Por Maria Lucia Victor Barbosa (*)
Discutir o que é contemporâneo avançou sob novas formas através das transformações revolucionárias da comunicação trazidas pela tecnologia. É bom frisar que tal progresso não significa em si perfeição, pois a ação humana serve tanto para o bem quanto para o mal, para a mentira ou para a verdade, para o amor ou o ódio. De todo modo, as redes sociais avultam hoje como o quinto poder, algo que não foi ainda analisado em toda sua potencialidade e complexidade, sendo que não há indícios de recuo na participação e na interação de pessoas através das redes sociais onde opiniões trafegam livremente, debates se cruzam, ideologias provocam embates acalorados.
Na análise de tal fenômeno social quero retomar a tese de Robert A. Dahl sobre o que ele denominou de “poliarquia”, termo que significa “o governo de muitos, que permite ao povo participar das principais escolhas, sobretudo nas dos dirigentes”.
Atualizando o conceito se pode dizer que, além das escolhas políticas, hoje a participação nas redes sociais ampliou a poliarquia, que nada mais é do que uma forma de democracia na qual excessos deveriam encontrar seus limites não na censura, mas nos direitos fundamentados nas leis.
Dito isso, tomemos como exemplo de discussão recente que percorreu as redes sociais e a mídia, aquela relativa ao encerramento da exposição Queermuseu havida em Porto Alegre (RS), patrocinada pelo Banco Santander e financiada pela Lei Rouanet com a nada modesta quantia de R$ 800.000,00.
Nesse sentido, significativa foi a matéria da Veja (20/09/ 2017), que teceu duras críticas ao Movimento Brasil Livre (MBL), chamando-o de obscurantista por ter pedido nas redes sociais o boicote a tal exposição por conta do incentivo a pedofilia, a zoofilia e pelo desrespeito a símbolos sagrados. Além do MBL, outros grupos também se indignaram com a mostra. O título da matéria da Veja foi: “A Vitória das Trevas”.
De modo sucinto, pois um artigo tem seus limites, faço referência ás “trevas” citadas, uma alusão à Idade Média. Mas, haverá realmente obscurantismo e trevas no repúdio de grupos sociais à exposição? Não teria sido uma reação normal diante do claro apelo a pedofilia e a zoofilia que aparece de forma contundente na tela de Adriana Varejão, em que pese as interpretações sofisticadas dadas pela autora? Mais chocantes ainda as figuras das “crianças viadas”, apelo forçado ao homossexualismo e indutor da pedofilia. Uma caixa de hóstias era cercada por palavrões, um arremedo de Nossa Senhora carregava em vez de Jesus um macaco, um Cristo estapafúrdio cheio de braços refletia mais uma vez o mau gosto da mostra. E havia muito mais coisas que no passado, em vez de arte, eram chamadas de modo politicamente incorreto de taras, aberrações, blasfêmias.
Se a mostra pelo menos tivesse tido uma classificação por idade, como no teatro e no cinema, vá lá, mesmo provocando reações instintivas de repúdio e asco. Mas a questão crucial é que a exposição, que tratava de questões de gênero e diversidade, “receberia alunos de escolas públicas e particulares e ensejaria trabalhos” sobre obras dos expositores.
Como, pergunto, olhos infantis espantados veriam aquilo tudo? De que modo o inexplicável sexo com animais repercutiria em suas mentes em formação?
Penso que cada um é livre para escolher seu modo de viver, mas incomoda a obsessiva doutrinação existente, como se todos fossem obrigados a se converter em homossexuais. E a doutrinação começa nas escolas com crianças muito novas, fazendo-as perder suas referências, o que pode mais tarde gerar adultos problemáticos; estimula-se a diversidade de experiências sexuais precoces, perigoso caminho para a legitimação da pedofilia, sendo que entendo pedofilia como crime hediondo; em construções arbitrárias ensina-se que não existe diferença entre meninos e meninas, o que raiaria ao absurdo de se querer revogar leis da natureza.
Se trevas existem é porque o momento é de graves manipulações. Há um desmanche de valores e grupos permissivos se impõe. Corrompe-se a juventude e a infância. Prega-se o vale-tudo. Não existe mais limites nem moral. Prevalece o prazer individual como único bem possível. Há uma busca de felicidade nunca alcançada, pois se dá por motivos errados. E os insatisfeitos correm atrás de novas experiências desesperadas das drogas e do sexo. Parece que estamos vivendo o fim de uma civilização de criaturas perdidas, que será substituída por outra mais evoluída, quem sabe, composta por inteligências artificiais.
Mas ainda é tempo, salvemos as crianças resgatando valores desaparecidos. Que os pais estejam atentos aos crimes cometidos contra seus filhos inocentes. E os que querem respeito, que aprendam a respeitar e exercer também a tolerância, para que banalização da sexualidade não faça a violência se voltar contra eles mesmos.
Com a palavra as redes sociais.
(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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