Paralisação do governo americano provoca consequências inusitadas
O sinal "fechado" na entrada de parques e museus nacionais dos Estados Unidos é a consequência mais visível da paralisação parcial do governo, que começou na terça-feira. Congressistas republicanos e democratas não conseguiram chegar a um acordo sobre o orçamento para os próximos 12 meses e, como consequência, 800 mil servidores públicos federais foram colocados em licença sem remuneração.
Mas a falta de acordo em Washington é sentida nos mais longínquos rincões do país. Muitas vezes, das formas mais inusitadas.
1. Um funcionário monitora a fronteira com o Canadá São 8.891 quilômetros de fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá e cerca de 8.000 marcos ao longo da divisa. Manter tudo em ordem é tarefa de oito funcionários fronteiriços. Desde terça-feira, no entanto, sete deles foram dispensados e apenas um está na ativa.
A poda de árvore e a limpeza da fronteira fica a cargo de duas equipes que, por ora, continuam trabalhando, até que o dinheiro acabe.
2. Cemitérios fechados ao redor do mundo Cerca de 125 mil soldados americanos morreram em campos de batalha pelo mundo, a maioria nas duas guerras mundiais. Grande parte está enterrada em 24 cemitérios em vários países, 20 deles na Europa. Desde terça-feira, todos estão fechados, segundo a Comissão de Monumentos de Batalha dos Estados Unidos.
"É uma grande vergonha", diz Perry Jefferies, da organização de veteranos TexVet. "Muitos viajam até esses países para ter talvez a única chance em suas vidas de homenagear seus companheiros e entes queridos", disse.
3. Sanções contra o Irã A subsecretária de Estado para assuntos políticos, Wendy Sherman, disse que a capacidade de fiscalizar a aplicação de sanções econômicas contra o Irã diminuiu sensivelmente. Segundo ela, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros, órgão do Tesouro americano responsável por fiscalizar tais sanções, foi "enxugado totalmente".
4. Corrida pela carne O supermercado da base militar de Fort Campbell, no Estado de Kentucky, ficou cheio na segunda-feira, enquanto parlamentares ainda tentavam chegar a um acordo em Washington. Os clientes enchiam carrinhos com pacotes de carne, mais barata no local, antes que o impasse no orçamento forçasse o fechamento temporário do supermercado. O supermercado mais próximo, e com preços mais salgados, fica a quase dois quilômetros dali.
5. Aquela corrida para a qual você treinou tanto... Os mais de 200 velocistas de elite que iriam participar da corrida de Grindstone tiveram os planos frustrados. O evento foi suspenso já que boa parte dos mais de 150 quilômetros da prova estão dentro de um parque nacional, agora fechado.
"É muito decepcionante", diz o diretor do evento, Clark Zealand. Ele diz que muitos atletas treinaram quase um ano "por nada". Mesmo que seja remarcada, muitos já não vão correr, diz.
6. James Bond "bombando" Com todos os museus da fundação Smithsonian fechados na capital, Washington, turistas e funcionários federais dispensados (agora com tempo de sobra) tiveram de apelar a outras atrações. Lucraram lugares como o International Spy Museum, que teve um aumento de 30% de visitantes para a mostra sobre James Bond.
Ironicamente, outros museus como o Newseum, o Phillips Collection, o National Geographic Museum e o National Building Museum também se beneficiaram.
7. Almoço grátis Cafés e restaurantes estão oferecendo descontos e até refeições grátis para alguns dos 800 mil funcionários federais dispensados nesta semana. Em Saint Louis, no Missouri, o restaurante Sugarfire Smoke House até criou um lanche especial, o Government Shutdown Sandwich (O sanduíche do apagão do governo, em tradução livre).
Com as opções de carne e peru defumado, com alface, tomate e picles, os sanduíches foram distribuídos de graça aos clientes que são funcionários públicos federais.
"Fico chateado que tenham sido dispensados porque não conseguiram um acordo (em Washington). Distribuímos 50 sanduíches ontem e 100 hoje. Se eu der mil, não me importo. Nem que eu perca um pouco de dinheiro... Eu abri (o restaurante) há um ano e tem sido um bom ano", disse o dono, Mike Johson.
Iniciativas similares se multiplicaram em outras partes dos Estados Unidos, especialmente em Washington.
8. Camisetas satíricas Poucas horas após o impasse, um empresário de Des Moines, em Iowa, usou a crise para faturar. Ele estampou várias camisetas satirizando a paralisação. "Paralisação 2013 - sem produtividade, sem piedade", diz a camiseta.
O empresário Mike Draper disse que se a crise durar muito tempo, ele vai lançar outra versão: "Eu sobrevivi à paralisação".
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