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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Na vizinhança de sua casa!

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/posts/view/a_imprensa_e_as_guerras_urbanas_do_seculo_xxi

A imprensa e as guerras urbanas do século 21

Por Carlos Castilho em 28/09/2013

As previsões feitas por um livro que será lançado agora em outubro na Europa e Estados Unidos têm todos os motivos para preocupar quem vive em grandes cidades e em especial a imprensa. Out of the Mountains, The Coming Age of the Urban Guerrilla (Longe das montanhas, a futura era da guerrilha urbana) parte de uma pesquisa acadêmica e de levantamentos estatísticos para afirmar que nas próximas décadas todos os grandes conflitos mundiais terão como palco as megacidades em vez de regiões selvagens e pouco habitadas.

A velha guerrilha estilo Sierra Maestra, em Cuba, no final da década de 1950, ou nas selvas do sudeste asiático nos anos 1970, está sendo substituída por sequestros em shopping centers, atentados contra hotéis, bancos, escolas e grandes edifícios localizados no coração de cidades superpovoadas e cheias de problemas.
David Kilculle, o autor do livro, é um pesquisador de assuntos militares que desde o ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, vem estudando o papel das grandes cidades na estratégia de grupos insurrecionais. Ele investigou o massacre da escola secundária de Beslan, na Rússia, e o ataque contra hotéis e bancos de Mumbai, na Índia, também em 2008. Kilcullen acaba de publicar um artigo no jornal The Guardian onde estende a sua análise à morte de 67 a 130 pessoas (o numero total ainda é desconhecido) num shopping center em Nairobi , no Quênia, na terceira semana de setembro.
O livro analisa o crescimento exponencial das cidades na África, Ásia e América Latina e a formação de guetos de imigrantes pobres em capitais europeias e nas metrópoles norte-americanas. A explosão demográfica nas áreas urbanas mais pobres multiplica os problemas e a insegurança da população, que diante da ineficiência e corrupção nos sistemas estatais acaba buscando proteção no crime organizado e movimentos insurrecionais. O surgimento de áreas urbanas fora do controle governamental é facilitado pelo uso dos sistemas de comunicação e interação da internet.
Kilculle diz, num dos capítulos do livro, que esse novo cenário dos conflitos contemporâneos torna necessária uma revisão no papel da imprensa como canal de comunicação nas comunidades urbanas. O aumento da fragmentação social nos grandes centros urbanos gera a necessidade de uma maior interação informativa entre os vários segmentos da população para evitar o risco de tendências xenofóbicas alimentadas pelo medo, incerteza e isolacionismo.
Noutras palavras, em vez de preocupar-se prioritariamente em trazer notícias internacionais e nacionais para consumo das comunidades locais, a crescente tensão urbana cobra da imprensa uma maior circulação de notícias comunitárias como forma de inserir o jornalismo na busca de soluções desenvolvidas pelos próprios moradores.
Isto implica uma mudança nas estratégias editoriais da maioria dos jornais, revistas e emissoras de rádio ou TV nas grandes metrópoles, cujo distanciamento em relação às comunidades urbanas pode explicar por que os movimentos de protesto e as ações de grupos paramilitares invariavelmente pegam de surpresa as autoridades e a opinião pública.
O autor do livro Out of the Mountains afirma que os ataques em Mumbai e Nairobi foram precedidos por meses de cuidadosos preparativos que incluíram a montagem de redes de contatos e o uso de tecnologia de monitoramento para identificação de pontos estratégicos nas duas cidades.
Os movimentos insurrecionais do século 21 encontram nos guetos urbanos e no impacto midiático de ações localizadas os elementos-chave para estratégias de ação muito mais eficientes do que em territórios isolados e desconhecidos, onde há necessidade de muito mais gente para ações de repercussão muito menor. Para Kilculle, a crise urbana gerou uma relação custo/benefício muito mais atraente do que focos guerrilheiros nas montanhas.
A consciência dos desdobramentos da crise urbana ainda é um assunto inexplorado pela imprensa, que prefere o factualismo das explosões populares e dos atos de terrorismo, bem como o otimismo empedernido das autoridades, à produção de notícias e informações capazes de levar as pessoas a pensar. 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Fim das concessões de TV e Rádio

Projeto pede fim das concessões para religiosos e políticos - Reproduzido do Sul 21, 10/7/13 | Observatório da Imprensa | Observatório da Imprensa - Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito

RÁDIO E TV

Projeto pede fim das concessões para religiosos e políticos

Por Rachel Duarte em 16/07/2013 na edição 755
Reproduzido do Sul 21, 10/7/13

Os ativistas da democratização da mídia mobilizam-se em todo o país para coletar 1,5 milhão de assinaturas e viabilizar o ingresso de projeto de lei por iniciativa popular no Congresso Nacional. A intenção é regulamentar artigos constitucionais que já dispõem sobre os direitos da comunicação e dos cidadãos quanto ao acesso aos conteúdos produzidos pelas emissoras. Além de mexer nos interesses das sete famílias donas dos principais grupos comunicacionais do país, o texto pretende restringir as concessões evitando que religiosos e políticos continuem sendo donos de emissoras de rádio e televisão. No Rio Grande do Sul, o projeto foi apresentado em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande Sul (AL-RS), na quarta-feira (10).
Elaborado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o projeto prevê normas apenas para a comunicação eletrônica. Não se trata, segundo o FNDC, de regulamentar internet, revistas digitais ou redes sociais, mas de, especificamente, alterar a distribuição das concessões de rádio e televisão no país. “Não é o fantasma da censura à liberdade de imprensa como alguns dizem, mas a garantia de que se cumpra o que já está previsto na Constituição. Promoção da diversidade cultural, equilíbrio dos setores da comunicação, conteúdos anti-discriminatórios e garantir o direito à comunicação aos cidadãos”, explica a representante do FNDC, Eliane Silveira.
Entre as normas, está previsto que 33% dos canais de rádio e televisão devem ser públicos, sendo metade deste percentual para grupos comunitários. Os canais públicos devem ser independentes de governos, mas as gestões públicas devem criar editais para garantir espaço para os movimentos sociais nas mídias. O texto também diz que 80% das cidades brasileiras têm que receber o sinal dos canais públicos e comunitários, para garantir a inserção de um novo conteúdo na vida das pessoas.
Questão vital para sobrevivência dos grandes e pequenos grupos de comunicação, a distribuição das verbas publicitárias dos governos e a influência do poder econômico no oligopólio da comunicação também seriam regulamentadas se aprovado o projeto de iniciativa popular da FNDC. “A ideia é que se crie um fundo público para a comunicação em que 25% dos recursos sejam para os canais públicos e 3% da propaganda dos canais privados sejam para sustentação do fundo”, disse Eliane Silveira.
Neste ponto, o representante da Mídia Ninja, Ney Hugo, salientou que até mesmo governos de esquerda, que sempre defenderam a quebra do monopólio da comunicação, se vêem reféns das grandes empresas. “Algumas políticas públicas positivas e importantes para certas regiões não são exploradas como pauta pelas grandes empresas, que não assumem suas posições políticas mas trabalham com clara linha ideológica. Isso faz com que os governos de esquerda tenham que injetar muitos recursos em publicidade nestes grandes canhões para ver alguma coisa sair”, contextualizou.
Na avaliação do representante da Rede Canal Livre, Cláudio Calmo, o que falta para aprovação de um marco regulatório para as comunicações, que não fique restrito às rádios e televisões, é a coragem dos governantes em enfrentar os interesses econômicos e políticos que estão umbilicalmente ligados às emissoras. Mesma opinião tem o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, José Maria Nunes. “Não somos contrários ao projeto de iniciativa popular. Mas, se alcançarmos as 1,3 milhão de assinaturas, vamos conseguir aprovar este projeto? Acho muito difícil que passe no Congresso. O que falta é o governo ter coragem de enfrentar os interesses que impediram até hoje o Marco Regulatório das Comunicações”, defendeu o presidente sindical.
Em nome do governo gaúcho, a diretora de Inclusão Digital, Vera Spolidoro, disse que a opinião do governador Tarso Genro (PT) é favorável não projeto da FNDC. Mas alertou para a necessidade de se discutir uma regulação que envolva as mídias digitais. “A internet está cada vez mais interligada com as demais mídias. E os últimos protestos das ruas mostram uma realidade que, se for verdadeira, pode ser ruim. Segundo levantamento da Folha de São Paulo, os links mais compartilhados nas redes sociais durante as marchas foram dos grandes veículos de comunicação e não dos veículos alternativos”, ressaltou.
A representante do Levante Popular da Juventude, Laura Wottrich, disse que os movimentos organizados tendem a valorizar o discurso da imprensa livre e estão mobilizando atos nacionais em favor da democratização da mídia.
O deputado estadual Aldacir Oliboni (PT), autor do projeto de lei que tramita na AL-RS para ampliar em 10% o repasse de verbas publicitárias para as rádios comunitárias do RS, salientou que o investimento nas mídias independentes da internet tende a ser acrescentado no texto. Ele também reforçou a necessidade de ser realizado um seminário de sensibilização do tema no parlamento gaúcho. O ato será importante para articular a aprovação do Conselho Estadual de Comunicação desenvolvido pelos profissionais da comunicação e o governo gaúcho. “Eu faço um apelo aos deputados desta comissão, pois estamos com medo de que o Conselho não seja aprovado por esta casa. Os mesmos interesses que não querem o fim do oligopólio, não querem que este conselho seja criado”, disse a ex-secretária estadual de Comunicação, Vera Spolidoro
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quarta-feira, 3 de julho de 2013

PÓS-JORNALISMO é um fenômeno dos protestos de rua.... // Observatório da Imprensa

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/posts/view/o_pos_jornalismo_entra_em_cena_nas_manifestacoes
CÓDIGO ABERTO

O pós-jornalismo entra em cena nas manifestações

Por Carlos Castilho em 30/06/2013
A geração com menos de 30 anos comandou os protestos de rua mas não ficou só nisso. Ela mostrou a cara também na complicada arena da comunicação introduzindo formas inovadoras de trocar ideias e disseminar notícias.
O fenômeno Pós TV, analisado neste Observatório no excelente artigo de Elizabeth Lorenzotti, marca a expansão para a TV dos projetos alternativos de comunicação baseados na Web. O projeto já existia antes da onda de protestos, mas foi a partir deles que a Pós TV ganhou visibilidade pública ao se transformar na fonte de acesso direto ao movimento iniciado com a campanha dos estudantes pelo passe livre nos transportes públicos.
Pela primeira vez em muitos anos, os usuários da internet puderam comparar o que a imprensa convencional disponibilizava para as audiências e a informação direta sem edição, tanto em texto como em áudio e vídeo, produzida por jovens praticando o jornalismo direto das ruas, manifestações e assembleias.  
Foi interessante verificar como a geração com menos de 30 anos dá pouca importância aos cuidados editoriais de jornais, revistas e emissoras de televisão e sentem-se muito mais atraídos pela espontaneidade amadorística, e em muitos casos até tosca, de programas transmitidos ao vivo pela Pós TV ou dos textos publicados nas redes sociais e Twitter.
A Pós TV, por exemplo, vem transmitindo ao vivo das ruas onde ocorrem protestos criando um contato direto dos telespectadores com o desenrolar dos acontecimentos. A cobertura está longe de ser tecnicamente perfeita. Imagens fora de foco, iluminação deficiente, câmera instável e narrativa geralmente testemunhal criaram um contraste radical com o noticiário transmitido geralmente de helicópteros ou do alto de edifícios pelas grandes redes.
Enquanto a televisão dos estudantes transmitia emoção e participação, a Globo, Record e Bandeirantes oscilavam entre a preocupação com a assepsia informativa e o proselitismo escancarado. Os defeitos e problemas nas transmissões feitas a partir de telefones celulares e câmeras amadoras portáteis acabaram sendo pouco notados pelo público jovem mais interessado em compartilhar o que acontecia nos quatro cantos do país.
Nas transmissões pela Pós TV de debates, assembleias e reuniões de estudantes foi marcante a ausência do estilo panfletário e ideologizado típico das lideranças estudantis, até a década de 1990. Debate em estudio Pós TV O material divulgado pelo canal com acesso exclusivo através da internet tornou possível conhecer o comportamento, ideias e projetos dos movimentos contestadores numaintensidade e profundidade jamais vistos pelo públicobrasileiro.
A Pós TV é produzida por um grupo de adeptos do jornalismo de participação chamado Narrativas Independentes Jornalismo e Ação (NINJA) e integra o conjunto de iniciativas abrigadas no portal Fora do Eixo, criado em 2009 por  ativistas e intelectuais em Cuiabá (Mato Grosso), Rio Branco (Acre), Uberlândia (Minas Gerais) e Londrina (Paraná).  A meta é tentar aglutinar movimentos, projetos e iniciativas no interior do Brasil, entre elas a ambiciosa proposta de criar uma Universidade Fora do Eixo.
Os NINJAs (responsáveis pela Pós TV) conseguiram diferenciar-se dos demais órgãos da imprensa alternativa brasileira por terem aderido à descentralização informativa, o que permitiu que eles desenvolvessem uma cobertura baseada em contribuições de qualquer pessoa portadora de um celular ousmartphone com câmera digital. Como numa cidade como São Paulo este é o tipo de equipamento quase obrigatório na maioria da população, o problema não foi a escassez, mas sim o excesso de material para transmissão — tanto que no auge dos protestos, na segunda quinzena de junho, os NINJAs tiveram que pedir socorro aos seus simpatizantes.
A grande maioria das publicações alternativas no Brasil atual é produzida segundos moldes clássicos do jornalismo, com centralização e hierarquização das funções. A política editorial é contestadora da ordem vigente, mas a estrutura de produção é baseada nos mesmo princípios da mídia convencional.
O jornalismo móvel praticado por autônomos e amadores, chamado pelos americanos de MOJOs e por outros como jornalismo-cidadão, permitiu que boa parte dos participantes das manifestações pudesse enviar fotos e vídeos para a Pós TV. A capilaridade informativa foi muito superior a das TVs comerciais, onde havia total ausência de fatos. O polêmico Marcelo Rezende, da TV Record, pediu  várias vezes ao vivo: “Alguém me diga o que está acontecendo, tenho a imagem do helicóptero mas não sei o que está ocorrendo na rua”.
Ainda é cedo para avaliar se o projeto dos NINJAs vai ter uma longa duração ou não. No contexto atual da internet, iniciativas como a Pós TV mostram uma alta taxa de mortalidade porque os seus autores acabam atropelados pela mudança acelerada de contextos e de expectativas, aqui e também no resto do mundo. Mas no seu conjunto, a cada projeto que entra em crise surgem pelo menos três outros, conforme mostrou uma pesquisa feita pela Oriella, uma rede de relações públicas nos  Estados Unidos. 

sábado, 10 de novembro de 2012

Mercado de Livros brasileiro é nono maior do Mundo

ARMAZÉM LITERÁRIO

MERCADO EDITORIAL

Mercado brasileiro é o 9º no mundo

Por Mariana Barbosa em 06/11/2012 na edição 719
Reproduzido da Folha de S.Paulo, 3/11/2012; título original “Mercado de livros cresce e já aparece como 9º no mundo”, intertítulo do OI 
Até agora “protegido” pela língua nacional, o mercado editorial brasileiro atingiu tamanho de gente grande e começa a atrair importantes grupos internacionais. Com R$ 6,2 bilhões de faturamento e 469,5 mil exemplares vendidos, o Brasil é o nono maior mercado editorial do mundo, segundo estudo recém-publicado da Associação Internacional dos Editores (IPA, na sigla em inglês). É o primeiro estudo que trás a movimentação total do mercado nacional, considerando o preço pago pelo consumidor. O faturamento das editoras, medido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), foi de R$ 4,8 bilhões em 2011.
A compra de 45% da Companhia das Letras pela britânica Penguin no final de 2011 foi o início de um movimento que deve se intensificar, avalia o consultor Carlo Carrenho, do site PublishNews. Diferentemente do que acontece em setores como meios de comunicação, não há impedimento para a entrada de estrangeiros no mercado editorial. Os espanhóis já estão no país há alguns anos e a portuguesa LeYa comprou a Casa da Palavra no ano passado.
O mercado brasileiro, junto com China e Índia, está no foco da Random House Penguin, união de duas das maiores editoras do mundo anunciada na semana passada. “Não tivemos muitas aquisições de estrangeiros no passado por conta do idioma. Mas, com o tamanho do mercado brasileiro, com a classe C entrando, o Brasil está cada vez mais atraente”, diz Carrenho.
Situação confortável
Dados da CBL mostram que o livro está mais barato e o brasileiro anda lendo mais. O preço médio do livro caiu 6,1% em 2011, considerando apenas preços praticados no mercado privado. Incluindo compras de governo, o preço médio ficou estável (alta de 0,1%). O governo representa 39,5% do mercado.
Em volume, as vendas subiram 7,2% – o brasileiro comprou 3,34% mais, e o governo,13,7% mais. Já em receita, a alta foi de 7,4%. Ou 0,81%, descontada a inflação.
Na opinião de Carrenho, as editoras estão em situação confortável para conversar, pois estão saudáveis e com perspectiva de crescimento. “Há muito espaço para as editoras se tornarem globais, com uma administração profissional”, diz. “As editoras são empresas familiares e só têm a ganhar ao fazer parte de grandes grupos.”
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Livros digitais devem impulsionar setor

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Lições do papel de repórter - Reproduzido do suplemento “Sabático” do Estado de S.Paulo, 4/8/2012 | Observatório da Imprensa | Observatório da Imprensa - Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito

Lições do papel de repórter - Reproduzido do suplemento “Sabático” do Estado de S.Paulo, 4/8/2012 | Observatório da Imprensa | Observatório da Imprensa - Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito

ENTREVISTA / AUDÁLIO DANTAS

Lições do papel de repórter

Por Luiz Zanin Oricchio em 07/08/2012 na edição 706
Reproduzido do suplemento “Sabático” do Estado de S.Paulo, 4/8/2012
Aos 80 anos, que não aparenta de jeito nenhum, Audálio Dantas é um mestre. Um mestre do jornalismo, sereno, incisivo e sem sinal de vaidade. Quem o conhece sabe da trajetória de vida exemplar. Das grandes reportagens em jornais e revistas O Cruzeiro e Realidade. Da coragem na condução do Sindicato dos Jornalistas em sua hora mais dramática, a do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nos porões do DOI-Codi, durante a ditadura militar.
Dessa faceta de jornalista exemplar, temos uma boa amostra em Tempo de Reportagem, que a editora Leya lança agora. São 13 relatos pinçados por Audálio de um longo trabalho na imprensa na condição de repórter, daquele tipo que, como se diz no jargão do ofício, não pode ter medo de gastar as solas dos sapatos, pois é nas ruas que estão as boas histórias e não no ar condicionado das redações.
Da atuação política ficaremos sabendo um pouco mais adiante, quando lançar A Segunda Guerra de Vlado Herzog, editado pela Civilização Brasileira e que chegará às livrarias em outubro. No livro, Audálio resgata a participação do Sindicato dos Jornalistas nesse episódio, marco trágico pelo assassinato de Vlado, mas também divisor de águas no enfrentamento da ditadura pela sociedade civil. Leia a seguir, a entrevista concedida por Audálio ao “Sabático”.
De todos os textos que você publicou em sua longa carreira, escolheu 13 para esta coletânea. Com que critério fez a seleção?
Audálio Dantas– Eu já havia publicado um livro, O Circo do Desespero, título de uma das reportagens, com dez textos. Agora reuni mais dois, um sobre Carolina Maria de Jesus e outro sobre uma maratona do beijo, prova bastante parecida com a da maratona da dança, e que escrevi para a Playboy em 1993. Tirei também uma matéria chamada Restos, sobre pessoas que vivem do lixo, que acho demagógica. Mas há outra novidade. Para este livro, escrevi uma espécie de making of de cada reportagem. Quer dizer, uma apresentação de cada uma delas, uma reavaliação desses textos, alguns já antigos, pelo meu olhar contemporâneo. O interessante é que às vezes o making of é tão ou mais extenso que a reportagem em si.
Desses, qual considera o mais importante?
A.D. – Sem dúvida, a reportagem sobre a Carolina Maria de Jesus, que teve repercussão imensa, mudou a vida da personagem e também a minha. É um texto do qual não gosto muito, mas ele tem essa importância. E é exemplo de como um repórter sai da redação atrás de uma coisa e pode encontrar outra, se estiver de olhos abertos. Eu saí para fazer reportagem sobre uma favela que estava se formando, no Canindé, na beira do Tietê, e descobri essa mulher que escrevia, mantinha um diário, tinha poemas e tudo o mais, e já andara por algumas redações de jornais tentando em vão chamar a atenção para o seu caso. Não gosto do meu texto, tem muito adjetivo, é até piegas. Serviu para revelar o caso e possibilitou a publicação do livro da Carolina. Tirou 100 mil exemplares, isso nos anos 50, e foi traduzido em vários países. O prefácio da edição em italiano é do Alberto Moravia.
Há essa constante na maior parte das suas reportagens, a presença do povo como personagem, não é? Bem distante do jornalismo de celebridades atual. Você não tinha dificuldade em vender algumas dessas pautas?
A.D. – Sempre tive essa busca por assuntos de fundo social. O tempo era outro, ainda assim um editor me censurou por colocar negros e pobres como personagens. Por exemplo, no caso de O Circo do Desespero, era uma abordagem diferente na cobertura habitual do carnaval, os desfiles, as mulheres gostosas, os bailes. Aqui, o caso era outro. Eram miseráveis atrás do prêmio, que se matavam numa maratona de dança interminável. Por sorte, o editor de O Cruzeiro era um intelectual, um homem sensível, Odylo Costa, filho. Entreguei o texto e ele, do Rio, mandou um telegrama dizendo que havia chorado ao lê-lo. Como digo no livro, acho que foi o maior elogio que recebi em minha carreira de repórter.
No entanto, o texto não é piegas...
A.D. – Sempre pretendo contar a história da melhor maneira, sem chantagear ninguém ou procurar comover.
Mas os textos são impactantes, emocionam, fazem pensar. Há uma proximidade temática entre essa reportagem sobre a dança e a outra sobre a maratona do beijo, que fecha o livro.
A.D– São parecidas por esse aspecto, o mundo cão, armado para explorar desesperados que tentam ganhar algo. Mas se reparar, no primeiro caso são miseráveis atrás de uma recompensa para garantir necessidades básicas, como alimento. No outro, já se disputava um automóvel, símbolo de status. No fundo, a mesma coisa, a exploração das pessoas, transformadas em espetáculo na sua agonia.
A mais dura, me parece, é “Juqueri - Nossos Desamados Irmãos Loucos”. Que também traz uma inovação formal da técnica jornalística, um texto no qual se vê a compaixão pelo outro.
A.D. – Sim, para fazer uma reportagem desse tipo você tem de ser um observador. Mas precisa se identificar com o outro, com a dor do outro. Não existe neutralidade; tem o seu ponto de vista ali. E, quanto à forma, como aquele era um universo fragmentado, eu também escrevi em fragmentos, em flashes isolados, que faziam sentido no conjunto. Faço um tipo de jornalismo que não se enquadra naquele esquema do lead, das informações básicas, etc. Acho que se pode usar técnicas da literatura, como supor um determinado pensamento na cabeça de um personagem. Mas tenho receio de que a expressão “jornalismo literário” leve a pensar que estamos inventando algo, que estejamos fazendo ficção. O jornalista deve observar os fatos, ater-se às informações. Pode escrever como ficcionista, mas não fazer ficção. Deve também ouvir o máximo possível de pessoas, como fiz em “Chile 70”, logo após da eleição de Salvador Allende. Conversando com as pessoas de diferentes pontos de vista, percebia-se logo onde aquilo poderia dar. Não é algo que se faça num dia ou dois. Percorri o país de norte a sul, por mais de 3500 quilômetros e ouvi dezenas de pessoas antes de escrever.
E quanto ao livro sobre o caso Herzog?
A.D. – A Segunda Guerra de Vlado Herzog eu estava devendo havia 37 anos. O caso já foi esmiuçado de vários ângulos, houve até filme, mas faltava destacar a atuação do Sindicato dos Jornalistas na ocasião. A resistência, o culto ecumênico na Catedral da Sé, toda a reação à morte do Herzog foi um desafio à ditadura, um divisor de águas no processo de liquidação do autoritarismo, e o nosso sindicato teve participação importante em tudo isso.
Como você o escreveu?
A.D– É uma história do Vlado, em sua parte biográfica. E a história daquele período e das circunstâncias que o levaram à morte. Eu não havia anotado nada. Levei ano e meio lembrando e escrevendo. Nas horas vagas, que se diga, pois não interrompi outras atividades profissionais para fazer esse livro. Fui lembrando. Parte dele é um diário em primeira pessoa, o resto é em terceira pessoa. Há esse lado íntimo, pessoal. Mas também entrevistei muita gente. Ouvi mais de 50 participantes dos fatos, José Mindlin, dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel, jornalistas que haviam sido presos antes do Vlado como Sergio Gomes da Silva, Paulo Markun, Duque Estrada, a Clarice Herzog. Enfim, é um livro que eu sentia que devia ser escrito.
***
[Luiz Zanin Oricchio, do Estado de S.Paulo] 

domingo, 22 de julho de 2012

"O poder, no Brasil, insiste em questionar a liberdade de imprensa"

CASO CACHOEIRA

Magistrado censura imprensa

Por Mauro Malin em 20/07/2012 na edição 703
Em nome da Lei de Execuções Penais, o juiz Bruno André Silva Ribeiro proibiu Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira, de dar entrevista à Folha de S. Paulo. A notícia foi dada na quarta-feira (18/7). O juiz disse que a lei só permite contato com advogados e família.
Não é a opinião do advogado Manoel Alceu Afonso Ferreira. Para Manoel Alceu, a lei assegura ao preso, mesmo provisório, direito de ter contato com o mundo exterior. É evidente que falar à imprensa faz parte da defesa de um réu. Ou, mais genericamente, do direito de expressão de um indivíduo.
O contestado argumento baseado na Lei de Execuções Penais não foi o bastante para o magistrado do Distrito Federal. Ele tachou de sensacionalista uma entrevista que nem chegou a ser feita. E se julgou no direito de rejeitar a “escolha pontual” de Cachoeira “por um veículo específico da imprensa”.
Essa defesa da concorrência entre meios de comunicação leva à sugestão de que o juiz Silva Ribeiro promova no presídio da Papuda, onde está Cachoeira, uma entrevista coletiva.
O poder, no Brasil, insiste em questionar a liberdade de imprensa.

sábado, 21 de julho de 2012

Narcotráfico faz jornal mexicano desistir de divulgar crime organizado

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/apos_ataques_jornal_desiste_de_cobrir_crime_organizado

MÉXICO

Após ataques, jornal desiste de cobrir crime organizado

19/07/2012 na edição 703
Tradução: Larriza Thurler (edição de Leticia Nunes)
 O jornal mexicano El Mañana afirmou que não cobrirá mais as violentas disputas do crime organizado no país depois de sofrer um segundo ataque em apenas dois meses. No dia 10/7, três edifícios no norte do país onde funcionam jornais – incluindo o El Mañana  sofreram ataques com granadas. Outros jornais já haviam adotado, de maneira discreta, políticas semelhantes de não cobrir a violência dos carteis de drogas para proteger suas equipes contra ameaças e ataques violentos. O anúncio do El Mañana foi atípico por ser público.
O diário não deu os nomes de quem acredita estar por trás dos ataques, tampouco divulgou um possível motivo para os incidentes. “Pedimos a compreensão do público e vamos evitar, pelo tempo que for necessário, publicar qualquer informação relacionada à violência em nossa cidade ou em outras regiões do país”, escreveu o jornal, em editorial.
Violência crescente
A cidade de Nuevo Laredo, como boa parte do estado de Tamaulipas, vem sendo palco de batalhas sangrentas entre a gangue Zetas e o cartel do Golfo, apoiado por aliados do cartel Sinaloa. “Os conselhos administrativo e editorial foram forçados a tomar esta decisão lamentável por circunstâncias as quais estamos familiarizados e pela falta de condições adequadas para exercer livremente o jornalismo profissional”, declarou o El Mañana.
Desde 2000, 81 jornalistas foram mortos e 16 foram sequestrados no México por conta da guerra do narcotráfico. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York, alega que 48 jornalistas foram mortos ou desapareceram desde que o presidente Felipe Calderón lançou uma ofensiva contra carteis de drogas em dezembro de 2006. Informações da AP [11/7/12].