quinta-feira, 19 de abril de 2018
Súmula do G1 hoje...
Quinta-feira, 19 de abril https://g1.globo.com/agenda-do-dia/noticia/quinta-feira-19-de-abril.ghtml
quarta-feira, 18 de abril de 2018
"Rir ou gritar" / João Pereira Coutinho
terça-feira, abril 17, 2018
Rir ou gritar? - JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 17/04
Melhor forma de retratar o horror extremo é a hilaridade extrema: só o absurdo faz jus ao absurdo
Minha oposição ao autoritarismo começa por ser estética. Sempre foi. Teria uns 13 ou 14 anos quando despertei para o mundo sórdido da política. E as minhas perguntas eram recorrentemente as mesmas: como é possível que um povo inteiro possa aplaudir e admirar palhaços torpes como Hitler ou Mussolini? Como levar a sério os seus gestos, as suas poses? Será que as pessoas não veem o ridículo que existe nesses líderes, antes
Melhor forma de retratar o horror extremo é a hilaridade extrema: só o absurdo faz jus ao absurdo
Minha oposição ao autoritarismo começa por ser estética. Sempre foi. Teria uns 13 ou 14 anos quando despertei para o mundo sórdido da política. E as minhas perguntas eram recorrentemente as mesmas: como é possível que um povo inteiro possa aplaudir e admirar palhaços torpes como Hitler ou Mussolini? Como levar a sério os seus gestos, as suas poses? Será que as pessoas não veem o ridículo que existe nesses líderes, antes
de escutarmos as suas ideias?
Charles Chaplin tratou do assunto em "O Grande Ditador", filmando o nosso Adolf e o nosso Benito em competição fálica. O filme, mais que uma sátira fantasiosa, era profundamente realista aos meus olhos.
Como seria realista uma sátira igual sobre o pequeno Kim da Coreia do Norte ou até sobre o Maduro venezuelano. Antes de serem antidemocratas, todos eles são personagens grotescos que divertem e horrorizam em partes iguais.
Moral da história: há diretores que procuram retratar a psicopatia política recriando esse estado de medo e desumanidade por artifício artístico. Nunca assisto a esses filmes "sérios" porque existe algo de ofensivo neles: qualquer tentativa de aproximação à verdade é sempre uma confissão de impossibilidade. O "kitsch" é o destino mais comum.
Só aguento filmes sobre a natureza do totalitarismo em tom pícaro. Primeiro, porque a melhor forma de retratar o horror extremo é pela hilaridade extrema: só o absurdo faz justiça ao absurdo. Segundo, porque uma sátira é sempre mais eficaz como denúncia desse horror do que qualquer sermão solene.
"A Morte de Stálin", disponível em DVD pela Amazon britânica, é o melhor exemplo dessa eficácia. Como o título indica, o filme escrito e dirigido pelo impagável Armando Iannucci (o criador de "The Thick of It" e "Veep") apresenta-nos a morte do "Pai dos Povos" e a luta pela sua sucessão.
Corria 1953. O grande camarada tombava, inanimado, nos seus aposentos reais. O comité central reúne-se de emergência e, a medo, sugere que alguém chame um médico. Só existe um problema: os melhores médicos do país foram fuzilados ou estão no gulag. Que fazer?
Arranjam-se clínicos de segunda categoria que atestam o derrame cerebral e, dias depois, a morte de Stálin. O comitê chora (de alegria, obviamente). E começa a luta pela sucessão. Quem será o próximo timoneiro? Beria? Nikita Khrushchov? Malenkov?
A ambição reina, incontrolável. E, com a ambição, vêm novos complôs: para afastar Beria e Malenkov —e para colocar no trono Khrushchov.
Armando Iannucci começa por acertar no respeito pelos fatos: não existe boa sátira sem um contato firme com a realidade.
Em "A Morte de Stálin", é possível assistir ao vaudeville e encontrar um país devastado pelo medo; pelo terror arbitrário; por filhos que denunciam os próprios pais; por uma população que chora voluntariamente a morte de Stálin, mesmo que Stálin seja o responsável último por haver membros da família fuzilados ou enviados para o Gulag.
A grande diferença é que Iannucci filma tudo isso sem nunca "embelezar" esteticamente os fatos com pretensão pedagógica.
Pelo contrário: como qualquer grande satirista, ele limita-se a deixar o absurdo respirar, levando o caos da situação até aos limites mais cômicos e insuportáveis.
O mesmo acontece com os personagens centrais: Stálin, na sua vulgaridade de delinquente georgiano; Beria, o afamado torturador e pedófilo que chefiava a polícia política; Malenkov, figura patética e covarde, que reinou brevemente depois da morte de Stálin; e, claro, Khrushchov, um pragmatista e conspirador grosseiro. Todos eles são simultaneamente assustadores e hilariantes porque assustadora e hilariante era a realidade paralela em que viviam.
Como o próprio diretor explicou à revista "Prospect", só temos duas soluções perante o regime comunista: rir ou gritar.
Ou, então, censurar: na Rússia de Putin, o filme foi proibido pelo governo depois de vários artistas terem pedido intervenção do ministério da Cultura. A obra, nas palavras da "intelligentsia", ofende a história da Mãe Rússia e alguns dos seus "heróis". O ministério agiu em conformidade.
Confere. Anos atrás, Vladimir Putin declarou que o fim da União Soviética foi a maior tragédia do século 20. Para que essa mentira e esse mito sobrevivam, é preciso não ter sentido do ridículo.
João Pereira Coutinho
É escritor português e doutor em ciência política.
Charles Chaplin tratou do assunto em "O Grande Ditador", filmando o nosso Adolf e o nosso Benito em competição fálica. O filme, mais que uma sátira fantasiosa, era profundamente realista aos meus olhos.
Como seria realista uma sátira igual sobre o pequeno Kim da Coreia do Norte ou até sobre o Maduro venezuelano. Antes de serem antidemocratas, todos eles são personagens grotescos que divertem e horrorizam em partes iguais.
Moral da história: há diretores que procuram retratar a psicopatia política recriando esse estado de medo e desumanidade por artifício artístico. Nunca assisto a esses filmes "sérios" porque existe algo de ofensivo neles: qualquer tentativa de aproximação à verdade é sempre uma confissão de impossibilidade. O "kitsch" é o destino mais comum.
Só aguento filmes sobre a natureza do totalitarismo em tom pícaro. Primeiro, porque a melhor forma de retratar o horror extremo é pela hilaridade extrema: só o absurdo faz justiça ao absurdo. Segundo, porque uma sátira é sempre mais eficaz como denúncia desse horror do que qualquer sermão solene.
"A Morte de Stálin", disponível em DVD pela Amazon britânica, é o melhor exemplo dessa eficácia. Como o título indica, o filme escrito e dirigido pelo impagável Armando Iannucci (o criador de "The Thick of It" e "Veep") apresenta-nos a morte do "Pai dos Povos" e a luta pela sua sucessão.
Corria 1953. O grande camarada tombava, inanimado, nos seus aposentos reais. O comité central reúne-se de emergência e, a medo, sugere que alguém chame um médico. Só existe um problema: os melhores médicos do país foram fuzilados ou estão no gulag. Que fazer?
Arranjam-se clínicos de segunda categoria que atestam o derrame cerebral e, dias depois, a morte de Stálin. O comitê chora (de alegria, obviamente). E começa a luta pela sucessão. Quem será o próximo timoneiro? Beria? Nikita Khrushchov? Malenkov?
A ambição reina, incontrolável. E, com a ambição, vêm novos complôs: para afastar Beria e Malenkov —e para colocar no trono Khrushchov.
Armando Iannucci começa por acertar no respeito pelos fatos: não existe boa sátira sem um contato firme com a realidade.
Em "A Morte de Stálin", é possível assistir ao vaudeville e encontrar um país devastado pelo medo; pelo terror arbitrário; por filhos que denunciam os próprios pais; por uma população que chora voluntariamente a morte de Stálin, mesmo que Stálin seja o responsável último por haver membros da família fuzilados ou enviados para o Gulag.
A grande diferença é que Iannucci filma tudo isso sem nunca "embelezar" esteticamente os fatos com pretensão pedagógica.
Pelo contrário: como qualquer grande satirista, ele limita-se a deixar o absurdo respirar, levando o caos da situação até aos limites mais cômicos e insuportáveis.
O mesmo acontece com os personagens centrais: Stálin, na sua vulgaridade de delinquente georgiano; Beria, o afamado torturador e pedófilo que chefiava a polícia política; Malenkov, figura patética e covarde, que reinou brevemente depois da morte de Stálin; e, claro, Khrushchov, um pragmatista e conspirador grosseiro. Todos eles são simultaneamente assustadores e hilariantes porque assustadora e hilariante era a realidade paralela em que viviam.
Como o próprio diretor explicou à revista "Prospect", só temos duas soluções perante o regime comunista: rir ou gritar.
Ou, então, censurar: na Rússia de Putin, o filme foi proibido pelo governo depois de vários artistas terem pedido intervenção do ministério da Cultura. A obra, nas palavras da "intelligentsia", ofende a história da Mãe Rússia e alguns dos seus "heróis". O ministério agiu em conformidade.
Confere. Anos atrás, Vladimir Putin declarou que o fim da União Soviética foi a maior tragédia do século 20. Para que essa mentira e esse mito sobrevivam, é preciso não ter sentido do ridículo.
João Pereira Coutinho
É escritor português e doutor em ciência política.
Coisas do Brasil... Secretaria de Transportes de SP comprou trens que nunca foram usados...
Secretário de Transportes de SP, presidente do Metrô e mais 7 viram réus por compra de trens de R$ 615 milhões sem uso https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/seis-ex-presidentes-do-metro-de-sp-se-tornam-reus-por-trens-parados-de-r-615-milhoes-da-linha-5-lilas.ghtml
segunda-feira, 16 de abril de 2018
O mundo vai na direção da Guerra Fria/ Luiz Felipe Pondé
segunda-feira, abril 1O vai na direção d6, 2018
Instabilidade geopolítica deixa o mundo mais interessante - LUIZ FELIPE PONDÉ
FOLHA DE SP - 16/04
Desde o fim da Guerra Fria, o mundo parecia virar um parque de direitos humanos e amor; ledo engano
O mundo está mais interessante. Alguns dizem que adentramos uma era de instabilidade geopolítica. Verdade. Por isso o mundo está mais interessante. Sei também que você pode achar essa afirmação espantosa e, quem sabe, até estranha.
Há uma contradição intrínseca a muitas profissões. Quando falamos de jornalismo e pensamento público, uma contradição inerente é o fato de que a grande maioria desse universo de pessoas sonha com um mundo melhor e vê sua atividade como um “sacerdócio” em favor dessa missão (não é o meu caso: não quero salvar mundo nenhum, quero, talvez, quem sabe, entendê-lo um pouco melhor).
A contradição nasce do fato de que quanto mais o mundo agoniza, melhor é para esse mercado de trabalho. Obama foi “boring” na sua contínua afirmação de melosa bondade, reforçando a autoimagem de que somos gente bacana.
Trump e Putin, por outro lado, carregando imagens de loucos pouco confiáveis, tornam o mundo mais interessante e instigante; aumentam o número de pessoas interessadas no jornalismo de qualidade e, com isso, aquecem o mercado para os mais jovens.
Que, por sua vez, entram no mercado com a mesma melosa autoimagem de virgens a salvar o mundo, mas que dependerão de figuras como Trump e Putin para terem o que fazer na vida profissional.
Eu sei: o mundo é contraditório, mas, para gente que achou que todo o problema do mundo era a questão “trans” nos banheiros dos shoppings, deve ser mesmo uma agonia encarar o mundo como ele é.
E, mais do que interessante, o mundo está voltando ao normal. Instável, criativo, agressivo, exigente, implacável. Desde o final da Guerra Fria, na virada dos anos 1980 para os 1990, o mundo parecia acreditar que iríamos marchar para um parque temático que unisse direitos civis e humanos a shoppings com variedades veganas de amor aos animais.
No meio dessa ponte de perfeição, seres humanos cada vez mais honestos, altruístas e desapegados de bens materiais. Como se as próprias paixões pudessem ser refundadas a partir do seu perfil do Facebook cheio de gratidão.
Dito de modo “acadêmico”, a história estaria definida pela parceria crescente entre sociedade de mercado e democracia liberal, com tons sociais. Ledo engano.
Para fins didáticos e ilustrativos apenas: a Europa, palco de grandes conflitos que impactaram o mundo há séculos, não teve paz de 1789 a 1989 (fiquemos com números redondos pra facilitar a conversa).
Aliás, Karl Marx (1818-1883) viveu no meio desse rolo no século 19, por isso ele acreditava que o “mundo burguês estava condenado”.
Desde 1989, com a queda dos regimes marxistas totalitários do Leste Europeu, até “ontem”, o mundo desfilava suas belas almas evoluídas. Ainda desfilam, mas agora a tendência é parecerem zumbis ansiosos por sugarem o sangue de alguém bom.
A Rússia, que sempre teve vocação imperial na região, superpotência desde, no mínimo, o final do século 18 (a mesma Rússia que muita gente boa acha que só foi agressiva geopoliticamente no período soviético), volta a desempenhar seu “natural” protagonismo, resgatando, para muitos, o velho conceito de Guerra Fria.
O protagonismo russo tende a aumentar. O Estado russo pode ser muito mais ágil do que o americano.
A China cria um novo polo de instabilidade, a ponto de engolir a liderança econômica mundial. Regime autoritário, pode “provar” que a democracia não é necessária para o enriquecimento da população. E essas mesmas belas almas podem, um dia, acordar pensando que a democracia, afinal, só é boa para os maus, que querem destruir os que fazem o mundo “melhor” e igual.
Os próximos anos deverão ser cada vez mais tomados por instabilidades geopolíticas associadas às tecnologias da informação, às mídias sociais e à inteligência artificial. Guerras “algorítmicas” ocorrerão. E isso deixará o jornalismo cheio de tesão pela vida.
E o Brasil nisso? Merece uma coluna especial. O Brasil, também, está cada vez mais interessante. Espero poder fazer parte desse processo cheio de adrenalina, responsabilidade e espanto. As belas almas derreterão.
Luiz Felipe Pondé
Pernambucano, é escritor, filósofo e ensaísta. Doutor em filosofia pela USP, é professor da PUC e da Faap
Desde o fim da Guerra Fria, o mundo parecia virar um parque de direitos humanos e amor; ledo engano
O mundo está mais interessante. Alguns dizem que adentramos uma era de instabilidade geopolítica. Verdade. Por isso o mundo está mais interessante. Sei também que você pode achar essa afirmação espantosa e, quem sabe, até estranha.
Há uma contradição intrínseca a muitas profissões. Quando falamos de jornalismo e pensamento público, uma contradição inerente é o fato de que a grande maioria desse universo de pessoas sonha com um mundo melhor e vê sua atividade como um “sacerdócio” em favor dessa missão (não é o meu caso: não quero salvar mundo nenhum, quero, talvez, quem sabe, entendê-lo um pouco melhor).
A contradição nasce do fato de que quanto mais o mundo agoniza, melhor é para esse mercado de trabalho. Obama foi “boring” na sua contínua afirmação de melosa bondade, reforçando a autoimagem de que somos gente bacana.
Trump e Putin, por outro lado, carregando imagens de loucos pouco confiáveis, tornam o mundo mais interessante e instigante; aumentam o número de pessoas interessadas no jornalismo de qualidade e, com isso, aquecem o mercado para os mais jovens.
Que, por sua vez, entram no mercado com a mesma melosa autoimagem de virgens a salvar o mundo, mas que dependerão de figuras como Trump e Putin para terem o que fazer na vida profissional.
Eu sei: o mundo é contraditório, mas, para gente que achou que todo o problema do mundo era a questão “trans” nos banheiros dos shoppings, deve ser mesmo uma agonia encarar o mundo como ele é.
E, mais do que interessante, o mundo está voltando ao normal. Instável, criativo, agressivo, exigente, implacável. Desde o final da Guerra Fria, na virada dos anos 1980 para os 1990, o mundo parecia acreditar que iríamos marchar para um parque temático que unisse direitos civis e humanos a shoppings com variedades veganas de amor aos animais.
No meio dessa ponte de perfeição, seres humanos cada vez mais honestos, altruístas e desapegados de bens materiais. Como se as próprias paixões pudessem ser refundadas a partir do seu perfil do Facebook cheio de gratidão.
Dito de modo “acadêmico”, a história estaria definida pela parceria crescente entre sociedade de mercado e democracia liberal, com tons sociais. Ledo engano.
Para fins didáticos e ilustrativos apenas: a Europa, palco de grandes conflitos que impactaram o mundo há séculos, não teve paz de 1789 a 1989 (fiquemos com números redondos pra facilitar a conversa).
Aliás, Karl Marx (1818-1883) viveu no meio desse rolo no século 19, por isso ele acreditava que o “mundo burguês estava condenado”.
Desde 1989, com a queda dos regimes marxistas totalitários do Leste Europeu, até “ontem”, o mundo desfilava suas belas almas evoluídas. Ainda desfilam, mas agora a tendência é parecerem zumbis ansiosos por sugarem o sangue de alguém bom.
A Rússia, que sempre teve vocação imperial na região, superpotência desde, no mínimo, o final do século 18 (a mesma Rússia que muita gente boa acha que só foi agressiva geopoliticamente no período soviético), volta a desempenhar seu “natural” protagonismo, resgatando, para muitos, o velho conceito de Guerra Fria.
O protagonismo russo tende a aumentar. O Estado russo pode ser muito mais ágil do que o americano.
A China cria um novo polo de instabilidade, a ponto de engolir a liderança econômica mundial. Regime autoritário, pode “provar” que a democracia não é necessária para o enriquecimento da população. E essas mesmas belas almas podem, um dia, acordar pensando que a democracia, afinal, só é boa para os maus, que querem destruir os que fazem o mundo “melhor” e igual.
Os próximos anos deverão ser cada vez mais tomados por instabilidades geopolíticas associadas às tecnologias da informação, às mídias sociais e à inteligência artificial. Guerras “algorítmicas” ocorrerão. E isso deixará o jornalismo cheio de tesão pela vida.
E o Brasil nisso? Merece uma coluna especial. O Brasil, também, está cada vez mais interessante. Espero poder fazer parte desse processo cheio de adrenalina, responsabilidade e espanto. As belas almas derreterão.
Luiz Felipe Pondé
Pernambucano, é escritor, filósofo e ensaísta. Doutor em filosofia pela USP, é professor da PUC e da Faap
De vez em quando o capital de conhecimento dos EUA dá sinais de ingenuidade
https://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/dilma-em-stanford-e-berkeley.html
MST está uniformizado e operante
https://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/propinas-de-r-24-milhoes-e-invasao.html
sexta-feira, 13 de abril de 2018
O que é síndrome de resignação...!
I saw this on the BBC and thought you should see it:
Qué es el síndrome de la resignación, la misteriosa enfermedad que solo ocurre en Suecia - http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias-41762274
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Uma aula de história recente / Cora Ronai
..
quinta-feira, abril 12, 2018
A nova saúva - CORA RÓNAI
O GLOBO - 12/04
Milhões de eleitores foram agredidos pela retórica de Lula e pelo “ódio do bem” da esquerda
O antipetismo é o novo bicho papão dos intelectuais de esquerda. Ele acaba de ser comparado, por um amigo culto, inteligente e a quem respeito muito, ao antissemitismo na Alemanha de Hitler. Só posso atribuir a comparação ao calor do momento — vastas emoções, pensamentos imperfeitos. Mas acho que, em algum momento do futuro, serenados os ânimos, valeria à esquerda procurar, com honestidade, as origens desse suposto antipetismo, até porque é difícil encontrar a cura para um mal cuja causa se desconhece. Digo “suposto” não porque ele não exista, mas porque, da forma como vem sendo colocado, ele mais parece um movimento organizado, um conluio de vermes, o autêntico oposto de “democracia” — seja lá o que entenda por democracia alguém que defende o PT.
Ao contrário de tanta gente que denuncia o antipetismo, não tenho a menor pretensão de falar “pelo povo”, “pelos brasileiros”, “por todos nós”. Falo única e exclusivamente por mim, e já é responsabilidade que me baste. Eu detesto o PT. E detesto o PT pelo que o PT é, pelo que o PT fez e continua fazendo, e pela forma como o PT se comporta.
Não há um único fator externo ao PT embutido no meu sentimento.
É lógico que a sua intensidade tem a ver com o fato de que este é o partido que estava no poder até ontem: a crise que vivemos é, em maior ou menor grau, o resultado das suas escolhas e das suas ações. Tem a ver também com a hipocrisia do partido, que sempre se apresentou como alternativa ética aos demais, e foi incapaz de um simples pedido de desculpas à população quando se viu no centro do maior escândalo de corrupção já apurado no país.
E olhem que a corrupção do PT é, para mim, o menor dos seus males — ainda que ele a tenha elevado à categoria de arte. Meu maior problema com o PT, e com a esquerda como um todo, é a sua incapacidade de diálogo, a sua aversão ao contraditório e, sobretudo, a sua militância arrogante e patrulheira, que exige que todos se posicionem exatamente da mesma forma. Já estive em países de pensamento único e não gostei.
Há movimentos de direita igualmente obtusos e intolerantes, mas de modo geral eles se apresentam exatamente como são, toscos e primitivos. A sua embalagem é mais sincera; eles não pretendem ser “bons”, e nem falam do alto de um pedestal de virtudes.
______
Um dia, ainda naquela remota eleição que Lula disputou com Collor, eu estava na rua com o Millôr, e comentei com ele que, pelo visto, o Lula ia ganhar — todos os carros que passavam com adesivos eram PT. O Millôr olhou, olhou, e me disse para prestar mais atenção: a maioria dos carros simplesmente não tinha adesivos.
— Sabe o que isso significa, né?
Eu sabia. Usar um adesivo do Collor, pelo menos na Zona Sul do Rio de Janeiro, era se arriscar a ter o carro arranhado e enfrentar militantes petistas raivosos. Eu tinha passado por isso com o adesivo do Covas que havia usado no primeiro turno.
Collor ganhou a eleição sem adesivos, não exatamente com “votos envergonhados”, como o PT disse à época, mas com votos intimidados.
Lula, um militante intolerante ele também, nunca desceu do palanque. Passou todos os seus anos de presidência, e mais os da Dilma, como vítima de um complô das elites, insistindo na divisão do nós contra eles: ricos contra pobres, brancos de olhos azuis contra negros, todos contra nordestinos.
Lula, como todos sabem, é uma mulher negra da periferia; agora, ainda por cima, encarcerada.
Um candidato pode ser o que quiser, mas um presidente não. O presidente de todos os brasileiros não pode dizer que quem não votou no seu partido odeia pobres e tem horror de ver os filhos dos pobres na universidade, porque além de divisiva, essa afirmação é extremamente ofensiva.
Há uma esquerda bem intencionada que talvez não tenha percebido o quanto de ódio havia, e ainda há, nesse discurso, porque ele a põe no pedestal ao qual ela imagina ter direito e massageia o seu ego. Ele reafirma a sua superioridade moral e apenas põe os inferiores no seu devido lugar.
Mas para quem não votou no PT — e que não é necessariamente de direita, de extrema direita ou, como está na moda, “fascista” — cada declaração dessas soou como um insulto. Durante 13 anos, os 50 milhões de eleitores que não votaram em Lula ou Dilma, e que, em sua vasta maioria, são apenas brasileiros como os demais brasileiros, ouviram que eram péssimas pessoas. Qualquer política de estado era invariavelmente apresentada como um desafio à sua intrínseca maldade: apesar de vocês, que não votam no PT, os pobres vão ter saúde, vão estudar, vão ter moradia e dignidade.
Como se qualquer ser humano, por não petista que seja, pudesse ser contra isso.
Cinquenta milhões de eleitores foram sistematicamente agredidos e desumanizados pela retórica de Lula e pelo “ódio do bem” da esquerda; agora não suportam o PT.
Mas por que será, não é mesmo?
______
Países normais vivem momentos históricos a cada cinquenta, cem anos; o Brasil vive um momento histórico por semana.
É exaustivo.
O antipetismo é o novo bicho papão dos intelectuais de esquerda. Ele acaba de ser comparado, por um amigo culto, inteligente e a quem respeito muito, ao antissemitismo na Alemanha de Hitler. Só posso atribuir a comparação ao calor do momento — vastas emoções, pensamentos imperfeitos. Mas acho que, em algum momento do futuro, serenados os ânimos, valeria à esquerda procurar, com honestidade, as origens desse suposto antipetismo, até porque é difícil encontrar a cura para um mal cuja causa se desconhece. Digo “suposto” não porque ele não exista, mas porque, da forma como vem sendo colocado, ele mais parece um movimento organizado, um conluio de vermes, o autêntico oposto de “democracia” — seja lá o que entenda por democracia alguém que defende o PT.
Ao contrário de tanta gente que denuncia o antipetismo, não tenho a menor pretensão de falar “pelo povo”, “pelos brasileiros”, “por todos nós”. Falo única e exclusivamente por mim, e já é responsabilidade que me baste. Eu detesto o PT. E detesto o PT pelo que o PT é, pelo que o PT fez e continua fazendo, e pela forma como o PT se comporta.
Não há um único fator externo ao PT embutido no meu sentimento.
É lógico que a sua intensidade tem a ver com o fato de que este é o partido que estava no poder até ontem: a crise que vivemos é, em maior ou menor grau, o resultado das suas escolhas e das suas ações. Tem a ver também com a hipocrisia do partido, que sempre se apresentou como alternativa ética aos demais, e foi incapaz de um simples pedido de desculpas à população quando se viu no centro do maior escândalo de corrupção já apurado no país.
E olhem que a corrupção do PT é, para mim, o menor dos seus males — ainda que ele a tenha elevado à categoria de arte. Meu maior problema com o PT, e com a esquerda como um todo, é a sua incapacidade de diálogo, a sua aversão ao contraditório e, sobretudo, a sua militância arrogante e patrulheira, que exige que todos se posicionem exatamente da mesma forma. Já estive em países de pensamento único e não gostei.
Há movimentos de direita igualmente obtusos e intolerantes, mas de modo geral eles se apresentam exatamente como são, toscos e primitivos. A sua embalagem é mais sincera; eles não pretendem ser “bons”, e nem falam do alto de um pedestal de virtudes.
______
Um dia, ainda naquela remota eleição que Lula disputou com Collor, eu estava na rua com o Millôr, e comentei com ele que, pelo visto, o Lula ia ganhar — todos os carros que passavam com adesivos eram PT. O Millôr olhou, olhou, e me disse para prestar mais atenção: a maioria dos carros simplesmente não tinha adesivos.
— Sabe o que isso significa, né?
Eu sabia. Usar um adesivo do Collor, pelo menos na Zona Sul do Rio de Janeiro, era se arriscar a ter o carro arranhado e enfrentar militantes petistas raivosos. Eu tinha passado por isso com o adesivo do Covas que havia usado no primeiro turno.
Collor ganhou a eleição sem adesivos, não exatamente com “votos envergonhados”, como o PT disse à época, mas com votos intimidados.
Lula, um militante intolerante ele também, nunca desceu do palanque. Passou todos os seus anos de presidência, e mais os da Dilma, como vítima de um complô das elites, insistindo na divisão do nós contra eles: ricos contra pobres, brancos de olhos azuis contra negros, todos contra nordestinos.
Lula, como todos sabem, é uma mulher negra da periferia; agora, ainda por cima, encarcerada.
Um candidato pode ser o que quiser, mas um presidente não. O presidente de todos os brasileiros não pode dizer que quem não votou no seu partido odeia pobres e tem horror de ver os filhos dos pobres na universidade, porque além de divisiva, essa afirmação é extremamente ofensiva.
Há uma esquerda bem intencionada que talvez não tenha percebido o quanto de ódio havia, e ainda há, nesse discurso, porque ele a põe no pedestal ao qual ela imagina ter direito e massageia o seu ego. Ele reafirma a sua superioridade moral e apenas põe os inferiores no seu devido lugar.
Mas para quem não votou no PT — e que não é necessariamente de direita, de extrema direita ou, como está na moda, “fascista” — cada declaração dessas soou como um insulto. Durante 13 anos, os 50 milhões de eleitores que não votaram em Lula ou Dilma, e que, em sua vasta maioria, são apenas brasileiros como os demais brasileiros, ouviram que eram péssimas pessoas. Qualquer política de estado era invariavelmente apresentada como um desafio à sua intrínseca maldade: apesar de vocês, que não votam no PT, os pobres vão ter saúde, vão estudar, vão ter moradia e dignidade.
Como se qualquer ser humano, por não petista que seja, pudesse ser contra isso.
Cinquenta milhões de eleitores foram sistematicamente agredidos e desumanizados pela retórica de Lula e pelo “ódio do bem” da esquerda; agora não suportam o PT.
Mas por que será, não é mesmo?
______
Países normais vivem momentos históricos a cada cinquenta, cem anos; o Brasil vive um momento histórico por semana.
É exaustivo.
quarta-feira, 11 de abril de 2018
A mídia trabalhou pra Lula... de graça!
terça-feira, abril 10, 2018
Pessimismo ou prudência - CARLOS ANDREAZZA
O GLOBO - 10/04
Tudo era matemática na Paixão de Lula, exatidão cinematográfica que as mais de 24 horas de ostensivo desrespeito público a uma decisão judicial permitiram
Era óbvio que sairia a pé; que caminharia — cercado de povo cenográfico — até se entregar. Já rezara; já falara aos fiéis; já ceara em família — tudo à revelia de uma ordem de prisão contra si. Era tal o coletivo de barbaridades que conduzira o Brasil àquele estado de suspensão moral, tal o volume de excepcionalidades que se concedia ao homem: que a ele era mesmo impossível negar a condição sobrenatural. E é necessário que se diga: já vencera, bem antes de andar abrindo o mar dos cabrestados de Stédile e Boulos. Aquela batalha: ele ganhara.
E então saía — por livre e espontânea vontade: ia. As gentes não queriam que fosse, tentaram trancar o prédio com os próprios corpos, todas dispostas ao sacrifício da vida (dos jornalistas); mas por elas, para evitar derramamento de sangue, ele, num gesto de responsabilidade (não foi isso?), desistira de resistir. Havia quem chorasse, entre gleisis e sinceros. E porque esses últimos também votam: decerto não havia por que achar graça. Havia também os que nada entendiam — mas também as dilmas votam.
Tudo ali era oração aos convertidos.
Serei excessivamente banal se lembrar que 20% bastarão a que se garanta lugar no segundo turno da eleição? E que o candidato do PT, seja ou não Lula, Lula será? Serei pessimista se lembrar que não se pode desconsiderar o componente plebiscitário dessa disputa? Que parcela do eleitorado votará em desagravo ao ex-presidente?
E era então, em sua via, entre os seus, como se pisasse o chão de fábrica, 40 anos depois. Havia um documentário sendo filmado ali. Havia texto. Tudo era matemática naquela Paixão de Lula, exatidão cinematográfica que as mais de 24 horas de ostensivo desrespeito público a uma decisão judicial permitiram — período de anomia avalizado por Sergio Moro e Polícia Federal.
Não é de hoje que escrevo: Lula nunca se importou com sua defesa jurídica. A estratégia que calculou para si consiste na politização absoluta do processo judicial; no confronto que faz derivar da condição autoatribuída de perseguido, de modo que todos, sobretudo os juízes, convertam-se em adversários, e tudo se torne palanque.
Lidar com Lula sem considerar essa metodologia é estupidez. Lidar com Lula sem considerar essa metodologia e ainda julgar poder lhe dar um nó tático, aí é também prepotência e irresponsabilidade.
Voltemos ao espetáculo de afronta institucional encenado em São Bernardo e avaliemos se aquilo, com aquela dimensão, teria sido possível sem o modelo excepcional de ordem de prisão, com hora marcada, concebido por Moro e estendido pela PF; conjunto de frouxidões que fomentou as condições a que se erguesse um inimaginável Lula senhor da própria prisão.
Há quem diga que também da parte de Moro/PF houve ardil em deixar o ex-presidente escolher quando seria preso; mas fico sem entender que modalidade de plano seria o que permite ao sujeito — microfone em punho — aprofundar-se como vítima e atacar a Justiça como se com ela disputasse votos, um dos discursos que o alçou a líder nas pesquisas.
A quem quisesse evitar (ou minimizar) a calamidade e/ou o circo, só havia duas possibilidades para a prisão de Lula: ou imediata, assim que negado o habeas corpus preventivo pelo STF, no máximo no dia seguinte bem cedo, como padrão nas operações da PF, ou ao fim dos últimos recursos em segunda instância, exauridos os tais embargos dos embargos — aquilo que Moro chamou de “patologia protelatória”.
Se a ideia do juiz era surpreender, se era evitar brechas a chicanas de defesa, se era jogar no contrapé do STF e sua jurisprudência precária virtualmente revista, se era se antecipar à agenda anunciada pelo próprio presidente do TRF-4, que tivesse articulado, repito, a pronta detenção de Lula, tão logo informado de que o poderia fazer.
A solução intermediária escolhida, porém, foi erro dramático, por meio do qual Moro expôs tibieza. Antes tivesse sido apenas isso. Porque compreendida como movimento de natureza política, ainda que, na verdade, esvaziada da mais mínima cultura política, a forma da prisão fez o jogo de Lula — e enredou o juiz, pela primeira vez, na narrativa do ex-presidente.
Faltou humildade a Moro, uma vez que mesmo os mais brilhantes heróis sempre têm o que aprender com a experiência. Convém recordar: não foi o primeiro equívoco do doutor em atos referentes a Lula. Ou já nos teremos esquecido daquela desastrada condução coercitiva, que resultou no salão presidencial de Congonhas invadido e no palanque perfeito para o injustiçado, aquele em que falou que a jararaca estava viva?
É alarmante que se compreenda a prisão de Lula como final de alguma coisa; como se já fosse rei fora do tabuleiro; como se não fosse um dos jogadores; não uma das peças, mas um dos que as movem. É alarmante que ainda se subestime Lula neste país de soluções-puxadinho — e com a jurisprudência sobre prisão após condenação em segunda instância a ser mudada no STF.
Esse filme ainda vai aberto — e prevê o ex-presidente deixando a cadeia, com missa e show, no alto do trio-elétrico. Antes da eleição.
Carlos Andreazza é editor de livros
Era óbvio que sairia a pé; que caminharia — cercado de povo cenográfico — até se entregar. Já rezara; já falara aos fiéis; já ceara em família — tudo à revelia de uma ordem de prisão contra si. Era tal o coletivo de barbaridades que conduzira o Brasil àquele estado de suspensão moral, tal o volume de excepcionalidades que se concedia ao homem: que a ele era mesmo impossível negar a condição sobrenatural. E é necessário que se diga: já vencera, bem antes de andar abrindo o mar dos cabrestados de Stédile e Boulos. Aquela batalha: ele ganhara.
E então saía — por livre e espontânea vontade: ia. As gentes não queriam que fosse, tentaram trancar o prédio com os próprios corpos, todas dispostas ao sacrifício da vida (dos jornalistas); mas por elas, para evitar derramamento de sangue, ele, num gesto de responsabilidade (não foi isso?), desistira de resistir. Havia quem chorasse, entre gleisis e sinceros. E porque esses últimos também votam: decerto não havia por que achar graça. Havia também os que nada entendiam — mas também as dilmas votam.
Tudo ali era oração aos convertidos.
Serei excessivamente banal se lembrar que 20% bastarão a que se garanta lugar no segundo turno da eleição? E que o candidato do PT, seja ou não Lula, Lula será? Serei pessimista se lembrar que não se pode desconsiderar o componente plebiscitário dessa disputa? Que parcela do eleitorado votará em desagravo ao ex-presidente?
E era então, em sua via, entre os seus, como se pisasse o chão de fábrica, 40 anos depois. Havia um documentário sendo filmado ali. Havia texto. Tudo era matemática naquela Paixão de Lula, exatidão cinematográfica que as mais de 24 horas de ostensivo desrespeito público a uma decisão judicial permitiram — período de anomia avalizado por Sergio Moro e Polícia Federal.
Não é de hoje que escrevo: Lula nunca se importou com sua defesa jurídica. A estratégia que calculou para si consiste na politização absoluta do processo judicial; no confronto que faz derivar da condição autoatribuída de perseguido, de modo que todos, sobretudo os juízes, convertam-se em adversários, e tudo se torne palanque.
Lidar com Lula sem considerar essa metodologia é estupidez. Lidar com Lula sem considerar essa metodologia e ainda julgar poder lhe dar um nó tático, aí é também prepotência e irresponsabilidade.
Voltemos ao espetáculo de afronta institucional encenado em São Bernardo e avaliemos se aquilo, com aquela dimensão, teria sido possível sem o modelo excepcional de ordem de prisão, com hora marcada, concebido por Moro e estendido pela PF; conjunto de frouxidões que fomentou as condições a que se erguesse um inimaginável Lula senhor da própria prisão.
Há quem diga que também da parte de Moro/PF houve ardil em deixar o ex-presidente escolher quando seria preso; mas fico sem entender que modalidade de plano seria o que permite ao sujeito — microfone em punho — aprofundar-se como vítima e atacar a Justiça como se com ela disputasse votos, um dos discursos que o alçou a líder nas pesquisas.
A quem quisesse evitar (ou minimizar) a calamidade e/ou o circo, só havia duas possibilidades para a prisão de Lula: ou imediata, assim que negado o habeas corpus preventivo pelo STF, no máximo no dia seguinte bem cedo, como padrão nas operações da PF, ou ao fim dos últimos recursos em segunda instância, exauridos os tais embargos dos embargos — aquilo que Moro chamou de “patologia protelatória”.
Se a ideia do juiz era surpreender, se era evitar brechas a chicanas de defesa, se era jogar no contrapé do STF e sua jurisprudência precária virtualmente revista, se era se antecipar à agenda anunciada pelo próprio presidente do TRF-4, que tivesse articulado, repito, a pronta detenção de Lula, tão logo informado de que o poderia fazer.
A solução intermediária escolhida, porém, foi erro dramático, por meio do qual Moro expôs tibieza. Antes tivesse sido apenas isso. Porque compreendida como movimento de natureza política, ainda que, na verdade, esvaziada da mais mínima cultura política, a forma da prisão fez o jogo de Lula — e enredou o juiz, pela primeira vez, na narrativa do ex-presidente.
Faltou humildade a Moro, uma vez que mesmo os mais brilhantes heróis sempre têm o que aprender com a experiência. Convém recordar: não foi o primeiro equívoco do doutor em atos referentes a Lula. Ou já nos teremos esquecido daquela desastrada condução coercitiva, que resultou no salão presidencial de Congonhas invadido e no palanque perfeito para o injustiçado, aquele em que falou que a jararaca estava viva?
É alarmante que se compreenda a prisão de Lula como final de alguma coisa; como se já fosse rei fora do tabuleiro; como se não fosse um dos jogadores; não uma das peças, mas um dos que as movem. É alarmante que ainda se subestime Lula neste país de soluções-puxadinho — e com a jurisprudência sobre prisão após condenação em segunda instância a ser mudada no STF.
Esse filme ainda vai aberto — e prevê o ex-presidente deixando a cadeia, com missa e show, no alto do trio-elétrico. Antes da eleição.
Carlos Andreazza é editor de livros
terça-feira, 10 de abril de 2018
Senadores adolescentes do PT estão brincando de revolução com nosso dinheiro quando deveriam trabalhar em Brasília
https://www.diariodobrasil.org/senadores-que-custam-r-160-mil-p-mes-estao-em-curitiba-brincando-de-revolucao/
segunda-feira, 9 de abril de 2018
"Morrer não é tão mal como se crê...
I saw this on the BBC and thought you should see it:
"El secreto mejor guardado de la medicina: morir no es tan malo como se cree" - http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias-43642955
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