Enquanto a campanha eleitoral nos Estados Unidos esquenta e Barack Obama viaja ao Afeganistão para assinar um acordo de pós-guerra, as histórias de — dois — amores de juventude do presidente fazem o site da revista “Vanity Fair” cair por excesso de tráfego. A publicação pôs no ar trechos de Barack Obama: The Story, livro escrito pelo repórter do jornal “Washington Post” David Maraniss, ainda inédito.
As seis páginas já divulgadas pela revista, com um resumo feito pelo próprio Maraniss, contam as histórias de duas namoradas de Obama durante a faculdade: Alex McNear e Genevieve Cook. E é assim, sem revelar o rosto de um dos amores do presidente dos Estados Unidos — arrancando o doce da boca — que o leitor descobre que o relacionamento com Alex, a primeira delas, foi quase todo por meio de cartas. E que eles se conheceram em Los Angeles, no Occidental College, antes que Obama fosse estudar na Universidade de Columbia, em 1982 — quando o atual líder do mundo tinha apenas 20 anos.
Antes da faculdade de direito, de se embrenhar na política e de chegar à Casa Branca — e muito antes de conhecer Michelle, a primeira-dama —, Obama era um estudante esperto e curioso, apenas mais um dos inúmeros jovens de 20 e poucos anos que vivem em uma constante busca emocional por si mesmo. Em um dos trechos publicados na revista, o presidente é exatamente o que se espera de um rapaz introspectivo: muito contido, absorto e propenso a conversas frenéticas.
Maraniss afirma que não teve problemas em publicar detalhes sobre os relacionamentos amorosos de juventude do presidente. “O livro é, antes de tudo, uma biografia. As cartas e os diários aparecem mais como descritivos que apimentados”.
Um amor por meio de cartas
Alex McNear era uma jovem muito inteligente, um tipo meio literário, que Barack Obama conheceu antes de ser transferido para Columbia no primeiro ano da faculdade. Após meses de correspondência e namoro à distância, os dois só se reencontraram quando ela foi a Nova York, em 1982. Ali, tiveram um daqueles romances rápidos de uma noite inteira de conversa em um restaurante escuro.
Mas a relação à distância terminou rapidamente, apesar das muitas cartas trocadas entre os dois — algumas das quais estão no livro de Maraniss. “Você parece surpresa pela ambivalência irreconciliável de (T.S.) Eliot; você não concorda com essa ambivalência, Alex”, escreveu Obama em uma ocasião.
“A solidão que Obama sentia em Nova York se reflete em muitas das correspondências a Alex McNear”, diz Maraniss à “Vanity Fair”, que também publicou trechos das cartas. Ela é uma jovem que deixou apaixonado o homem que, na época, ainda gostava de ser chamado de Barry. A relação entre Barry e Alex morreu exatamente no verão de 1982.
“Eu te amo”, diz ela. “Obrigado”, diz ele.
Um ano e meio depois, em dezembro de 1983, Obama conheceu em uma festa de Natal sua primeira namorada séria, Genevieve Cook, uma mulher quatro anos mais velha, filha de um importante diplomata australiano e professora do ensino fundamental. Dias depois, ele a convidou para um jantar e os dois passaram a noite juntos. “Tudo parecia inevitável”, ela contou a Maraniss.
Sobre a rápida e intensa aproximação dos dois, Maraniss escreve: “ela tinha um diário, como ele; considerava-se uma observadora, como ele; encobria sua identidade, como ele; tinha uma mãe enérgica, independente e às vezes exasperada, como ele; e fervilhava de ideias sobre idealismo e o certo e o errado no mundo, como ele”.
O jovem casal passava um grande tempo cozinhando: ele adorava bife com gengibre e sanduíche de atum — receita ensinada pelo avô — com fatias de picles. Eles liam muitos livros, de Maia Angelou, Toni Morrison, Toni Cade Bambara, e discutiam sobre eles. Mas, apesar da aproximação, quando Genevieve lhe disse pela primeira vez que o amava, Obama respondeu com um “muito obrigado”, como se agradecesse por alguém amá-lo.
No livro, Genevieve relembra o romance de 18 meses e de seus sentimentos sobre si mesma: “O ardor sexual sempre esteve ali, mas o resto era de uma fragilidade muito grande. Enquanto ele dizia palavras doces e podia ser aberto e confiável, também havia uma frieza constante, e eu comecei a desconfiar de que nunca poderia atingi-lo. Até hoje Barack me intriga, com tanta coisa acontecendo debaixo da superfície, fora do alcance. Sempre em guarda, sempre sob controle”.
A jovem e o presidente terminaram em maio de 1985. O autor do livro conta que até ofereceu o diário de Genevieve a Obama, mas o presidente recusou a ideia, por falta de tempo graças à campanha política e à viagem ao Afeganistão. Mas que se interessou por ela: “O que ela tem feito atualmente?”, “Como ela está?”, perguntou.
Em Barack Obama: The Story, o autor revela ainda que Genevieve é a famosa mulher que o presidente descreve em seu livro Sonhos do meu pai — embora o presidente tenha escrito, na introdução, que a mulher do livro é a soma de várias, e não uma específica. O resto da história, só quando o livro chegar às livrarias. O sucesso de público da vida pessoal do presidente já está mais que garantido.
Da Agência O Globo