sua defesa várias vezes nos últimos dois meses, mas os advogados não se pronunciaram até a publicação desta reportagem.
Não se sabe como os assassinos conseguiram a munição comprada pela PM de São Paulo.

'Estado armando criminosos'

Não é possível saber exatamente quantas vezes as balas do lote BQZ-91 foram usadas por criminosos. Depois de repassadas ao batalhões da PM, suas 3,8 milhões de balas praticamente saíram do radar.
Para Bruno Langeani, do Instituto Sou da Paz, a trajetória do lote BQZ-91 é um exemplo da falta de controle da munição comprada pelo Estado. "As polícias precisam enxergar que armas e munições são objetos valiosos que geram interesse na criminalidade. É preciso ter um controle de mais qualidade para evitar que esse armamento esteja no dia seguinte dando tiro em policial."
Um relatório do escritório da ONU para Paz, Desarmamento e Desenvolvimento da América Latina e Caribe, divulgado recentemente, recomendou que toda a munição brasileira "seja devidamente marcada e gravada", mesmo aquela vendida a civis. Também orientou que a norma do Exército sobre lotes menores seja cumprida.
Já o procurador Antônio Edílio Magalhães Teixeira, do MPF, analisa as consequências da falta de controle da munição brasileira. "Se continuarmos essa prática, o Estado brasileiro continuará gastando dinheiro público para armar grupos de criminosos", diz.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Veja o vídeo da Gazeta do Povo...!

https://youtu.be/zvIVwgQK-84
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O Brasil tem vergonha do brasileiro?

Artigos do Puggina

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A DIGNIDADE NACIONAL FRENTE À IDEOLOGIA DO CONFLITO

por Percival Puggina. Artigo publicado em 

Como entender esse sentimento de inferioridade, de desapreço em relação a nós mesmos, sendo herdeiros de uma história e de uma cultura tão ricas? Qual a causa desse rastejar em culpas e remorsos, como se ser brasileiro equivalesse a viver num estuário de vilanias e maldições?
A visão negativa a que me refiro iniciou com a propaganda republicana. No entanto, nada fez tanto estrago à nação quanto o discurso esquerdista ao suscitar conflitos sem os quais sua ação política entra em coma.
É como se a história do Brasil fosse uma reportagem de horrores que começa com genocídio indígena e escravidão. A partir disso não tem mais cura nem conserto. Ora, qual país não registra páginas escuras em seus anais? Qual não viveu ou criou situações assim? Não conheço outro, contudo, que as traga de modo permanente à luz para repudiar suas origens desde o Descobrimento, injuriar a identidade nacional e desprezar a própria dignidade. Desconheço estupidez análoga em outro lugar planeta!
São ideias difundidas por supostos estudiosos dos temas nacionais que se aborrecem com o fato de nosso povoamento haver transcorrido no período histórico correspondente ao absolutismo monárquico. Deprime-os a maldição de que o mercantilismo fosse o sistema econômico então vigente. Incomoda-os saber que no século XVI foi levado o último toco de pau-brasil, sem o qual fomos obrigados a sobreviver até hoje. Atribuem nossas dificuldades financeiras ao ouro arrancado de nossas entranhas (uma exploração privada, sobre a qual a Coroa cobrava 20% de imposto) e que gerou desenvolvimento econômico e social em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
De fato, a Coroa portuguesa entre os séculos XVI e XIX não regia uma economia de livre mercado, não era uma monarquia constitucional, nem uma “democracia popular”, nem era “politicamente correta”! Ora pombas, que coisa mais anacrônica!
Prefiro outro modo de ver a história. Prefiro valorizar a riqueza cultural de que somos herdeiros, enriquecida pelo aporte das varias etnias que aqui se agregaram. Nessa herança, valorizo o idioma que falamos. Ele resulta de laboriosa construção no tempo e lança raízes na Península Ibérica desde que, vitorioso na 3ª Guerra Púnica, o Império Romano conquistou a região e criou a província Lusitânia. Não fosse isso, falaríamos o idioma púnico de Cartago, ou o germânico dos suevos, ou o gótico dos visigodos. A história do nosso belo idioma também é nossa e tem tudo a ver com a cultura e a identidade nacional.
A religião é parte integrante da cultura dos povos em todas as civilizações. Não há povo sem religião. Parte valiosa de nossa identidade, então, está fornecida pelo cristianismo aqui aportado de múltiplas formas pelos nossos povoadores. É igualmente longo, procede de Roma e vive momentos decisivos na Ibéria do século VI, o processo de conversão daqueles povos ao cristianismo. Também é nossa essa história.
 ideologia do conflito, revolucionária, precisa destruir a base cultural das sociedades ocidentais cristãs. Assim como Marx via a religião como ópio do povo, seus seguidores perceberam que precisavam destruir a cultura do Ocidente. Para isso trabalhou a Escola de Frankfurt e para isso opera parcela expressiva do mundo acadêmico brasileiro.
Como parte dessa estratégia perversa, enquanto outros povos se orgulham de sua nacionalidade, cultuam seus grandes vultos, enfeitam suas cidades com monumentos que os exibem à memória e reverência de sucessivas gerações, aqui eles são escondidos. Quantos monumentos a Bonifácio? Frei Caneca? Nabuco? D. Pedro II? Isabel? Mauá? Rio Branco? Caxias? Patrocínio? Rui? Quantos estudantes brasileiros conseguiriam escrever cinco linhas sobre qualquer deles?
Se não vemos dignidade em nossa história, dificilmente a veremos em nós e muito mais dificilmente a veremos nos outros. Seremos grotescos pichadores de nós mesmos. Tenho orgulho das minhas raízes como brasileiro. É a política do tempo presente que me constrange.O Brasil 

Brasileiros com medo do Brasil real deixam o país

Brasil está entre países com maior fuga de milionários: 2 mil saíram em 2017
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Image copyrightGETTY IMAGESAvião particular com tapete vermelho
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Pelo terceiro ano consecutivo o Brasil ficou no top 10 de países com maior fuga de indivíduos donos de US$ 1 milhão ou mais em ativos
Dois mil milionários brasileiros fizeram as malas e deixaram o país com suas fortunas em 2017, segundo dados da empresa global de pesquisa de mercado New World Wealth. Pelo terceiro ano consecutivo, o Brasil ficou no top 10 de países com maior fuga de indivíduos donos de US$ 1 milhão ou mais em ativos, somando 12 mil "emigrantes classe A" desde 2015.
O ranking faz parte do Global Wealth Report Review 2018, produzido pela consultoria com o apoio do AfrAsia Bank e com dados referentes ao ano anterior. Sediada em Johanesburgo, na África do Sul, a empresa vem rastreando o movimento da riqueza no mundo desde 2013.
O relatório alerta que a perda de milionários normalmente é "um péssimo sinal" e "geralmente revela sérios problemas em um país". Se a saída de dinheiro é o primeiro sintoma de que algo não vai bem na economia e na política de um país, a emigração efetiva de indivíduos HNMWI (high net worth individuals, sigla em inglês para quem tem mais de US$ 1 milhão) é visto como sintoma de grave crise.
Pelos dados compilados no último relatório da New World Wealth o Brasil ficou em sétimo lugar no ranking de fluxo de saída de fortunas em 2017. A lista foi liderada pela China (10 mil milionários), seguida por Índia, Turquia, Reino Unido, França e Rússia. Em grave crise, a Venezuela perdeu 1 mil milionários - que viram sua riqueza privada se retrair 48% de 2007 a 2017, pelas contas da consultoria.
São Paulo figurou entre as sete cidades globais com maior índice de ricos "em fuga", acompanhada de Istambul, Jacarta, Lagos, Nigéria, Londres, Moscou e Paris. No caso dos milionários brasileiros, os novos destinos escolhidos são principalmente Portugal, Estados Unidos e Espanha. Dados do Banco Central mostram que os dois primeiros responderam por 51% do investimento recorde de brasileiros em imóveis no exterior em 2017, somando US$ 3,2 bilhões.
Outro sinal desse movimento foi o aumento, nos últimos quatro anos, segundo Raul Shalders, sócio-diretor da Jobin Planejamento Financeiro, da demanda de clientes milionários por assessoria para concretizar a mudança de país. Segundo Shalders, a primeira leva tinha como foco os Estados Unidos, mas, a partir de 2016, Portugal passou a ser o destino mais procurado.
Os relatos dos clientes apontam várias causas para o exílio voluntário. "Primeiro, é uma tendência de um mundo globalizado onde você tem mais acesso à informação", diz Shalders.
"Na outra ponta é uma fuga, tendo em vista o cenário político e econômico que a gente vive e viveu nos últimos quatro anos. Finalmente, há a deterioração da segurança pública no Rio e também em São Paulo, principalmente após as Olimpíadas. As pessoas estão com medo da violência e buscando mais qualidade de vida no exterior."
Independentemente do corte por renda, dados da Receita Federal mostram que a mudanças de brasileiros para outros países se intensificou significativamente a partir de 2014, quando teve início o último ciclo de recessão. Um total de 69.174 declarações de saída definitiva do País foram entregues de 2014 a 2017. Em 2013, último ano antes do agravamento da crise econômica, foram 9.887 declarações.
Desde então, a cifra não parou de crescer anualmente, atingindo 21.701 declarações em 2017. Entretanto, o número de brasileiros que foram viver no exterior é provavelmente maior, já que nem todos informam essa saída ao governo.
Image copyrightGETTY IMAGESNova York
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Estados Unidos estão entre os destinos mais escolhidos pelos emigrantes brasileiros
De acordo com o Global Wealth Report Review 2018, a movimentação da riqueza pelo mundo está se acelerando. Aproximadamente 95 mil milionários migraram no mundo em 2017, contra 82 mil em 2016 e 64 mil em 2015.
Essa movimentação, ao contrário do que ocorre com a de refugiados ou migrantes por razões políticas ou econômicas, não encontra obstáculos.
Muito pelo contrário. Os milionários globais estão livres para ir e vir mesmo nos Estados Unidos "tolerância zero" de Donald Trump. O país que chegou a separar famílias de imigrantes ilegais este ano foi o segundo destino mais popular entre imigrantes abastados, recebendo 9 mil milionários em 2017.
Ficou atrás apenas da Austrália (10 mil), que leva vantagem por ser uma base mais próxima para negócios com países asiáticos, ter uma taxação de herança mais baixa e ser um país muito seguro.
O empresário do mercado financeiro Cesar Braga trocou o Rio de Janeiro por Miami no final de 2015, motivado pelo agravamento da instabilidade político-econômica após a reeleição de Dilma Rousseff (PT). Casado com uma americana, mãe de suas duas filhas, ele conta que a mudança para os Estados Unidos sempre fora um plano B.
A escalada da violência na capital fluminense também pesou na decisão de levá-lo adiante. "Como atuava no mercado financeiro, percebi que a situação ia ficar caótica nos próximos anos. Mais da metade dos nossos amigos saíram do Brasil", conta.

Sistema de transporte do Brasil é caótico

Brasil precisaria de R$ 1,7 tri para ter um sistema de transporte eficaz: http://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/208834/brasil-precisaria-de-r-17-tri-para-ter-um-sistema-.htm

Acredite... O que acontece quando um brasileiro decide morar e trabalhar nos EUA? Ele passa a ganhar 7 vezes mais !

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/o-que-acontece-quando-um-brasileiro-decide-ir-morar-nos-eua-bo0rdh9fuawlhsj35l0jkuaq0

domingo, 26 de agosto de 2018

Combate de corrupção por meio de referendo?

I saw this on the BBC and thought you should see it: ¿Se puede combatir la corrupción con un referendo? En Colombia creen que sí - http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias-america-latina-45289771

"O Brasil tem tudo para não dar certo " / José Nêumanne




quarta-feira, agosto 22, 2018


O Brasil tem tudo para não dar certo tão cedo - JOSÉ NÊUMANNE

O Brasil tem tudo para não dar certo tão cedo - JOSÉ NÊUMANNE

As chances de o Brasil continuar a não dar certo são de 77% e as necessárias reformas e modernização para o País crescer e prosperar não são inviáveis, mas dependem de a maioria do eleitorado ser convencido de que a melhor saída seria essa

O Estado de S.Paulo - 22 Agosto 2018


O ano começou com uma expectativa generalizada de que teria início nele algo que um romancista inspirado chamaria de “o verão de nossas esperanças”. Antes de setembro chegar, trazendo a primavera, ninguém precisará ser muito pessimista para lembrar, neste “inverno de nossas desilusões”, que agosto é, de fato, um mês de muito desgosto e que o verão de 2019 em nada corresponderá aos sonhos de renovação de oito meses atrás. Por quê?

Em 2005 teve início no Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento da Ação Penal 470, que ficou popular com o apelido de mensalão e radiografou a podridão das vísceras do primeiro governo soit-disant socialista da História, sob a égide do ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva. Nos debates do plenário da Corte, acompanhados com interesse antes só despertado pelos festivais da canção e pela Copa do Mundo, foi revelado ao povo um esquema de compra de apoio parlamentar com o erário sendo tratado como quirera.

Os “supremos” magistrados condenaram à prisão políticos de alto coturno, que trataram os partidos que dirigiam como se fossem organizações criminosas: José Dirceu e José Genoino, que tinham presidido o Partido dos Trabalhadores (PT), Roberto Jefferson, suserano do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Valdemar Costa Neto, rei do Partido Liberal (PL), que viraria Partido da República (PR), Pedro Corrêa, dirigente do Partido Progressista (PP), e outros.

Reza o folclore político que, instado a participar de um movimento para depor o então presidente Lula, o ex-chefão do Partido da Frente Liberal (PFL), hoje o Democratas (DEM), Antônio Carlos Magalhães, disse que preferia derrotá-lo nas urnas. Como a História, implacável, registra, Lula bateu o tucano Geraldo Alckmin na eleição de 2006. Os chefões das quadrilhas partidárias seriam, depois, indultados pela companheira Dilma Rousseff, que Lula elegeria sua sucessora, e, afinal, perdoados pelos companheiros nomeados para o fiel e desleal STF.

Mas, ah, ora, direis, ouvindo estrelas, o povo foi às ruas para reclamar daquilo que, antes de comandar a rapina nos cofres públicos, o PT chamava de “tudo o que está aí”. A rebelião das ruas, que apoiou o combate à corrupção por uma geração de jovens policiais, procuradores e juízes federais, porém, passou ao largo de alguma mudança de fato no Brasil que Machado de Assis chamava de “oficial”, em contraponto ao nobre, pobre e probo “País real”. No ano seguinte às espetaculares manifestações de rua em nossas cidades, 2014, Dilma foi reeleita com Temer e o PMDB na chapa em campanha de que, como depois revelaria outra devassa, nem os vencidos sairiam inocentes. Tudo como dantes no cartel de Abrantes.

Para cúmulo da ironia, levado a julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o triunfo da chapa que juntou a fome com a vontade de comer passou a ser dado como absolvida “por excesso de provas”. Mas a decisão, tomada numa sessão presidida pelo ministro do STF Gilmar Mendes, manteve Temer na Presidência, depois do impeachment da titular da chapa vencedora. E Dilma sem cargo, mas liberada para ocupar posto público por uma canetada praticada pelas mãos esquerdas do senador peemedebista Renan Calheiros e do então presidente do STF, Ricardo Lewandowski.

Isso ocorreu apesar do enorme entusiasmo popular com novo feito da Justiça em primeira instância, a Operação Lava Jato, iniciada em 2014 e responsável pela sequência da AP 470, levando às barras dos tribunais e às celas os maiores empreiteiros do Brasil, Marcelo Odebrecht à frente, e o ex-presidente Lula. Este havia saído incólume do mensalão por obra e graça da omissão do relator, tido como implacável, Joaquim Barbosa, e a atenta proteção do sucessor deste na presidência do STF, Lewandowski. O que não impediu que depois fosse condenado e preso como “chefe da quadrilha”.

No verão, esperava-se que se elegessem um presidente para limpar a máquina pública e um Congresso para apoiá-lo na guerra à corrupção. No inverno, 90% dos deputados e 65% dos senadores candidatos sepultam o devaneio do “não reeleja ninguém”. Dos seis pretendentes à Presidência com chance, nenhum se compromete com o que de fato importa: o combate a privilégios, política econômica para pôr fim à crise e ao desemprego e o basta à impunidade de criminosos armados ou de colarinho branco. Quem está em primeiro lugar nas pesquisas de preferência de voto é um condenado por corrupção e lavagem de dinheiro a 12 anos e 1 mês de prisão.

O economista Cláudio Porto, da Macroplan, acaba de divulgar a pesquisa Cinco cenários para o governo do Brasil 2019-2023, que conclui que qualquer governo terá de conviver com cinco condicionantes imediatos: renda per capita 9% abaixo da de 2014 e desemprego de 14 milhões de pessoas; contexto externo menos favorável do que o dos últimos anos; tensão permanente entre a população impaciente e a maioria fisiológica dos políticos; demandas da sociedade por mais e melhores serviços públicos, em confronto com a manutenção e a conquista de mais benesses pelo baronato de políticos; e combate à corrupção menos intenso.

Para enfrentar esses problemas o eleitorado, segundo Porto, divide-se pela metade, não entre esquerda e direita, mas entre a sedução do populismo e a saída não populista. A pesquisa, feita para a Macroplan pelo economista Flávio Tadashi entre 6 e 8 de agosto, situa em 16,1% a adesão ao populismo de esquerda; 17,4% ao de direita e 16,5% ao “de ocasião”. A saída não populista divide-se em 27% para a conservação do status quo e 23% para o “reformismo modernizante”.

As chances de o Brasil continuar a não dar certo são de 77% e as necessárias reformas e modernização para o País crescer e prosperar não são inviáveis, mas dependem de a maioria do eleitorado ser convencido de que a melhor saída seria essa.

JORNALISTA, POETA E ESCRITOR

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