Ucrânia prende um francês acusado de preparar 15 atentados para a Eurocopa
O detido levava fuzis, lança-foguetes e explosivos, segundo os serviços de segurança
Moscou
O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em ucraniano) afirmou nesta segunda-feira que deteve um cidadão francês de 25 anos ao qual acusa de preparar atos terroristas durante a Eurocopa. O anúncio, cuja veracidade ainda não foi demonstrada, foi feito em Kiev pelo presidente da SBU, Vasili Gritsak, que se encontra pessoalmente em uma situação delicada depois que a instituição que dirige, acusada de torturar pessoas capturadas no conflito do Leste da Ucrânia, negou a uma missão da ONU para a prevenção da tortura o acesso a vários presídios, o que obrigou o chefe dessa equipe a suspender seu trabalho.
Segundo a versão de Gritsak, foram apreendidos com o francês cinco fuzis Kalashnikov, mais de 5.000 cartuchos, dois lança-foguetes e 18 projéteis para eles, 135 quilos de explosivo trotil, 1.000 detonadores, 20 balaclavas e outros objetos. “Trabalhamos durante meio ano e documentamos por etapas cada passo. A princípio pensávamos que se tratava somente de uma organização terrorista. Mas encontramos uma estrutura que age na França, que está insatisfeita com as autoridades e quer cometer vários atentados terroristas durante o campeonato”, acrescentou. De acordo com Gritsak, o detido argumentou que os explosivos foram levados ao território da Europa acompanhado de um cidadão ucraniano e esse fato constitui, segundo ele, uma indicação de que poderia haver uma “pista russa”.
As acusações de torturar prisioneiros figuram no último relatório sobre observação de direitos humanos efetuado pela ONU, apresentado em Kiev na sexta-feira pelo ajudante do secretário-geral, Ivan Shimonovich. Este alto funcionário afirmou que tinha “documentos de acusações referentes a centenas de casos de tortura”, tanto no território controlado pelas autoridades ucranianas como na parte não controlada por elas.
A Ucrânia nega as acusações de torturas, mas nesta segunda-feira pela manhã, como resposta às declarações do alto funcionário da ONU, o procurador-geral ucraniano, Yuri Lutsenko, realizou uma inspeção extraordinária nos cárceres do SBU em Kiev, em conjunto com a defensora de Direitos Humanos da Rada Suprema (Parlamento), Valeria Lutkovskaia, e Vasili Gritsak.
Nesse contexto, nesta segunda-feira, em pleno escândalo pela negativa da Ucrânia em cumprir suas obrigações como signatária do protocolo opcional da Convenção contra a Tortura, Gritsak deu uma coletiva de imprensa na qual disse que o serviço que dirige havia conseguido evitar uma série de 15 atentados que estavam sendo planejados na França para coincidir com o Campeonato Europeu de Futebol, que começa no dia 10.
O alto funcionário ucraniano afirmou que, como resultado do “trabalho coletivo” de uma “grande equipe” do SBU, tinham seguido a pista de um cidadão francês que chegou à Ucrânia em dezembro de 2015 fazendo-se passar por voluntário. O francês em questão estabeleceu contato com representantes de agrupamentos armados no Leste da Ucrânia, segundo a versado do SBU, e depois de lhes prometer ajuda começou a interessar-se pela possibilidade de comprar armas, explosivos e outros artefatos bélicos na Ucrânia. De acordo com o relato dos meios de informação ucranianos, Gritsak acrescentou que o francês se expressou de forma negativa sobre as atividades do Governo de seu país no que se refere à imigração maciça, os estrangeiros na França, a difusão da religião muçulmana e a globalização.
O presidente do SBU mostrou um vídeo onde se vê um indivíduo sozinho carregando caixas e armas em um veículo de uso turístico e depois como um comando armado prende o condutor. Gritsak disse que a operação deverá servir para eliminar o “ceticismo” sobre os serviços de segurança ucranianos. Durante sua visita à prisão do SBU em Kiev, Gritsak acusou a Direção Geral de Inteligência (o GRU, dependente do Ministério da Defesa) da Rússia de ter pretendido explodir essas instalações, embora não tenha ficado claro qual seria a motivação de tal gesto.
A delegação do subcomitê da ONU para a prevenção da tortura iniciou sua inspeção nas prisões ucranianas em 19 de maio, mas, alegando que na missão havia um cidadão russo, o SBU não permitiu o acesso a suas dependências de Mariupol e Kramatorsk, na zona do conflito no Leste da Ucrânia. O subcomitê se viu obrigado então a interromper a missão e o chefe da delegação, o britânico sir Malcom Evans, declarou que a negativa de acesso “infringe as obrigações da Ucrânia” como signatária do protocolo opcional (OPCAT) da Convenção contra a Tortura. O fato significa “que não pudemos visitar alguns locais sobre os quais temos ouvido numerosas e sérias informações sobre pessoas detidas e onde pode ter ocorrido tortura ou maus tratos”.
“O subcomitê das Nações Unidas para a prevenção da tortura espera que a Ucrânia cumpra suas obrigações internacionais decorrentes do protocolo opcional que ratificou em 2006 e também esperamos que o Governo da Ucrânia inicie um diálogo construtivo conosco para permitir ao subcomitê que continue sua visita num futuro próximo e assim trabalharmos juntos para estabelecer mecanismos de proteção eficazes contra o risco de tortura e maus tratos em lugares onde as pessoas estejam privadas de liberdade”, assinala um comunicado da instituição.
Nesta segunda-feira, depois da visita à prisão do SBU em Kiev, a defensora de direitos humanos da Rada afirmou não ter encontrado provas de tortura. No entanto, o procurador geral nomeou um ativista de direitos humanos para supervisionar o tratamento dado aos detidos nas prisões da Ucrânia.
Os Estados Unidos emitiram na semana passada um alerta de viagem no qual avisam seus cidadãos sobre o risco de atentados na Europa no verão e advertem especificamente sobre a Eurocopa como alvo em potencial.
O Governo da França, em estado de alerta antiterrorista desde os atentados de novembro em Paris, já anunciou que mobilizará “mais de 60.000 policiais e agentes de segurança pública” para proteger a Eurocopa, que começa em 10 de junho. “Mesmo 100% de precaução não garante o risco zero. Fazemos todo o possível para evitar um ataque terrorista e nos preparamos para responder. Mais de 60.000 policiais e agentes de segurança pública estarão a postos”, declarou o titular do Ministério do Interior, Bernard Cazeneuve, que também destacou o deslocamento de 26.000 efetivos para o Tour de France.