Nada detém, amém, a vingança da mulher
Quem sou eu, rasteiro cronista flanador en la noche, para julgá-la.
Culpa do marido, ela confessou. Melhor, culpa do traste com quem vive (vivia?) há (havia?) quatro anos e pouco, uma filha, muitos carnês de prestações, dois Rock in Rio, e uma viagem à Europa.
“Hoje eu vou dar para o primeiro que encontrar pela frente”, repetiu, zero dúvida, sangre en los ojos.
Não seja por isso, ora, me coloquei no jogo, afinal de contas eu era mesmo o primeiro homem no seu caminho naquela noite. Sim, não seja por isso, repeti, na cara de pau, meio de onda, meio à vera.
Afinal de contas, não creio nessa história de que o sexo possa estragar uma grande amizade. Estraga uma amizadezinha qualquer, não uma bela amizade. E G., vos digo, é meio Scarlett Johansson meio Paula Toller. Com a vantagem de ser de Niterói. A travessia da barca faz uma mulher naturalmente mais linda, me diz o Arariboia.
Afinal de contas, ela me puxou para um drinque na velha La Fiorentina, soltou os cachorros, desabafou, e seguiu firme, daria inevitavelmente para um estranho naquela noite. Básico instinto, como define um trovador genial aqui da minha vizinhança.
Com ira de mulher não se brinca, a amiga G. daria até para o pobre Sizenando a essa altura, só para mostrar, caríssimo Sizenando, que a vida não é assim tão triste como você conjectura.
Ninguém detém uma mulher sacaneada. Seja traída por um homem fofo ou por um homem cafa. Tanto faz.
Quer dizer, pior ainda é quando a sacanagem parte de um homem supostamente bom e fiel, o que era o caso do marido ou ex da minha amiga G., a determinada que a essa altura deve estar nos braços de um vagabundo no Galeto Sat´s (Copacabana), na sexta caipirinha da coragem, espetando corações de galinha para não esquecer a “fdp da colega de pilates” que firmou um caso com o seu homem, ex, sabe-se lá o destino.
Depois conto o desfecho. O que interessa, amigo, é que toda noite sai de casa uma mulher irada prometendo dar ao primeiro homem que encontrar pela frente. Nesse caso, quanto mais estranho para ela, melhor e mais apropriado.
Toda noite, amigo, uma mulher sai de casa com a canção de Lupicínio entre os dentes: “Só vingança, vingança, vingança, aos deuses clamar”.