Buracos negros, os objetos ultradensos previstos pela teoria da relatividade geral de Einstein, possuem gravidade extraordinária: tudo é engolido, até mesmo a luz, e praticamente nada escapa.
Agora, pela primeira vez, os astrônomos podem ter uma chance de observar a colisão de uma nuvem de gás, que vem se acelerando na direção do centro da Via Láctea, com um buraco negro situado a apenas 26.000 anos-luz da Terra (Embora os cientistas tenham a expectativa de observar o evento a partir de março ou abril, isso ocorreu há 26.000 anos). A nuvem de gás é três vezes o tamanho da Terra –, mas não é páreo para o buraco negro, Sagittarius A*, que tem a massa de quatro milhões de Sóis.
“Esta é uma rara oportunidade de testemunhar a alimentação de um buraco negro”, disse Avi Loeb, astrofísico teórico da Harvard. “Será que o gás alcançará o buraco negro e, caso positivo, em quanto tempo? Será que o buraco negro expelirá ou cuspirá o gás na forma de refluxo ou um de um jato?”
Se o buraco negro devorar um pedaço considerável da nuvem, um processo digestivo que poderia levar de vários meses a anos, pode haver explosões. Aquecido a bilhões de graus enquanto gira em espiral interna, a nuvem de gás condenada pode emitir um último fôlego de radiação, variando entre ondas de rádio até raios X.
“Aprenderemos algo, independentemente do que acontecer”, declarou Andrea Ghez, astrônoma da Universidade da Califórnia em Los Angeles, que monitora o centro galáctico desde 1995. Acredita-se que existam buracos negros no centro de quase todas as galáxias grandes.
O evento provavelmente se desdobrará em dois atos, afirmou Stefan Gillessen do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre na Alemanha. A sua equipe descobriu a nuvem de gás, G2, em 2011.
Depois que a nuvem, já esticada como uma corda parecida com espaguete pela gravidade do buraco negro, ficar extremamente próxima a Sagittarius A*, a sua distância do buraco negro será de aproximadamente 200 vezes a distância da Terra até o Sol. Apesar de tudo, a aproximação do G2 a Sagittarius A* pode ser perto o bastante para raspar a parte externa do disco giratório de matéria que se acredita cercar o buraco negro. A onda de choque gerada por esse encontro pode provocar raios X e ondas de rádio que poderiam ser detectados pelos telescópios.
Se a nuvem tiver uma estrela no seu centro, como propõem alguns astrônomos, ela pode gerar mais luz, segundo Sera Markoff da Universidade de Amsterdã.
O encontro poderia ter outro efeito: perturbações na nuvem poderiam alterar a direção na qual as ondas de rádio vibram enquanto se propagam. Observações simultâneas através de telescópios ajustados a diferentes comprimentos de onda de rádio poderiam discernir as distorções das ondas, dando aos astrônomos novos detalhes acerca das propriedades das nuvens, de acordo com Geoffrey Bower, um rádio astrônomo da organização de Taiwan, ASIAA, em Hilo, Havaí.
Porém, a maioria das possíveis explosões acontecerá pelo menos daqui a um ano, talvez até mesmo décadas. Esse é o tempo que pode levar para o material arrancado da G2 entrar em espiral através do disco de alimentação do buraco negro, chegando 100 vezes mais perto do buraco do que está agora. Nesse local, o gás se aquece o bastante para irradiar antes de ser engolido.
No ano que vem, o Telescópio do Horizonte de Eventos, um agrupamento de rádio telescópios, ganhará resolução o bastante para discernir a luz que simplesmente deixa de ser arrastada para dentro de Sagittarius A*, mas que é dobrada na forma de uma auréola (Esse nível de resolução pode perceber uma laranja na superfície da lua, declarou o líder do projeto, Sheperd Doeleman, do Observatório Haystack do Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Desvios da forma prevista da auréola indicariam que a teoria da gravidade geral de Einstein precisa de revisão.
Por enquanto, disse o Professor Loeb, os astrônomos anseiam pelo encontro. “A experiência é tão empolgante para os astrônomos quanto é a experiência de tirar as primeiras fotos dos filhos se alimentando”.