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domingo, 5 de agosto de 2018

" Imprensa é oposição... O resto é secos e molhados " / Millôr Fernandes


A imprensa como inimiga

A tática de minar a imprensa não é nova nem restrita aos polos estridentes da política

Vera Magalhães, O Estado de S.Paulo
05 Agosto 2018 | 05h00
Jair Bolsonaro disse em sua entrevista à GloboNews que odeia o PT “em regra”. Pode até ser. Mas como o ódio é o oposto do amor, e ambos carregam em sua manifestação um tanto de paixão e irracionalidade, os dois extremos – Bolsonaro e PT – se encontram em uma série de manifestações. Uma das mais claras e recorrentes é o ataque sistemático à imprensa.
Para os eleitores convertidos e militantes dos dois lados, as críticas ao jornalismo são vistas como sinal de coragem ou independência, mas, da maneira como são feitas significam, na verdade, tentativa de intimidação e de desqualificação. E quando a política mira instituições para tentar enfraquecê-las o que sai arranhada, na verdade, é a democracia.
O PT passou 13 anos no poder, e continua agora, em sua fase penitenciária, vociferando sobre a existência de uma imprensa “golpista”. A narrativa tinha por objetivo vender aos fiéis que a revelação de escândalos como o mensalão, que teve na imprensa seu ponto de partida, era na verdade campanha contra o partido.
Como toda narrativa fake, esta foi derrubada pelas evidências. No caso do mensalão, saiu da boca de Duda Mendonça, o marqueteiro de Lula, todo o enredo de pagamentos no exterior, caixa 2, 3 e 4. Antes, Roberto Jefferson já havia dado a letra do samba.
Depois, foi o Congresso a chancelar a existência do mensalão, por meio da CPI dos Correios. Por fim, o Ministério Público fez a denúncia. E o Judiciário condenou a maioria dos implicados.
Portanto, a imprensa não inventou nada ali. Como também não o fez no petrolão, no qual, aliás, teve um papel mais de reportar os passos da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário, em vez de fornecer a eles matéria-prima, como acontecera no mensalão.
Portanto são muitas as instituições – livres, independentes – atuando em um processo que não envolve um só partido, mas praticamente todos.
Ainda assim, se tenta vender a farsa de que a imprensa age para “criminalizar" o PT e os petistas, como se eles próprios não tivessem feito isso largamente. Líder naspesquisas em que Lula não aparece, Bolsonaro mimetiza sua estratégia de tentar constranger o jornalismo, colocar seus seguidores contra os jornalistas – incentivando, com esse comportamento, ofensas pessoais que muitas vezes resvalam até para a ameaça nas redes sociais – e se colocar como vítima de perseguição.

Puro truque

O deputado tenta chamar de “pegadinhas” ou “armadilhas” questões essenciais a alguém que quer ser presidente da República. Questionado sobre quais impostos manteria caso fosse eleito, uma vez que seu “posto Ipiranga” mencionou 15, abespinhou-se.
Perguntado sobre sua política para o salário mínimo – algo básico e que diz respeito à grande maioria da população –, esquivou-se e preferiu atirar nos mensageiros, os jornalistas que o atacavam.
A tática de minar a imprensa não é nova nem restrita aos polos estridentes da política brasileira. Atualmente tem no presidente norte-americano Donald Trump seu maior propagandista em escala mundial. 
Millôr tem uma das melhores definições sobre o papel do jornalismo, que ouvi pela primeira vez na faculdade e que me acompanha como um mantra ao longo desses 25 anos de exercício de profissão: jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados.
Políticos que não têm apreço ao contraditório e não gostam de ser escrutinados vão sempre procurar levar o jornalismo para o terreno do armazém. Mas a imprensa livre continuará perguntando, escarafunchando suas vidas, apontando lacunas, cobrando explicações.
Nas vezes em que se tentou calar o jornalismo o resultado foi ditadura. Que o Brasil não flerte com mais esse retrocesso.
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Larga o osso Lula!/ Eliane Cantanhêde

Larga o osso, Lula!

Haddad tem de parar de fingirque não é candidato; Manuela, de fingir que é

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
05 Agosto 2018 | 05h00
Fecha-se o tabuleiro presidencialhoje, com aquela peça disforme e mal colocada que segura o jogo e imobiliza o próprio lado: Lula, preso há 100 dias, sem conseguir dar o sinal verde para Fernando Haddad parar de fingir que não é candidato e para Manuela Dávilaparar de fingir que é.
Com a avalanche de convenções no fim de semana, vai se fechando a escolha dos vices com dois focos claros, resultados não de amor ou de saudável afinidade ideológica, mas do puro pragmatismo. Daí a preferência por mulheres e/ou nomes do Rio Grande do Sul.
A síntese disso é a senadora gaúcha Ana Amélia, que entra na chapa do tucano Geraldo Alckminnão apenas como três em um, mas seis em um. É mulher, do PP, do Sul, da área de comunicação, assumidamente de direita e crítica contundente das maracutaias na política.
Ana Amélia não está aí para só embelezar as fotos do PSDB, mas para conquistar os 80% do eleitorado feminino ainda indecisos ou dispostos a anular voto e para tentar frear o ímpeto do PP gaúcho para Jair Bolsonaroe do PP do Piauí para o PT. Além disso, ela tem uma missão específica: resgatar os 4% de votos surrupiados do PSDB no Sul pelo paranaense Alvaro Dias, ex-tucano hoje no Podemos.
E ela também cumpre funções mais subjetivas. Alckmin tem de se firmar à direita, para disputar com Bolsonaro a vaga de principal contraponto ao PT. Ana Amélia, clara e contundente, tem ação e discurso que calam fundo no agronegócio e no eleitorado irritado com os políticos e conservador nos costumes. Ou seja, nos bolsões do Bolsonaro (com perdão do trocadilho).
Assim como ela, são ou foram consideradas para vice, de olho nas mulheres, sempre desconfiadas: Janaína Paschoal, a advogada e professora histriônica, na chapa de Bolsonaro, e Manuela d’ Á vila, a jovem e aguerrida “candidata” do PCdoB, que espera sentada o anúncio para ser vice de Lula, ops!, do PT.
Manuela é outra do Rio Grande do Sul, que foi governado pelos petistas de raiz Olívio Dutra e Tarso Genro e onde o PT mantém núcleo forte, mas fraco eleitoralmente. Também gaúcho e ex-governador, Germano Rigotto é opção de vice para Henrique Meirelles. Atualmente, ele é.... o que mesmo? Bem, Rigotto anda sumido, mas resta a Meirelles chapa puro sangue (MDB-MDB) e quem quer ter mandato em 2019 pula fora.
Se o grande MDB só atraiu o pequeno PHS, quais são os aliados do PDT e as opções de vice de Ciro GomesSufocado pela aliança do Centrão com Alckmin e o ataque frontal do PT, que garantiu a neutralidade do PSB, Ciro tenta colher os dissidentes de um lado e do outro, enquanto o PT parte para a terceira etapa de aniquilar Ciro: a investida final para reunir as esquerdas. Viva-se – no caso de Ciro, sobreviva-se – com um barulho desses. Na GloboNews, Ciro se declarou “um cabra marcado para morrer”.
E, no EstadoMarta Suplicyponderou que Ciro pode ser o melhor candidato, mas “talvez não queira ser presidente, porque ele se sabota. Como psicanalista, vejo isso claramente”.
Alvaro Dias compôs chapa insossa com o ex-BNDES Paulo Rabello de Castro e Marina fugiu ao mero pragmatismo de seus adversários. O médico e ex-deputado Eduardo Jorge é do PV, que tem tudo a ver com a Rede Sustentabilidade – ao menos no nome. Se há cálculo na escolha, é que ele fez carreira em São Paulo, onde reluzem 33 milhões de eleitores. Agora, só faltam duas coisas: Lula largar o osso e os candidatos convencerem quem mais importa, Sua Excelência, o eleitor, de que o vice é para continuar sendo só vice até o fim, sem impeachment. Que os céus nos protejam!

Fim de uma era

Depois de militar apaixonadamente no PT por 33 anos e de passar pelo MDB, Marta Suplicy abandona a vida pública, mas jamais a política e as boas causas da igualdade.
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