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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O PT morreu de Petismo... / Valentina de Botas



Valentina de Botas  

O PT morreu de petismo

Está de parabéns o Brasil que presta por ter deposto um governo tão brutalmente delinquente quanto incompetente

Gostaria de agradecer pela companhia de mais um ano, dizer que torço para que tenhamos fé, coragem e alegria (há de haver muitas e haveremos de as reconhecer) para enfrentar o que virá, que está de parabéns o Brasil que presta por ter deposto um governo tão brutalmente delinquente quanto incompetente. O país não teve medo de aplicar a lei. Basta somente isto: aplicar a lei, um hábito ainda não sedimentado no país que prefere criar leis cada vez mais duras para não aplicar nem as novas nem as já existentes, enquanto no mundo fora do nosso tristonho realismo fantástico é sabido que é a certeza do castigo, mais do que a dureza dele, o que inibe o crime em qualquer circunstância.
O acordo da Brasken com os procuradores americanos informa que Emílio Odebrecht era o presidente da república; depusemos Dilma, mas é preciso também depor o Empreiteiro da República implodindo um sistema aberto a toda sorte de canalhices contra a nação. Se Lula será preso ou não em 2017, eu não sei, o que sei é que é uma canseira essa história de uma denúncia por semana sem concluir a coisa. Isso está pior do que sexo tântrico. Sei também que Emílio Odebrecht era o chefe do jeca. E continuou sendo mesmo quando terminou o governo Lula e este continuou sendo regiamente remunerado pelo dono da Odebrecht com a grana roubada da Petrobras em conluio com o alto escalão do governo. A pilhagem financiou também uma escória internacional de protoditadores e tiranos, além de enriquecer canalhas domésticos. A tudo, o suor dos brasileiros pagava.
Não é de hoje que as empreiteiras determinam as prioridades da nação, um dos tantos exemplos é o fato de as rodovias se sobreporem ao uso de ferrovias, quando estas representam uma opção mais racional num país com a extensão do nosso. A corrupção também não é exatamente uma novidade entre nós, mas o esquema que o PT erigiu sobre tal base primitiva, gerenciou, disseminou e perpetuou para ele próprio se perpetuar no poder na perpetuação do próprio esquema, enclausurando o país no primitivismo sem o qual a ciranda anticivilizatória não vingaria, é de natureza inédita e a isso precisamos estar atentos para não igualarmos ladrões e roubos que se igualam perante a lei, pois, se todos devem pagar por suas delinquências ‒ e todos devem pagar por suas delinquências ‒, o PT traduz uma delinquência que ultrapassa o roubo.
O motor do PT é do crime organizado que emprega até os filhos, as mulheres e demais parentes na estrutura do crime. Quando me desfilei do PT, aos 20 anos de idade, saí desconfiada de que a pátria dos petistas não era o Brasil, mas o petismo. Depois que a súcia assumiu a presidência roubando como nunca para reinar para sempre, na cópula incessante com a escória doméstica e a internacional e asfixiando a democracia brasileira desde a clivagem vigarista de “nós x eles” e a aposta na radicalização do debate que repudiava o convívio dos contrários travestida de defesa dos-mais-pobres-e-resistência-azelite, até a compra de Medidas Provisórias, o aluguel de jornalistas e o financiamento do capital jornalístico de uma revista inteira sempre imparcial na resoluta defesa do petismo, até pensei que a pátria do bando fosse o mais degenerado dos populismos ‒ degenerado em roubalheira, em atraso ideológico, em embotamento do pensamento, em jequice. Mas a pátria dessa escumalha, que só floresce e vinga no primitivismo que deforma instituições e estupidifica indivíduos quando não compra ou aluga a consciência deles, é a tirania, ou seja, era mesmo o petismo: minha intuição juvenil foi certeira.
Claro que o PT não é o único que rouba, o que torna o partido único nem é o montante colossal e inédito, mas o objetivo do roubo e a natureza do assalto: um o esbulho que visa a própria organização do estado de direito. Mas se a súcia destruiu o país, os escombros a soterraram: o PT morreu de petismo, falta o camburão do FBI ou da PF recolher o cadáver. Pesquisas randômicas que apresentam meio mundo como candidato não o ressuscitarão. Institutos de pesquisas eleitorais, que há muito tempo não compreendem o país, darem o jeca como eleito num cenário em que disputa com Sérgio Moro que, sabem até as araucárias do teatro Guaíra naquela região agrícola do país, não é candidato a nada, servem à tese inconstitucional de antecipação das eleições, da tal campanha vintage por diretas-já; mais já do que diretas antes que o jeca tome posse de uma cela em Curitiba. Os obstáculos legais transformam a coisa num debate inútil, diversionista, de muito calor e pouca luz e a permanente campanha eleitoral de Lula é somente uma nova modalidade de tentar obstruir a justiça como foi a nomeação dele como ministro, cometida por Dilma Rousseff.
Muitos se perguntam a diferença entre o governo Temer e o dos petistas e até já há comparação igualando o PIB sob o governo atual e o de Dilma sem a ressalva de que aquele durou 6 anos e este não completou 8 meses desde o impeachment. Acho que há muitas diferenças e algumas semelhanças indesejáveis; o saldo, positivo na minha opinião, é apurado por uma constatação básica: a presidência da república não é mais ocupada por alguém que acua o país, mas que o governa. Ainda que não seja o bastante, isso é fundamental.
Restam a missão duríssima de reconstruir o país e, missão ainda mais difícil, a de aprender. Aprender que é a sociedade que custeia as aposentadorias vitalícias e integrais de senadores e suplentes (geralmente, os financiadores do titular) que a elas fazem jus com apenas 180 dias de trabalho; que é o suor dos brasileiros que paga auxílio-moradia de juízes que trabalham onde moram; que é a nossa grana que sustenta as 43 estatais criadas na gestão petista; e que a nação assim esbulhada desfruta dos piores serviços públicos entre os países emergentes. Aprender que o papel do governante não é o de pai nem mãe, de nos fazer felizes e nem de nos salvar de perigos inventados para camuflar problemas reais, mas o de ser eficiente, não atrapalhar a vida de quem produz, deseja inovar, empreender e crescer.
O ano de 2016 acaba deixando exausto o país que presta numa luta que ainda não acabou e, ainda que nos sintamos com o coração como um espantalho num campo de trigo à espera dos pássaros que tardam, fizemos tudo certo. Será que adiantou? Não sei ainda, mas não tenho dúvida de que já valeu a pena.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

"Os brasileiros radicais flertam com a morte do senso interno de liberdade" / Valentina de Botas

Valentina de Botas: Os brasileiros radicais flertam com a morte do senso interno de liberdade

Por: Augusto Nunes  
“Canalha, mídia golpista, vocês vão se f* porque o povo não é bobo e ninguém cai mais nessa conversa de uma elite fascistoide, chora direitinha!!!!!! Chupaaaaa!!!! A casa grande surta quando a senzala anda de avião!!!!!!”. Comentário modelo de devotos da súcia petista quando Dilma se reelegeu.
“Canalha, mídia golpista, vocês vão se f* porque o povo não é bobo e os comunistazinhos escrotos disfarçados de jornalistas foram desmascarados. Trump é a vitória da direita contra a tramoia do jornalixo!!!! Chora esquerdalha!!!!! Chupa!!!!!”Comentário modelo de admiradores brasileiros de Donald Trump nas redes sociais a artigos do Augusto Nunes, meu e do Oliver sobre a vitória do americano.
Desculpe-me o eventual leitor deste texto, desculpem-me as famílias brasileiras nos lares das quais este texto eventualmente for lido, mas os dois modelos são um extrato real do mundo-cão virtual. Atenção, não me refiro aos moderados na expressão da preferência por Trump, me refiro apenas aos radicais; gente que despeja no teclado a própria infelicidade ou a felicidade deformada. Quando afirmei aqui que os dois bandos radicais se igualam, considerava o comportamento de manada, a obtusidade, o ódio à divergência tratada como imperdoável ofensa pessoal. Mas são idênticos também na linguagem e no estilo descritivo-narrativo. Além disso, ambos veem conspiração no sibilo do vento e atrelam a perfeição de seus ídolos à imperfeição dos que não os reconhecem como perfeitos. O pensamento é meio circular, mas não há o que fazer com essa lógica.
Assim, o bando radical esquerdista que vê golpe no impeachment e conspiração na Lava Jato para impedir que Lula se candidate à derrota em 2018, acha o caudilho tão superior que sequer ele deveria ser submetido às leis. O bando radical de direita, que vê em Trump a direita que ele não é, acha o americano tão poderoso que, por uma alquimia de que só ele é capaz, o jornalista que, um texto antes, era acusado de golpista e reacionário pelo primeiro bando, no texto seguinte é declarado pelo segundo bando um comunista que tramou a derrota do candidato dos red necks. Claro que a imprensa, sobretudo a americana, errou, mas ainda que Trump fosse o que seus adoradores acham que ele é, restaria a qualquer pessoa o direito de achar que ele não é e isso não a transformar numa caça.
Borges conta no miniconto “Diálogo sobre un diálogo” que naquela noite enquanto o grande Macedonio Fernández lhe explicava a tese de que a alma é imortal e que a morte é o feito mais nulo que pode suceder a um homem, ele brincava com uma navalha do amigo, abrindo-a e fechando-a. Mas um acordeom no vizinho insistia em tocar a “Cumparsita”, perturbando a conversa. Borges propôs ao amigo que se suicidassem para conversarem em paz. O radicalismo é o modo mais eficaz de destruir aquilo por que se luta, a eleição foi nos Estados Unidos – onde ninguém se xingaria por causa das eleições presidenciais daqui, francamente – e não precisávamos importar essa questão para reaquecer ódios nutridos por liberticidas depois de os democratas, e não os radicais (como os defensores de intervenção militar), obtermos o impeachment de Dilma Rousseff e surrarmos as esquerdas nas eleições municipais escolhendo também moderados.
Os brasileiros radicais flertam com a morte do senso interno – o mais importante – de liberdade, num suicídio (simbólico!) inútil resultante do gozo em manada no ódio que os anima e que só enxergam no outro, atestando a deformação de se assemelhar àquilo que combatem. Borges encerra o miniconto: francamente, não me lembro se nos suicidamos naquela noite.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

"As eleições provaram que o Brasil quer se arejar " // Valenitina de Botas

Valentina de Botas: 

Como cerzir um país?

As eleições provaram que o Brasil quer se arejar 

Por: Augusto Nunes  
Tenho parentes que trabalham na rede municipal de ensino de São Paulo que me contam que a administração do PT questiona a separação dos banheiros entre meninos e meninas nas escolas públicas da cidade. Uma divisão que, no mundo cretino dessa gente, direciona a sexualidade das crianças – dos meninos para serem meninos, e das meninas para serem meninas. Outra das brutalidades burguesas, patriarcais, capitalistas, blablabla. O fim absurdo da separação é apoiada por grande parte dos professores e por toda a burocracia da Secretaria Municipal de viés ainda mais à esquerda do PT.
São Paulo tem 466 anos, Fernando Haddad, o poste que Lula conseguiu instalar em São Paulo com financiamento do Petrolão segundo a Lava Jato, degradou a cidade por 4 anos, com a mais brutal má gestão e equívocos celebrados pelo eixo PUC-USP-Vila Madalena e adjacências socioideológicas. Mas o que são 4 anos em 466? Muita coisa, pois não moramos num país, mas numa cidade. É onde se opera o cotidiano, onde tudo se particulariza e se encontra. É nela que nossos filhos começam a frequentar a escola e fazem os primeiros amigos, é nela que vamos ao cinema, ao restaurante preferido, àquela mostra de brinquedos antigos, ao mecânico de confiança. Ficam na cidade aquele prédio histórico, aquele parque com uma espécie rara de flor, o bar da moda e aquela livraria charmosa que queremos mostrar a amigos e parentes vindos de fora para nos visitar: a cidade é real como o “imaginário daquilo que imaginamos que somos”; o país é quase abstração; e, se ambos se transformam no tempo como tudo o mais, é na cidade que o tempo se revela a cada instante.
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Desafio os artistas; os humoristas-a-favor de ladrão; as castas privilegiadas e ideologicamente dogmáticas encasteladas nas universidades e protegidas da crise por integrarem os grupos privilegiados do funcionalismo público do Estado patrimonial; os descolados-tipo-bacanas que ainda acham chique ser de esquerda, enfim, desafio toda essa gente que ainda cacareja o “fora, Temer” a encontrar apenas um pai e uma mãe com filhos até 14 anos (para ficar no limite de idade da alçada da prefeitura), habitantes do mundo exterior ao da pose-tipo-assim-descolada-esquerda-chique, favoráveis ao fim da separação dos banheiros nas escolas públicas.
Não só a Lava Jato e a crise econômica inédita levaram o eleitor a praticamente abolir o PT das prefeituras do país nestas eleições inesquecíveis de 2016 que o partido desejará esquecer, mas sobretudo o fato de a súcia e simpatizantes desconhecerem o país e insistirem em ignorar as necessidades desesperadoras dele para ver nele bandeiras que ainda lhe são estranhas, enquanto também desconhecem a gente de carne, osso, costumes e valores próprios que o habita além das envelhecidas cercas ideológicas e dos manuais vigaristas e embolorados. Entre as prioridades da educação brasileira – em qualquer nível – não está o uso do banheiro das meninas pelos meninos e vice-versa, e forçar a questão a ser uma questão dá a medida do autoritarismo do PT e do desprezo que o partido tem por nossos interesses legítimos e nossos problemas reais que deseja substituir pela própria agenda.
Entre outras considerações aparentemente sensatas, todos os analistas estão dizendo que Alckmin é o grande vencedor destas eleições e que se habilita para disputar a presidência em 2018, que ACM Neto será o próximo governador da Bahia e que o PT é o grande pequeno derrotado. Mas eu diria que perdeu o PT, digamos, expandido, aquele que aglutina os blocos do “fora, Temer” e que acusam o impeachment de tropeço da democracia brasileira – esta mesma que conseguiu ficar de pé apesar de o ministro Ricardo Lewandoski ter chutado seu pilar, a Constituição, na presidência do julgamento que a protegeu, ao contrário do que ele diz.
Perdeu estas eleições quem olha para o Brasil de 2016 que anseia pelo futuro e vê um país coagulado no mundo extinto da guerra fria e da ditadura militar. A nação quer se arejar, a população mostrou isso hoje ao repelir o PT da gestão de onde a vida acontece – as cidades. Quando sai derrotado das eleições um partido que não a percebe como ela é, o grande vencedor é ela. Como cerzir um país? Não sei ao certo, mas desconfio que só é possível começar quando ele se livra daquilo que o impedia de começar.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

" “quando as ideologias ficam bem velhinhas, elas vêm morar no Brasil”. Millôr Fernandes by Valentina de Botas



Valentina de Botas: Millôr Fernandes tinha razão

A Paulista vermelhinha confirmou o que disse o grande pensador: quando as ideologias ficam bem velhinhas, elas vêm morar no Brasil

Por: Augusto Nunes  

Neste domingo, na Paulista toda vermelhinha em que as bandeiras da CUT, do MST (como esses caras ficaram pelo menos 13 anos no poder e continuam sem terra?) e de outras siglas vigaristas substituem a bandeira do Brasil, o “Fora, Temer” pede a prisão do juiz Sérgio Moro, nada menos: coerência é isso aí, no faroeste esquerzoide, como diz o Augusto Nunes, o bandido prende o xerife.
Aliás, por falar em coerência, o Papa Francisco, que foi à Cuba tirânica e à Bolívia de Morales e cuja conversão ao Cristianismo ainda é esperada, não vem ao Brasil atendendo ao pedido da petista CNBB e certamente por intervenção de nossa senhora de forma geral, a santa de devoção eleitoreira da ex-presidente.
Democracias como Venezuela e Bolívia contam com a adesão da Igreja homófoba-patriarcal-machista à tese do golpe imaginário e hão de atrair a Coreia do Norte para lutar pela liberdade ao totalitarismo. Millôr Fernandes tinha razão, “quando as ideologias ficam bem velhinhas, elas vêm morar no Brasil”.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

"O que a Constituição une, o Senado não pode separar." / Valentina de Botas


Valentina de Botas: Impeachment: o Brasil que fez! E o Senado deformou

A manobra espúria garantiu a Dilma o direito de exercer cargos públicos



Por: Augusto Nunes  

Resultado de imagem para foto do senado federal





O que a Constituição une, o Senado não pode separar. Mas separou pena e sentença: é o saco de gatunos do PMDB em ação. Contudo, o que fica de essencial é que Dilma Rousseff vai, que o Brasil falará de si, mudaremos de assunto finalmente. Há menos de dois anos, Dilma se reelegia como poste que seria ponte para o Lula de 2018 e a resistência se abatia com a derrota de Aécio Neves por tão poucos votos e por tanta roubalheira. A Lava Jato, a pressão das ruas e a crise econômica frustraram o pesadelo hegemônico. Me parece que a soma das crises – política, econômica e ética – revelou um país novo que esboça a urgente mudança de crenças e valores dos brasileiros quanto ao papel do Estado e da sociedade, provou o quão nefasta pode ser a tutela e a intermediação do Estado em relações privadas e confirmou a vocação totalitária do PT e adjacências.


Petistas, congêneres e defensores insistem na mentira de que o governo Temer é ilegítimo, mas não disseram o mesmo sobre Itamar Franco, que assumiu depois da destituição de Collor. Sentiram-se vingados porque haviam perdido a eleição para o marajá caçador de marajás. O esquerdismo, na sua versão ressentida, expõe uma especialidade da idiotia latino-americana que culminou no bolivarianismo: o personalismo na política. Então, tudo é transformado em questões pessoais; é assim, por exemplo, que Lula toma como ofensa pessoal a dupla vitória de FHC sobre ele nas eleições presidenciais de 1994 e 1998. No Brasil, esse personalismo apresentou outra degeneração no oportunista populismo de gênero, com a ascensão de Dilma Rousseff. Com um carisma artificial, a ex-presidente forjou certo dilmismo e grassaram entre nós o getulismo, o lulismo, o malufismo e até o marinismo.



Não gosto de governantes carismáticos e não gosto de nenhuma dessas figuras que batizam ismos. Desconfio quando o carisma parece ser sua única ou a mais alta qualidade, quando tudo o mais que possam fazer ou dizer se sustenta neste tal appeal. Gosto de Serra, Merkel, Anastasia, Uribe e FHC. Evidentemente, a inteligência e os bons modos democráticos do sedutor FHC o tornam um político carismático, mas o sóbrio carisma dele só é uma qualidade porque há as demais que a ele se somam e até o suplantam. Nos demais políticos carismáticos, como também na espertalhona Marina Silva, por exemplo – que se pronunciou a favor do impeachment ao mesmo tempo em que o senador Randolfe Rodrigues, o único que representa a Rede, votou contra, – com ares de mandona, a prolixidade de quem não tem o que dizer e o despiste sempre que interpelada com firmeza, o carisma é o diluidor da figura institucional do governante para robustecer a persona dele.

O nefando personalismo na recente política brasileira pariu um jeca que precisou de quase 40 anos de vigarice para instaurar o lulismo; uma parvoíce que em apenas 6 anos nomeia como dilmismo uma vertente da escória; e uma Marina que só precisou de duas campanhas para fazer florescer o marinismo. Sempre usando os pobres como álibi moral, escudo contra a lei e anteparo de críticas, é somente no culto secular a figuras antidemocráticas e medíocres, que os esquerzoides podem ainda defender o capitalismo estatista, o coitadismo, os fins justificando quaisquer meios, a vigarice intelectual para fraudar a história e convencer quem pensa pouco de que nos salvarão da direita má que quer exterminar direitos, do imperialismo americano que espreita nossas riquezas e da elite perversa que só quer, bem, continuar sendo elite perversa.


Me parece que esse personalismo, à parte demais deformações, nutre a permanente atitude belicosa de Dilma Rousseff que se vai prometendo guerra. Sabemos que para essa gente qualquer arma vale, mas não seria hora finalmente de pensar no país? De se dar conta de que o combate não prejudica Temer – que, de resto, nada fez contra ela –, mas o país? Não, a coisa é pessoal. Para escapar da merecida cadeia, talvez a mulherzinha se homizie em algum cargo de administrações petistas que lhe garanta foro especial, já que nesse “impeachment de coalização”, segundo uma definição perfeita que li em algum lugar, ela contou com a manobra espúria que lhe garantiu o direito de exercer cargos públicos.


Dilma deixa algumas lembrancinhas como as contas arruinadas, um país a ser reconstruído, o futuro adiado e a mais importante de todas: PT e congêneres nunca mais. Finalmente, passaremos a falar do futuro que temos para hoje: reforma, reforma e reforma – é isso o que nos colocará no século 21. Reforma, sobretudo, de mentalidade. Parabéns, ao Brasil que foi às ruas (nos domingos, sem depredar nada nem atrapalhar o cotidiano) esfregar na cara dos caras que essa primeira mudança já raiou no horizonte. O impeachment, esse lindo, é só o começo, mas o começo é por onde as coisas começam mesmo.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Quando a verdade é afastada da conversa... / Valentina de Botas



Valentina de Botas: A moralização segundo a GH do Petrolão

A contínua defesa do indefensável por meios vis faz o sofrimento ensaiado dessa Gleisi Hoffmann reafirmar a substância autoritária da súcia lulopetista e respectivos discípulos

Por: Augusto Nunes  

Quando Gleisi Hoffmann questionou a moral do Senado para julgar Dilma Rousseff e admitiu que é investigada, me lembrei de que, no organograma da operação Custo Brasil deflagrada pela Polícia Federal, a senadora acusada de receber 1 milhão de reais em propina do petrolão é designada pelas inicias GH. Então, pensei na mulher que ousou desequilibrar-se de si e experimentou a massa repugnante expulsa da barata espremida na porta do armário do quarto da empregada e, então, saber de si. Atenção, o si não é eu: eu é somente – sem ser pouco – a moldura limitante do si.
Frequentemente, nos livros de Clarice Lispector, o banal deflagra acontecimentos internos que transformam as personagens que se (re)descobrem. Em “A paixão segundo GH”, tudo se dá quando ela entra no quarto da empregada depois de seis meses que esta se demitira. A incursão desconcertante pela linguagem simultânea à incursão pelo apartamento, até silenciar pensamento e código plasmados no eu como invólucro do qual o ser se liberta, culmina no nauseante ato finalmente indizível para que o ser seja.
Não bastava excluir as palavras e sepultá-las no silêncio sobretudo porque o silêncio cava palavras, portanto era necessário suspender o fluxo da linguagem/pensamento naquela ação nojenta e desestabilizadora. Essa refundação do ser no desfazimento da linguagem continua no livro “Água viva” publicado em 1973, nove anos depois de “A paixão…”, assim:  “(…) atrás do pensamento não há palavras: é-se, nesse terreno do é-se, sou puro êxtase cristalino; é-se, sou-me, tu te és”.
Mas não tente fazer isso em casa, por favor. Se você está mais ou menos organizado, quase resolvido, confortável com um mínimo de bagunça que a cabeça da gente precisa para funcionar (a minha, ao menos), então relaxe, aceite, agradeça reverente e aproveite a dádiva das inquietudes. Nada desse exibicionismo moderninho de sair da zona de conforto, a não ser que ela incomode como incomodava GH com toda aquela comodidade de uma vida que a impedia de se sentir viva. Do contrário, fique onde está, pois só você sabe o quanto andou até chegar aí.
Em GH, a tradução da angústia em náusea num trajeto fundindo alma e corpo, ou seja, o sofrimento de se desmanchar, refazer-se e descobrir-se no que se é revela-se como paixão em alusão ao martírio de Cristo como ato de amor em que o divino se revela – amor pela vida/existência, reconhecendo-a como Graça concedida ao inumano (a barata) e ao humano que talvez sejam ou participem de uma coisa só: o divino feito real num quartinho dos fundos.
Imaginei que no intervalo entre a fala da senadora e o nariz arrebitado a níveis estonteantes da canastrice para o documentário ficcional que os defensores de Dilma encenam, a GH do Petrolão teria a coragem de se transformar no que é, admitindo o que fez. Achei que, num impulso a que o sofrimento ou o amor impelem, ela reconheceria o lulopetismo como barata finalmente esmagada pelas leis e por um país enojado, com as antenas movidas ao ritmo agônico do fim, com a massa nojenta exposta que a senadora deglutiria reacomodando as próprias vísceras e libertando-se na epifania do invólucro vigarista rompido.
Não, mas, de certa forma, sim: a contínua defesa do indefensável por meios vis no vil espetáculo no Senado faz o sofrimento ensaiado dessa GH reafirmar a substância autoritária da súcia lulopetista e respectivos discípulos que jamais reconhecerão a legitimidade de nenhum juiz, instituição ou lei para os julgar. Como se, na sustentação do embuste, GH reafirmasse a porcaria que ela e o que defende compõem: um embuste.
Moral do Senado para julgar? Ora, para GH, moralização é subordinar as leis do país às do bioma lulopetista. Como no pensamento mágico, em que as palavras são mais potentes do que apenas substituir a coisa que nomeiam no discurso e passam a ser a própria coisa esgotando a realidade porque se transfiguram nela, numa prestidigitação em que a palavra “cachorro” morde, Dilma é honesta porque assim ela se diz e Lula é a alma mais honesta deste país porque assim ele se declara: se os lulopetistas dizem, assim é, não importa o que estabeleçam todas as leis.
Mas a palavra, coitadinha, não diz nada, quem diz é o acordo tácito entre quem fala e quem ouve. Na vida que temos para tocar, essa potência termina logo aqui, no discurso – o terreno onde a palavra deita e rola, faz e acontece. Então, assim como viver é melhor do que sonhar, pois, como disse Woddy Allen, sonhar é essencial e bom, mas é na vida vivida que se pode comer aquele bife, é lastimável que tanta potencialidade se esgote no discurso: falar que fará não é fazer, falar o que se é não é ser. Em pessoas de bem, isso pode ser só triste hesitação ou autoengano; nas farsantes, é só farsa mesmo.
A farsa lulopetista é, portanto, a expressão da incompatibilidade com o Estado de Direito Democrático porque o pior fenômeno da história da política brasileira é impermeável às leis, por isso a GH do petrolão grita, com seu sal insípido, a antonímia à civilização.
Não pretendi aproximar a magnífica Clarice Lispector da crônica de vida e morte do lulopetismo, os paralelos imperfeitos que tracei apenas forneceram a profilaxia de que preciso quando falo da súcia que ainda se impõe como tema. Penso que a vida é Graça, sim; é imensa; com assuntos infinitos e a política, pelo menos essa coisa abjeta em que ela se tornou sob o lulopetismo, nem é o meu preferido; e mesmo que por algum milagre todos os meus defeitos fossem eliminados, eu ainda seria esta mulher imperfeita que vê até no catastrófico lulopetismo coisas positivas para o Brasil, como a extinção do jeca soteriológico e a desmoralização da estúpida concepção esquerzoide de Estado viabilizada no gangsterismo de Estado.
Nas próximas horas, ainda seremos submetidos à grotesca encenação de Dilma Rousseff no Senado, esfregando na nossa cara que rouba até o protagonismo de um sofrimento que é todo do Brasil. Mas, em seguida, com uma pá de lixo de cabo bem comprido, recolheremos essa barata ao lixo e a cada dia, enquanto cerzirmos o país, ela sumirá mais um pouco das nossas falas, do nosso pensamento e das nossas vidas.

domingo, 21 de agosto de 2016

"Um linguista que preste está consciente de que é preciso tirar as palavras dessa assepsia (dicionário) e sujá-las com o humano, deixando-as livres na língua para, só então, avaliar a adequação e inadequação delas..."


Valentina de Botas: Negligente com a 

língua e o país, Dilma Rousseff inaugurou o 

populismo de gênero

A essa farsante, não basta ser presidente, isso qualquer uma pode ser: ela é 'presidenta”

Por: Augusto Nunes  

Língua é mais do que dicionário e, ao contrário do que diz o senso comum, ele é submetido por ela. Não sou linguista como o leitor que veio ensinar o saber infértil dele, sou somente formada em Linguística, o que não é suficiente para me fazer linguista. Mas me lembro das aulas de Lexicografia e Lexicologia, na USP, em que a grande e querida mestra Maria Aparecida Barbosa esclarecia que os lexicógrafos coletam na fala viva, aquela em uso, o conjunto lexicológico que povoa o dicionário.
A lexicografia, belíssima ciência rigorosa e complexa com epistemologia e objeto próprios, não inventa nem impõe o léxico: ela o revela encarcerado e inerte na exatidão frígida do dicionário. Um linguista que preste está consciente de que é preciso tirar as palavras dessa assepsia e sujá-las com o humano, deixando-as livres na língua para, só então, avaliar a adequação e inadequação delas.
Para satisfação do leitor que não aprendeu nada com o saber, “presidenta” existe, o vocábulo embolorado jaz em qualquer dicionário da língua portuguesa; ninguém negou isso e o linguista sabujo supor que um jornalista com 40 anos de textos perfeitos ou que todos os incontáveis leitores dele ignoram isso não só rasteja entre patética sonsice e tristonha arrogância, mas também entre a chatice e o ridículo. A questão nunca foi de correção lexical, mas de mistificação, prática adorada por todo governante populista e autoritário.
O candidato a linguista oficial do reino extinto afirmou que “falo como linguista”; não, lamento, mas estudei alguns dos maiores e melhores linguistas brasileiros, li por dever e prazer linhagens de linguistas, e nenhum dissocia a correção no uso de uma palavra do uso dessa palavra – a liberdade que ela respira na língua submetida ao contexto, circunstâncias, motivações, afetos, razões, etc., do falante.
Nessa perspectiva, o lexicalmente correto “presidenta” é usado por Dilma Rousseff para inaugurar o populismo de gênero; a mulherzinha negligente com a língua e o país se valeu do insuportável politicamente que fantasia de assertividade o que é só canalhice – felizmente, esse assédio ao pensamento surgiu depois da invenção do humor, do sexo, do amor e da literatura ou seríamos uma espécie ainda mais tristonha no que temos de tristes – para adotar o vocábulo extemporâneo como mais uma forma de desviar a atenção do embuste real e grotesco em que se configurou enquanto construía uma projeção mítica e mistificada de si mesma.
À combatente de uma ditadura para instaurar outra; à supergerente que passava as madrugadas examinando projetos, mas alega que não sabia dos detalhes de Pasadena; à mulher que verga, mas não quebra porque é mais divertido quebrar um país; à governante que defendia o diálogo com o Estado Islâmico, mas não falava com o Congresso; a essa farsante, enfim, não basta ser presidente, isso qualquer um ou uma pode ser: ela é “presidenta”.
Em junho de 2013, num evento da CUT no Rio Grande do Sul, Dilma declarou que tinha nascido em todos os estados da federação e que “uma presidente tem de ser nascida e criada em todos os estados da Federação”. Claro, sabemos que isso é uma estultice tão colossal que nem chega a ser mais uma mentira da usina lulopetista, mesmo Dilma e o PT sabem que sabemos. Mas e daí? A vigarice desse discurso aposta não na mentira de partida, mas na de chegada: na resultante do extrato das falas de Dilma que vão preenchendo a estrutura mistificadora tão bem-sucedida com o jeca.  Assim é a máquina de mentira que consegue parir uma Dilma em cada estado, costurando esse ser grotesco pan/suprabrasileiro.
Era a metástase do cinismo petista replicando a mistificação, a estrutura que forjou o perfil soteriológico do líder deles. Assim como o jeca, revestido da mitologia que inventou um passado para ele, Dilma ganhou um projeto para a própria figura mítica. Portanto, nascer em todos os estados brasileiros atribui-lhe uma espécie de ubiquidade ontológica aristotélica, como se (e apesar de), tendo cada uma das naturalidades brasileiras, as 26 particularidades fizessem da presidente o ser cuja natureza fosse a mais genérica, ampla, integral, abrangente, completa e plenamente brasileira.
Autoritária como toda figura erigida na mentira, manipuladora como todo populista e de dentro do seu raquitismo intelectual e moral, na confluência de suas 26 reencarnações simultâneas geridas pelo único neurônio, jamais renunciará à construção mistificadora para compreender o Brasil e tornar-se tudo o que não é: apenas uma brasileira decente e, então, uma presidente decente.
Sugiro ao leitor-linguista-de-uma-palavra-só levar o conhecimento dele para tomar sol, exercitá-lo ao ar livre das ilusões a que o saber induz quando sabemos sem aprender, que o areje com dúvidas e incertezas porque é para isso que o conhecimento serve, pois, como dizia Clarice Lispector, a nossa ignorância (o que não sabemos) é o nosso melhor lado; e pare de culpar os dicionários.

sábado, 20 de agosto de 2016

"Uma mulherzinha de caráter miúdo" / Valentina de Botas

Valentina de Botas: 

Uma mulherzinha de caráter miúdo

Enquanto há brasileiros competindo para serem os melhores, o jeca e a respectiva criatura quebram cotidianamente o próprio recorde de delinquência

Por: Augusto Nunes  
O que torna o cotidiano possível? O Brasil sempre me deu a impressão de que padecia da deformação resultante da inversão “o importante é ganhar, não competir”, mas isso parece a forma branda da patologia verdadeira: “importante não é ganhar, mas ganhar sempre”. O texto primoroso de Augusto Nunes, da gratidão citando a excelente Dorrit Harazim, passando pela homenagem ao grande Ricardo Prado, até a comemoração do que espero ser uma melhora definitiva na alma enferma de um país infantiloide e brutalizado na rejeição a qualquer resultado que não o pódio – e, neste, o topo –, ensina um olhar de generosidade sobre grandes homens e mulheres que inspiram uma nação e colonizam a alma dela com a beleza de fazer flutuantes os limites ou da poesia no desafio aos limites imóveis.
Essa generosidade nada tem de condescendente e contempla não somente o desempenho quase inumano dos competidores numa olimpíada, mas também a risonha oportunidade de que o possam testemunhar homens e mulheres normais, heróis anônimos de si mesmos que, além de envolvidos em embates íntimos ou privados normais da vida, tentam sobreviver moral e fisicamente num Brasil cujas melhores potencialidades o lulopetismo sabotou enquanto se servia das piores.
Agora mesmo, enquanto há brasileiros competindo para serem os melhores, o jeca e a respectiva criatura quebram cotidianamente o próprio recorde de delinquência numa disputa sem limites ao pódio mais alto do pior que a terra tão garrida produziu para ser tão esbulhada. Enquanto ele, sempre afastando os limites da sordidez, para escapar da merecida e tardia cadeia, mente numa cartilha em quatro idiomas distribuída no exterior, difamando o Brasil, as instituições brasileiras, Sergio Moro e Rodrigo Janot; ela, para escapar do merecido e tardio impeachment, faz do Alvorada a locação para um documentário ficcional a respeito do processo lendo uma carta em que encena promessas tão plausíveis quanto válidas de uma mulherzinha de caráter miúdo que demitiu a verdade de todas as promessas inventadas, com exceção de uma: fazer o diabo para ganhar a eleição.
Maquiando o vazio, Dilma repetiu a tríade formada por uma verdade desnecessária e duas mentiras inúteis: foi torturada pela ditadura militar, o que não a inocenta do crime de responsabilidade fiscal; é honrada, OK, Fernando Henrique Cardoso acreditar nisso não a inocenta do crime de responsabilidade fiscal; ela não tem conta no exterior, nem eu, só que não cometi crime de responsabilidade fiscal, ela sim, crime pelo qual será condenada.
Os bravos Sergio Moro ou Hélio Bicudo não são heróis e há coisas que o impeachment e a Lava Jato não poderão fazer, mas acho que eles são figuras inspiradoras e triste do país que, desgraçado por Lula e Dilma, não pudesse contar com eles. Do mesmo modo, ainda que a excepcionalidade de Ricardo Prado ou Thiago Braz não baste para curar nossa impotência olímpica, eles integram, para sempre e mesmo sem repetir o que já fizeram, uma coleção heterogênea de genialidades humanas que deslumbram o presente, como Usain Bolt, e inspiram o futuro.
Me lembro que em agosto de 2012, quando esta coluna ergueu o justo brinde a Usain Bolt por ter sobrevoado no chão da pista olímpica de Londres 100 metros em menos de 10 segundos, eu quis comentar, mas não sabia o que dizer. Na ocasião, minha filha me perguntou para que serve correr 100 metros em menos de 10 segundos. Também não soube o que dizer. Mas falei qualquer coisa sobre como isso não acontece da noite para o dia, que exige treino absurdo, disciplina espartana, que a marca genial era inédita, que o feito ajuda a entender melhor a fisiologia do corpo humano e… vi que era melhor ter ficado calada. Aquilo não estava alcançando a pequena.
Fiquei olhando para os olhos grandes dela, atentos, lindos na sua apressada curiosidade pelo mundo. Lembrei-me de um dia de agosto de 1977, quando, só um pouco maior do que ela, o cabelo preso num alto rabo-de-cavalo, cheguei da escola vestindo o uniforme de sainha xadrez plissada e camisa branca. Não quis almoçar, brincar, nem fazer a lição de casa. Por quê? Minha mãe deixando as costuras quis saber e eu não sabia como explicar que meu primeiro namorado acabara de morrer sem que eu pudesse contar a ele da minha paixão.
Passei o dia inteiro ouvindo as músicas dele numa vitrolinha ordinária do Mickey, como se cada uma fosse um beijo: It’s now or never, Kiss me quick, Burning love, Blue moon, Suspicious mind, Love me tender, Blue suede shoes, tantas outras e a eterna You’re always on my mind. Por algum tempo, o cotidiano só era possível se eu ouvisse Elvis Presley.
Então, soube o que dizer à minha filha: como qualquer realização genial, alguém correr 100 metros em menos de 10 segundos, fazer mil gols e ter os mais lindos gols não feitos ou saltar mais de 6 metros é um sonho que torna possível o cotidiano e, com outras palavras, confidenciei que isso faz aquilo que é pó e transitório em nós experimentar por instantes, como num beijo, o eterno.

sábado, 23 de julho de 2016

Coisas do Brasil, coisas do PT, coisas absurdas

Valentina de Botas: Marlene Dietrich e

 outras notas

Uma propina é uma propina é uma propina

Por: Augusto Nunes  
O caixa 2 que João Santana confessou a Sergio Moro é caixa 2 porque é grana de propina e propina não pode ser caixa 1 porque é propina. O Estadão informou que, em delação premiada já homologada, Zwi Skornicki, representante do estaleiro Keppel Fels contratado pela Sete Brasil para as sondas do pré-sal, pagou propina nos contratos. Em todos? Não somente em 90% deles. Foi ele quem repassou os 4,5 milhões para João Santana. O caixa 2 é crime que encobre a origem criminosa dos recursos, pois não se contabilizam recursos de natureza criminosa e o PT, que não inventou a corrupção (coisa de que nunca foi acusado), inventou a Sete Brasil somente para escoar a propina no esquema universal de corrupção que, esse sim, inventado pela organização criminosa. A Sete inteira? Não, só 90% dela. Depois de drenar bilhões dos cofres do governo, enriquecer um bando e reeleger Dilma, a empresa quebrou deixando 100% de prejuízo para os pagantes de impostos.
TERRORISTAS TABAJARAS
Se iriam ou não matar, não é possível ter certeza, mas é claro que poderiam fazê-lo porque o terror não requer ciência nem consciência; para ele basta uma machadinha ou um caminhão e um demente agindo; e, no país de fronteiras esburacadas, de criminalidade e violência fora de controle que matam 60 mil pessoas por ano e em que o lulopetismo fundou um radicalismo quase belicoso cujas toxinas encorajam dementes de todos os tipos, o terror pode ser apenas mais uma modalidade de assassinato. Contra ele, a inevitável paranoia é ineficaz, o necessário exagero é insuficiente e a oportunista exploração política é burra.
MARLENE DIETRICH CHOROU, MAS NÃO CONVENCEU
Dilma, comediante involuntária, cínica doentia e mártir de circo declarou que não autorizou o caixa 2 quanto à denúncia de João Santana na Lava Jato. Ora, a forma de entrada da propina era assunto de João Vaccari Neto; que ela entrasse era assunto de Edinho Silva; que este a cobrasse era assunto de Dilma. Afinal, Dilma elegeu-se pelo voto popular, foi torturada na ditadura militar e não tem conta na Suíça; apesar de nada disso estar em questão, é isso o que repetem ela própria e José Eduardo Cardozo, aquele que afirmou ter “absoluta convicção de que a campanha da presidente não recebeu um centavo sequer de caixa 2”. Já famosa, Marlene Dietrich fez um teste em que se achou perfeita, mas foi reprovada, não convenceu o diretor: “Como não, se eu até chorei?”. “Pois é, mas eu não”, disse ele. Se até a diva alemã teve seus momentos inconvincentes, que a diva canastrona do petrolão se console quando Sérgio Moro a condenar.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Meninas, cuidado com suas escolhas !

Valentina de Botas: O rosto machucado de Luiza Brunet 

Homens covardes sempre se sentirão ameaçados pela beleza, inteligência e pela história de vida das mulheres com as quais se envolvem amorosamente.

Por: Augusto Nunes  
Eu a surpreendo pendurada em silêncio na xícara de café ralo sem açúcar contemplando um mundo e um tempo que meus sentidos só presumem. Segundos estendidos em que certo tipo de recato que meus pais me ensinaram impede a intromissão naquelas porções de vida interior traduzidos nos olhos da cabocla doce fixos no grifo do azulejo da cozinha logo acima do meu ombro. Da cor de mel, tão bonitos eles, mas não os fito; a discrição aprendida me faz simular distração e trato de lhe servir outro pedaço do bolo que preparei para o café no fim da tarde. Toco o braço dela com o cuidado de quem acorda um enfermo na hora de tomar o remédio. Mamãe ri e me mostra o ninho do silêncio: “Tu consegue, mulher faz coisa difícil mais fácil que homem. Velho confirmou que vem de escolta, bom: vai fazer o que vocês não podem. Deus te acompanhe. Beijo tuas mãos”.
O primeiro bilhete que recebera do marido é papai escrito: econômico, taxativo, suficiente. Intuindo que seria o último entre namoro, noivado e casamento, numa história de mais de 50 anos, mamãe plastificou o papel que documentava a mudança dela de Pernambuco para São Paulo, para onde o marido viera antes ajeitar trabalho e moradia; ela vinha numa viagem épica de 72 horas, de ônibus, com três bebês (eu e minhas irmãs, com idades entre 3 meses e 2 anos) e minha tia casada com o Velho, apelido de um tio que era velho como já eram velhos os sertanejos de 30 anos naquele Brasil profundo do final dos anos 60 e cujo código de honra obrigava que o mais forte cuidasse do mais vulnerável. Sim, mulheres – a fêmea humana – são fisicamente mais fracas do que homens (o macho humano).
Não, isso não as faz inferiores nem os faz superiores; isso é só mais uma das abençoadas diferenças entre nós. Tal nomenclatura vem esclarecer que me interessam aqui homens e mulheres reais, não essa coisa sem feromônio e de aparência indefinida habitante dos manuais vagabundos de sociologia que, com a tara da fanática desconstrução biológica do gênero, negam o aporte da biologia na identidade sexual. Um discurso encampado por setores brutos do feminismo, fazendo-se opressor, castrador, totalitário e vitimista-agressivo; com a gramática do ódio e a libido do ressentimento premeditado contra o macho. Amputa o feminino e quer submeter o masculino numa deformação que não combate o machismo e que atrapalha a necessária busca pelo reconhecimento dos direitos femininos.
Me interessa aqui o Adão do “Paraíso Perdido”, de Milton, que optou por abocanhar a maçã porque preferia seguir Eva no exílio da humanidade a viver ainda mais só dessa solidão que nos constitui, tornando inútil o Paraíso na antevisão do verso indagativo de Roberto Carlos – de que vale o paraíso sem amor? Meu pai cuidou da integridade física da mulher e das filhas não porque fosse este um papel construído culturalmente com base na divisão-biológica-de-papéis-numa-cultura-opressora; ele fez isso porque, sim, também a biologia o fez macho, portanto mais forte fisicamente do que a fêmea, condição que, desde a díade adão-e-eva, passando pelas savanas africanas para chegar a Pernambuco, capacitou o macho a cumprir uma função protetiva na garantia de perpetuação da espécie, mas também porque esse atavismo ou coragem física obrigatória evoluiu, pelo lado positivo da cultura, para a coragem moral necessária de defender os mais vulneráveis.
Uma demonstração do lado negativo é exibida no rosto machucado de Luíza Brunet, agredida pelo ex-namorado, o empresário Lírio Parisotto, que também quebrou quatro costelas da ex-modelo. A denúncia que deveria ser encarado como ato natural e obrigatório passa a ser um ato de coragem num contexto de afirmações covardes e especulações deslocadas, outra maldita vez, sobre a conduta da vítima: por que Luíza manteve uma relação abusiva e não se afastou nos primeiros sinais presumíveis? Por que provocou o ciúme do namorado? Ora, especular sobre as razões que a própria razão desconhece em relações amorosas não inverte os lugares de vítima e agressor; e homens covardes sempre se sentirão ameaçados pela beleza, inteligência e pela história de vida das mulheres com as quais se envolvem amorosamente.
A repercussão do caso poderia ajudar a engrossar o combate sério pelos direitos femininos, mas a gestapo feminista prefere exercer a si mesma em ataques como aqueles à figura de Marcela Temer quando a primeira-dama apareceu numa reportagem como “bela, recatada e do lar”. Como se esta opção não fosse tão lícita como qualquer outra honesta, como se não houvesse mulheres imbecis, oprimidas e/ou opressoras que não são “bela, recatada e do lar”. Comprova-se que o feminismo faria muito mais pelas mulheres se militasse por vagas em creches para que elas tivessem onde deixar os filhos para trabalharem sossegadas (lembrando que uma das maiores expressões da dignidade é poder cuidar de si mesmo, do próprio sustento) do que se bifurcar em tentativas de se enfiar na cama para onde não foi chamado; patrulhando o tesão e investigando quem lavará a louça.
Meu pai era alto e forte, minha mãe é miúda; ele ficou muito vulnerável quando se tratou de um câncer, mamãe cuidou do marido acamado: somos todos vulneráveis, seres que caminhamos para o fim, todos podemos cuidar uns dos outros segundo as especificidades de quem cuida e do cuidado requerido. Para cuidarmos de quem amamos, basta amar; para cuidar de quem é vulnerável, basta não ser covarde. Com os olhos fixos num ponto invisível, pendurada à minha xícara de café forte, espreitava estes pensamentos para um texto eventual, quando mamãe toca meu braço: havia outro pedaço de bolo no meu prato.