A Odebrecht colocou à disposição do ex-presidente Lula um jato executivo capaz de levá-lo a qualquer lugar do mundo, ora a serviço da empreiteira, ora para uso pessoal. Ele agia como se o jato fosse de sua propriedade. Integrantes da força-tarefa da Lava Jato suspeitam que o luxuoso Gulfstream G200 pode ter sido adquirido para o petista tão logo ele deixou a presidência da República, no final de 2010.
O comando do Judiciário mudará de mãos em setembro, com a posse do paulista Dias Toffoli na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). E um grande amigo dele, ministro João Otavio de Noronha, assumirá a presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ). E, este ano, passará a chefiar a corregedoria nacional de justiça do Conselho Nacional de Justiça o alagoano Humberto Martins, ministro do STJ.
O PT promete começar no dia 13 seus “atos por todo o país” contra o julgamento do recurso no TRF-4, dia 24, de Lula, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a 9,5 anos de cadeia.
Em contrapartida, o vigilante movimento “Vem Pra Rua” fará atos em defesa da Justiça e contra a corrupção em pelo menos dez cidades, como Belo Horizonte, Fortaleza, Maceió, Rio de Janeiro e São Paulo.
O deputado Otávio Leite (RJ) já havia prometido que seu partido, o PSDB, “tomaria a frente” de negociações para derrubar o veto ao Refis para pequenas e microempresas. Ainda continua em cima do muro.
O PT diz, em seu site oficial, que são 1.809.280 filiados ao partido. Mas em suas manifestações contra o “golpe”, contra o impeachment ou em defesa de Lula, jamais conseguiu reunir nem dez por cento desse total.
O governo Temer comemorou esta semana o anúncio de que a inflação no Brasil em 2017 é a mais baixa desde 1998 (2,95%), mas celebrou também o índice para famílias mais pobres: 2,07%, o menor da história.
A nota sobre o rebaixamento da economia pela Standard & Poor’s (BB para BB-) deixa claro que o governo vai lavar as mãos se o Congresso não aprovar medidas fiscais, especialmente a reforma da Previdência.
O PT prometeu esta semana que a Comissão Executiva Nacional fará “reunião ampliada para reafirmar a candidatura de Lula à presidência da República” no dia 25. Mas só se ele ainda estiver solto.
O abaixo-assinado contra a posse da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) no ministério do Trabalho é, de longe, o menos relevante dos últimos anos: apenas 343 assinaram a petição no Change.org.
Como é viver na cidade mais violenta do Rio Grande do Sul
Município da Região Metropolitana chegou à marca de 187 assassinatos em 2017. Enquanto moradores tentam escapar da guerra aberta entre traficantes, nem policiais querem trabalhar lá
— Morreu porque disse que era de outra facção e alguém ouviu.
Quem conta é um dos moradores da Rua Campos Verdes, que marca o limite entre os bairros Salomé e Maria Regina, em Alvorada, ao lembrar a execução de Lucas de Oliveira Rolim, 27 anos, no começo de setembro. O homem foi executado por três homens armados quase na frente de casa. E não seria de estranhar se o morador listasse outros homicídios recentes na mesma região e com o mesmo pano de fundo. Em Alvorada, raro é quem não conhece, ou pelo menos não ouviu falar, de alguém assassinado recentemente.
Em 2017, conforme dados da Secretaria da Segurança Pública, a cidade disparou no indesejado posto de cidade mais violenta do Rio Grande do Sul. Chegou à inédita marca em sete anos de levantamento, de pelo menos 187 assassinatos, com taxa de 90 homicídios/100 mil habitantes. São 84 mortos a mais do que em 2016 — alta de 81%.
— As disputas do tráfico são, quase na totalidade, os motivos dos crimes. Não há um grupo hegemônico, e as relações entre quadrilhas são muito dinâmicas, porque são pequenos grupos, que muitas vezes têm uma boca em um determinado beco e criam relações com determinada facção. A realidade é que muito poucos criminosos de Alvorada têm, de fato, influência no comando dessas facções. Eles simplesmente identificam-se e se agrupam nas cadeias, mas nas ruas, estão bem longe do poder — analisa o delegado Edimar Machado.
O limite entre os bairros Maria Regina e Salomé é um dos exemplos das relações instáveis da criminalidade. Em um beco ao lado de um valão, atuariam traficantes de uma facção. Na viela vizinha, a menos de 50 metros de caminhada em chão batido, ficam os rivais. Mas todos se conhecem.
— Todo mundo sabe quem mata e quem morre, mas quem é que vai botar a cara para falar, correndo o risco de levar um tiro logo ali? — desabafa o morador que, como todos os vizinhos, prefere nem falar sobre a realidade cotidiana.
Só na Rua Campos Verdes, foram pelo menos três homicídios em 2017.
— Fora os tiros, o pessoal que foi baleado e os que escaparam — conta uma moradora.
Ela e outras pequenas comerciantes da região até arriscam um chimarrão em frente a algum dos estabelecimentos, mas é sempre com um olho na cuia e outro na rua. Qualquer movimento estranho as deixa em alerta.
Foi assim na manhã do sábado anterior ao Natal.
— Estava atendendo na loja e de repente começaram aqueles estouros que não paravam mais. Cheguei a pensar que já eram foguetes, mas aquela hora. De repente, todos estavam atirados no chão na rua e nas casas. Eles estavam tiroteando às 21h aqui na frente — lembra a comerciante de 45 anos.
Assustou, mas ali os moradores parecem estar anestesiados pela violência.
— Outro dia foi às 14h, aqui no meio da rua. Um de bicicleta morreu e o outro escapou. Fico preocupada porque os meus filhos pequenos, de nove e quatro anos, já nem dão bola. Será que já ficou comum? — lamenta outra moradora de 45 anos.
Uma bala perdida custou o emprego
O perfil da criminalidade em Alvorada está diretamente ligado às condições sociais da população. Segundo o levantamento de 2015, Alvorada tem o pior PIB per capita do Estado. Três vezes inferior ao de Gravataí, por exemplo. E apenas 10,8% da população tinha ocupação naquele ano _ menos da metade de Gravataí.
— O tráfico de drogas, com a venda de pequenas quantidades de crack, aparece como chance de lucro rápido. A violência maior está justamente neste nível do tráfico, que prevalece em praticamente todas as regiões da cidade — explica o delegado Edimar Machado.
Para quem consegue um emprego, proteger-se da violência virou novo critério necessário no dia a dia.
— Quem está morrendo tem envolvimento, mas sempre sobra para quem não tem nada a ver — lamenta um jovem de 20 anos.
Até o final do ano passado, vivia a perspectiva do primeiro emprego com carteira assinada. Quando completou o primeiro mês na condição, foi atingido por uma bala perdida em meio a um tiroteio no bairro Onze de Abril.
— Estava caminhando na rua e começou aquela correria. Nem deu tempo de me esconder, já senti o meu pé — conta.
Foram sete meses entre a internação hospitalar e a impossibilidade de caminhar. O rapaz perdeu o emprego. Agora, tenta se reerguer trabalhando informalmente em uma lavagem de carros no bairro Maria Regina.
Faltam policiais, sobram crimes
O jovem baleado no pé estava disposto a falar à polícia o que sabia do crime. Depois, desistiu. Ele relata só ter sido ouvido uma vez, ainda no hospital. Nunca mais foi chamado à Delegacia de Homicídios de Alvorada, que investigaria o caso. O crime não teve mortos e aí, diante da limitação da delegacia, foi para o fim da fila das prioridades investigativas.
É uma dificuldade real. As pessoas (policiais aprovados), geralmente do Interior, têm visão muito ruim de Alvorada, aí resistem à nomeação. Estamos estudando formas de impedir debandadas.
VOLNEI FAGUNDES
Delegado regional metropolitano
A delegacia especializada conta com 12 agentes, somente nove dedicados à investigação, e dois deles sempre em regime de plantão. Com média de um assassinato a quase dois dias, não houve plantão em 2017 sem um homicídio a ser investigado.
— Naturalmente, uma investigação acaba atropelando a outra — admite o delegado Edimar Machado.
Em Porto Alegre, por exemplo, onde o Departamento de Homicídios conta com seis delegacias, cada uma delas tem, em média, 14 agentes na investigação. A 5ª DHPP, que tradicionalmente tem o maior volume de homicídios na Capital, atendeu pelo menos 140 homicídios consumados em 2017.
Se não bastasse a alta demanda e a dificuldade em encontrar testemunhas dispostas a falar com a polícia, difícil é encontrar policiais que queiram trabalhar em Alvorada. No chamamento de concursados no começo do ano, restavam dois aprovados e havia duas vagas para a cidade. Eles preferiram não assumir seus lugares. Desde a criação da especializada, no final de 2012, duas vezes houve debandadas de agentes com as saídas dos delegados para departamentos em Porto Alegre.
Na última turma de novos agentes, que foram nomeados em dezembro, a Homicídios de Alvorada recebeu cinco novos agentes, mas já precisou repor perdas, porque dois haviam saído da delegacia.
— É uma dificuldade real. As pessoas, geralmente do Interior, têm visão muito ruim de Alvorada, aí resistem à nomeação. Estamos estudando formas de impedir debandadas. O plano é de que pelo menos até o final de 2018 ninguém seja removido de Alvorada. Pelo menos até que tenhamos novas nomeações, e aí as delegacias de homicídios da região serão priorizadas — afirma o delegado regional metropolitano, Volnei Fagundes.
Quando se trata da investigação de homicídios, a rotatividade de agentes é ainda mais prejudicial.
— A solução mais rápida dos crimes deste tipo é diretamente relacionada ao conhecimento adquirido e acumulado pelas equipes de investigação. Quando acontece um crime, se o agente já tem o mapeamento das relações criminosas naquela área, a busca por elementos de prova fica facilitada — explica Fagundes.
De acordo com diretor de polícia Metropolitano, delegado Fábio Motta Lopes, não significa que o conhecimento adquirido se perde com a saída de agentes.
— Isso fica na delegacia, mas é claro que um agente novo precisa se ambientar às situações. E isso pode levar um tempo maior — afirma.
Meu primeiro curso de economia foi de "economia brasileira", como aluno ouvinte. Matéria da graduação da FEA-USP ministrada por José Roberto Mendonça de Barros no segundo semestre de 1986.
José Roberto, profissional com carreira muito exitosa, tanto na academia –estudos sobre história econômica e economia agrícola– quanto no setor privado –lidera há anos sólida empresa de consultoria–, ficava a cargo da disciplina mais interessante e complexa da grade da graduação. Éramos apresentados à história econômica brasileira do período do café, a partir de 1860, aproximadamente, até a época atual, no caso, os conturbados anos 1980.
O jovem físico (isto é, eu) achava, como é comum entre os físicos, que o desenvolvimento de uma sociedade resultava do domínio das técnicas mais avançadas e da produção de bens mais complexos. Achava que o orçamento da Nasa e do Pentágono e a política de compras do governo americano eram responsáveis pelo desenvolvimento daquela sociedade.
Era entusiasta da reserva de mercado de informática. Essa política pública era muito popular entre os físicos à época. Lembro-me de meu professor da disciplina de "fenômenos aleatórios em física" entusiasmado com os computadores que produzíamos. O que o desanimava era o custo: "Samuel, temos um problema de custos...".
Perguntei a José Roberto sobre a reserva de mercado. Sorrindo para o jovem físico e sabendo que iria desapontar, falou: "Nessa área, o maior valor adicionado não está nas máquinas, no hardware, mas sim nos programas, no software. É aí que o ganho se encontra. A reserva de mercado obrigará nossos programadores a trabalhar com as piores máquinas. Não vai funcionar".
José Roberto, em 1986, sabia o que muito economista não consegue entender até hoje.
A esquerda (mas não somente a esquerda) tem particular dificuldade de entender que o crescimento não é produzir coisas tangíveis. Talvez a leitura, por gerações e gerações, de "O Capital", obra escrita no início da segunda Revolução Industrial, e a referência obrigatória a diversos escritos de Lênin –autor do auge da segunda Revolução Industrial, aquela do aço, das grandes siderúrgicas e seus gigantescos altos-fornos, das usinas hidroelétricas e do motor a combustão interna–, tenham moldado essa visão de mundo.
Desenvolvimento econômico ficou associado a produzir navios, locomotivas, carros e armas –tanques, canhões, grandes encouraçados etc.
Lembro-me de minha infância e de minha avó horrorizada com o fato de os atravessadores ficarem com toda a margem de comercialização de um litro de leite. De fato, rápida consulta à internet indica que um litro de leite na porteira da fazenda custa por volta de R$ 1, enquanto na prateleira do supermercado sai por uns R$ 2,5. Naquela época, com pior infraestrutura e sem os ganhos da tecnologia de informação, essa diferença deveria ser ainda maior.
Foram necessárias muito reflexão, aula de microeconomia e introspecção para que o jovem físico se convencesse de que um litro de leite na prateleira de um supermercado é produto muito distinto do que um litro de leite na porteira da fazenda. E que, de fato, há muito trabalho para retirar o leite da fazenda e colocá-lo certificado, com prazo de validade, na prateleira de um mercado a 50 metros da casa do consumidor.
Infelizmente boa parcela das políticas de desenvolvimento econômico adotadas nos últimos anos é informada pela visão pobre descrita neste artigo. Repetimos erros e desperdícios
Nas próximas duas semanas, o blog desfrutará de férias. Para transformar o ócio em algo produtivo, o repórter fará uma viagem ao passado. Chegando lá, tentará eliminar o futuro. A ideia é utilizar a mesma fórmula do filme O Exterminador do Futuro. O enredo é conhecido. Nele, o ciborgue Schwarzenegger é enviado ao passado para assassinar a mãe de um líder inconveniente, que se dedica a atazanar o governo. Se o problema não nascer, não existirá.
A primeira providência será definir que mães devem ser apagadas do passado, para matar pela raiz, por assim dizer, os inimigos que ameaçam fazer da sucessão de 2018 um Apocalipse brasileiro. O mais óbvio seria atrasar o relógio até encontrar as genitoras dos presidenciáveis e de seus aliados. Mas isso produziria algo muito parecido com um genocídio de mães. E talvez não resolvesse o problema.
Outra hipótese seria recuar até momento imediatamente anterior à concepção de Cabral. O risco neste caso seria o de escolher o útero errado —o de Sergio em vez do de Pedro Álvares. E o problema que envenena o futuro do Brasil continuaria vivo. Melhor que o novo Schwarzenegger seja enviado a um passado bem mais remoto. O repórter planeja postar-se ao pé da rampa da famosa Arca. Ao pressentir a aproximação do casal de ratos, gritará a plenos pulmões para o velho Noé: “Não! Não! A ratazana não!” Se o signatário do blog não retornar da viagem, é porque algo deu errado.
O escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez disse, certa vez, que se alguém almeja ser universal, comece por modificar as coisas erradas da sua aldeia. "Gabo" como era conhecido por seus amigos mais próximos, ganhou o Nobel de Literatura. Faz parte de um seleto grupo de escritores latino americanos a conseguir este feito.
Digo isso para reafirmar minha posição política. Não dou conta de modificar o establishment do Brasil, minha Pátria amada, violada por biltres e pulhas, mercenários, bandidos acumpliciados com autoridades que deveriam enfrenta-los, julga-los, condena-los e prendê-los. A libertação do nosso país exige a luta coletiva, massiva, corajosa e, à despeito de exemplos históricos de resistência e patriotismo, a sociedade do tempo presente é refém do seu maior inimigo, o medo visceral, o medo conformado, antipatriótico. A instauração da anomia.
O Brasil soberano continuará a ser minha profissão de fé. Mas, começo cultivando o meu quintal.
Diante desta constatação, primeiro, mudei a mim. Só as estátuas não mudam e não mudam para não mudarem o que está ao seu redor. Não há convicção no imobilismo. Acredito na insistência do jardineiro, que espalha sementes no deserto. Creio na metáfora da raiz que luta, incansavelmente, para colher a água do subsolo e ver o sol. Ainda que para tanto tenha que mudar de rota muitas vezes.
Retomei a militância cívica, acima das jaulas dos partidos. A luta causal, honesta, franca, humanitária, libertária e não, a contenda suja, covarde, à sorrelfa, que defende o cenário de terra arrasada para arranjar culpados.
Espero, um dia, utopia ou não, olhar para trás e perceber que uma, pelo menos, uma flor, brotou da minha tarefa de jardineiro.