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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Quartel-general Olímpico Rio 2016 // Veja Rio / 07 nov 2012


Quartel-general olímpico

Com técnica revolucionária de construção civil, a sede do Comitê Rio 2016 é erguida bem ao lado do prédio da prefeitura

por Caio Barretto Briso | 07 de Novembro de 2012
Quem costuma passar pela região entre a Praça da Bandeira e o centro da cidade certamente já reparou na edificação que está sendo erguida ao lado da prefeitura do Rio. Ela se destaca devido a uma série de particularidades. O barulho provocado é mínimo, pois não há britadeiras nem bate-estacas em ação, algo raro nesse tipo de empreendimento, que costuma ser uma amolação para a vizinhança. Um olhar mais atento perceberá também que o novo imóvel prescinde de concreto ou alvenaria. Ele é todo feito de estruturas de aço pré-moldadas, que já chegam prontas para ser montadas no local, num mecanismo similar ao do Lego, brinquedo que consiste em pequenos blocos de plástico encaixáveis. Dessa maneira, sem maiores estardalhaços, ganha forma a sede do Comitê Organizador Rio 2016, que será o centro nevrálgico da Olimpíada carioca. Esse autêntico quartel-general é o lugar onde serão tomadas as decisões mais importantes tanto no período de preparação dos Jogos como no decorrer da competição. Projetado com três andares, o prédio será erigido em três etapas. A primeira delas está prevista para terminar em fevereiro, quando ele terá capacidade para acolher inicialmente até 900 pessoas. As demais serão sacramentadas em maio e setembro do próximo ano (veja a ilustração), habilitando-o a receber novas levas de funcionários e colaboradores da entidade. No fim de todo o processo, o novo caixotão da Cidade Nova terá quase 20 000 metros quadrados de área, formada pelo encaixe de 150 000 blocos de 6 metros de comprimento por 2,5 metros de largura cada um. No auge de seu funcionamento, a expectativa é que ele abrigue 2 600 profissionais de diversos setores. "No momento estamos separados em dois endereços na Barra. Seria inviável executar uma missão de tamanha complexidade sem total integração entre as equipes", afirma Leonardo Gryner, diretor-geral do comitê.

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Largamente difundida em países como Alemanha e Estados Unidos há pelo menos vinte anos, a técnica da construção em módulos tem uma série de vantagens em relação ao método convencional. É uma solução sob medida para instalações temporárias, como convém ao organismo carioca, que começará a ser desmontado assim que se apagar a pira olímpica — exatamente como ocorreu neste ano em Londres com a Olympic Delivery Authority, que possuía diversas edificações provisórias. Ou seja: por ser algo descartável, está livre do risco de virar um elefante branco após a realização do evento. Há outras virtudes a enumerar. Como sua estrutura é bem mais leve que a de concreto armado, o trabalho de fundação — geralmente um dos estágios mais penosos da obra — fica facilitado. "E o imóvel pode ser erguido três vezes mais rápido que outro convencional", compara Luís Guilherme Ferreira, diretor de instalações do comitê. A construção blocada permite ainda que as pessoas trabalhem normalmente em um módulo já concluído, enquanto os demais vão sendo montados. A sustentabilidade é outro mantra seguido pelo comitê carioca, que observa os preceitos da correção ecológica em sua futura instalação. Ela possui placas de captação de energia solar, iluminação de LED e sistema de reaproveitamento da água da chuva para irrigar os jardins. "Nossa sede será exemplar", aposta a gerente de sustentabilidade do organismo, Tania Braga. Tomara que as boas práticas sejam adotadas em toda a preparação para os Jogos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O cinema no Brasil é uma forma de entender o mito de Sísifo


Sisifo

30 novembro 2012 | deixe seu comentário (0)


Sou mulher, irmã e amiga de cineasta. A proximidade me fez conviver com os meandros do lançamento de uma película, em que os riscos são grandes e as chances de se danar, quase certas. Os blockbusters americanos pautam o calendário, e os filmes brasileiros se espremem nas datas que sobram, sempre pressionados pelos gigantes. O grande divisor de águas do segundo semestre de 2012 é Amanhecer. Os vampiros sugaram 1 213 das 2 000 e poucas salas de exibição do Brasil, perfazendo a assombrosa média de 1 769 pessoas por sala no primeiro fim de semana. Para se ter uma ideia, um filme médio costuma ir para a rua com 100 cópias e é considerado um êxito se cumprir o mínimo de 1 000 pessoas por cópia entre sexta e domingo.
Até que a Sorte Nos Separe entrou na briga com audaciosas 415 salas, encontrou uma brecha antes de a vampirada pousar, apostando em dois feriados longos entre os meses de outubro e novembro. O delicioso Hassum fez bonito e deve chegar a 3 milhões de espectadores. O belíssimo Gonzaga se valeu da mesma estratégia e deve bater em mais de 1 milhão e meio de bilhetes vendidos. Os Penetras, que acompanho de perto, escolheu a baixa da draculândia, quando as 1 213 salas ocupadas sofrem uma queda, abrindo espaço para que os peixes-pilotos nacionais matem a fome. A esperança é persistir nas férias sem ser atropelado pelo Batmóvel ou pelo martelo do Thor.
A matemática é justa. Erra-se tanto se o filme abre demais e diminui a frequência por sala quanto se abre de menos e manda o público de volta para casa.
O cinema é um cassino. Quanto mais cópias se põem na rua, mais cara se torna a campanha publicitária. O investimento arriscado em mídia é o primeiro a retornar para o bolso do distribuidor. O produtor só saberá o que é lucro depois de pagar por esse aporte. É crucial romper a barreira de 1 milhão de espectadores.
Mas 1 milhão é gente pra chuchu. Woody Allen e Almodóvar rendem, em média, de 200 000 a 400 000 ingressos. Argo, excelente filme de Ben Affleck, provável concorrente ao Oscar, atraiu, até agora, tímidos 160 000 cinéfilos. A diferença é que os filmes estrangeiros já chegam pagos aos trópicos. Allen fecha suas contas em mais de uma praça. Aqui, com raras exceções, só contamos com o mercado interno. Um filme mais sensível, ou cabeçudo, que chegue ao mesmo resultado do brilhante A Pele que Habito é considerado fracasso.
Sempre me pareceu curioso que a estante dedicada aos filmes brasileiros nas locadoras não seja separada por gêneros. O cinema nacional é um gênero em si, no qual comédias, dramas sociais e políticos, documentários e histórias infantis são colocados no mesmo saco. Não à toa, sempre existe uma corrente predominante. Nos anos 70, foi a pornochanchada, no renascimento, o favela movie e, hoje, as comédias urbanas são as que se mostram economicamente viáveis.
Seria bom assistir a terror, dramas burgueses à moda argentina, suspense, aventura e filmes-denúncia em português. Nosso país é complexo o suficiente para inspirar todo tipo de trama. A premência do resultado inibe o risco artístico, apresentamos sempre mais do mesmo até que alguma exceção mude o rumo do mercado. Deus e o Diabo fez isso, e também Dona Flor, Xica da Silva, Carlota Joaquina, Central do Brasil, Cidade de Deus, Carandiru, Tropa de Elite e Se Eu Fosse Você.
Um realizador demora de dois a sete anos, se tiver sorte, para carregar seu revólver com uma única bala na agulha. O destino de sua obra estará selado nas primeiras 72 horas. Caso não atinja o alvo na mosca, o filme sairá de cartaz na semana seguinte. E, mesmo que ele tenha êxito, um bom resultado não garante o futuro.
É a profissão que mais se assemelha ao mito de Sísifo, do homem condenado a empurrar uma gigantesca pedra até o alto de uma montanha para, uma vez lá, vê-la rolar ladeira abaixo, pronta para ser arrastada outra vez.
Por isso, a pergunta inocente: “Qual o seu próximo projeto?”, ouvida por dez entre dez diretores nas pré-estreias de seus longas, muitas vezes me soa trágica.