Moro foi protagonista invisível da posse de Lula
Josias de Souza
Sérgio Moro converteu-se em protagonista invisível da cerimônia que deveria ser estrelada por Lula. Sem mencionar-lhe o nome, Dilma Rousseff dedicou mais espaço em seu discurso para o juiz da Lava Jato do que para o novo ministro-chefe da Casa Civil. Acusou o magistrado de divulgar “grampos ilegais” com o propósito de “convulsionar a sociedade brasileira em cima de inverdades, de métodos escusos, de práticas criticáveis.”
Em timbre inflamado, Dilma disse que, com seus métodos, Moro “viola princípios e garantias constitucionais, viola os direitos dos cidadãos e abre precedentes gravíssimos.” No arremate do raciocínio, ela incluiu o magistrado entre os personagens que atentam contra o seu mandato: “Os golpes começam assim.”
A cerimônia foi embalada por uma claque de militantes sindicais e de movimentos sociais. A plateia entoava coros e bordões importados do ambiente partidário. Coisas como “não vai ter golpe”. Ou “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Do lado de fora do palácio, policiais militares suavam o uniforme para separar manifestantes pró-governo de pessoas que acorreram à Praça dos Três Poderes para protestar contra a concessão de foro privilegiado para o investigado Lula.
Dilma falou sobre a reocupação do asfalto, que já havia roncado no domingo, em manifestação de dimensões históricas. Dilma enxerga o vulto de Moro rente ao meio-fio. A alturas tantas, declarou:
“Para o bem do Brasil, todo esse barulho, que não é a voz rouca das ruas, mas é uma algaravia advinda da excitação de pré-julgamentos, ela deve acabar, pelo bem do Brasil. Deve dar lugar à tranquilidade que conduz não só à paz social, mas também a veredictos qualificados e justos e ao ambiente de preservação e fortalecimento das instituições democráticas, nas quais os princípios do direito e o respeito às liberdades individuais vão emergir vitoriosos desses tempos algumas vezes difíceis e insensatos.”