Tímido, elegante e educado, Seedorf perde jogo e
sorriso em sua estreia
Holandês faz primeiro jogo pelo Botafogo, curte a festa da torcida, mas termina o confronto derrotado por 1 a 0 pelo Grêmio, n
O sorriso fácil dos treinamentos, com conversas divertidas e até algumas piadas deram lugar a uma timidez ainda não vista de Seedorf em sua estreia com a camisa do Botafogo, domingo, na derrota por 1 a 0 para o Grêmio, no Engenhão, pelo Campeonato Brasileiro. Com mais 30 mil pessoas presentes no estádio, ele até teve uma atuação razoável, mas ainda em busca de seu espaço em campo, ao lado de novos companheiros, em um novo ambiente, recheado de peculiaridades como o futebol brasileiro.
- Vamos acompanhá-lo e escalarecer as possíveis dúvidas que tenha. Ele assistiu aos últimos quatro jogos antes de fazer sua estreia, mas não teve tempo de treinar com o grupo. Ele está iniciando e isso é um grande peso ainda. Estamos vendo as suas reais possibilidades e lhe daremos as melhores condições para que se integre e consiga produzir com a equipe - disse Oswaldo de Oliveira.
A começar pelo traje, já era possível perceber a diferença entre Seedorf e os outros jogadores em campo. Com a camisa para dentro do calção, algo que antigamente era obrigação, o holandês destoava do conjunto alvinegro. Do lado do Grêmio, apenas Gilberto Silva e o goleiro Marcelo Grohe seguiam o mesmo estilo.
Os números de Seedorf
Finalizações: 2
Faltas cometidas: 1
Faltas recebidas: 1
Roubadas de bola: 1
Passes errados: 5
Antes de entrar em campo, Seedorf passou pelo convívio com o grupo, dormindo a noite de sábado na concentração, em General Severiano. Do despertar, por volta das 8h, passando pelo almoço, às 12h, até a preleção, às 16h, e saída para o Engenhão, às 16h30, ele teve a chance de perceber uma parte da rotina das comissões técnicas no futebol brasileiro.
No jogo, sua educação também foi facilmente notada. Depois de uma dura dividida com Zé Roberto, ele se preocupou em saber como adversário, que saiu de maca, estava. Além disso, não esboçou sequer uma reclamação com a arbitragem, nem mesmo ao fim do jogo nas entrevistas que concedeu ao deixar o gramado do Engenhão.
Sua entrada em campo se tornou um grande evento. Perseguido por uma dezena de mascotes, Seedorf demorou para se juntar ao time no centro do campo antes de cumprimentar os torcedores. A expectativa foi grande até o seu primeiro toque na bola. A apreensão na torcida era possível de ser sentida. Logo com um minuto, ele tentou uma dominada em uma bola alta, cercado por dois adversários, e acabou não conseguindo.
Escalado no lugar de Andrezinho, Seedorf estava mais centralizado. No entanto, no sistema de Oswaldo de Oliveira a rotatividade dos meias é grande. Muitas vezes, o holandês procurava o lado esquerdo do campo, trocando mais passes com Márcio Azevedo e Vítor Júnior.
Seedorf assiste aos minutos finais do jogo ao lado de Fellype Gabriel (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Considerado um líder pelos clubes onde jogou, Seedorf falou pouco. No começo, tentou orientar a marcação na saída de bola do Grêmio. Ele se soltou um pouco mais a partir dos 10 minutos, depois de uma cobrança de falta desviada por Fellype Gabriel, que quase se transformou em gol. Depois, arriscou seu primeiro chute, de perna direita, pelo lado esquerdo, de dentro da área, facilmente defendido por Marcelo Grohe.
Disposto a ajudar o time, acompanhava os laterais e procurava se deslocar para participar do jogo. Orientou Lucas Zen depois de um ataque perigoso do Grêmio. Em sua melhor jogada na partida, aos 28 minutos, se livrou de Gilberto Silva e fez o cruzamento de perna esquerda para Elkeson, que cabeceou para fora.
Seedorf parecia se manifestar pouco em campo com palavras, talvez em respeito pelo fato de ser um novato no grupo. Aos 32, aplaudiu Vítor Júnior em uma tentativa de fora da área. Numa paralisação para atendimento médico de Zé Roberto, conversou com Márcio Azevedo e, em seguida, recebeu orientações do zagueiro Antônio Carlos, capitão do time.
Terminado o primeiro tempo, foi cercado por repórteres na saída de campo. Depois, acenou para os torcedores que o aplaudiram na descida para o vestiário, mas sem exibir o conhecido sorriso de seus primeiros dias como jogador do Botafogo, percebendo que as coisas não estavam acontecendo da maneira como esperava.
Mal começou o segundo tempo e o Grêmio saiu na frente, em uma jogada polêmica, que resultou no gol de Marcelo Moreno. Os jogadores do Botafogo foram reclamar com o árbitro Luis Flavio de Oliveira, mas Seedorf se manteve sereno, com a mão na cintura, esperando o reinício de jogo. Ele logo foi para o grande círculo e recebeu a primeira bola como quem mandasse um recado para o time na busca pela reação.
Aplaudido pela torcida e com direito a abraço do técnico, Seedorf foi substituído aos 24 minutos do segundo tempo pelo atacante Rafael Marques
Aos seis minutos, Lucas sofreu uma falta na entrada da área, pelo lado direito. Elkeson pegou a bola de imediato, mas foi convencido por Seedorf a deixar a cobrança para ele. A bola parou na barreira para decepção dos torcedores. Ele começou a mostrar um pouco de ansiedade na busca pelo empate ao carregar demais a bola em um local perigoso, mesmo com três jogadores a persegui-lo, algo que ainda não havia acontecido. Em campo, sempre valorizou os toques rápidos.
Seedorf mais uma vez tentou uma cobrança de falta, aos 19 minutos, apesar dos pedidos de Elkeson. Desta vez, numa tentativa de cruzamento do lado esquerdo, a bola parou nas mãos do goleiro Marcelo Grohe, que fez a defesa com facilidade. Cinco minutos depois, o holandês encerrou sua participação ao ser substituído por Rafael Marques. Aplaudido e abraçado por Oswaldo, acompanhou do banco de reservas o restante da agonia do time na busca pelo empate. A derrota na estreia tirou o sorriso de Seedorf.o Engenhão