“O sucesso não deve ser perseguido. Tudo o que é perseguido está fugindo de você. Em vez disso, atraia o sucesso tornando-se uma pessoa melhor – alguém que realmente merece ser um sucesso.” (Jim Rohn)
Passei o fim de semana na “companhia” de Haruki Murakami, o renomado escritor japonês e autor do best-seller 1Q84, que já comentei aqui. Romance é algo um tanto pessoal, e depende do gosto de cada um. Gosto do estilo de Murakami, e depois de terminar a trilogia citada, devorei outros dois romances dele.
Mas dessa vez resolvi ler um livro diferente, meio autobiográfico e meio autoajuda (coisa que não costumo apreciar, pois como o nome já diz, tende a ajudar somente o próprio autor). Trata-se de Do que eu falo quando eu falo de corrida, um relato interessante sobre como a descoberta da corrida mudou a vida do escritor e também serviu para melhorar sua própria escrita.
Certa vez, escrevendo na coluna de gestor do jornal Valor Econômico, comparei a função de um bom gestor com a maratona, em contraponto à corrida de 100 metros rasos. O foco deve estar no longo prazo e, para tanto, desenvolver disciplina e controlar tentações imediatistas é fundamental.
No mesmo espaço, escrevi também outro texto condenando os “atalhos para o sucesso”, lembrando que sempre cobram um alto preço depois (não existe almoço grátis). Os anabolizantes, as bolinhas emagrecedoras, os livros para “aprender” filosofia em 90 minutos, as promessas de rápido enriquecimento nos mercados financeiros, enfim, há todo tipo de pacto mefistofélico que jamais – repito: jamais fica impune.
Posso falar um pouco de minha experiência pessoal, como fez Murakami nesse curto, porém instigante livro. Minha ascensão foi um tanto meteórica, e não nego isso, o que assusta às vezes. Mas esse foi o resultado de muitos anos de trabalho e esforço sendo agora recompensados. Passei anos escrevendo em blogs, debatendo no Orkut, publicando em sites e revistas pouco conhecidas, fazendo várias palestras gratuitas, divulgando com paixão o liberalismo no qual acredito.
Algum talento e vocação, muita transpiração e disciplina, e visão de longo prazo: até o dia em que a oportunidade surge e você a agarra. Como diz o ditado: campeões não se tornam campeões no ringue; ali eles são apenas reconhecidos. Antes, há todo um árduo processo de preparação. As tais 10 mil horas que Malcolm Gladwell cita em seu livro Outliers: Fora de série.
Voltando ao escritor japonés, a maratona lhe deu a consistência, a perseverança, o ritmo necessário para escrever, seguir em frente. Seu desafio foi fazer a roda ficar girando a uma determinada velocidade – “e chegar a esse ponto exige o máximo de concentração e esforço de que a pessoa é capaz”.
Claro, muito vai depender da personalidade de cada um, como o próprio Murakami reconhece. O que achei legal em seu relato foi a ideia de que, na maratona, o principal obstáculo a vencer são seus próprios limites, mensagem também presente no fantástico Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach. A competição em si pode ter seu valor, mas é mais relevante disputar consigo mesmo.
Adorava um comercial da Mitsubishi que creditava as várias vitórias seguidas nos ralis ao fato de que a empresa competia contra o deserto, não contra os demais participantes. Aquele que olha o tempo todo em volta, pensando apenas em vencer os outros, deixa de buscar as melhorias internas, dar o máximo de si – o que dá uma sensação de dever cumprido inigualável.
Essa postura tende a gerar em nós uma autoconfiança (não confundir com a falsa autoestima que virou obsessão na era politicamente correta, com elogios mentirosos para estimular o “poder do pensamento positivo”). Mas é preciso ter cuidado. Como alerta Murakami, “A barreira que divide a confiança salutar do orgulho prejudicial é muito fina”.
Eis a lição que Murakami tirou de suas corridas e que considero digna de menção: “Forçar a si mesmo ao máximo dentro de seus limites individuais: essa é a essência de correr, e uma metáfora aplicável à vida – e, para mim, ao ato de escrever, também”.
Desnecessário dizer, tamanho esforço deve ser visto como algo que dá prazer, caso contrário não faria muito sentido. Nas palavras do autor, “para que uma maratona signifique alguma coisa, ela precisa ser divertida. De outro modo, por que motivo milhares de pessoas correriam quarenta e dois quilômetros?”
Em resumo, aqueles que encaram a vida como uma maratona tendem a aprender com os erros e fracassos, procuram encontrar prazer no processo, por mais doloroso que possa parecer em alguns momentos, e mantêm sempre o foco no longo prazo. Deixo a conclusão da metáfora com o próprio Murakami:
Uma a uma, enfrento as tarefas diante de mim e as termino do melhor jeito que posso. Concentrando-me sempre na passada seguinte, mas ao mesmo tempo adotando uma visão de longo alcance, esquadrinhando o cenário o mais longe possível. Sou, afinal de contas, um corredor de longas distâncias.
Rodrigo Constantino