domingo, setembro 24, 2017
Os coxinhas LGBT - GUILHERME FIUZA
REVISTA ÉPOCA
O mercado de causas sociais, sexuais e raciais virou uma praga, lucrativa nos balcões eleitorais
O Brasil tinha 200 milhões de técnicos de futebol, mas eles mudaram de emprego. Agora são 200 milhões de fiscais ideológicos. Todos prontos para dar carteiradas solenes a cada esquina do espectro esquerda x direita – ou seja, no mundo da lua. O circo sangrento está animado (a guerra é de ketchup, mas impressiona) e o caso da exposição do Santander espirrou sangue cenográfico por todo lado. Naturalmente, como sempre ocorre por aqui, a polêmica soterrou o que interessa.
A decisão dos organizadores de suspender o evento em Porto Alegre, após protestos contra uma suposta catequese homossexual no universo infantil (ou algo assim, tanto faz), virou festa para moralistas e demagogos – que foram feitos uns para os outros. Um falso profeta da liberdade de expressão reza todos os dias para topar com um plantonista decrépito da moralidade familiar, e vice-versa. Quando se dá essa conjunção mágica, ambos sacam radiantes seus estandartes e panfletos, capricham na coreografia para delírio dos respectivos fiéis e voltam para suas tocas de barriga cheia. É bom para todo mundo.
Menos para o pessoal do outro mundo – um que fica bem abaixo da lua. Esse aí não está achando a menor graça no debate do caso Santander, porque sabe que direita x esquerda é um dilema mentiroso, feito para esconder a covardia intelectual sob etiquetas sem nada dentro. Claro que quem quiser detestar e boicotar tem todo o direito de fazê-lo, assim como quem quiser expor e adorar a bizarrice que seja, chamando ou não de arte, também tem. E chega de perder tempo com lições primárias. O papo é outro.
O que interessa da reação à exposição Queermuseu é a crítica ao arrastão mercadológico das pautas politicamente corretas. Minoria defendia sua avó. O movimento gay eclodiu em San Francisco há meio século. Qualquer ativista sério da causa homossexual nos dias de hoje acha ridículo quem usa orgulho gay para se fantasiar de vanguarda. Estes são os coxinhas LGBT. E essa mercantilização de causas sexuais, raciais e sociais virou uma praga – um tsunami de butique altamente lucrativo nos balcões eleitorais, comerciais, de marketing e de reputações, invariavelmente atrapalhando a defesa da própria causa original.
Aí vem o outro batendo no peito e dizendo que era um grande banco realizando a exposição com dinheiro público, “o meu dinheiro” etc. Ok, companheiro, mas a má notícia é que nessa pornografia o buraco é mais embaixo: fique à vontade para reclamar, de boca cheia (com todo o respeito), do uso do dinheiro privado também. Traduzindo: a praga politicamente correta dominou as oportunidades de mercado, produzindo uma fenomenal hegemonia da burrice.
Do autor de telenovela ao dono da emissora, do patrocinador esportivo ao pesquisador universitário, passando pelo vereador e pelo camelô da esquina, todos sabem que projeto com proselitismo coitado é vendedor. O enésimo recital de pieguice racial ou sexual, que pelo teor demagógico já é em si uma afronta à própria vítima que finge defender, está fadado ao sucesso. Não tem erro. Sim, é assustador – assustadoramente real. O pobre coitado do marketing do Santander não tinha dúvidas de que convidar crianças recém-alfabetizadas para uma imersão estética pansexual era o melhor que ele fazia por seu emprego.
O tiro saiu pela culatra – e é claro que oportunistas dos dois lados estão na sua guerra sangrenta de ketchup discutindo se foi censura ou se foi uma ofensa à família brasileira. Mas o banco e o mercado, que nada têm a ver com a dicotomia dos lunáticos, estão convidados a entender esse boicote agressivo e surpreendente como o que ele de fato foi, acima de tudo: uma reação de saturação a uma doutrinação idiota, que finge afirmar valores nobres para vender seu peixe.
É a mesma malandragem que queria retocar a obra de Monteiro Lobato por suposta luta contra o racismo – o que os libertários de porta de assembleia não viram como censura, claro, mas como libertação. O truque ficou velho, companheiros, e cada vez mais gente perceberá que seu falso heroísmo não ajuda em nada os negros, os gays e quem mais vocês pasteurizam.
O grande ato de respeito à diferença que se espera do Brasil no momento é quebrar a espinha do totalitarismo politicamente correto.
O mercado de causas sociais, sexuais e raciais virou uma praga, lucrativa nos balcões eleitorais
O Brasil tinha 200 milhões de técnicos de futebol, mas eles mudaram de emprego. Agora são 200 milhões de fiscais ideológicos. Todos prontos para dar carteiradas solenes a cada esquina do espectro esquerda x direita – ou seja, no mundo da lua. O circo sangrento está animado (a guerra é de ketchup, mas impressiona) e o caso da exposição do Santander espirrou sangue cenográfico por todo lado. Naturalmente, como sempre ocorre por aqui, a polêmica soterrou o que interessa.
A decisão dos organizadores de suspender o evento em Porto Alegre, após protestos contra uma suposta catequese homossexual no universo infantil (ou algo assim, tanto faz), virou festa para moralistas e demagogos – que foram feitos uns para os outros. Um falso profeta da liberdade de expressão reza todos os dias para topar com um plantonista decrépito da moralidade familiar, e vice-versa. Quando se dá essa conjunção mágica, ambos sacam radiantes seus estandartes e panfletos, capricham na coreografia para delírio dos respectivos fiéis e voltam para suas tocas de barriga cheia. É bom para todo mundo.
Menos para o pessoal do outro mundo – um que fica bem abaixo da lua. Esse aí não está achando a menor graça no debate do caso Santander, porque sabe que direita x esquerda é um dilema mentiroso, feito para esconder a covardia intelectual sob etiquetas sem nada dentro. Claro que quem quiser detestar e boicotar tem todo o direito de fazê-lo, assim como quem quiser expor e adorar a bizarrice que seja, chamando ou não de arte, também tem. E chega de perder tempo com lições primárias. O papo é outro.
O que interessa da reação à exposição Queermuseu é a crítica ao arrastão mercadológico das pautas politicamente corretas. Minoria defendia sua avó. O movimento gay eclodiu em San Francisco há meio século. Qualquer ativista sério da causa homossexual nos dias de hoje acha ridículo quem usa orgulho gay para se fantasiar de vanguarda. Estes são os coxinhas LGBT. E essa mercantilização de causas sexuais, raciais e sociais virou uma praga – um tsunami de butique altamente lucrativo nos balcões eleitorais, comerciais, de marketing e de reputações, invariavelmente atrapalhando a defesa da própria causa original.
Aí vem o outro batendo no peito e dizendo que era um grande banco realizando a exposição com dinheiro público, “o meu dinheiro” etc. Ok, companheiro, mas a má notícia é que nessa pornografia o buraco é mais embaixo: fique à vontade para reclamar, de boca cheia (com todo o respeito), do uso do dinheiro privado também. Traduzindo: a praga politicamente correta dominou as oportunidades de mercado, produzindo uma fenomenal hegemonia da burrice.
Do autor de telenovela ao dono da emissora, do patrocinador esportivo ao pesquisador universitário, passando pelo vereador e pelo camelô da esquina, todos sabem que projeto com proselitismo coitado é vendedor. O enésimo recital de pieguice racial ou sexual, que pelo teor demagógico já é em si uma afronta à própria vítima que finge defender, está fadado ao sucesso. Não tem erro. Sim, é assustador – assustadoramente real. O pobre coitado do marketing do Santander não tinha dúvidas de que convidar crianças recém-alfabetizadas para uma imersão estética pansexual era o melhor que ele fazia por seu emprego.
O tiro saiu pela culatra – e é claro que oportunistas dos dois lados estão na sua guerra sangrenta de ketchup discutindo se foi censura ou se foi uma ofensa à família brasileira. Mas o banco e o mercado, que nada têm a ver com a dicotomia dos lunáticos, estão convidados a entender esse boicote agressivo e surpreendente como o que ele de fato foi, acima de tudo: uma reação de saturação a uma doutrinação idiota, que finge afirmar valores nobres para vender seu peixe.
É a mesma malandragem que queria retocar a obra de Monteiro Lobato por suposta luta contra o racismo – o que os libertários de porta de assembleia não viram como censura, claro, mas como libertação. O truque ficou velho, companheiros, e cada vez mais gente perceberá que seu falso heroísmo não ajuda em nada os negros, os gays e quem mais vocês pasteurizam.
O grande ato de respeito à diferença que se espera do Brasil no momento é quebrar a espinha do totalitarismo politicamente correto.
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