Postagem em destaque

Lições da tragédia fo Rio Grande. do Sul ...!!!

Poetas disseram que o volume das águas eram das lágrimas dos humanos diante dos estragos ...; Filósofos admitiram que nos não demos atenção...

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

"Chamem os adolescentes..."

Chamem os adolescentes

Os adolescentes fizeram mais do que chorar. Depois de um novo massacre escolar nos Estados Unidos, os alunos da escola da Flórida onde Nikolas Cruz matou dezessete estudantes e professores, não delegaram seu luto a políticos. Houve vigílias e reuniões de famílias, o ritual comum que seguiu os mais de duzentos massacres em escolas americanas desde Columbine, em 1999.

Lúcia Guimarães, O Estado de S.Paulo
19 Fevereiro 2018 | 02h00
Mas a carnificina, capturada ao vivo por celulares, provocou uma reação diferente. Os jovens da escola de Parkland se inseriram na narrativa de sua tragédia. Foram para a rede social atacar os demagogos que repetem, como papagaios, “nossas preces e pensamentos estão com as famílias.” Desmentiram com rapidez os boatos, muitos deles espalhados por bots russos.
“Não quero condolências. Rezar não resolve isto. Mas controlar a posse de armas previne que aconteça de novo,” escreveu uma aluna. Controle da posse de arma de fogo ainda é um tabu político no país onde o lobby dos fabricantes, a NRA, não só compra deputados e senadores, como lhes confere notas de bom comportamento. O massacre da quarta-feira foi mais um cometido com o fuzil AR-15, a arma semi-automática mais popular dos Estados Unidos, nas mãos de oito milhões de americanos. Na Flórida, é mais fácil comprar um AR-15 do que uma pistola comum

Mas o poder macabro da NRA sobre a vida e a morte neste país deve enfrentar a artilharia de uma geração. A vasta maioria da população entre 18 e 35 anos é a favor de restrições para a compra de armas. “Minha mensagem para os legisladores e o Congresso é, por favor, comecem a agir,” disse David Hogg, 17 anos, após sobreviver ao massacre da escola de Parkland, numa entrevista que se tornou viral. “Nós somos as crianças. Vocês são os adultos. Trabalhem juntos, além da política e façam algo.”
O massacre na escola primária de Sandy Hook, em Connecticut, em 2012, foi inicialmente visto como um ponto de inflexão no debate sobre as armas de fogo. Pela primeira vez, o principal alvo de um assassino foram crianças de 6 e 7 anos. O próprio Barack Obama, que considera o massacre de Sandy Hook o momento mais negro de sua presidência, se iludiu com a possibilidade de implementar mudança nas leis, subestimando o cinismo da oposição republicana. Mas as vozes de revolta na rotina dos massacres partiam principalmente de adultos.
Os adolescentes que viram seus colegas e professores abatidos em Parkland são a primeira geração criada com a rede social e recorreram a ela para enfrentar o presidente que passa o dia no Twitter. Usaram suas contas para dizer ao presidente que ficasse longe das vigílias pelos mortos. Combateram a propaganda da NRA com as armas digitais que conhecem e tomaram o microfone dos adultos. Num discurso assistido centenas de milhares de vezes no fim de semana, Emma González, na 12ª série da escola de Parkland, liderou a multidão que repetia em coro o alerta de sua geração aos homens e mulheres no poder. Desmentiu cada clichê demagógico dos políticos comprados e pediu aos colegas que se registrem como eleitores assim que completarem 18 anos, neste país onde o voto não é obrigatório.
Assistindo ao desfile de autoridades que montaram a intervenção militar no Rio de Janeiro, pensei nos adolescentes Emma e David. Os jovens cariocas sob fogo cruzado são vítimas da mesma geração que não larga o osso do poder e do foro privilegiado. É uma geração que continua a repetir promessas, ciente de que não vai cumpri-las. Só quando as Emmas e os Davids do Rio reagirem, ocupando maior espaço físico e digital, podemos, quem sabe, conquistar o que os jovens da Flórida esperam: aposentar esta gente.

"Há uma relação direta entre melhorar de vida e recusar a maternidade. A vida sem filhos é mais segura, mais autônoma, mais barata."

Quanto mais raros os filhos, maior a precariedade psíquica deles 

Imagem relacionada LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 19/02

Se você anda pela cidade e presta atenção nas coisas, especialmente no movimento do mercado, e lê sobre isso, perceberá três fenômenos, aparentemente sem relação uns com os outros, mas que falam diretamente do futuro. Ao mesmo tempo que cresce o número de pet shops, cai o de maternidades, no mesmo passo que sobe o número de casas de repouso pra idosos. Qual a relação entre os três fenômenos?

O aumento de pet shops indica a opção de afeto que os mais jovens estão fazendo: melhor cachorros do que filhos, estes duram muito e custam muito mais caro. A falência das maternidades é fruto direto dessa racionalização por parte dos casais mais jovens: ter filhos é um mau negócio. Não ter filhos é índice de autonomia e emancipação, só mulher sem "opção" teria filhos. O terceiro, por sua vez, aponta para o envelhecimento da população, acompanhado pela solidão derivada da atomização das famílias. Os idosos viverão muito, mas abandonados em depósito para idosos.

O que fazer com esse efeito colateral da longevidade? O mercado, na sua "infinita sabedoria", percebe que a tendência é a gradual substituição dos vínculos afetivos por serviços que esses vínculos garantiam no passado. Serviços que visam preencher o vácuo das famílias serão um grande negócio no futuro.

É interessante perceber que ao lado da decisão de reduzir a quase zero a reprodução humana, o grau de atenção neurótica sobre os poucos rebentos que caminham sobre o mundo cresce. Coitados desses jovens que viverão na condição de espécie em extinção. Pais que querem ganhar o prêmio de mais divertidos, participativos e atenciosos beiram o ridículo nos espaços de lazer para esses seres em extinção, as crianças. Os pais, então, competindo com as mães, buscando o direito de serem reconhecidos como portadores de um "útero social", são patéticos.

A proporção entre você ser um pai neuras ou uma mãe neuras e ter "projetos" sobre a educação dos seus filhos é quase direta. Quanto mais você tiver "certeza" que a escola deve formar seu filho para ser uma pessoa melhor, pior será o grau de ansiedade dele ao virar adolescente. Filhos, hoje, quando existem, são projetos narcísicos dos pais, que, no fundo, prefeririam não tê-los.

De onde surgiu essa ideia idiota de que pais devem ser pais 24 horas por dia? Neuróticos que usam câmeras de vídeo pra vigiar a respiração dos rebentos a distância. Esse "excesso" de cuidado é sintoma do desejo de que os filhos não existissem.

Há uma relação direta entre melhorar de vida e recusar a maternidade. A vida sem filhos é mais segura, mais autônoma, mais barata. Quando você decide que para você é melhor não ter filhos, e isso atinge impacto estatístico, você não está consciente desse impacto. A relação entre riqueza e não ter filhos é direta.

Há aquelas pessoas que agem assim simplesmente porque acham que tem gente demais no mundo. Um argumento falsamente social, mas de teor radicalmente individualista. Arriscaria dizer que quanto mais você se vê como alguém que quer "salvar o mundo", maior a chance dessa intenção estar assentada na mais pura natureza narcísica. A revolução moral moderna (o egoísmo) condena a condição de pai e mãe a obstáculo contra competitividade. O mundo corporativo diz que não, mas mente.

À medida que os filhos se tornarem mais raros, a condição de precariedade psíquica deles se radicalizará. Como toda espécie em extinção, o blábláblá sobre a importância deles crescerá à sombra da sua inexistência real. Se já sabemos que os jovens hoje são mais ansiosos, inseguros e incapazes de viverem vínculos afetivos consistentes, é porque os efeitos colaterais da extinção já estão em curso. A ampliação "oficial" da adolescência até os 24 anos de idade, determinada no Reino Unido, indica a incapacidade do amadurecimento, agora já na forma da lei.
Assim como especialistas em macacos em extinção, especialistas em jovens serão profissionais que estudarão, ainda que negando, esse processo inexorável. O futuro pertence a idosos solitários cheios de aplicativos para divertimento em seus dias vazios.

A arma mais letal do Brasil é a caneta....


segunda-feira, fevereiro 19, 2018

E o Brasil? 

 DENIS LERRER ROSENFIELD

Resultado de imagem para imagem de canetas grandesESTADÃO - 19/02

O Estado foi capturado por seus estamentos, prioritariamente na defesa dos privilégios

Engana-se quem pensa que o Brasil enfrenta apenas um problema do governo Temer ao defrontar-se com a reforma da Previdência. A questão é muito maior, por dizer respeito ao Brasil, acima de qualquer interesse corporativo e partidário-eleitoral. O atual governo não terá dificuldades em fechar suas contas no corrente ano, mas o próximo se debaterá com esse grave problema desde o início. Se a reforma da Previdência não for feita agora, terá necessariamente de ser realizada pelo próximo mandatário, queira ele ou não.

Qualquer partido ou governante deverá curvar-se à dureza dos fatos e das contas públicas. A ficção tem limites.

O que estamos presenciando são subterfúgios estamentais, ideológicos e eleitorais que procuram escamotear e velar a urgência de uma reforma necessária. O ruído é tanto que termina relegada a questão central do que é melhor para o Brasil, embora os contendores encham a boca com a suposta defesa que fazem da justiça social, quando, na verdade, pensam exclusivamente em seus privilégios. Partidos políticos e corporações do Estado perseguem os mesmos objetivos ao sabotarem a reforma da Previdência, cada personagem centrado em seus interesses próprios.

Do ponto de vista partidário-eleitoral, essa reforma está sendo vista no quadro imediato das eleições deste ano, como se sua aprovação ou não beneficiasse tal ou qual partido ou candidato. Os que temem a eventual reeleição do presidente Michel Temer são contra a reforma por estimarem que, se aprovada, ele se tornaria um candidato viável. Candidate-se ou não, o presidente já tem em seu ativo as reformas empreendidas e a consequente melhora das condições econômicas e sociais, que logo se farão sentir mais concretamente. Poderia até articular uma saída estratégica, deixando o problema da Previdência para o próximo governo. O dele prescinde da aprovação imediata dessa reforma, o mesmo não se pode dizer do que lhe sucederá. Ao fazerem o jogo da dubiedade e dos seus interesses eleitorais, partidos e candidatos estão, de fato, apostando contra o Brasil.

Os que procuram se apresentar como candidatos utilizando-se da tergiversação e da mentira no que diz respeito ao estado das contas públicas, por sua vez, estão fazendo o jogo da irresponsabilidade, como se o destino do Brasil coubesse num teatro de marionetes. São supostos estrategistas, em cujo cálculo estão presentes o descalabro das finanças públicas e um País insolvente, com graves problemas sociais nos próximos anos. Agem como Marie Antoinette, só que não oferecerão brioches, mas contas a pagar e dinheiros falsos.
A cacofonia é grande, com os diferentes atores partidários dizendo uma coisa em público e outra em privado, ao sabor das conveniências e circunstâncias. O Brasil passa ao largo de suas preocupações, como se tudo se esgotasse num mero cálculo eleitoral.

Os discursos dos presidenciáveis relegam a segundo, se não a último plano qualquer compromisso com a verdade. Contam com a mistificação e um processo midiático de convencimento no curto prazo como se não houvesse um projeto nacional que devesse ser levado prioritariamente em consideração. Dançam na beira do abismo!

Do ponto de vista corporativo, estamentos do Estado, tanto nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário como no Ministério Público, com destaque para os dois últimos, estão se aproveitando da situação para defenderem os seus privilégios. Chegamos ao absurdo de termos decisões judiciais, patrocinadas pelo Ministério Público, que proibiram que o governo federal esclarecesse a necessidade da reforma da Previdência, dando livre curso, porém, a todas as campanhas que a denegriam. Cada vez mais estamos observando o Ministério Público e o Judiciário avançando nas prerrogativas dos outros Poderes, criando problemas de ordem institucional. A questão da soberania, a de quem decide, vem, mesmo, a recolocar-se como central.

A aplicação da lei, conduzida por promotores e juízes contra a corrupção, com amplo respaldo da sociedade e da opinião pública, fez com que esses atores ganhassem uma conotação propriamente política, embora não exerçam politicamente nenhuma representação. São agentes, em certo sentido, não democráticos, na medida em que agem como políticos mesmo não tendo sido escolhidos, eleitos, para o exercício dessa função. Passaram por concurso, fizeram carreira no Judiciário e no Ministério Público e se acostumaram com decisões monocráticas.

Vieram, dessa maneira, a ocupar posições no Estado que, graças à legitimidade conquistada, não deveriam ser as deles. Juízes e promotores não mais falam somente nos autos, mas para a opinião pública. Emitem opiniões alheias ao cargo que ocupam. Ministros do Supremo Tribunal e o ex-procurador-geral Rodrigo Janot perderam o recato da discrição e falam como se políticos fossem, amparados nas regalias das funções que exercem. Procuram conformar o Estado ao que defendem abstratamente como sendo moralidade pública.

Essas corporações do Estado passaram a atuar efetivamente como estamentos que defendem prioritariamente os seus privilégios, como se os recursos públicos estivessem à sua mercê. Proclamam a moralidade para os outros, para os políticos, porém não a seguem para si, são tenazes na defesa de seus interesses particulares. O Estado veio a ser, então, capturado por seus estamentos, como se devesse responder às suas demandas, e não às da coletividade a que deveriam servir.
Partidos e corporações terminam, assim, irmanados num mesmo projeto de recusa da reforma da Previdência, cujo projeto visa o futuro; a atração recíproca entre esses agentes públicos é dada por interesses imediatos e particulares de uns e outros. Apesar de distintos, têm em comum a visão de curto prazo e a preservação dos privilégios, esses “direitos” que só valem para alguns.

*PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS

domingo, 18 de fevereiro de 2018

"Os materialistas sempre foram ignorantes nas matérias do espírito " / João Pereira Coutinho



Os materialistas sempre foram ignorantes nas matérias do espírito







O corpo dói, a cabeça idem, o termômetro não mente: bom dia, gripe! Desisto dos meus compromissos e viajo para os lençóis, gemendo como um condenado.
Depois, com verdadeiro esforço homérico, cancelo um almoço, uma reunião de trabalho e negocio um novo prazo para entregar um texto. Oficialmente, estou fora do circuito. Estarei nos três próximos dias.
É então que o milagre acontece: pela primeira vez em muitos anos, o celular não toca mais. Os dias voltam a ter 24 horas. Há silêncio ao redor.


O medicamento Tamiflu - Reuters
E, com o silêncio, vem o pensamento: ali deitado, sou capaz de pensar em cinco ou seis artigos e numa boa ideia para um ensaio. Sem falar da leitura: com o coquetel farmacológico perfeito, é possível virar as páginas de um livro como elas merecem ser viradas. Devagar. Quem diria que uma gripe podia ser uma ilha de sanidade?
Por pouco tempo, informa o "The Wall Street Journal" em artigo sobre os últimos avanços contra a doença. Hoje, quem sucumbe ao vírus toma Tamiflu: duas vezes por dia, durante cinco dias. Mas, a curto prazo, será possível despachar o assunto em um único dia. A droga, inventada no Japão, dá pelo nome de Shionogi.
Longe de mim condenar os progressos da humanidade: tratamento dentário sem anestesia é um sonho que eu não tenho. (Para os nostálgicos, sugiro o filme "Maratona da Morte", de John Schlesinger.)
Além disso, é preciso lembrar que a gripe continua a matar em abundância ---só nos Estados Unidos, e desde meados de dezembro, são mais de cem mortes por semana.
Mas também é preciso lembrar que, nos casos benignos (a esmagadora maioria), a droga japonesa promete roubar três dias de pura ociosidade. De que vale ter uma gripe quando a curamos em 24 horas?
Eu sei, eu sei: há sempre a possibilidade de não tomar a droga, mantendo a integridade da experiência horizontal. Mas, no processo, perde-se o mais importante: a desculpa. Como justificar lá no trabalho que estaremos ausentes por gripe durante três dias, ou quatro, ou até cinco (o meu objetivo)?
Aliás, a gripe não é a única espécie em vias de extinção. O próprio sono pode ser o próximo alvo. No fabuloso site "Aeon", a escritora Jessa  Gamble escreve um dos textos mais arrepiantes da minha enfermidade. Pergunta: se a pílula feminina separou o sexo da reprodução, por que não abraçar um tratamento médico que diminui ou até suprime a necessidade de dormir, separando os seres humanos do reino animal?
Ou, por outras palavras, não será um lamentável desperdício de tempo ter 1/3 das nossas vidas em modo inconsciente? Quem, em juízo perfeito, não trocaria esse período perdido por mais 50 anos de "vida útil"?
Houve experiências: estimulantes vários usados em contexto militar. Mas são expedientes limitados, que podem substituir a sonolência pela psicose. Nos Estados Unidos, o Exército procura um meio-termo entre nenhum sono e o sono normal: por exemplo, uma máscara que substitui as oito horas clássicas por metade disso, ou menos de metade. Duas horas de sono absolutamente reparador, eis o Santo Graal.
Ou o Santo Mal. Leio o artigo e pergunto: como é possível reduzir o ato de dormir a uma mera necessidade biológica? Onde está o prazer do abandono e do esquecimento? "A alma é um vício", dizia a grande escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís. Mas os materialistas sempre foram ignorantes nas matérias do espírito.
E como impedir que uma máscara dessas —lentamente, insidiosamente— não seria imposta sobre uma sociedade de escravos? Escravos produtivos, cada vez mais produtivos, mas escravos na mesma? Imagino a competição: o trabalhador A perdeu o emprego porque o trabalhador B estava disposto a só dormir 2 horas.
Tremendo com a doença —minha e do mundo— apago a luz do quarto e escuto a minha consciência: "Aproveita, rapaz, enquanto podes".
Adormeço com um sorriso de alívio. 
João Pereira Coutinho
Escritor português, é doutor em ciência política. Escreve às terças e às sextas.

A desconfiança aumenta nas repúblicas europeias por causa das imigrações....

Como a Suécia se tornou o centro da extrema-direita e do supremacismo branco na Europa

Manifestação neonazi na SuéciaDireito de imagemAFP
Image captionA Suécia também abriga manifestações de neonazistas e de defensores da supremacia branca
Quando no ano passado Donald Trump alertou sobre o que estava se passando na Suécia, muitos se perguntaram sobre o quê o presidente dos Estados Unidos estava falando.
"Vejam o que aconteceu à noite na Suécia... É inacreditável... [Eles] têm problemas como nunca pensaram que fosse possível", disse Trump em um ato na Flórida no qual defendia suas políticas migratórias.
Mas na Suécia não havia ocorrido nenhum atentado nem algo em particular na noite anterior ao discurso de Trump.
Trump esclareceu que estava se referindo a uma reportagem do canal Fox News sobre a situação dos refugiados na Suécia e o aumento da violência supostamente vinculada ao maior número de imigrantes.
"Minha declaração sobre o que está acontecendo na Suécia foi em referência a uma reportagem que foi transmitida na @FoxNews sobre imigrantes e Suécia", escreveu Trump no Twitter.Direito de imagemTWITTER
Image caption"Minha declaração sobre o que está acontecendo na Suécia foi em referência a uma reportagem que foi transmitida na @FoxNews sobre imigrantes e Suécia", escreveu Trump no Twitter.
Há algum tempo a Suécia se converteu em um assunto recorrente em sites, blogs e programas de rádio e de televisão de movimentos da direita, como os autodenominados "supremacistas brancos" e a chamada "direita alternativa", a "alt-right".
Com mais de 160 mil pessoas chegando à Suécia em 2015 - a maioria proveniente da África -, o país escandinavo foi um dos que mais imigrantes acolheram durante a onda migratória na Europa.
O país de 10 milhões de habitantes, com uma tradição de políticas progressistas, não parecia ser um solo fértil para os movimentos de extrema-direita e de supremacismo branco.
Mas as coisas parecem estar mudando.

Por que a Suécia?

Há dois fatores pelos quais os grupos de extrema-direita estão olhando o que está se passando na Suécia, diz Jonathan Leman, pesquisador da fundação antirracista Expo.
Um é "a fascinação" que há entre nacionalistas brancos e de extrema-direita pela ideia de que os suecos brancos estariam sendo "deslocados" de seu país.
Pedestres em EstocolmoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA Suécia foi um dos países europeus que mais receberam imigrantes nos últimos anos
"A brancura é um símbolo da preservação" tanto na Suécia como em outros países da região, explica ele à BBC.
Outro é a "imagem negativa" do que está se passando na Suécia e que tem sido exportada pela extrema-direita do país: "Eles estão estimulando essa imagem, em inglês, para o mundo".
A isso se soma o fato de a Suécia ser parecida demograficamente com algumas regiões do leste e do centro dos Estados Unidos onde estão as bases de movimentos supremacistas e de extrema-direita.
Na Suécia, há comunidades com mais de 90% de pessoas brancas; alguns americanos de movimentos "alt-right" usam esses números para efeito de comparação.
Além disso, em abril de 2017 houve um ataque com um caminhão em Estocolmo, que deixou quatro mortos. Um imigrante em processo de deportação foi acusado de ser o autor, aumentando a percepção de que a imigração é um problema.

Violência

A Suécia registrou nos últimos três anos um aumento nos índices de criminalidade, principalmente de ataques com armas em regiões que receberam imigrantes.
A cidade portuária de Malmö foi chamada por figuras políticas de direita, como o britânico Nigel Farage, de "a capital dos estupros da Europa", pelo suposto aumento de ataques sexuais.
A polícia numa cena de crime em MalmoDireito de imagemAFP
Image captionA cidade de Malmö registrou aumento da violência; o fato foi usado por nacionalistas para criticar a política migratória do país
A BBC analisou os dados disponíveis e verificou que cidades como Malmö tiveram uma queda no número de ataques sexuais desde 2010, antes da chegada dos imigrantes. Mas a imagem vendida para fora é diferente.
"Vimos um grande número de pessoas chegando, o que fez um amplo grupo da sociedade sueca pensar que isso era um erro. Ao mesmo tempo, a Suécia teve um aumento do crime", diz Christian Christensen, professor da Universidade de Estocolmo.
"O fato é que o crime disparou em áreas específicas de Malmö e de Estocolmo, mas a imagem é que o país está infestado pelo crime e pela violência."
É por isso que a associação entre o aumento da criminalidade e a chegada de imigrantes começou a alimentar as publicações de muitos grupos de extrema-direita não apenas na Suécia, como no mundo.

Movimento identitário

Hoje se podem identificar vários líderes da extrema-direita, desde o do Democratas Suecos, Jimmi Akesson, a outras figuras surgidas de grupos na internet.
Homepage do portal BreitbartDireito de imagemHOMEPAGE DO PORTAL BREITBART
Image captionSites como o Breitbart, um dos portais identificados como "alt-right", têm falado com frequência da Suécia | Foto: Reprodução
Um deles é Daniel Friberg, um empresário que cuida de vários sites de ultradireita, um defensor do nacionalismo que publicou livros como o "O Regresso da Verdadeira Direita: um Manual para a Verdadeira Oposição".
"Compartilho muitos pontos de vista com Richard Spencer. É uma grande figura, escreve grandes artigos. Acredito que temos as mesmas bases de direita", diz Friberg à BBC.
Spencer é um dos maiores propagadores do movimento "alt-right" dos Estados Unidos. Ele criou o site altright.com, do qual Friberg é editor.
Richard SpencerDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionRichard Spencer é o criador do movimento de extrema-direita dos EUA "alt-right", replicado em outras partes do mundo
"Daniel Friberg tem um grande histórico na extema direita na Suécia. Nos anos 90 ele foi membro ativo de grupos neonazis. Uma década depois, tratou de introduzir o movmento identitário", diz Jonathan Leman.
Friberg disse à BBC que desde os 15 anos participou do movimento direitista Aliança Nacional, mas rechaça que seus objetivos tenham sido neonazistas.

Aliança Mundial

A situação também se viu refletida no terreno político sueco, onde partidos conservadores e de ultradireita foram ganhando terreno nos últimos anos.
Em setembro, o partido anti-imigração Democratas Suecos atingiu quase 20% da preferência do eleitorado nas pesquisas.
Jimmie AkessonDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionJimmie Akesson é o líder do Democratas Suecos, partido que tem ganhado mais terreno político entre os de direita na Suécia
O aumento da popularidade da direita e de sua postura anti-imigração continou, mesmo depois do número de pedidos de asilo de estrangeiros ter caído.
Em 2015 foram mais de 60.000 pedidos registrados, enquanto no ano passado o número caiu para 25.000.
Mesmo assim, o efeito dessa imagem negativa se estendeu dentro e fora da Suécia de diversas maneiras.
Os sites e espaços em redes sociais do movimento "alt-right" começaram a fazer "alianças a nível internacional" para difundir suas mensagens, explica Leman.
Protesto contra a extrema-direita na SuéciaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAtualmente a Suécia tem um governo socialdemocrata, mas os partidos de direita foram ganhando espaço; em setembro haverá eleições
São grupos que "vão além do conservadorismo tradicional, pois impulsionam causas como o nacionalismo e a supremacia branca", diz o pesquisador.
Com a eleições em setembro na Suécia, a direita vê uma oportunidade para impulsionar o nacionalismo e as políticas contra a imigração.
Será uma espécie de laboratório para os movimentos de extrema-direita de outros países, que têm estado muito atentos ao que ocorre na nação escandinava.