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domingo, 27 de dezembro de 2015

O Papa é argentino, Deus é brasileiro... Há muito trabalho para os Dois ! Há muito sacrifício para argentinos e brasileiros / E País / Juan Arias



O melhor presente de Natal para o Brasil 

Nos milagres econômicos fáceis demais se esconde, às vezes, o ovo da serpente


Se Deus continua sendo brasileiro, o melhor presente de Natal que poderia dar ao país é fazê-lo voltar a crescer, unido e capaz de abrir uma nova página de sua história, como fez quando derrotou a ditadura que o tinha dividido e ensanguentado.



Iluminação do Cristo Redentor especial para o Natal, no Rio, no dia 23.  AFP

O adjetivo mais usado nestas festas é “feliz”. Nós nos desejamos Feliz Natal enquanto transborda o desejo de um Feliz Ano Novo, menos duro que o que termina.
Enquanto isso, este Natal, que encerra um ano negativo quase em tudo, será ainda amargo para muitos.
“Natal? Que Natal?! Este ano não dá para alegrias”, comenta o dono de um mercado, cada vez mais vazio, em uma pequena cidade no interior do Estado do Rio.



Este Natal será, de fato, amargo para milhões de famílias.
Em vez de palavras de paz, nas redes sociais ainda se continua a escutar os ecos da divisão social. No mundo político, em vez de solidariedade com o país e com os mais afetados, reina o salve-se-quem-puder em meio a intrigas e traições.
Será amargo o Natal para esse trabalhador que perdeu o emprego –a cada trinta segundos alguém é despedido. Para o milhão e meio que já foi demitido neste ano que termina. Com a perda do emprego a autoestima do trabalhador também costuma ficar despedaçada.
Assim será para as famílias que tiveram de sacrificar a alegria do pagamento extra na época do Natal para quitar dívidas atrasadas.


Os brasileiros, que sempre souberam esperar pacientes, desta vez têm pressa de ver a luz no final do túnel. Querem vê-la quanto antes.

Para os milhões a quem a crise obrigou a raspar as poupanças, porque o salário, carcomido pela inflação, não chega para comer e pagar a conta de luz, o novo luxo deste país.
Será amargo para os jovens pelos quais os pais se sacrificavam para lhes pagar um curso de qualificação – “para que amanhã, filho, possas viver melhor do que nós” – e que tiveram de voltar a trabalhar porque o salário da família já não é suficiente para as despesas. Para os milhões saídos da pobreza e até da miséria, que começaram a sorrir e a poder ter uma televisão e uma máquina de lavar roupa. Quantas mãos de mulheres pobres rachadas no passado de tanto lavar roupa nas casas e que agora têm medo que a máquina milagrosa quebre, porque não teriam como consertá-la e menos ainda como comprar uma nova.
Nos milagres econômicos fáceis demais se esconde, às vezes, o ovo da serpente.
Será amargo para as famílias da classe média que nunca conheceram a pobreza e a fome, e que hoje precisam começar, também elas, a fazer cortes em seu orçamento porque “as cosias já não são como antes”.
Para os que sentiram as garras do dragão de lama que tragou casas, vidas e esperanças na tragédia ambiental de Mariana. Por que os culpados ainda não estão presos?
Será amargo para as mulheres grávidas que vivem sob o pesadelo do maldito mosquito que poderia contaminá-las e para as que desejariam ter um filho e ficam paralisadas pelo medo. Por que as autoridades fecharam os olhos diante da epidemia? Por que demoraram tanto para reagir? Onde está o governo?
Será dura para todos os que farão filas, nesse dia e sempre, na porta de hospitais públicos cada vez com menos recursos, onde os mais pobres morrem no esquecimento. E será também para os estudantes das escolas públicas, dos quais querem fechar escolas e até cortar o sanduíche da merenda, com a desculpa de uma crise forjada pelo binômio da corrupção e incapacidade de administrar um país rico.
Será um Natal amargo para todos os atingidos pelas balas perdidas, símbolo do caos de uma classe política perdida também, mas nos labirintos de seus interesses de poder.Será amargo para a caravana de discriminados pela cor da pele, por sua sexualidade e hoje – e isso é tristemente novo no Brasil – até pela religião ou crença política.
Será amargo para as mulheres vítimas da violência dos maridos, para as estupradas – uma a cada nove minutos – e para aquelas às quais se nega o direito de dispor do fruto de seu ventre, por isso morrem na busca de um aborto clandestino –e que já chegam ao recorde de 50.000 por ano.
Será também amargo para os que não renunciaram a ser cidadãos e desejariam ser também responsáveis pelo destino de seu país, mas não encontram instituições limpas onde empenhar-se.
Para os que sofrem a traição política, o assassinato de utopias e esperanças. Para “a legião de órfãos deixados pelo PT, pessoas decentes, que confiavam nele e foram ludibriadas”, como escreveu com dor Rosiska Darcy em sua coluna de O Globo. Órfãos do PT e de tantos outros partidos, transformados em fábricas de votos em vez de celeiros de ideias e projetos para a nação.
Será amargo também, e sobretudo, para os moradores das periferias das cidades, que observam à margem os bairros da riqueza, onde se forjam as leis que sempre os acabam penalizando. São eles os que mais sofrem o açoite da violência. Os frutos das Olimpíadas chegarão ao coração das favelas?
Será um Natal amargo para as mães daquelas comunidades, pobres e violentas, que têm de presenciar a matança dos filhos antes de florescerem para a vida. Os sonhos que nutriam para eles acabam todos os dias assassinados pelo chumbo das balas. Para uma mãe pobre não há filho bom ou bandido. Há somente filho vivo ou morto. Será um Natal amargo para muitos, mas não desesperado, porque toda noite costuma ser seguida pela luz de uma estrela.
Os brasileiros, que sempre souberam esperar pacientes, desta vez têm pressa de ver a luz no final do túnel. Querem vê-la quanto antes.
Para quando essa luz de renovação chegar poderem festejá-la e desfrutá-la, unidos e alegres, como fizeram quando se despojaram das garras da ditadura para voltar a abraçar a democracia e a liberdade.
Os sinos do Natal, há milhares de anos, nos trazem ecos e nostalgias de paz, e não de guerra.
A todos, e de modo especial aos que festejarão na dor e no desencanto, meu abraço, de FELIZ NATAL.


Charge de Amarildo...

Sabe lá…

Noel Psicanalista Freud sabe la o que nao ter e ter que ter pra dar

CIAO 2015 ! /no blog de Josias / charge de Benett



Ano de 2015 abusa da paciência dos brasileiros
9

Josias de Souza
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Excluindo as outras 52.352 coisas deploráveis ocorridas em 2015, denuncio os seguintes crimes cometidos contra a paciência dos brasileiros durante o ano velho:
estrelinha
A reviravolta que despertou no eleitorado o desejo de submeter Dilma a um exame de DNA logo depois da reeleição; a mania do governo de chamar a clientela de contribuinte antes de tentar arrancar-lhe na marra uma nova CPMF; a inflação de 10,8%, acompanhada de recessão e desemprego, sobretudo porque todos sabem que o caos econômico era evitável; a saudade do tempo em que dar uma pedalada era apenas acionar os pedais de uma bicicleta; a Dilma apresentando-se sempre como vítima de alguém; o Eduardo Cunha no papel de abre-alas da oposição; a sofreguidão com que Dilma vai atrás do Renan Calheiros, corteja o Renan Calheiros, entrega a viabilidade do seu governo à conveniência do Renan Calheiros; a Dilma tratando o Eduardo Cunha como cachorro louco sem explicar por que mantinha um afilhado dele na vice-presidência da Caixa e tentava ser seu amigo antes da deflagração do impeachment; o PT chamando de “golpe” um processo de impeachment previsto na Constituição e disciplinado pelo STF; a evolução do presidencialismo de coalizão para a sua forma mais pura, que é a vigarice; o neo-aliado Fernando Collor xingando Rodrigo Janot de “filho da puta” na tribuna do Senado por ter revelado que ele continua sendo Fernando Collor; a Lava Jato comprovando diariamente que a democracia brasileira é um projeto político que saiu pelo ladrão; a evidência de que, não contentes em existir, os corruptos passaram a existir em grande número; a desilusão que se abateu sobre o asfalto depois que os manifestantes se deram conta de que o poder de fazer barulho na rua pode ser poder nenhum; a desfaçatez com que o petismo se vangloria de ter aparelhado a Polícia Federal e prestigiado o Ministério Público, abstendo-se de mencionar que providenciou também a matéria-prima para os escândalos que o cercam; o TSE transformado pelo PT em lavanderia de pixulecos; o Lula repetindo que ‘não sabia’; a Dilma declarando que não confia em delator que faz delação com base numa lei sancionada por Dilma; a comprovação de que a elite empresarial brasileira pilhava a Petrobras ao mesmo tempo em que enchia as colunas sociais, publicava artigos e aconselhava ministros; a rapidez com que o PT suspendeu a filiação do líder preso Delcídio Amaral em contraste com o tratamento de “guerreiro do povo brasileiro” dispensado a personagens como o tesoureiro encarcerado João Vaccari Neto; o talento insuspeitado do Eduardo Cunha como vendedor de carne enlatada para a África; a transformação do Conselho de Ética da Câmara numa sucursal da Casa da Mãe Joana; a desenvoltura com que quatro dezenas de parlamentares enrolados no escândalo da Petrobras trafegam pelos corredores do Congresso como se nada tivesse sido descoberto sobre eles; o silêncio perturbador da banda muda do Congresso Nacional; a Dilma apelidando de reforma ministerial mais uma troca de cúmplices; a perspectiva de indulto da pena imposta no julgamento do mensalão a José Dirceu, que aguarda na cadeia por uma nova condenação no petrolão; a nota oficial em que o PSDB se disse “surpreso” com a condenação de Eduardo Azeredo no processo sobre o mensalão tucano de Minas Gerais; o filho do Lula embolsando R$ 2,5 milhões por “consultoria” copiada da internet; os 62 milhões de metros cúbicos de lama despejados pela Samarco no meio ambiente; a conversão do Aedes aegypti em hospedeiro do vírus zika; o desejo que Dilma desperta nas pessoas de viver no Brasil que ela descreve em seus discursos, seja ele onde for.
– Em tempo: Ilustração via Benett.

Chico Caruso no blog de Ricardo Noblat

HUMOR

A charge de Chico Caruso

Charge (Foto: Chico Caruso)

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sábado, 26 de dezembro de 2015

Está perdido ? Leia 10 passos para quem se acha perdido... / Ivan Martins / Época



IVAN MARTINS


10 coisas que aprendi em 2015


Uma lista de lições (muito pessoais) extraídas do ano que vai acabando, e que muitos gostariam de esquecer. Ou apagar

IVAN MARTINS
23/12/2015 - 08h25 - Atualizado 23/12/2015 09h35

Ouço todo mundo reclamando de que este ano não foi fácil. Eu concordo inteiramente. Aconteceu de tudo, e muita coisa foi ruim. Para mim, foi um ano de perdas como eu nunca tinha tido. Para todos, parece ter sido um ano de grande confusão – aquilo que os chineses chamavam, com enorme ironia, de “tempos interessantes”. De alguma maneira sobrevivemos e, naturalmente, aprendemos com isso. Eu mesmo aprendi muita coisa. Sobre morte, sobre separação, sobre relações passageiras e sobre o papel dos bichos na nossa vida. Muitas dessas coisas, como dizia um antigo chefe meu, são novidades apenas para mim. Outras, podem ser novas para mais gente. Tomara que haja mais do segundo caso. Dizem que a gente nunca aprende com a experiência dos outros, mas eu sou um pouco mais otimista. Se o meu annus horribilis não for capaz de ensinar, talvez consiga distrair. Vocês me digam:
1.  Mãe faz muita falta. Não adianta ser um adulto grisalho. Não importa que a sua mãe tenha 87 anos. Quando ela morre, abre um buraco na sua biografia. Com ela, vai parte da criança que você foi: aquela que a amava de forma inocente e absoluta, e que se sentia amada por ela de maneira incondicional. Quem o amará dessa forma novamente? Além da dor simbólica e da orfandade assustadora, existe a ausência física. Nem faz um ano que a minha morreu, mas já me peguei várias vezes pensando em ligar para ela e perguntar besteiras, como eu sempre fazia. Como se faz panqueca, mãe? É razoável pagar trinta reais numa barra de calça? (“Não! Venha aqui que eu faço”). Os almoços semanais na casa dela eram regados a uma conversa nostálgica que apenas os velhos sabem manter. Ela falava da década de trinta do século XX - quando foi menina – como se fosse a semana passada, com a vivacidade e a fúria da memória implacável. Carregava galhardamente os mortos dela (meus avós, meus tios) e dividia a história deles comigo. É assim que a gente faz a conexão com o passado: há uma narrativa familiar que vem no leite e que nos ajuda a entender o mundo de onde surgimos. Eu tive sorte, perdi minha mãe adulto. Tivemos muitos anos para fazer a passagem do bastão. Agora eu guardo as memórias, algumas das quais passarei aos meus filhos. Outras se perderão, irremediavelmente. É triste, e temo que fique ainda mais triste à medida que o tempo passe. A presença da mãe ausente não diminui, só cresce.
2. A gente nunca aprende a lidar com separações. Cada vez que um grande amor acaba, temos de viver tudo de novo. A vida perde a graça, os olhos embaçam. O luto – esse é o nome do sentimento – é uma tinta que se agarra aos nossos dedos e se recusa a sair. Ela vai manchando tudo o que a gente toca. Temos de lutar contra essa dor todos os dias, e às vezes ela leva a melhor. Então nos recolhemos à nossa infelicidade e torcemos para que a noite seja breve. No fundo de nós, sabemos que uma hora a amargura vai passar, mas, verdadeiramente, não desejamos que passe. Superar o luto significa deixar de amar, e isso não parece razoável. Livrar-se internamente do outro é o mesmo que admitir que a possibilidade de estar com ele se esgotou. Outras possibilidades surgirão, naturalmente, mas reconhecer que aquele caminho se fechou é intolerável. Não queremos ser felizes de outra maneira. Queremos a vida com aquela única pessoa, não qualquer outra forma de vida. Essa é a armadilha sentimental das separações: não desejamos nos livrar da dor, porque há nela um germe de esperança. Entender esse paradoxo não resolve o problema, mas ajuda.
3. Mudar de vida é bom, mas custa. A gente não percebe o quanto nosso equilíbrio depende das rotinas de trabalho que nos incomodam. Quando nos vemos livres dela, o mundo fica subitamente inquietante. É preciso inventar uma vida nova, e uma nova rotina que faça sentido. Em setembro de 2015 eu comecei a fazer isso. Estou feliz, mas ainda é estranho. Lamento, às vezes, não ter começado antes. A esta altura já teria criado uma nova disciplina interior. Ela é a chave de tudo. Antes, havia uma disciplina externa, ditada pelo ritmo da empresa. Agora, a disciplina tem de estar em mim, assim como o estímulo e a crítica. Não é fácil ser chefe de si mesmo, mas há uma geração de inteira de gente criativa vivendo assim. A liberdade é assustadora, mas traz promessas cintilantes de auto realização.
4.  A ternura das pessoas que passam é essencial. Nossa vida não é feita somente de relações duradouras. Há gente que atravessa uma rua conosco, caminha ao nosso lado uma avenida, e pronto: deixa um perfume que não será esquecido. Não era para ser, não era para durar, mas isso não torna as pessoas menos essenciais. No longo vazio que sucede as separações, esses encontros são como pontos de luz. Eles marcam a vida com a intensidade ou a delicadeza das coisas efêmeras, que têm a sua própria forma de beleza. Não falo de sexo casual apenas. Falo do encontro temporário de corpos e de sentimentos, que nos dá a sensação de plenitude. Depois ela se dissipa, como é da natureza das coisas que passam, abrindo o nosso coração e o preparando para as coisas mais perenes que virão. Por esses encontros, que eu não sabia direito que existiam, e que não tinham nome no meu vocabulário, a minha comovida gratidão.
5. Hábitos podem ser mudados. Mesmo aqueles antigos, que a gente cultiva a vida inteira, podem ser postos de lado em nosso benefício. Este ano eu parei de beber, por exemplo. Posso tomar um vinho ou um copo de cerveja eventualmente, mas o hábito foi posto de lado. As razões dessa mudança nem eu mesmo entendo, mas noto que ela me fez bem. O prazer da bebida tornou-se eletivo, não social e automático. Acho que isso pode valer para tudo que a gente faz distraidamente, por imitação ou por descaso consigo mesmo. Podemos descobrir que hábito e prazer não são a mesma coisa.
6. A vida interior precisa de atenção. A frase é óbvia, mas a gente não aplica. Vivemos um dia depois do outro, entre a depressão e a euforia, sem nos questionar sobre a natureza dessas sensações. Nos parece, o tempo inteiro, que tudo que nos afeta vem de fora. O trabalho, a família, o amor, a droga da política. Mas não é verdade. Todos nós convivemos com um grau de sofrimento interno elevado, quase insuportável às vezes. E não damos a isso a atenção que deveríamos. Este ano, por um acaso generoso, eu fui posto em contato com as ideias meio budistas, meio indianas e algo freudianas do guru Sri Prem Baba. O resultado desse encontro é que eu voltei a refletir, como não fazia desde a adolescência, sobre os meus estados mentais. De onde vem a ansiedade? Por que tamanha inquietação? Que angústia e essa que vira e mexe me aflige? Na cultura ocidental, a gente resolve isso procurando um psicólogo ou psicanalista. Na tradição oriental, busca-se um mestre que ensine a meditar e refletir sobre a origem dos sentimentos dolorosos - e ajude a eliminá-los. Como eu tenho dificuldade pessoal com a ideia de seguir um guru, tenho lido sozinho sobre budismo e espiritualidade, e tenho tentado, precariamente, aprender a meditar – uma arte sutil que exige o oposto de tudo que a gente aprendeu a fazer em casa e na escola. Seu objetivo é separar o fluxo de sentimentos e pensamentos daquilo que os orientais chamam de consciência. Por trás disso, está a ideia assustadora (mas linda) de que nós não somos iguais aos nossos pensamentos e sensações. O cérebro produz essas coisas o tempo inteiro, compulsivamente, e nós sofremos por nos identificarmos demais com elas. Não é curioso? Quem quiser saber mais sobre isso, leia Despertar -  um guia para a espiritualidade sem religião, do Sam Harris. Esse livro ajudou a melhorar o meu ano.
7. Eventos públicos interferem na vida privada. Este ano, com tudo o que aconteceu no Brasil, experimentei uma tremenda angústia. Lava Jato, impeachment, crise econômica. Não houve como se isolar das notícias terríveis. Todos os dias o jornal me deixava furioso ou prostrado. As conversas no bar e no trabalho terminavam em tom de exasperação. Nunca discuti tanto, e de forma tão inútil, nas redes sociais. Em vários momentos, tive a impressão de que o Brasil que eu vira emergir da ditadura nos anos 1980 virava farinha. Havíamos entrado na máquina do tempo e ela nos levava de volta a uma versão perversa de 1964. Sentia todas as manhãs, quando abria a internet, que as coisas se encaminhavam para um desfecho farsesco e injusto, sem que eu pudesse fazer nada além de assistir, apoplético. Um horror, capaz de afetar o meu sono e perturbar o meu escasso apetite. Felizmente, o ano vai terminando em uma nota alvissareira, apesar dos playboys ofendendo o Chico Buarque na saída do restaurante. Que horror aquele vídeo! As pessoas foram às ruas em defesa da legalidade e o STF pôs um limite ao reinado de Eduardo Cunha. A balança de alguma forma se equilibrou, embora o futuro ainda seja incerto. 2015 ficará na minha memória como o ano em que não foi possível viver fora da crise.
8. Engajamento é essencial. Cada vez mais, sinto que a gente precisa fazer algo pelo mundo ao redor. A vida não pode se reduzir, mesquinhamente, a acumular dinheiro e sucesso e a cuidar da nossa família, cheios de medo. No final deste ano, quando começou o movimento de ocupação das escolas em São Paulo, vi a alegria com que alguns dos meus amigos – pais de alunos, alguns; vizinhos das escolas, outros – se mexeram para ajudar os adolescentes. Foi uma coisa bonita, um reencontro com as biografias deles. As pessoas cozinharam, deram aulas, participaram de marchas e, ao final, sentiram-se parte da vitória dos meninos e meninas, que conseguiram impedir o fechamento de quase uma centena de escolas estaduais. Tenho certeza que nós seríamos mais felizes, e viveríamos num mundo melhor, se saíssemos regularmente da nossa vida privada para fazer algo pelos outros. No final, descobriríamos que os outros somos nós.
9. Bichos podem ser fundamentais. Carlota e Elizabeth, as minhas gatas, foram parte importante deste ano tumultuado. Quando as coisas ficaram difíceis, elas estavam lá para distrair e receber afeto. Levantar de manhã, limpar a caixinha e dar comida a elas, ou brincar com fitas e bolinhas, fazendo com que elas corram e se exercitem, são atividades prazerosas. Cuidar dos bichos me faz sentir melhor. Os gatos, ao contrário dos cachorros, não respondem da mesma forma ao carinho dos humanos, mas não importa – eles podem ser objetos da nossa afeição, mesmo de cara emburrada ou indiferente. Tenho um amigo que mora sozinho e adotou, recentemente, um cachorrão amoroso e estabanado. É impressionante como o cão fez bem para ele. Melhorou o humor do amigo e aumentou o seu prazer de estar em casa. A conclusão é óbvia: os bichos fazem bem aos humanos, sobretudo para aqueles que moram sozinhos. 2015 não me transformou num animal lover, mas fez com que eu revisse meus preconceitos em relação a eles.
10. Sentir-se perdido é o primeiro passo. Quando a vida está certinha, a gente boceja de tédio. Quando tudo sacode e desaba, morremos de medo. Estar num lugar é desejar o outro, e nos intervalos entre lá e cá nos sentimos perdidos. Bem perdidos. Eu estava desacostumado ao sentimento, mas este ano fui obrigado a percebê-lo como parte da vida. Ao menos de uma vida que se renova. No meio das mudanças, voluntárias ou não, sempre aparecem sentimentos de perplexidade e desorientação. Qual é mesmo o caminho a seguir? Qual a coisa certa a fazer? Há que tomar decisões e tentar. Se for o caso, arrume uma bússola. A minha costumava ser a psicanálise. Hoje em dia eu não sei. Mas sei, com toda certeza, que há vários caminhos possíveis, e que eles levam a lugares fascinantes. Sei também, porque aprendi, que o primeiro passo começa sempre com a sensação de estar perdido. É assustador. É libertador. Talvez seja essencial.
. (Foto: .)


Brasil > Uma recessão que pode durar 10 anos... // Revista Época

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IDEIAS



Recessão brasileira pode comprometer economia por dez anos

No período entre 2011 e 2020 o Brasil avançará quase nada. Por que ficamos parados? 

GRAZIELE OLIVEIRA COM PAULA SOPRANA E MARCOS CORONATO
26/12/2015 - 10h01 - Atualizado 26/12/2015 10h38

Observador da economia  (Foto: Época )

















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