HUONG was only 15 when she went out to meet a friend in Lao Cai, a city in northern Vietnam on the Chinese border (see map). She thought she would be gone a few hours, but it was three years before she managed to return home. Her friend had brought with her two acquaintances—young men with motorcycles. They squired the girls around town and took them to a karaoke bar, where their drinks were spiked. When the girls grew drowsy they were hoisted back onto the bikes, each sandwiched between two male riders. They were driven into the hills and across the Chinese border to a remote house in the countryside. There they were told they would be sold. The girls screamed and cried but were subdued by two men, one of them wielding a stick. The traffickers told Huong that by crossing the border she had sullied her reputation, but that if she behaved well they would find her a Chinese husband. After marrying she might find a way home, they said. If she refused she would stay stranded in the hills.
Huong—a pseudonym, to protect her identity—is now 20 years old. She lives in a large bungalow in Lao Cai, which she shares with a dozen women aged between 15 and 24 (an occupant is pictured). They are all survivors of trafficking networks that smuggle girls across the Vietnam-China border, sometimes to be sold as prostitutes but more often as brides. Their house, with its enormous teddy bears and fleet of fuchsia-pink bicycles, is a shelter run by Pacific Links Foundation, an American charity, which helps victims finish their education and cope with their trauma.
Lula elogia imprensa internacional e diz que ela é fiel aos fatos, informou em 2 de dezembro de 2010 o título da reportagem do Globo sobre a entrevista coletiva concedida pelo ainda presidente a correspondentes estrangeiros baseados no Rio e repórteres vindos de outros países. Antes que as perguntas começassem, o entrevistado contemplou os presentes com afagos que sempre negou à imprensa nacional.
“Temos acompanhado as informações que têm saído na imprensa internacional e elas têm correspondido exatamente ao que tem acontecido no Brasil”. começou a rasgação de seda com o elogio que cutucava a mídia reacionária, infestada de reacionários a serviço da elite golpista. “A cobertura favorável também é responsável pela boa imagem que o Brasil goza no exterior”, foi em frente o palanque ambulante.
Só publicações em outros idiomas, por exemplo, haviam captado o clima de euforia reinante no País do Carnaval. “O otimismo do brasileiro é o mais extraordinário entre todos os países”, recitou. “Acabou o complexo de vira-lata, porque hoje somos respeitados no mundo inteiro. Só não enxergam isso aqueles que torcem pelo fracasso do governo que governa para os pobres.
A lengalenga prosseguiu nos anos seguintes, em dueto com Dilma Rousseff e o endosso entusiasmado dos colunistas estatizados, blogueiros de aluguel, artistas dependentes de patrocínio federal e escritores que brilham no ranking dos mais comprados pelo MEC. “Neste país, o principal partido de oposição é a imprensa”, declamou em outubro de 2012 o padrinho que não lê nem sabe escrever. “Pra saber o que acontece aqui é preciso ler o que sai nos jornais lá fora”, concordou em março de 2013 a afilhada que ou não sabe o que diz ou não diz coisa com coisa.
Neste começo de outono, o que estão achando o chefe supremo, a sacerdotisa doidona e o resto da seita do que os principais jornais e revistas do planeta têm publicado sobre o Brasil? Desconfiam que as redações passaram ao controle de coxinhas poliglotas, financiados por capitalistas selvagens decididos a conferir dimensões internacionais à conspiração contra o governo do PT?
O que não podem admitir é que, como tantos milhões de brasileiros, a imprensa estrangeira enfim descobriu que caiu no conto do Brasil Maravilha, aplicado pelo bando de incapazes capazes de tudo. Há poucos dias, por exemplo, The New York Times publicou um editorial com o título “A crise no Brasil se aprofunda”. Entre outras observações desmoralizantes, o texto qualificou de “ridículas” as explicações gaguejadas por Dilma para fingir que Lula se refugiou no ministério não para fugir da cadeia, mas para servir à nação.
No domingo, um editorial do jornal inglês The Guardian aconselhou a governante desgovernada a renunciar ao comando do barco saqueado e à deriva. Nesta quarta-feira, a presidente que já não preside coisa alguma virou a senhora da capa da revista The Economist. Uma Dilma com cara de demitida por justíssima causa desvia os olhos para a esquerda, como se quisesse escapar da leitura de três palavras penduradas sobre a sua cabeça: TIME TO GO. Hora de ir. Ir embora, ir para casa ─ pela simples e boa razão de que já não há como ficar.
“Fiel aos fatos”, como disse há cinco anos o dono do sítio que não é dele, a publicação inglesa apresenta aos leitores um cortejo de verdades perturbadoras: o escândalo do Petrolão, a relevância histórica da Operação Lava Jato, o desempenho sem precedentes do juiz Sérgio Moro, as bandalheiras milionárias protagonizadas por Lula, a destrambelhada patifaria forjada para transformá-lo em ministro, as portentosas manifestações de rua, a incompetência do governo que produziu a maior crise econômica enfrentada pelo Brasil desde 1930.
Fica claro que chegou a hora de Dilma ir embora — ou com as próprias pernas, pelo caminho da renúncia, ou arrastada pela trilha do impeachment. Antes que o drama chegue ao desfecho, a criatura e seu criador deveriam convidar os representantes da imprensa internacional para outra entrevista coletiva, e explicar-lhes que os culpados são inocentes.
Se forem convincentes, os gringos talvez até saiam do local da entrevista avisando aos berros que não vai ter golpe. Caso contrário, os jornais e revistas estrangeiros vão transferir o noticiário sobre o Brasil para a seção reservada a casos de polícia.
IN THE past few years Brazil’s economy has disappointed, and then some. It grew by 2.2% a year, on average, during President Dilma Rousseff’s first term in office in 2011-14, a slower rate of growth than in most of its neighbours, let alone in places like China or India. Last year GDP shrivelled by 3.8%, and is expected to shrink by a similar amount in 2015. Household consumption has registered the first drop, year-on-year, since Ms Rousseff’s left-wing Workers’ Party (PT) came to power in 2003. At the same time, public spending has surged. In 2014, as Ms Rousseff sought re-election, the budget deficit doubled to 6.75% of GDP; it has since swelled by another four percentage points. This year is likely to be the third in a row when the government fails to set aside any money to pay back creditors: the target for the primary surplus, which excludes interest owed on debt, has been cut from an unambitious 0.5% to basically nought, and the government is trying to leave itself room to post another primary deficit. Brazil’s gross government debt of 70% may look piffling compared to Greece’s 197% or Japan’s 246%. But its high interest rates of around 14% make borrowing costlier to service. Debt payments eat up more than 8% of output. To let businesses and consumers borrow at less exorbitant rates, public banks have increasingly filled the gap, offering cheap, subsidised loans. These went from 40% of all lending in 2010 to 55%.
As the government loosened fiscal policy, the Central Bank prematurely slashed its benchmark interest rate in 2011-12. This pushed up inflation, which is now well above the bank’s self-imposed upper limit of 6.5%, and way above its 4.5% target. The interest-rate cut has since been reversed. Since last July the Bank's monetary policy-makers have kept the rate at 14.25%, nearly two percentage points higher than before the decision to cut. With inflation in double digits they cannot afford to loosen policy anytime soon. Alongside the lack of macroeconomic rigour, there was a lot of microeconomic meddling: the government pursued a clumsy industrial policy and shortchanged the private sector, for example by insisting on absurdly low rates of return on concessions to run infrastructure projects. Small wonder confidence slumped among businessmen.
Red tape, poor infrastructure and a strong currency have rendered much of industry uncompetitive. So consumers have been the main source of demand. A low unemployment rate pushed up wages. In the past ten years wages in the private sector have grown faster than GDP (public-sector workers have done even better). That allowed consumers to borrow more, which encouraged still more spending. Now the virtuous circle is turning vicious. Real wages have been falling since March 2015 (compared with a year earlier), mainly because Brazilian workers’ productivity never justified the earlier rises. People are returning to seek work just as there are fewer jobs to go around: unemployment in the main metropolitan areas, which has long been falling and dipped below 5% for most of 2014, increased to 8.2% in February. A broader measure puts it at 9.5%. Economists expect it to exceed 10% this year.
To improve its finances the government has cut spending on unemployment insurance (which had risen even when the jobless rate was falling) and on other benefits. Taxes, including fuel duty, have gone up. So, too, have bills for water and electricity (two-thirds of which is generated by hydropower). The point was to reduce demand following a record drought in 2014 and to correct a policy of holding down regulated prices to keep inflation in check (and voters happy). But these increases have stoked inflation.
All this is hurting disposable incomes, a big portion of which are spent paying back consumer loans taken out in the good times. Consumer confidence has fallen to its lowest level since Fundação Getulio Vargas, a business school, began tracking it in 2005. The government has no money to boost investment. Petrobras, the state-controlled oil giant and Brazil’s biggest investor, is in the midst of a corruption scandal that has paralysed spending: the forgone investment may have reduced GDP growth last year by one percentage point. It is hard to see where growth will come from.
Worst of all, Ms Rousseff’s policy levers are jammed. Failure to rein in spending already prompted all three big rating agencies to strip Brazil of its prized investment-grade credit rating. Now economists fret that is may render monetary policy powerless: as interest bill balloons, the Central Bank could be forced to set rates to make it manageable rather than to keep prices in check. The hawkish former finance minister, Joaquim Levy, slashed 70 billion reais off the discretionary spending planned for 2015 (on top of the modest welfare reforms). But that was trimming around the edges: roughly 90% of government spending is ring-fenced and needs congressional approval (or sometimes constitutional change) to curb. But Congress is preoccupied with an impeachment motion against Ms Rousseff (of all things, over dodgy government accounting to hide the true size of the budget deficit) that may yet see her ousted from office before the end of the year.
Nor can the Central Bank ease monetary policy: that would once again undermine its credibility and risk de-anchoring inflation expectations. If that were not enough, a depreciating real is adding to price pressures, though the prospect of Ms Rousseff's fall has cheered markets: the real and the São Paulo stock market have rebounded the likelihood of impeachment has risen. But not before making Brazil’s $230 billion dollar-denominated debt dearer. Ms Rousseff cannot bring Brazil’s animal spirits back to life with more spending and lower interest rates. She was hoping a return to economic orthodoxy would do the trick. Unfortunately, she lacks the political capital—and possibly conviction—to embrace it more fully in the teeth of opposition to austerity, not least from her own left-wing Workers' Party, whose support she desperately needs to avert impeachment. As a result, Brazil's economy will take a while to heal.
Brasil está ‘festejando à beira do precipício’, diz ‘The Economist’
Revista aponta confluência de problemas de saúde, político e econômico às vésperas do carnaval
O Globo
O Brasil voltou a ser assunto de uma reportagem da edição da revista britânica “The Economist” para as Américas. Intitulado “Festejando à beira do precipício”, o texto fala da pausa que a população costuma fazer durante o carnaval. E lembra que os políticos voltarão do recesso de fim de ano poucos dias antes do feriado começar, ou seja, os trabalhos só devem ser de fato retomados após o fim da folia.
Queda da economia brasileira (Foto: Arquivo Google)
Para a publicação, nem a presidente Dilma Rousseff nem os congressistas vão conseguir relaxar, já que o país enfrenta dois sérios problemas: o vírus zika e a piora das crises econômica e política. “Quando os políticos retornarem ao trabalhos eles podem se arrepender do tempo que passaram sem tentar resolvê-los”, afirma a reportagem.
A publicação cita a queda das vagas no mercado formal de trabalho em 2015, a projeção de mais perdas para este ano e a forte retração das vendas de automóveis como parte dos indícios do agravamento do cenário econômico brasileiro. E ressalta que para as gerações mais novas, o desemprego é uma novidade. E que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é sociólogo, alerta que não se sabe como esses jovens vão reagir a esse revés.
Lava Jato: Justiça brasileira é severa com suspeitos e leniente com condenados, diz 'Economist'
Há 4 horas
Image copyrightAFPImage captionEsquema teria desviado bilhões de reais da Petrobras, segundo a Lava Jato
A Operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga suspeitas de corrupção na Petrobras, trata suspeitos de forma "muito dura" e seus condenados com "leniência demasiada", disse a revista britânica The Economist desta semana.
Dezenas de empresários e políticos, a maioria da base aliada da presidente Dilma Rousseff, foram condenados ou acusados formalmente por integrarem um esquema bilionário de desvio de verbas na estatal.
Outros suspeitos foram presos preventivamente, entre eles o empresário Marcelo Odebrecht, presidente afastado da Odebrecht, maior construtora do país. Vários detidos assinaram acordos de delação premiada e estão colaborando com as investigações.
Sob o título 'Weird Justice' (Justiça estranha), o artigo critica o sistema criminal e judiciário brasileiro, "baseado num código penal antiquado (de 1940) e que fica aquém em muitos aspectos de normas internacionais", que permite a prisão de suspeitos sem acusação e a libertação de condenados para que recorram das sentenças.
"As cortes tratam suspeitos com severidade excessiva, e condenados com leniência demasiada", diz a revista, na edição que começou a circular nesta sexta-feira.
"O problema não está confinado a plutocratas pegos pela Lava Jato. Cerca de dois quintos dos 600 mil detentos no Brasil estão à espera de julgamento. Esse encarceramento em massa de pessoas de presumida inocência é sinal de que algo está errado" com o sistema do país.
O artigo cita como exemplo a prisão de Odebrecht, que contratou o escritório de advocacia londrino Blackstone para analisar se a conduta da Lava Jato é compatível com padrões internacionais.
Segundo um relatório da Bçackstone citado pela revista, o uso de prisão preventiva pelo juiz Sérgio Moro, que comanda a Lava Jato, pode levantar "questões sérias" e violar convenções das quais o Brasil é signatário. O escritório diz que muitos dos detidos sem julgamento deveriam ser libertados.
Image copyrightReutersImage captionOdebrecht foi detido preventivamente como parte das investigações da Lava Jato
"Prisões preventivas não podem ser usadas para intimidá-los a cooperar com as investigações ou sinalizar a gravidade das acusações que eles enfrentam. Os interrogadores da Lava Jato negam estar fazendo isso, mas os leitores do relatório da Blackstone ficarão pensando", diz o texto.
Moro tem defendido as prisões, dizendo que muitos dos suspeitos podem atuar para atrapalhar as investigações. Mas alguns detidos foram libertados após a Justiça conceder-lhes habeas corpus.
A revista diz que a lei brasileira "pode ser tão estranhamento indulgente quanto é dura" ao permitir que condenados sejam libertados para que recorram de sentenças.
"Muitos críticos do sistema, incluindo Moro, acreditam que condenados deveriam recorrer em suas celas na prisão. Isto faria sentido. Assim como uma reforma do código criminal que deixaria em liberdade pessoas com presumida inocência e lhe dessem garantia de um julgamento justo", diz o texto.
"Moro está certo em aplicar a lei, mas a lei em si precisa mudar".
Muitos brasileiros estão fartos de sua presidente. Mas seu impeachment seria uma má ideia
Ela está em menos de três meses de seu segundo mandato, mas a maioria dos brasileiros já quer ver Dilma Rousseff pelas costas. Às voltas com uma economia capengando e um escândalo de corrupção estarrecedor na Petrobras, o gigante de petróleo controlado pelo Estado, ela está quase sem amigos em Brasília. Ela já perdeu o controle do Congresso onde, em teoria, sua coalizão tem uma maioria confortável. Mais de 1 milhão de brasileiros foram às ruas em 15 de março para repudiar sua presidente. Os índices de aprovação de Rousseff caíram 30 pontos em seis meses, para 13%, o mais baixo para um presidente brasileiro desde Fernando Collor em 1992, às vésperas de seu impeachment por corrupção.
Quase 60% dos entrevistados em uma pesquisa acreditam que Rousseff merece o mesmo destino. Não é difícil ver por que os eleitores estão irados. Ela presidiu o conselho de administração das Petrobras no período 2003-2010, quando procuradores acreditam que mais de US$ 800 milhões foram roubados em propinas e canalizados para políticos do governante Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados, 47 dos quais enfrentam investigações criminais. Rousseff venceu a eleição presidencial no ano passado – por uma margem de meros 3% dos votos – assegurando aos brasileiros que seus níveis de vida, empregos e benefícios sociais só estariam ameaçados em caso de vitória de seus adversários.
Na verdade, como muitos eleitores agora percebem, Rousseff estava impingindo uma mentira. Foram os erros cometidos em seu primeiro mandato que levaram aos cortes de gastos e aumentos nos impostos e taxas de juros que ela está agora infligindo (e que lhe renderam a antipatia de seu próprio partido). Some-se a isso a percepção de que sua campanha de reeleição pode ter sido parcialmente financiada por dinheiro roubado da Petrobras e os brasileiros têm toda razão de se sentirem vítimas do equivalente político de um conto do vigário.
Mas concluir que Rousseff deve ser destituída é uma reação excessivamente emocional. A legislação brasileira sustenta que presidentes só podem ser impedidos por atos criminosos – e somente quando eles são cometidos durante seu mandato atual. Os procuradores não encontraram evidências para implicar Rousseff na extorsão da Petrobras – nem na sua continuação. E embora muitos políticos brasileiros achem a presidente dogmática ou incompetente, ninguém seriamente acredita que ela se enriqueceu. Ao contrário de Collor, que embolsou dinheiro que seus associados extraíam com promessas de influência.
Uma lição dolorosa
Um impeachment é sempre um cálculo tanto político como legal. No fim, Collor caiu por causa de sua arrogância, um esquema anti-inflacionário fracassado, e seu desdém pelo Congresso. Esse precedente explica por que Rousseff fica fragilizada por seu isolamento político. Mas a oposição e os aliados insatisfeitos da presidente não deveriam tentar depô-la a menos que venham à luz de evidências claras de malfeitos criminosos contra ela.
As instituições brasileiras estão trabalhando para detectar e punir crimes que foram cometidos pelo grupo dominante. Um impeachment se transformaria numa caça às bruxas que enfraqueceria essas instituições ao politizá-las. Rousseff e o PT precisam assumir a responsabilidade pelo estrago que ela fez durante seu primeiro mandato, e não tornarem-se mártires do impeachment. Os brasileiros também estão pagando pelos erros dela. Mas com Rousseff na presidência, eles terão mais probabilidade de saber que a culpa é das políticas anteriores dela, e não das novas. Essa é uma lição importante.