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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

"Apesar da solidez dos fatos, o PT seguirá tentando criar atrito" / Dora Kramer

quinta-feira, janeiro 25, 2018

Nenhuma dúvida razoável

 DORA KRAMER

REVISTA VEJA

Apesar da solidez dos fatos, o PT seguirá tentando criar atrito


A decisão do Tribunal Federal da 4ª Região não deixou margem a qualquer dúvida razoável sobre a culpa que levou o juiz Sergio Moro a condenar Luiz Inácio da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Falou sobre isso de modo eloquente o aumento da pena em dois anos e sete meses. Ainda assim, para a serenidade dos ânimos no país não há solução boa, tal a dimensão do que Lula resolveu criar para o Brasil.

Condenado por unanimidade em segunda instância, réu em mais meia dúzia de processos, o ex-presidente seguirá importunando o país. Perturbação cujo único objetivo é sustentar a ideia de que o PT vive e continuará sobrevivendo como se não carregasse o peso da decadência decorrente do desvio em que enveredou o partido.

Desde que se iniciou a queda da máscara ética e politicamente renovadora sob a qual atuou o PT até a conquista da Presidência da República, os petistas tiveram várias oportunidades de se reinventar mediante franca autocrítica, a fim de levar a legenda de volta aos compromissos originais firmados há quase três décadas. As sugestões nesse sentido foram rechaçadas. O partido escolheu a beligerância; briga com os fatos e agride a institucionalidade sem se importar com os danos imputados à sociedade e os riscos à estabilidade institucional.

Os votos dos desembargadores foram de uma clareza absoluta. No conteúdo, pela exposição didática da consistência dos autos em que se baseou o juiz Sergio Moro para decidir pela condenação do ex-presidente, com o relato minucioso das provas dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Na forma, pelo uso por parte dos magistrados de uma linguagem bastante mais acessível à percepção dos cidadãos que aquela, hermética, adotada no âmbito do Supremo Tribunal Federal.

Contrariamente ao que o PT pretende fazer crer quando reivindica para Lula lugar de honra no altar dos inimputáveis devido à importância política e social dele, os desembargadores afirmaram que a relevância do personagem serve como agravante para a punição da conduta ilícita. Em miúdos: quanto mais alta a posição, maior a responsabilidade em todos os aspectos da função pública e da condução na vida pessoal.

A despeito da realidade límpida e inquestionável, o PT não vai se render a ela. Inclusive porque, embora preferisse uma decisão por 2 a 1, a sentença unânime não foi uma surpresa para o partido. Fosse esperado outro resultado, seus dirigentes não teriam se dedicado nos últimos dias com tanto afinco a adotar posições de conflito e tentar incutir medo pela via da intimidação geral. A arenga do atrito, portanto, vai continuar.

A boa notícia é que resultará em nada. Não terá respaldo da opinião pública nem servirá para conquistar adeptos mesmo entre os ditos partidos de esquerda, que, de resto, já tratam de anunciar candidaturas à Presidência, num claro sinal de que a solidariedade a Lula tem limite.

Quanto às ameaças de que as ruas iriam à luta por Lula, é o caso de lembrar Assis Valente no antigo samba: anunciaram e garantiram, mas o mundo não se acabou.


"A gastança da comitiva de Lula em Porto Alegre"


A gastança da comitiva de Lula em Porto Alegre

Só com a hospedagem num hotel cinco estrelas a casta dos Altos Companheiros torrou mais de 150 mil reais

Enquanto discursa contra a sociedade dividida em classes, o PT confirmou em Porto Alegre que é dividido em duas castas. Uma agrupa os Altos Companheiros, que dirigem o partido e veem Lula de perto. Os dirigidos se acotovelam na Militância e só enxergam o Mestre pendurado em palanques. Os que mandam chegaram à capital gaúcha de avião e se hospedaram num hotel cinco estrelas. Os que obedecem viajaram de ônibus, e a maioria passou algumas noites em pensões ou barracas da grife MST.
Lula premiou um pequeno bando de eleitos com as regalias reservadas ao único deus da seita. A comitiva voou de São Paulo para Porto Alegre a bordo do Legacy 600 que foi de Eike Batista e hoje pertence ao Bank of America. A versão oficial garante que a direção do PT bancou o aluguel do jato e os 80 apartamentos reservados por três dias à comitiva do chefão. O preço médio da diária é de 170 dólares. Só em hospedagem, portanto, a tropa de elite gastou quase 50 mil dólares, ou mais de 150 mil reais.
Como as delegações dos grandes times de futebol, o clube de Lula recebeu do hotel um tratamento vip, que incluiu o elevador privativo e uma ala inteira com acesso restrito aos hóspedes e seus convidados. Faz sentido. Se a Justiça cumprir seu dever, o time que dormiu no Sheraton vai fazer bonito no Campeonato Nacional do Sistema Penitenciário.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Do blog do Murilo

Todos os blogs

3 X 0: VITÓRIA DO BRASIL. TCHAU, LULA!

Aluizio AmorimemBLOG DO ALUIZIO AMORIM - Há uma hora
Em decisão unânime por 3 X 0, o Tribunal Federal Regional - TFR-4, manteve a condenação de Lula, aumentando a pena para 12 anos e 1 mês de cadeia para o ex-presidente.

Frases ...

João Francisco Nunes CamposemCondomínio de Ideias - Há 7 horas
*A Democracia * *é uma tirania suave* *divinizada pela * *Comunicação Social* *através* * de * *sua extraordinária força de sedução* John Fields

Réquiem para um impostor - CARLOS VEREZA

MURILOemPERCA TEMPO - O BLOG DO MURILO - Há 11 horas
*FOLHA DE SP - 24/01* Seja qual for o resultado do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, o Brasil jamais será o mesmo. O condenado a nove anos e meio pelo juiz Sergio Moro mobilizou todo um séquito de fiéis vassalos, dispostos, com o aval da alma mais honesta deste país, ao enfrentamento e desafio às leis que o julgarão. Parlamentares não se ruborizam ao incitar os seguidores da seita à coação e mesmo à violência física contra os que apenas exercem um dever avalizado em nossa Constituição. Lula p... mais » 

Pensando alto - ROBERTO DAMATTA

MURILOemPERCA TEMPO - O BLOG DO MURILO - Há 11 horas
*O Globo - 24/01* *O político enganador e poderoso algemado promove empatia porque não temos como fotografar o seu crime. Ele roubou ‘do governo’* Pensar alto, exteriorizando em palavras ou gestos o que está restrito ao interior da cabeça, é muito perigoso. Corre-se risco quando se fala o que se pensa e se pensa o que se fala. Pode dar prisão e morte — destruir reputações. Você pode ser chamado de esquerdista ou, como hoje é moda, de golpista e, pior que tudo, de liberal... Livre da consciência, o pensamento é controlado, protocolado ou proibido. Nas ditaduras não se pode pensar. A... mais » 

Um amplo banco dos réus em Porto Alegre - FERNANDO EXMAN

MURILOemPERCA TEMPO - O BLOG DO MURILO - Há 11 horas
*Valor Econômico - 24/01* O julgamento de Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, hoje, coloca o PT e seu pré-candidato à Presidência da República em desvantagem competitiva neste início de ano eleitoral. Não será apenas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, quem estará no banco dos réus em Porto Alegre. Independentemente de sua decisão, o TRF-4 colocará em evidência o combate à corrupção no país, tema que representa um desafio a toda a classe política. Inclusive para Palácio do Planalto e para os partidos antagônicos ao PT. Uma eventual condenação de Lul... mais »

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A Democracia 
é uma tirania suave
divinizada pela 
Comunicação Social
através
 de 

sua extraordinária força de sedução 


John Fields

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

"O mal exemplo da vez" / Percival Puggina



O MAU EXEMPLO DA VEZ


por Percival Puggina. Artigo publicado em 


 Na minha coluna de ontem, “Da mentira com torcida ao esplendor da verdade”, afirmei que certas formas desconsideradas ou toleradas de corrupção destroem o caráter e preparam o indivíduo para condutas mais graves. O sujeito começa mentindo e acaba na lista da Odebrecht, com grana e apelido.
No aludido texto, arrolei entre as manifestações toleradas de desonestidade e corrupção o ato de jogar as próprias culpas sobre aqueles a quem se pretende derrotar nos debates e confrontos políticos. Atingir indevida e deliberadamente a imagem de outrem pode ser crime em certos casos; e, em todos os casos, é evidência de mau caráter. O campo do discurso político não é um compartimento estanque onde não penetrem as exigências comuns da vida moral. Bem ao contrário! Se atribuirmos à política a integralidade de seu compromisso com o bem comum, mais incisivas se tornam as exigências éticas sobre o discurso e a ação de seus protagonistas. Vencer ou convencer a qualquer custo é regra velhaca para serviço dos patifes. Situa-se a menos de um passo da porta do cofre.
Porto Alegre está no olho do furacão político-eleitoral de 2018. O julgamento de Lula em segunda instância no TRF4 contraria o monofônico projeto de poder petista. Tal tipo de incômodo não costuma ficar sem resposta rápida, notadamente por parte da esquerda de contracheque. Zero Hora de hoje traz uma entrevista com Alexandre Padilha, “coordenador das mobilizações relacionadas ao julgamento de Lula pelo TRF4”. A derradeira pergunta feita pela reportagem foi: “Há uma preocupação muito grande com a possibilidade de violência no dia do julgamento. A declaração da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não pode ter acirrado mais os ânimos?”.
A resposta do ex-ministro da Saúde e vice-presidente nacional do PT é exemplo primoroso do tipo de conduta que acima descrevi: “Quem começou a implantar o clima de intolerância foi o prefeito de Porto Alegre (Nelson Marchezan), naquela iniciativa que ficou absolutamente desmoralizada. E depois a postura do presidente do TRF4 (desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores), que não é adequada para quem é presidente de um tribunal, que foi levantar possíveis ameaças, mas não mostrou apuração. A Polícia Federal já deveria ter sido acionada para isso. A nossa orientação tem sido muito básica, como sempre foi o nosso histórico, de manifestações .tribunal, que foi levantar possíveis ameaças, mas não mostrou apuração. A Polícia Federal já deveria ter sido acionada para isso. A nossa orientação tem sido muito básica, como sempre foi o nosso histórico, de manifestações pacíficas”.
Nem uma coisa, nem outra, nem outra, nem outra. Salta aos olhos a inversão entre causa e efeito, entre ação orquestrada e reação alguma. Desde que foi assinalada a data do julgamento, a agenda política do lulismo convergiu para a concentração de suas forças em Porto Alegre. Pode alguém esperar bons modos dos exércitos de Stédile, das brigadas de resposta rápida de Boulos? Os dias de fogo e fúria prenunciados para Porto Alegre mostram que o voluntarismo de Trump o torna muito parecido com aqueles que, aqui na volta, mais dizem odiá-lo. Nesse cenário onde Gleisi Hoffmann cobrou sangue, seu vice, Alexandre Padilha, desconheceu as promessas de ação violenta e acusou a prudente prevenção do prefeito e do presidente do TRF4.
Convenhamos, é dureza a gente ter que perder tempo desfazendo tais artimanhas. Mas neste país, quanto mais óbvia a artimanha, mais espaço ela ganha.
_______________________________
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

"A internet e as redes sociais estão supervalorizadas e esmagam a 'soberania do ser" / João Pereira Coutinho

Esquerda e direita estão contaminadas pelo vírus do pensamento de grupo 

JOÃO PEREIRA COUTINHO

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Houve um tempo em que também eu debatia política em público. Relembro: um estúdio de TV, alguém de esquerda do outro lado da mesa. O pivô lançava o tema. A pessoa de esquerda corria atrás do osso como um mastim esfomeado.

Quando eu falava, havia um terrível anticlímax. De vez em quando, esforçava-me: dizia algo "de direita", só para não ser despedido na hora. Mas grande parte do tempo ficava contemplando o outro, admirando a sua vitalidade ideológica e o interesse que ele tinha por, sei lá, a política de saneamento básico.

Várias vezes fitava o meu "adversário" (não ria, por favor) e tentava ver se tinha as pupilas dilatadas. "Talvez sejam drogas", pensava, confrontado com aquelas cataratas (verbais). Não eram. Era entusiasmo.

Atenção, atenção: não falo de "entusiasmo" no sentido prosaico da palavra. Um ser humano sem entusiasmos é um cadáver ambulante. Não. Falo no sentido filosófico –aqui, como em quase tudo, David Hume (1711-1776) é o meu mestre.

Dizia ele que existem duas espécies de "falsa religião": a superstição e o entusiasmo.

A primeira instala-se na alma amedrontada do crente perante "males infinitos e desconhecidos", que exigem proteções igualmente fantasiosas.

A segunda revela um sentimento de exaltação (ou de "presunção", para usar o termo de Hume) em que o "entusiasta" ignora a razão ou a moral –e se entrega nos braços do orgulho e da ignorância.

É isso que torna o "entusiasmo" tão perigoso: essa combinação de vaidade e ignorância.

O entusiasmo continua na religião, sem dúvida: não conheço nenhum terrorista islamita que não seja um entusiasta. Mas, sobretudo no século 20, esse "estado de espírito" foi cultivado pelas "religiões seculares" de que falava Raymond Aron.

O comunismo e o nazismo foram formas de "entusiasmo" político (que deram no que deram). As batalhas ideológicas de hoje são novas encarnações de entusiasmo.

Pensei em tudo isso quando assistia ao vídeo do momento: a entrevista de Cathy Newman, no Channel 4, ao filósofo "pop star" Jordan Peterson. Conhecia Peterson de outras andanças: o seu "Maps of Meaning", um tratado sobre o lugar dos mitos na história humana, merece leitura.

No vídeo em questão, Peterson sublinha um pormenor importante das discussões contemporâneas: a "política de identidade" é intrinsecamente autoritária porque imita a mesma "estrutura de crença" dos regimes autoritários. Que crença é essa?

A ideia de que o grupo é mais importante do que o indivíduo. Antigamente, esse grupo podia ser "o proletariado", em nome do qual se cometeram os maiores atropelos. Hoje, Peterson dá como exemplo os "ativistas trans" que policiam a linguagem e o comportamento de terceiros porque julgam falar em nome de todos os "trans".

Não é preciso grande preparação filosófica para vislumbrar a falácia da retórica de grupo. Não existe "o proletariado". Existem trabalhadores vários, com aspirações e limitações particulares. De igual forma, não existem "os trans". Existem indivíduos concretos, que vivem a sua sexualidade de forma diversa.

Infelizmente, o prof. Peterson deixou-se contaminar pelo "entusiasmo" da jornalista e esqueceu-se do outro lado da história: a submissão ao pensamento de grupo não é um exclusivo de "esquerdistas radicais".

Basta escutar a "direita radical" e as suas proclamações contra "os estrangeiros" –e em defesa dos "nacionais", claro– para compreender a grande ironia do debate político atual: esquerda e direita estão contaminadas pelo vírus do pensamento de grupo.

Pelo meio, perde-se a importância (e a primazia) do indivíduo –essa ficção pequeno-burguesa, como diziam nazistas ou comunistas, e que as mentes autoritárias sempre tentaram calar ou destruir.

E como se chegou até aqui?

Em artigo recente para o "The Millions", Sarah LaBrie acusa a internet (e as "redes sociais") de produzir as manadas que esmagam a "soberania do ser". É um bom ponto de partida –mas não de chegada: a internet deu voz e potenciou as manadas; mas elas sempre existiram no longo cortejo da história.

Como dizia David Hume, onde existe vaidade e ignorância, existe entusiasmo. E a alma dos homens sempre foi fraca: entre a solidão do individualismo e a pertença aos entusiasmos da tribo, o macaco eterno não hesita.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

"Como Maria engravidou sem relações sexuais com seu marido, José? " / Luiz ´Felipe Pondé

Como Maria engravidou sem relações sexuais com seu marido, José? 

LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 22/01
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Afinal, como Maria apareceu grávida se não tinha ainda tido relações sexuais com seu marido prometido José, o carpinteiro?

Essa resposta sempre foi simples: o anjo avisou a ela que Deus a havia escolhido para ficar grávida sem ter feito sexo porque seu filho seria o Messias, e sua concepção seria "sem pecado", isto é, sem sexo com o marido.

Mas essa resposta está caindo de moda entre cristãos cultos. E esse processo é uma "constante cultural" desde o século 19.

Antes de tratarmos desse tema sério, uma pequena anedota: algum tempo atrás, tive a oportunidade de ouvir um sujeito que se dizia a reencarnação de Jesus. Vive no Brasil. Segundo o que ele explicou na "palestra" que ministrava, sua mãe Maria e seu pai José tinham de fato transado, mas Deus os havia posto em condição sonambúlica, por isso depois disseram que nunca tinham transado, e "inventaram" a história da concepção sem pecado, por intervenção direta de Deus sobre os óvulos de Maria.

Essa "explicação", para ele, era "científica" e "racional", e ele tentava, assim, agradar à sensibilidade cética da plateia. Mas nosso Jesus "fake", com essa história trôpega, não estava tão distante assim de uma sensibilidade de raiz hegeliana de meados do século 19 até hoje.

Sim, devo minhas desculpas. Misturei crenças "new age" (Jesus reencarnado) com gente de peso como o filósofo alemão G. W. F. Hegel (1770-1831). Mas tenho um motivo pra isso.

Em 1835, David Strauss (1808-1874), um hegeliano da chamada "escola histórica de Tübingen", na Alemanha, publicou um livro chamado "A Vida de Jesus", que criou uma tendência "científica" nos estudos teológicos protestantes liberais, atingindo também os católicos e os judeus na sequência.

O momento era de enorme importância: para você ter uma ideia, figuras como Karl Marx estavam em formação nesse mesmo caldo cultural, mas esse não é nosso assunto aqui.

A propósito: a biografia "Karl Marx, Grandeza e Ilusão" de Gareth Stedman Jones (Cia. das Letras), é uma pérola, não só se você quiser conhecer melhor essa figura essencial que foi Karl Marx, mas também para entender o contexto social, cultural, religioso e político da época.

Não chega a tanto, mas se aproxima em densidade da descrição do painel cultural russo da época descrita na biografia em cinco volumes que Joseph Frank dedicou a Dostoiévski (1821-1881), no Brasil, publicada pela Edusp. Essa biografia de Marx é fundamental para quem quer entender o próprio, sua formação e sua época. Mas voltemos a Jesus.

O trabalho de Strauss visava "curar" o evangelho do "sobrenaturalismo" ignorante do passado. Para Hegel e seus discípulos, o cristianismo era a religião mais avançada porque encarnara Deus num homem e, com isso, indicara que Deus está na história, e nela deve ser encontrado, porque o "Espírito Absoluto", Deus, "é" a história e nossa "autoconsciência".

Com isso, para Strauss, a tarefa era encontrar o Jesus histórico e não o Jesus mítico, "fantástico", muito ao sabor dos conservadores evangélicos, que adoram mágicas e mulheres grávidas por milagre.

É verdade que gente de peso, tanto entre cristãos como judeus (não vou citar mais ninguém para não encher sua paciência no início do ano, ok?), se levantará contra essa tendência "naturalizante" ou "historicizante" de Jesus e da Bíblia como um todo.

Mas, o fato é que tanto o cristianismo quanto o judaísmo pós-Hegel, quando se querem "cultos" ou "progressistas", pensam seu ícones em chave histórica desmitologizada.

E aí chegamos ao debate "culto" sobre como afinal uma menina (Maria) ficou grávida sem ter transado com o marido. Para a tradição "fundada" por Hegel e Strauss, as explicações sempre devem buscar o "racional".

Hoje se fala, por exemplo, que ela foi violentada por soldados romanos, e que seu marido, José, sem nenhuma gota de machismo em seu sangue, a tomou como esposa e assumiu como seu filho o fruto da violência sexual.

Outros, mais radicais, que ela simplesmente traiu seu marido, e que ele, "#superantimachista", a aceitou grávida. Eis os santos pós-modernos.


"Talvez não estejamos longe de um tempo em que “moralidade” seja vendida como um novo tipo de transgressão"


Os ares de puritanismo

Talvez não estejamos longe de um tempo em que “moralidade” seja vendida como um novo tipo de transgressão

Por Fernando Gabeira
Publicado no Globo
O debate entre mulheres americanas e francesas sobre assédio sexual já deu muito o que falar. Vou me dedicar apenas a uma pontinha dele. É argumento das francesas que estamos ameaçados por um novo puritanismo. Por acaso, estava lendo sobre o tema, a volta do puritanismo, mas vista de um ângulo completamente diferente. Nele, o motor do novo puritanismo não estava precisamente num grupo de atrizes vestidas de preto, mas na própria indústria da diversão onde são protagonistas. Esta é uma interessante visão do filósofo inglês John Gray. Ele acha que as guerras envolvendo gente só acontecem nos estados falidos. Em países ricos de alta tecnologia, as guerras são feitas por computadores.
Com essa mudança na guerra, a pressão para manter a coesão social é relaxada, e os pobres podem ser deixados à parte, desde que não representem ameaça. Nesse contexto, há também a mutação na economia. O domínio da agricultura está no fim; o da indústria, nos estertores. Entra em cena a distração. Segundo Gray, o imperativo do capitalismo contemporâneo, nas áreas mais ricas, é manter o tédio à distância. Onde a riqueza é a regra, a maior ameaça é a perda do desejo. Gray vê a economia movida pela manufatura das transgressões e conclui:
“Hoje, as doses de loucura que nos mantêm sadios são fornecidas pelas novas tecnologias. Qualquer um ligado à internet tem uma oferta ilimitada de sexo e violência virtuais. Mas o que acontecerá quando não conseguirmos novos vícios? Como superar o ócio e a saciedade quando sexo, drogas e violência feitas por designers não venderem mais? Nesse ponto, podemos ter certeza, a moralidade voltará à moda. Talvez não estejamos longe de um tempo em que “moralidade” seja vendida como um novo tipo de transgressão”
Essa conclusão coincide com minha ideia de que o puritanismo só voltará como uma nova moda. As coisas avançaram muito para se pensar em volta aos tempos da Rainha Vitória. O debate entre francesas e americanas ficaria mais completo se houvesse uma visão da indústria um pouco mais ampla do que a relação homem e mulher no trabalho.
Depois da saída dos manifestos, surgiu uma série de denúncias contra os fotógrafos Mario Testino e Bruce Weber. Nesse caso, as vítimas não são mulheres, mas jovens modelos de moda masculina. Eles precisam parecer atraentes sexualmente. É essencial para a foto funcionar. Há uma energia sensual fluindo do modelo para o artista também como um estímulo à eficácia da imagem produzida. Mario Testino e Bruce Weber podem ter cruzado a linha do respeito mútuo nesse delicado trabalho conjunto. Mas estavam tentando revestir um produto de um apelo sexual — business as usual. Definir os limites nesse caso é um acordo que deve prevalecer numa equipe de trabalho.
Mas o trabalho em si não tem nada de puritano: é movido pelo objetivo de tornar sexualmente atraente a roupa a ser vendida. E apelar para um instinto quase tão forte quanto o da sobrevivência: o acasalamento. De um modo geral, concordo com as francesas no sentido de que há que se pegar mais leve. Um homem de 95 anos foi denunciado porque tirou a roupa e pediu um sexo oral, talvez à enfermeira. É uma dessas situações patéticas que nos levam mais a refletir sobre a velhice do que propriamente sobre assédio.
Em termos literários, Gabriel García Márquez o fez em Memoria de mis putas tristes. Um jornalista, aos 90 anos, decide se dar como aniversário uma noite de amor com uma garota de 14 anos. Ao vê-la adormecida se apaixona por ela, não a molesta, mas apenas vela o seu sono. Mas entrar nessa história vai me levar muito longe da questão da moralidade e da transgressão.
Esse tema me interessou basicamente na tentativa de entender algo bastante singular. É uma questão política, brasileira: a atração dos jovens pela candidatura Bolsonaro. Num país dominado durante anos pela esquerda, com seu universo político desmoralizado, a moralidade pode ser vivida também como uma transgressão. Não tenho explicação conclusiva, mas achei apenas que, nesse universo singular, que não é o mesmo descrito por John Gray, pode ser de uma certa valia. Caso tenha alguma base na realidade, talvez nos ajude a entender o que se passa com parte da juventude e sua atração pela direita. Desqualificá-la aumenta a crença de que são incompreendidos e atacados pelo sistema.
Se esse roteiro estiver correto, o primeiro passo para discutir com ela é ter uma posição clara sobre a Lava-Jato. Enquanto o mundo político se comportar como cúmplice de quadrilhas, a juventude vai passar ao longe. Ao lado da desgastada utopia da esquerda surgirá também a nostalgia dos velhos tempos. Eles não voltam mais, assim como nunca chegarão aos amanhãs que cantam do discurso socialista. O desafio é achar uma saída que contemple a luta contra a corrupção e encare de frente um mundo complicado demais para nostalgias de esquerda ou direita.

domingo, 21 de janeiro de 2018

O que está acontecendo com o Futebol ? Desconfio que o sorriso subiu no telhado faz tempo !



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A fotografia é 1946 

Este é o time do Papa Francisco, San Lorenzo 


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Time do Botafogo do final da década de 50 e início de anos 60

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Time do Flamengo anos 90

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Time odo Real Madrid em 2015

Concordo que são poucas fotografias para certificar o sumiço do sorriso no Futebol. .
Mas, olhei algumas dezenas de times de vários países e o sorriso é coisa do passado 
Penso que havia prazer, romantismo em defender um clube,

 jogar futebol em décadas passadas

Charge de Duke no O Tempo


CHARGE DO DIA
Charge do Dia