Mostrando postagens com marcador Ivan Martins. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ivan Martins. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 20 de março de 2012

Gente pelada não é crime - ÉPOCA | Ivan Martins


Gente pelada não é crime

Mas cuidado, o Mark Zuckerberg acha que é...


IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)
Não sei quando isso começou, mas eu soube esta semana que o Facebook está bloqueando as contas de quem tenha fotos de gente pelada, sejam elas artísticas, familiares ou de qualquer outra natureza.
As vítimas dessa ação de censura recebem um comunicado informando que o Facebook tem “uma política rígida contra o compartilhamento de conteúdo pornográfico e impõe limitações à exibição de nudez”. Fica a impressão, pela frase, que Mark Zuckerberg e seus funcionários acham que nudez e pornografia são coisas parecidas. Alguém tem de explicar a eles que não são. 
Na verdade, é uma desgraça que ainda tenhamos que discutir esse tipo de assunto. A esta altura do século 21, deveríamos estar livres da ideia de que o corpo humano é uma coisa pecaminosa ou ofensiva, cuja visão deve ser proibida. Esse é um tabu tão antiquado, tão desprovido de utilidade ética, que custa acreditar que ainda seja defendido e praticado – muito menos imposto a gente adulta como proibição.
Quem cresceu nos anos 1970, como eu, carrega a impressão irremovível de que o avanço civilizatório é medido, entre outras coisas, pela liberdade de exibir o corpo humano. Quanto mais retrógrada a cultura, quanto mais opressivo o regime, quanto mais ignorante o sujeito, maior a preocupação em impedir a visão de peitos, bundas e pintos – ao vivo ou de qualquer outra forma.
Li outro dia o romance de uma escritora colombiana (Heróis Demais, da Laura Restrepo), em que há uma passagem reveladora sobre a sanguinária e carola ditadura argentina. Uma moça caminha pelas ruas de Buenos Aires no verão, com uma saia semitransparente, e é parada aos berros por um sujeito qualquer. Um fascista, claro. Ele a chama de prostituta e diz a ela que vá “receber seus clientes em casa”, em vez de ficar se exibindo. A moça sobe no ônibus chorando.
O contrário disso é a Europa, onde as pessoas lidam com a nudez de forma natural. Na primeira vez que eu estive na Alemanha, acho que foi em 1986, fui passear na beira de um rio em Munique e vi que estava todo mundo pelado, aproveitando o sol de verão. No sul de Portugal e da Espanha, onde os europeus do Norte vão pegar praia, acontece a mesma coisa: eles tiram a roupa com a maior naturalidade. Jovens e velhos. Também são capazes de sentar juntos numa sauna, homens e mulheres, porque não se ofendem com a visão do corpo do outro – e nem a consideram um convite automático para fazer sexo.
No planeta Zuckerberg, acontecem as duas confusões: há pessoas que se ofendem com a nudez dos outros e há os que consideram (talvez sejam os mesmos) que mostrar o corpo é o mesmo que convidar para transar. Por isso a nudez no Facebook vira crime e tem de ser proibida. É um caso clássico em que a pornografia está nos olhos e na mente de quem vê.
Nós sabemos exatamente como é isso no Brasil.
Os trogloditas que ofendem as meninas nos ônibus de São Paulo, por estarem com saias (que eles acham) curtas, também acreditam que mulher com as pernas de fora está querendo sexo. Como eles se excitam e talvez se ofendam com isso, agridem. Não passa pela cabeça desses homens instruídos e inteligentes que a piriguete pode estar apenas querendo se sentir bonita – e que isso é um direito dela.
Nas praias do Rio de Janeiro, quando os garotões atacam as meninas que fazem top less, praticam o mesmo moralismo explícito: se está com o peito de fora, é vagabunda, então eu posso tratar da forma que quiser, inclusive xingando e atirando areia. Eu, francamente, não consigo imaginar como alguém se acha no direito de praticar uma violência dessas. Se o sujeito está tão transtornado pela visão de um par de seios que precisa tomar alguma providência, se atire na água fria ou vista a bermuda e vá embora. Impor ao outro os seus imperativos morais ou o seu desconforto sexual não deveria ser uma opção. Mas é.
Vale o mesmo para o Facebook. A sede da empresa está instalada num país que trata esquizofrenicamente com as liberdades pessoais. Há lugares como Nova York ou Los Angeles onde tudo é permitido. Há outros lugares, dominados por religiosos, onde não se pode nada, nem usar biquíni na piscina. Parece que Zuckerberg resolveu atender prioritariamente ao grande sertão da Idade Média – e censurar todos os demais.
É uma pena que nós, que nada temos a ver com isso, tenhamos que sofrer as consequências das guerras culturais americanas. A política antidrogas converteu-se num banho de sangue sem vencedores em larga medida porque “proibição & repressão” é o modo como os religiosos americanos lidam com a questão desde os anos 1920 - e os Estados Unidos são o pais mais influente do mundo. Agora a sua influência se faz sentir, esquizofrenicamente, na internet.
Com dois comandos no teclado, qualquer pessoa, adulta ou não, pode ter acesso a rios de pornografia barra pesada, boa parte dela em inglês, produzida nos Estados Unidos. Mas, se a mesma pessoa postar um nu artístico ou pessoal na sua página privada do Facebook, corre o risco de ter sua conta invadida, censurada e até tirada do ar definitivamente. Eu não entendo isso - e suspeito que o Mark Zuckerberg não seria capaz de explicar. 


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Por favor, me surpreenda! - ÉPOCA | Ivan Martins


IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)
Add caption

Por que as mulheres abominam a rotina?

Tenho uma confissão a fazer: não gosto de surpresas. Sei que muita gente acha isso essencial ao convívio, mas não é meu caso. Toda vez que alguém anuncia que tem uma surpresa, eu sofro. Deve ser trauma, pode ser culpa, mas talvez seja bom senso.
Lembro de uma amiga, psicóloga, que me contou sobre um paciente dela. O sujeito vivia se queixando de que o sexo com a mulher dele era chato e previsível. Pois um dia, depois de muito reclamar, ele chegou em casa e a mulher, normalmente passiva, o esperava na cozinha de sandália alta e trajes menores, e se atirou sobre ele. O cara levou um susto enorme, seus membros inferiores encolheram, (como ocorre com os homens assustados) e ele retornou à analista, no dia seguinte, dizendo que queria a mulher dele de volta – aquela tímida e previsível, como ele gostava.
Podem rir, mas essas coisas acontecem o tempo todo.
Um amigo me contou sobre a namorada que um dia foi apanhá-lo no trabalho com uma peruca loira, tipo Marilyn Monroe. Ele demorou a reconhecê-la e, mesmo depois de perceber quem era, entrou no carro incomodado, sentindo-se desconfortável. “Não era a minha garota”, ele me disse. Claro que não era. Ela estava fantasiada para realizar uma fantasia, mas tinha se esquecido de combinar com ele. O cara detestou, ela ficou desapontada com a falta de imaginação e receptividade dele, e o namoro começou a fazer água bem ali. Bela surpresa.
A favor do meu ponto de vista, nem vou invocar aquela máxima cínica (e certeira) que recomenda não chegar de viagem sem avisar a parceira (ou parceiro). O gesto romântico de surpreender a namorada um dia antes do previsto já causou muita separação – sem falar em violência e crime.
Com o risco de ser sexista, acho que talvez exista uma diferença na forma como homens e mulheres vêem essas coisas. Tenho a impressão de que na mente das mulheres as palavras surpresa e erotismo andam enlaçadas. O homem perfeito, a melhor transa, o romance inesquecível – tudo isso parece estar associado ao inesperado. Enquanto os homens abraçam os hábitos com a felicidade de quem veste uma calça velha, as mulheres se inquietam com a repetição. Parecem precisar do estímulo da novidade, ainda que seja uma mera encenação – como a moça de peruca no carro do amigo. Por alguma razão que a vasta maioria dos homens desconhece, mulheres exigem a ruptura da rotina para terem paz. Olham para a sua cara na tarde de sábado como quem pergunta: “e aí, não vai fazer nada heróico, espetacular ou incrivelmente sedutor para mostrar que me ama”? A Emma Bovary que há em cada uma delas exige novidades.
Isso tudo, evidentemente, no terreno afetivo. Quando se trata do dia-a-dia, a tendência das mulheres é ficar brava se você atrasa, não telefona, não faz, não paga, não vai. A imprevisibilidade (alguém já disse?) é a virtude dos amantes. Dos maridos e namorados espera-se o cumprimento atencioso da lei e a manutenção pacífica da ordem – no horário de serviço. Depois, seria de se esperar que o esforçado provedor virasse um Don Juan intrépido, capaz de escalar a sacada com um maço de flores e disposição infatigável (e ademais, poética) para os embates do amor. 
leia mais >>>>>


http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ivan-martins/noticia/2012/01/por-favor-me-surpreenda.html
Por favor, me surpreenda! - ÉPOCA | Ivan Martins

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O que eu quero de você... / Ivan Martins

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ivan-martins/noticia/2012/01/o-que-eu-quero-de-voce.html

O que eu quero de você

IVAN MARTINS

Uma lista de desejos para quem não tem medo de correr riscos
Muito tempo atrás, quando o réveillon se aproximava, uma pessoa querida me perguntou o que eu esperava dela no ano que iria começar. Eu disse que não sabia, e era verdade. É verdade, também, que, desde então, eu aprendi alguma coisa. Percebi, com algum arrependimento, que havia, sim, coisas que eu deveria ter dito e que talvez tivessem nos ajudado. Mas tive preguiça, ou não tive coragem, e deixei a oportunidade passar. Hoje, acho que as coisas que eu não disse são importantes, e talvez não apenas para mim. Publico, portanto, a minha lista atrasada de desejos, escrita com a maior franqueza possível, esperando que ela sejútil para outros homens – e outras mulheres também:
A primeira coisa que eu desejo é que você continue sendo como é.
Parece bobagem, mas, à medida que as relações avançam, as pessoas se transformam. Elas vão se acomodando em papéis que substituem a personalidade complexa e rica que costumavam exibir no início do namoro - e que continuam a ter fora do casal. Eu estou falando, por exemplo, da garota que banca a menininha, enquanto o cara assume o papel de papai. Ou da mulher que passa a agir como mãe (carinhosa ou rabugenta), enquanto o namorado ou marido faz papel de filho. Penso na garota que começa a tratar o parceiro como o bobinho querido que não faz nada direito ou, do contrário, passa a venerá-lo como se ele fosse incapaz de errar. Penso no cara que se acomoda ao ciúme da mulher (ou vice-versa), e passa a viver como se a desconfiança doentia fosse uma parte natural da vida.>>>>>Leia mais no link>>>>
http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ivan-martins/noticia/2012/01/o-que-eu-quero-de-voce.html