O segredo do futebol alemão
Bayern e Borussia jogaram bem. Beneficiaram-se também de uma organização inteligente para bater os espanhóis e fazer uma final alemã na Liga dos Campeões, no sábado (25), em Wembley
"Olé!”, gritavam os torcedores do Bayern de Munique, no dia 1º de maio. Eles vibravam, enquanto o time toureava o Barcelona e rumava para a final da Liga dos Campeões, o campeonato europeu de clubes. Em dois jogos, o Bayern cravou sete gols no Barça, sem levar nenhum. O massacre fez com que 2013 entrasse para a história do futebol alemão. Dois times do país se enfrentarão na final. O também alemão Borussia Dortmund eliminou o também espanhol Real Madrid. Parte do sucesso do Bayern e do Borussia deve ser creditada aos fatores futebolísticos óbvios – uma boa mistura, dentro do campo, de talento, raça, treino e sorte. Mas uma observação atenta do futebol alemão nos últimos anos mostra que, fora do campo, eles acertaram em outros quesitos, úteis para todo dirigente e torcedor que invejem aqueles resultados. Para chegar a este 2013 glorioso, os alemães passaram por reviravoltas.
O futebol germânico, três vezes ganhador da Copa do Mundo e quatro vezes vice, sofreu um baque em 2000. Naquele ano, a seleção nacional marcou apenas um gol na fase final do Campeonato Europeu. Saiu da disputa sem vencer nenhuma partida. Apesar da conquista do vice-campeonato mundial na Copa de 2002, o futebol germânico sangrava. Os clubes tradicionais gastavam muito e tinham resultado fraco. Ficaram perto de quebrar. Só o Borussia precisou pegar emprestados US$ 2,6 milhões.
A partir daí, a primeira divisão alemã, a Bundesliga, adotou um controle de gastos mais severo. Os clubes tornaram-se modelos de gestão (ao menos para os padrões do futebol). A firmeza no controle das contas encheria de orgulho a chanceler Angela Merkel, nos últimos tempos a maior opositora da gastança governamental como saída para a crise europeia. Segundo o mais recente relatório financeiro da liga alemã, embora a receita total tenha crescido 7% em 2012, os salários aumentaram apenas 1%. “A Bundesliga é a única liga europeia que adota um modelo de gestão sustentável”, afirma Emmanuel Hembert, especialista em negócios esportivos e sócio da consultoria A.T. Kearney. Trata-se da liga mais lucrativa do continente. Essa virtude não necessariamente levaria a um futebol melhor. Na Alemanha, ela teve consequências diretas no que se vê no gramado.
A partir daí, a primeira divisão alemã, a Bundesliga, adotou um controle de gastos mais severo. Os clubes tornaram-se modelos de gestão (ao menos para os padrões do futebol). A firmeza no controle das contas encheria de orgulho a chanceler Angela Merkel, nos últimos tempos a maior opositora da gastança governamental como saída para a crise europeia. Segundo o mais recente relatório financeiro da liga alemã, embora a receita total tenha crescido 7% em 2012, os salários aumentaram apenas 1%. “A Bundesliga é a única liga europeia que adota um modelo de gestão sustentável”, afirma Emmanuel Hembert, especialista em negócios esportivos e sócio da consultoria A.T. Kearney. Trata-se da liga mais lucrativa do continente. Essa virtude não necessariamente levaria a um futebol melhor. Na Alemanha, ela teve consequências diretas no que se vê no gramado.
A organização financeira inteligente da liga equilibra os times. A limitação do endividamento reduz a diferença na capacidade de gasto entre os clubes mais ricos e os mais pobres. Entre as grandes ligas, a inglesa e a alemã se mostram as mais equilibradas. As receitas com os direitos de transmissão dos jogos pela TV na Alemanha são negociadas em bloco e, assim, distribuídas de maneira mais uniforme entre as equipes (na Espanha, os times negociam isoladamente, e o duopólio Real Madrid-Barcelona fica com 50% da verba). Também há limitações na propriedade. Na Alemanha, um único investidor não pode ser dono de um clube. Isso diminui a exposição de cada time ao humor ou sucesso de um milionário. Todos esses fatores se refletem num equilíbrio de forças. Entre as cinco grandes ligas europeias, a alemã e a francesa se revelam as mais competitivas, com vários times médios fortes e resultados menos previsíveis, segundo a consultoria Roland Berger. Nos últimos dez anos, cinco times alemães se revezaram como campeões (Borussia Dortmund, Bayern de Munique, Wolfsburg, Stuttgart e Werder Bremen), mais que na Inglaterra, na Itália e na Espanha. “O campeonato espanhol enfraqueceu por causa da quantidade desproporcional de dinheiro que Barcelona e Real Madrid têm”, diz John Carlin, colunista esportivo do jornal espanhol El País e autor de um livro sobre o Real Madrid.
>>Infográfico: As seleções que participam da Copa das Confederações>>Dos 12 estádios da Copa, só 2 foram entregues dentro do prazo inicial
A estrutura do futebol alemão reproduz o que se vê na economia do país. A Alemanha se beneficia de uma camada de firmas de porte mediano, ultracompetitivas e exportadoras agressivas. Elas não têm fama, mas esbanjam competência. São chamadas, em alemão, de Mittelstand (algo como “lojas do meio”) e também de “campeãs escondidas”, apelido criado pelo consultor alemão Hermann Simon, em 1996. Bem distribuídas pelo país, as Mittelstände ajudam a sustentar a classe média dos times alemães, ao comprar cotas de patrocínio e lugares nos estádios.
O olé entoado pela torcida do Bayern serve de lembrete também sobre a importância do torcedor no modelo alemão. Os preços dos ingressos são menores na Alemanha – custam menos de € 30, em comparação com os cerca de € 50 que afastaram os torcedores dos estádios na Inglaterra e na Espanha. O torcedor alemão se beneficia das obras da Copa de 2006, que custaram US$ 1,8 bilhão. Os estádios renovados reduziram os gastos dos clubes e acomodaram melhor os fãs. Eles agradecem comparecendo em peso, para ver bons times em bons estádios. A média de público por partida saltou de 28 mil em 2001 para 44 mil em 2012, a maior da Europa.
A estrutura do futebol alemão reproduz o que se vê na economia do país. A Alemanha se beneficia de uma camada de firmas de porte mediano, ultracompetitivas e exportadoras agressivas. Elas não têm fama, mas esbanjam competência. São chamadas, em alemão, de Mittelstand (algo como “lojas do meio”) e também de “campeãs escondidas”, apelido criado pelo consultor alemão Hermann Simon, em 1996. Bem distribuídas pelo país, as Mittelstände ajudam a sustentar a classe média dos times alemães, ao comprar cotas de patrocínio e lugares nos estádios.
O olé entoado pela torcida do Bayern serve de lembrete também sobre a importância do torcedor no modelo alemão. Os preços dos ingressos são menores na Alemanha – custam menos de € 30, em comparação com os cerca de € 50 que afastaram os torcedores dos estádios na Inglaterra e na Espanha. O torcedor alemão se beneficia das obras da Copa de 2006, que custaram US$ 1,8 bilhão. Os estádios renovados reduziram os gastos dos clubes e acomodaram melhor os fãs. Eles agradecem comparecendo em peso, para ver bons times em bons estádios. A média de público por partida saltou de 28 mil em 2001 para 44 mil em 2012, a maior da Europa.
A receita alemã inclui o cuidado com a formação de jogadores, que exigiu € 713 milhões desde 2001. A essa geração pertence o atacante Thomas Müller, um dos goleadores da vitória do Bayern sobre o Barça. Ele se juntou à base do time aos 10 anos, em 2000. A medida ajuda os clubes a moderar o gasto com jogadores caros. Nos últimos anos, a manutenção e a compra de novos jogadores consomem, na Itália, 74% da receita dos clubes. Na Espanha, 59%. Na Alemanha, 50%.
Por fim, deve-se reconhecer o jogo bem jogado. Os que ainda pensam no futebol alemão apenas em termos de tática e condicionamento físico estão presos ao passado. Os germânicos exibem habilidade. “Os alemães tiveram a humildade de observar o futebol espanhol nos últimos anos e de aprender com ele”, diz Carlin.
Nada disso significa que a receita alemã seja infalível ou eterna. O Bayern, avaliado isoladamente, gasta com seu elenco quase tanto quanto os megatimes da Inglaterra e da Itália. Mesmo nos últimos anos, houve escândalos financeiros com times menores. O presidente do Bayern está em apuros por ter sonegado impostos. Até a ausência de Lionel Messi jogou a favor do Bayern no dia 1º. Mas, desta vez, o modelo funcionou. Os alemães festejam. Qualquer que seja o resultado na final, no sábado (25), o grande futebol alemão venceu.
Por fim, deve-se reconhecer o jogo bem jogado. Os que ainda pensam no futebol alemão apenas em termos de tática e condicionamento físico estão presos ao passado. Os germânicos exibem habilidade. “Os alemães tiveram a humildade de observar o futebol espanhol nos últimos anos e de aprender com ele”, diz Carlin.
Nada disso significa que a receita alemã seja infalível ou eterna. O Bayern, avaliado isoladamente, gasta com seu elenco quase tanto quanto os megatimes da Inglaterra e da Itália. Mesmo nos últimos anos, houve escândalos financeiros com times menores. O presidente do Bayern está em apuros por ter sonegado impostos. Até a ausência de Lionel Messi jogou a favor do Bayern no dia 1º. Mas, desta vez, o modelo funcionou. Os alemães festejam. Qualquer que seja o resultado na final, no sábado (25), o grande futebol alemão venceu.